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REDE DE SERVIÇOS E SUA RELAÇÃO COM O PROGRAMA BOLSA

Em outra fala, se percebe mais uma vez o problema da falta de articulação e comunicação entre as esferas envolvidas na execução do PBF em Florianópolis, no que diz respeito ao desligamento do programa:

Existe o desligamento, mas esse dado vem da Secretaria de Assistência Social, inclusive eu pedi já, se elas recebem alguma coisa de quem já foi desligado, até por eu ter um sistema próprio, eu preciso saber quem dali saiu, e eu não consigo fazer isso, porque eu não tenho como verificar as informações diretas do Ministério. Daqui a pouco vai ser uma função nova, porque o Programa foi se estruturando, o próprio nível de informação deles foi melhorado. Então, à medida que passam os anos, vão sendo mais relatórios, a gente tendo mais acesso. Mas ainda tem muita coisa para melhorar (Responsável área Saúde, outubro de 2007).

Com base no depoimento, observam-se as parcas informações de controle interno do PBF. Torna-se, assim, difícil reunir elementos para uma análise qualitativa a partir dos dados quantificáveis do programa. Esse é um dos fatores negativos que verificamos na implementação do PBF no município devido à falta de pessoal com dedicação ao programa. Com isso, levantamentos estatísticos e diagnósticos de acompanhamento tornam-se inviáveis, os dados são deixados em segundo plano, impossibilitando uma avaliação ou análise de desenvolvimento.

3.5 REDE DE SERVIÇOS E SUA RELAÇÃO COM O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Na concepção do PBF, é recorrente a idéia da constituição de uma rede de serviços sociais e projetos que consolidem uma rede sócio-assistencial no município, desenvolvidos via CRAS. Do ponto de vista do MDS, a implementação desses serviços sociais atenuaria os efeitos da pobreza e potencializaria o desenvolvimento sócio- econômico de famílias pobres associado às subvenções financeiras concedidas pelo PBF. O conjunto desses elementos possibilitaria à família um “novo arcabouço” ao tornar-se independente.

Durante mais de quatro anos de implementação do PBF em Florianópolis, as ações conjuntas com o CRAS aparecem inexpressivas na busca de efetividade e criação da rede de serviços sociais. No depoimento que segue, pode-se inferir o seguinte:

O CRAS é a porta de entrada. A gente procura potencializar o CRAS, em nível de informação, de orientação. Isso ainda está em formulação, [...] para que ele possa encaminhar para a rede, enquanto proteção social básica, e fazer esse elo com a rede, principalmente com o PBF. As famílias beneficiadas pelo nosso Programa é público do CRAS automaticamente. Têm algumas que estão cadastradas aqui e não recebem benefício do PBF, mas recebem alguma medida emergencial do CRAS. E se houver necessidade de encaminhar para outra proteção, o PBF está muito ligado com o CRAS (Coordenadora PBF, outubro de 2007).

O CRAS desenvolve periodicamente cursos em parceria com instituições locais com a finalidade de proporcionar capacitação às famílias empobrecidas e com isso ampliar as possibilidades de conseguirem trabalho. Esse serviço do CRAS parece ser o mais expressivo na atenção às famílias assistidas pelo PBF, mas não é especificamente constituído para elas. Na verdade, os cursos são oferecidos a todos os cidadãos que buscam re-qualificação e que estejam em condição de pobreza ou de extrema pobreza. Considerando que o levantamento da demanda de famílias em Florianópolis pelo CadÚnico é de 11 mil famílias em fila de espera e aptas a receberem o benefício do PBF, o qual apresenta o mesmo corte de renda, o universo de oferta dos cursos contempla ainda esse contingente, além dos casos eventuais de situações de perda de renda, novos habitantes e habitantes de municípios vizinhos que se inscrevem para os cursos com endereços de parentes residentes em Florianópolis. Os

mecanismos de superação da pobreza extrapolam as fronteiras territoriais na esperança da inserção no mercado de trabalho, tendo em vista que não só Florianópolis, mas também os municípios vizinhos dispõem de poucas vagas nos cursos que despertam interesse nos trabalhadores sem emprego.

É percebido também que alguns cursos não são potencializadores de geração de emprego ou renda, propondo aos interessados a confecção de peças manufaturadas como bijuterias com pouco padrão de qualidade e sem mercado capaz de absorver a produção, assemelhando-se mais a terapias ocupacionais do que a projetos de geração de emprego e renda.

