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H.1 Aluna A2

1.5 Recursos gestuais

cia para atingir conceitua¸c˜ao. Assim, n˜ao ´e poss´ıvel conceituar sem tomar consciˆencia.

Conforme j´a comentado (p. 27) Vergnaud prop˜oe que os esquemas de- mandados pelo sujeito frente a uma situa¸c˜ao tˆem o papel de regular o pen- samento por detr´as da a¸c˜ao e de organizar o agir consciente. Neste sentido, sua posi¸c˜ao diverge da piagetiana, em que a a¸c˜ao ´e um fazer autˆonomo, cuja tomada de consciˆencia estaria vinculada a uma defasagem temporal, operada pela regula¸c˜ao interativa entre sujeito e objeto.

Para Vergnaud, os esquemas, enquanto portadores de conte´udos conceitu- ais carregados de representa¸c˜oes simb´olicas, seriam pass´ıveis de reorganiza- ¸c˜ao e de associa¸c˜oes atrav´es da media¸c˜ao pela palavra. Esta media¸c˜ao, por sua vez, levaria `a percep¸c˜ao dos pr´oprios processos internos, provocando um movimento na hierarquia conceitual existente, em dire¸c˜ao ao fazer consciente. Por outro lado, Vergnaud (1996b) tamb´em discorda de Vygotsky em re- la¸c˜ao `a oposi¸c˜ao entre conceitos cient´ıficos e espontˆaneos. Para ele, esta distin¸c˜ao soaria como artificial, uma vez que boa parte dos conceitos cient´ı- ficos permanecem impl´ıcitos mesmo ap´os anos de escolaridade. Al´em disso, mesmo os conceitos cotidianos podem formar sistemas, mesmo que fr´ageis e inst´aveis.

Finalmente, Vergnaud (1996a) concebe as situa¸c˜oes de ensino em sala de aula como a oportunidade de agir na zona de desenvolvimento proximal, por´em n˜ao s´o guiando quem aprende por pequenas interven¸c˜oes e sequˆencias de pequenos passos. ´E necess´ario tamb´em, tornar expl´ıcitos os conhecimentos impl´ıcitos e aproveitar situa¸c˜oes que levem `a rupturas e reconstru¸c˜oes.

1.5

Recursos gestuais

Um outro aspecto sobre o qual G´erard Vergnaud se debru¸ca em seus tra- balhos se refere `as fun¸c˜oes cognitivas dos significantes verbais e n˜ao-verbais. Ao colocar os elementos pertinentes `a situa¸c˜ao em palavras ou gestos se torna poss´ıvel representar e dirigir-se mais facilmente `a solu¸c˜ao. Nesta di- re¸c˜ao, as formas de linguagem permitem n˜ao somente explicitar os invari- antes operat´orios e favorecer assim a aprendizagem e o funcionamento; elas

1.5. RECURSOS GESTUAIS

permitem, tamb´em, marcar diferentes formas de conceitua¸c˜ao (MOREIRA,

2002; VERGNAUD, 1990). Logo, os conhecimentos impl´ıcitos n˜ao deveriam

ser investigados somente via a comunica¸c˜ao oral, mas tamb´em por recursos gestuais empregados pelo sujeito em a¸c˜ao. Na longa cita¸c˜ao que se segue, extra´ıda da transcri¸c˜ao de uma palestra proferida por Vergnaud, ´e poss´ıvel verificar a importˆancia dada por ele aos recursos gestuais:

O que se desenvolve entre os indiv´ıduos (...) s˜ao as formas de organiza- ¸c˜ao da atividade e essas formas de organiza¸c˜ao da atividade concernem a v´arios registros dessa atividade. Por exemplo o gesto: (...) tomemos ent˜ao, uma crian¸ca de cinco anos que aprende a contar um grupo. Ela faz: um, dois, trˆes, quatro, cinco, seis... seis! (apontando com o dedo). Nessa atividade h´a v´arias categorias gestuais. H´a o gesto do dedo e da m˜ao, o gesto do olho, o gesto da voz. mas h´a tamb´em duas id´eias matem´aticas extremamente importantes e que n˜ao s˜ao vis´ıveis. A primeira ´e a id´eia de correspondˆencia biun´ıvoca, entre os objetos contatos, o gesto muito importante do olhar, o gesto da m˜ao e do dedo e o gesto da palavra. Se n˜ao h´a uma correspondˆencia biun´ıvoca entre esses quatro conjuntos a crian¸ca n˜ao pode contar. (...) H´a uma segunda id´eia matem´atica importante. Conto novamente: um, dois, trˆes, quatro, cinco, seis... seis! Na primeira vez, o seis designa o sexto elemento, enquanto que na segunda vez ele designa o conjunto todo, ´e o conceito de n´umero cardinal (VERGNAUD, 1996b).

