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Capítulo I: Rede de Vilas

1.4. Rede

A Rede das Sete Vilas é composta, tal como o nome indicia por sete pequenas vilas situadas no distrito de Portalegre, região do Alentejo, nomeadamente, Crato, Marvão, Castelo de Vide, Alter do Chão, Nisa, Arronches e Campo Maior.

Estes pequenos núcleos agregam o potencial turístico regional refletido na literatura e tradição oral através da existência de histórias/narrativas locais que apregoam às tradições, aos elementos, culturais, ao património, aos produtos e serviços regionais, entre outros.

A Rede SETE VILAS é um projeto de desenvolvimento sustentável, uma vez que tem por fim, através do aproveitamento turístico da tradição oral, a criação de uma identidade e imagem de marca comum que possa atrair um maior fluxo turístico e populacional. Este projeto será liderado pela ERTA (Entidade Regional do Turismo do Alentejo), em parceria com sete diferentes municípios correspondentes a cada uma das vilas integradas na rede.

1.4.1.Vilas

Alter do Chão:

Alter do Chão é uma vila portuguesa pertencente ao distrito de Portalegre, região do Alentejo e possui cerca de 2300 habitantes. É sede de município e encontra-se limitada a norte pelo Crato, a sudeste por Monforte, a sul por Fronteira, a sudoeste por Avis, e a oeste por Ponte de Sor. A vila foi fundada enquanto concelho em 1232, no reinado de D. Sancho II através da atribuição do Foral pelo Mestre Vicente, bispo chanceler de D. Sancho II ao Bispado da Guarda, a quem estava entregue a ação povoadora e restauradora das localidades da área do território onde se inseria Alter do Chão. Em 1270 deixou de estar sob a influência do Bispado da Guarda e recebeu um novo foram de D. Dinis em 1293. Entre outros privilégios, D. Dinis estabelecia, neste

49 foral que Alter do Chão não seria entregue a nenhum senhorio. Estre processo ocorreu até à doação de Alter do Chão a Nuno Álvares Pereira, por parte de D. João I. Com o casamento, em 1401, da única filha de D. Nuno Alvares Pereira, D. Beatriz Pereira de Alvim com o Duque D. Afonso I de Bragança Alter do Chão passou a fazer parte do senhorio da Casa de Bragança. Mais tarde, em 1747, com o propósito de fornecer cavalos para a picardia real, é fundada a Coudelaria de Alter, com a designação de Reais Manadas. Os cavalos e as éguas criados no seu interior eram propriedade da Coroa/Estado, enquanto que a Coudelaria pertencia à Casa de Bragança. Um dos cavalos desta coudelaria foi escolhido pelo escultor Machado de Castro para modelo do cavalo da estátua equestre de D. José erguida em 1775 no Terreiro do Paço a marcar a renovação da baixa da cidade de Lisboa após o terramoto de 1755.

Arronches

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Arronches é uma vila portuguesa situada no distrito de Portalegre, na região do Alentejo e possui 1900 habitantes. É sede de município, sendo limitada a norte pela cidade de Portalegre, a leste por Campo Maior, a sul por Elvas, a Oeste por Monforte e a Nordeste por Espanha. A origem da vila remota a uma antiga povoação romana edificada junto à ribeira de Caia, fundada no tempo de Caio Calígula, no ano 1 D.C. Mais tarde após a ocupação dos mouros na Península Ibérica, D. Afonso Henriques conquistou-a aos Mouros em 1166, perdida de novo, e recuperada por D. Sancho II em 1235. No entanto somente em 1242, com a reconquista de Paio Peres Correia é que esta ficou definitivamente integrada no território português. Na altura do interregno foi a vez dos castelhanos tomares a vila de Arronches, que viria a ser reconquistada por D. Nuno Álvares Perira, em 1384. Em 1475, D. Afonso V reuniu na vila as cortes para tratar do seu casamento com a princesa espanhola D. Joana, concedendo notórios privilégios à vila. Arronches foi ainda uma importante praça de armas, e a sua fortaleza tida em grande conta pelos monarcas portugueses, pelo que Luís de Camões em várias estâncias de “Os Lusíadas” se refere justamente à “Forte Arronches”.