Na fala de uma das entrevistadas, a mesma remete-se ao Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) como mecanismo potencializador das ações de desenvolvimento de trabalho e renda e inclusão social. O PAIF trata-se de um conjunto de ações e recursos disponibilizados aos CRAS para o desenvolvimento das ações previstas na constituição destes. Dessa forma, o CRAS e o PAIF são elementos indissociáveis na política municipal de Assistência Social.

Conforme estabelecido na Política Nacional de Assistência Social e na NOB/SUAS, o PAIF deve garantir o atendimento às famílias beneficiárias do PBF, prevenindo situações de risco. Com vistas a garantir a proteção social, o PAIF articula-se com o PBF, na busca de emancipação das famílias, através da capacitação e inserção produtiva e inclusão social (Gerente da Família, outubro de 2007).

A idéia transmitida no depoimento remete o PBF como agente potencializador de serviços sociais, e situado na esfera da garantia de direitos. A partir da fala abaixo, pode-se constatar a indicação que:

O PBF, além de transferência de renda, busca garantir direitos de gestantes, crianças e adolescentes nas áreas de saúde; educação e atividades sócio-educativas. Induzidas pelo cumprimento das condicionalidades do Programa, as famílias buscam o acesso a serviços, que devem ser acompanhados pelo PAIF, com o objetivo de superar a condição de vulnerabilidade social em que se encontram (Gerente da Família, outubro de 2007).

A execução dos serviços complementares desenvolvidos pelo CRAS e pelo PAIF apresenta características residuais, demonstra a face de uma política social compensatória que obedece à lógica dominante, remetendo a falta de empregos à situação da qualificação e não às questões de geração do emprego.

Na área da educação, não é desenvolvida nenhuma medida para potencializar o acesso à escola ou melhorar os índices de aprendizado. A ação mais efetiva nessa área é o mínimo de reprovação, considerando que os alunos que não conseguem média num determinado número de disciplinas são conduzidos às séries subseqüentes com o entendimento de que as deficiências serão corrigidas com o acompanhamento da seqüência do conteúdo nas séries avançadas. Essa lógica esvazia a necessidade de estudar, ao propor a passagem pelas séries. Além disso, reduz os custos com educação, não investindo recursos em uma criança ou adolescente para repetir uma mesma série.

Em Florianópolis, a demanda não pertencente ao CRAS é atendida no: Agente jovem; no Sentinela; no PETI; no Liberdade Assistida (LA); na Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); e na Casa de Passagem para Adolescentes, dependendo da medida protetiva requerida.

O município conta ainda com parcerias para o desenvolvimento de projetos de jornadas ampliadas, vinculadas ao PETI. Entretanto, esses projetos são desenvolvidos, quase que em sua totalidade, voltados à arte, por voluntários ou com apoio do município com a concessão de estagiários/monitores às associações de moradores ou ONG. No depoimento a seguir, pode-se aferir sobre a questão:

[...] os programas que são oferecidos, na Ilha da Criança, de certa forma, absorvem as crianças do PBF. O PETI acaba acompanhando as crianças do PBF. Os programas que já existem no município acabam absorvendo as crianças do PBF (Responsável área da Educação, outubro de 2007).

Em dezembro de 2005, o PETI possuía 710 bolsas Crianças Cidadãs, das quais aproximadamente 65% eram entregues às famílias com crianças ou adolescentes em situação de trabalho infantil, as demais cotas eram restituídas ao MDS no final de cada exercício financeiro, por falta de demanda. As diretrizes do PETI outorgam ao

município a obrigatoriedade de oferta de jornada ampliada para todas as crianças e adolescentes inseridos no PETI. Contudo, cerca de 50% das crianças e adolescentes inseridos no PETI eram encaminhados aos projetos de jornada ampliada. Todavia, nos relatórios de acompanhamento para o MDS, os números informados de crianças e adolescentes nestes projetos são os mesmos que recebem o benefício. A disparidade não é informada para que o repasse de recursos por criança/adolescente para desenvolvimento da jornada ampliada não seja cortado (MARTINS, 2005).

Na área da saúde, não há articulação dos programas específicos para complementar o PBF. Existe a indicação de articulação com o CRAS:

[...] isso para todas as situações que a gente encontrar, independente do programa, já iniciadas com a Hora de Comer, mas para todas as situações [...] senão, não vamos efetivar muito o que já ocorre (Responsável área da Saúde, outubro de 2007).

A síntese dos depoimentos demonstra que no município de Florianópolis não foram implementadas políticas potencializadoras do PBF. Os diversos programas existentes não se articulam em rede de proteção social às famílias, as ações são descontinuadas e desconectadas, como se percebe nas declarações.

3.6 AS REPRESENTAÇÕES DA EQUIPE SOBRE O PROGRAMA BOLSA