Uma vez aceitas estas coloca¸c˜oes, para desenvolvimento de nosso trabalho, tornou-se necess´ario procurar um embasamento te´orico para as opera¸c˜oes lingu´ısticas e as opera¸c˜oes de pensamento que permitem a representa¸c˜ao e resolu¸c˜ao de um problema em linguagem natural.

Durante o desenvolvimento de nossa pesquisa, tivemos contato com o trabalho de Capecchi (2004). Neste, a autora analisa, em seq¨uˆencias de ensino gravadas em v´ıdeo, aspectos verbais e gestuais, relativos a uma atividade de conhecimento f´ısico, argumentando que, al´em da linguagem verbal, outros modos medeiam a constru¸c˜ao dos conhecimentos em sala de aula.

Para isto, ap´oia-se nos trabalhos de Lemke (1998) e de Kress et al. (2001), focados na especializa¸c˜ao dos modos de comunica¸c˜ao. Lemke (1998) afirma

1.5. RECURSOS GESTUAIS

que a linguagem verbal, em suas formas oral e escrita, ´e sempre acompanhada por recursos semi´oticos visuais: gestos e / ou express˜oes faciais, no primeiro caso e sinais gr´aficos, no segundo. Kress et al. (2001) ressaltam, tamb´em, a materialidade dos meios empregados em cada modo. A caracter´ıstica tem- poral /sequencial do som, que ´e o meio empregado na linguagem verbal oral, por exemplo, tem um potencial e limita¸c˜oes diferentes dos da imagem cuja materialidade envolve caracter´ısticas espaciais e simultˆaneas .

A complementaridade da palavra e do gesto ´e claramente expressa por McNeill (1992) para quem o gesto e a fala s˜ao produtos de um s´o processo de forma¸c˜ao de enunciado, que ´e simultaneamente imagin´ario e verbal. Como consequˆencia, sendo o gesto uma manifesta¸c˜ao de aspectos do imagin´ario de nossa atividade cognitiva, a sua an´alise pode informar sobre o modo como as id´eias se encontram estruturadas em um n´ıvel conceitual, isto ´e, sobre o modo como organizamos e damos estrutura `as informa¸c˜oes que apreendemos do mundo exterior. Assim, o gesto codifica informa¸c˜oes importantes sobre as caracter´ısticas conceituais que est˜ao na base de uma compreens˜ao do mundo, e que nem sempre se manifestam verbalmente.

Este autor considerou e classificou os seguintes tipos de gestos: 1. Gestos icˆonicos - Representam atributos concretos dos obje-

tos, mantendo uma rela¸c˜ao formal com o conte´udo semˆantico da fala. S˜ao s´ımbolos que exibem significados de objetos e de a¸c˜oes. De grande importˆancia nos gestos icˆonicos s˜ao as suas caracter´ısticas cin´eticas, ou seja, o modo como se apresen- tam os dedos, as palmas das m˜aos, etc. Em outras palavras, os gestos icˆonicos d˜ao indica¸c˜oes sobre qualidades de objetos como a forma, o tamanho e a massa ou outras caracter´ısti- cas f´ısicas. Tamb´em em narrativas orais os gestos icˆonicos mostram a posi¸c˜ao do falante num determinado lugar, mesmo sob o ponto de vista fict´ıcio - ele pode ser o ator ou o obser- vador.

2. Gestos metaf´oricos - Assim como os gestos icˆonicos os metaf´ori- cos encerram um conte´udo pict´orico. Contudo, diferente daque-