Campo Maior

Campo Maior é uma vila Portuguesa pertencente ao distrito de Portalegre, região do Alentejo e possui 7500 habitantes. O município é limitado a Norte e a Leste por Espanha, a sudeste pelo município de Elvas e a Oeste por Arronches, sendo a segunda maior vila do Alentejo.

A lenda diz que a povoação foi fundada por vários chefes de família que viviam dispersos no campo e resolveram agrupar-se para uma maior proteção, descobrindo um espaço aberto, um diz para os outros “Aqui o campo é maior”.

50 Vestígios rupestres permitem concluir que o atual território foi habitado desde a época pré-histórica. Mais tarde terá sido uma povoação romana, dominada por mouros durante meio milénio e conquistada por cavaleiros cristãos da família Pérez de Badajoz, em 1279 que posteriormente ofereceram a aldeia ao concelho de Badajoz. Em 1255, Afonso X, rei de Leão, eleva-a a vila e o Bispo D. Frei Pedro Pérez concede em 1260 o primeiro foral aos seus moradores. Em 1279, através do Tratado de Alcanizes, assinado em Castela por D. Fernando IV rei de Leão e Castela e D. Dinis passa a fazer parte de Portugal, juntamente com Olivença e Ouguela. O seu castelo foi reedificado por D. Dinis em 1310 e mais tarde no seculo XVII e XVIII levantaram-se fortificações tornando Campo Maior numa importante praça-forte de Portugal. Como reflexo da influência castelhana em Campo Maior, durante a revolução de 1383-85, a guarnição militar e os habitantes da vila colocaram-se ao lado do rei de Castela, tornando-se necessários que o Rei D. João I e D. Nuno Alvares Pereira se desloquem propositadamente ao Alentejo com os seus exércitos para cercarem durante um mês e meio e ocuparem Campo Maior pela força. Mais tarde D. João II deu-lhe um novo brasão, um escudo branco com as armas de Portugal de um lado e S. João Batista, o padroeiro da vila, do outro. Em 1512 D. Manuel I concede foral à vila de Campo Maior. Em 1640, com a guerra entre Portugal e Castela, Campo Maior tornou-se o mais importante centro militar do Alentejo, a seguir a Elvas. Em 1811 surge uma nova invasão francesa que fez um cerco cerrado durante um mês à vila, obrigando-a a capitular, contudo a sua resistente foi tal que deu tempo que cegassem os reforços luso-britânicos sob o comando de Beresford que põe os franceses em debandada. A partir dai a vila ganhou o título de Vila Leal e Valorosa.

Castelo de Vide

Castelo de Vide é uma vila portuguesa pertencente ao distrito de Portalegre, região do Alentejo e possui cerca de 2300 habitantes. O município encontra-se limitado a nordeste por Espanha, a leste por Marvão, a sul por Portalegre, a sudoeste pelo Crato e a noroeste por Nisa.

Esta vila ficou conhecida por “Sintra do Alentejo”, designação atribuída a D. Pedro V, devido aos seus jardins, à vegetação luxuriante, o clima aprazível, assim como a proximidade da Serra de S. Mamede. Tudo isto lhe confere um cunho romântico. No perímetro das muralhas de Castelo de Vide há uma grande variedade de distintas obras de arte que refletem em fontes, igrejas, portais góticos, casas nobres e até mesmo a Judiaria, em ruelas e calçadas sinuosas com casario branco, estando o Centro Histórico de Castelo de Vide classificado como monumento nacional.

Relativamente à sua história, remonta ao século XIII a reedificação do Castelo Medieval, a construção do Burgo medieval e a Casa de Matos. No século XIV, com o refúgio dos Judeus

51 em Portugal, expulsos de Espanha, começou a ser construída toda a judiaria, a antiga sinagoga e os arrabaldes medievais.

Crato

O Crato é uma vila portuguesa pertencente ao distrito de Portalegre, à região do Alentejo e possui cerca de 3708 habitantes. O município é limitado a nordeste por Gavião, Nisa e Castelo de Vide, a leste por Portalegre, a sudeste por Monforte e a Sudoeste por Alter do Chão.

O Crato é um município com história marcado pela presença dos pastores megalíticos, de seus hábitos e cultura, pois neste município estão inventariadas mais de 70 antas, duas das quais monumentos nacionais. O município é ainda marcada pela ocupação romana devido à presença de vestígios como pontes e vilas e mais tarde pela presença e vivência da Ordem dos Hospitalários que ergueu a sua sede no Mosteiro de Santa Maria da Flor do Crato. Para instalação da Ordem, mandou edificar no sítio de Flor da Rosa- arrabaldes do Crato- o Mosteiro, que passou a ser, desde então, a Casa-Mãe daquela Ordem em Portugal. Foi o Grão- Prior, pai de D. Nuno Álvares Pereira. A partir do século XVI a Ordem do Hospital passou a denominar-se Ordem de Malta. Em 1512 teve a vila novo foral, dado por El-Rei D. Manuel. Foram ainda celebrados alguns casamentos reais na vila, tais como D. Manuel I com D. Leonor, e D. João III com D. Catarina, celebrados nos paços do Castelo.

Marvão

Marvão é uma vila Portuguesa pertencente ao distrito de Portalegre, região do Alentejo e possui cerca de 3512 habitantes. O município é limitado a norte e a leste por Espanha, a sul e a oeste por Portalegre e a Noroeste por Castelo de Vide. A vila e o seu meio envolvente são candidatas a Património Mundial da UNESCO.

D. Afonso Henriques conquistou Marvão aos mouros, entre 1160 e 1166. Em 1226 D. Sancho II atribui a Marvão o seu primeiro foral, um dos primeiro forais régios no Alentejo. A importância estratégica de Marvão e de outros castelos de raia levam D. Dinis a disputá-la com o seu irmão D. Afonso, no ano 1299, apoderando-se da fortificação. A partir da restauração da independência de 1640, a fortificação medieval é reabilitada face às novas tecnologias de guerra, ficando abaluartada nas zonas sensíveis e transformando-se o Castelo na sua cidadela. No decorrer da guerra desempenha um papel importante na defesa do Alto Alentejo.

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Nisa

Nisa é uma vila portuguesa pertencente ao distrito de Portalegre, região do Alto Alentejo e possui cerca de 3300 habitantes. O município é limitado a Oeste e Norte por Vila Nova de Rodão, a Nordeste por Espanha, a Sudeste por Castelo de Vide, a sul pelo Crato, a sudoeste pelo Gavião e a noroeste por Mação.

No ano de 1199 D. Sancho I doa a herdade da Açafa à ordem dos Templários, territórios este que hoje integra o município de Nisa com o objetivo de estes construírem fortalezas suficientes à defesa do território contra os mouros que representavam um perigo eminente. Mais tarde, por ordem do rei, chegaram colonos Franceses que se estabeleceram nos locais a fim de povoarem o território. Foi então que os colonos se dividiram em pequenos grupos construindo pequenos aglomerados habitacionais. A estes lugares batizavam-nos com os nomes das suas terras de origem. Foi assim que aquele povoamento se passou a chamar Nova Nice, que mais tarde se adaptou para Nova Nisa.

Em 1512 D. Manuel I atribuiu novo Foral à vila. Em 1343, D. Afonso IV estava em guerra aberta com o seu genro Afonso XI de Castela estava em guerra aberta com o seu genro Afonso XI de Castela, o que colocava em risco toda esta zona fronteiriça, a construção de uma muralha para proteção da população. D. João I atribui o título de Notável à vila de Nisa e D. João IV por carta régia eleva Nisa à categoria de Marquesado.

1.3.1. Narrativas

Lenda de Flor de Rosa (Crato)

Que belo nome o deste topónimo, Flor de Rosa! É uma pequena e agradável povoação de oleiros, que fabricam geralmente peças de utilidade doméstica. A pouca distância desta situa- se uma das joias da arquitetura religiosa portuguesa – o mosteiro da Flor de Rosa fundado pelo pai de Nuno Álvares Pereira, D. Álvaro Gonçalves Pereira.

Existe uma lenda respeitante ao nome da povoação chamada Flor da Rosa.

Naturalmente refere-se a tempo muito antigos quando era ainda flor de rosa um lugarejo, onde vivia um fidalgo cavaleiro de nome muito ilustre e estimado por toda a gente. Um dia, o cavaleiro adoeceu, adoeceu mesmo muito gravemente. Os médicos que o atenderam diziam já que pouco tempo de vida tinha, apenas alguns dias.

53 Apiedados do estado em que ele se encontrava, os amigos do cavaleiro visitavam-nos frequentemente. Levavam-lhe prendas e acarinhavam-no. Entre estas visitas, como é natural ia Rosa, a noiva do cavaleiro que lhe levou uma flor. E então aconteceu o surpreendente. Quando se aguardava a morte do cavaleiro, morreu Rosa. E desde esse dia era frequente ver-se o

cavaleiro chorar junto àquela que fora o grande amor da sua vida. E assim aconteceu até que ele acabou por morrer de desgosto. Porém pouco antes de fechar os olhos para sempre, o cavaleiro fez dois pedidos: queria que a flor que Rosa lhe oferecera o acompanhasse À sepultura e o nome de Flor da Rosa fosse dado àquele local. (Monteiro, 2005)

Lenda do Tamborzinho e da Pedra (Campo Maior)

Os Campomaiorenses contam que nunca guerra, não se sabendo a guerra que fosse, estando Ouguela cercada pelo inimigo, não havia possibilidade de mandar pedir reforços à praça de Campo Maior. Foi então que um rapazinho, que tocava tambor na guarnição daquele castelo, se ofereceu para ser o mensageiro.

Sabia que arriscava a vida, mas também estava na sua habilidade para enganar o inimigo a salvação dos seus amigos de Ouguela. Assim, da muralha saltou para os ramos da velha figueira que ainda hoje está quase encostada ao castelo arruinado. Levava consigo uma bandeira e a mensagem escrita com o pedido de socorro. E assim aconteceu.

O rapazinho atravessou as tropas inimigas que cercavam Ouguela e foi ter a Campo Maior, onde entregou a mensagem no hospital. (Monteiro, 2005)

Lenda do Castelo de Marvão (Marvão)

Num recanto aldeão alentejano, duas mulheres lusitanas esperavam um homem. Tratava- se de Marcelo, filho de uma e noivo de outra. Saíra a guerrear os Romanos e não tardaria para reorganizar a defesa daquele povoado. No encalço trazia as legiões do questor Cássio Longino. Havia sido ele a matar-lhe o pai e o jovem guerreiro procurava desforço, ainda que militarmente fossem mais frágeis os invadidos que os invasores. Mas foi chegar Marcelo e de imediato as duas mulheres tiveram de sair tentando pôr-se a salvo dos romanos que estavam ali perto. A fama de Cássio Longino era terrível, por onde passasse arrasava tudo e ali não seria exceção. Por isso as mulheres foram mandadas para um esconderijo no alto do monte.

54 Nem uma hora passara sobre a saída da mãe e sua noiva Amaia, as mulheres que Marcelo mais amava quando chegaram os Romanos. Foi uma luta feroz de menos de cem homens contra mais de mil bem armados. Finalmente como não podia deixar de ser, os Romanos ganharam e o chefe deles mandou que lhe passassem pela frente os dezasseis vencidos. Começou por Marcelo a quem tentou aliciar e lhe respondeu torto. Depois disse-lhe que tinha a noiva em seu poder e que os soldados lhe haviam morto a mãe quando ela se atirou a eles para a defender, e que seria executada a rapariga se esta não lhe agradasse tanto! Marcelo foi manietado pelos guardas para não se atirar ao inimigo. Acabaram por mandá-lo dali para fora.

Depois continuou a interrogar os presos. Um disse não poder comprar a sua vida por não ter haveres e foi mandado degolar. A outro perguntou o que tinha, e este apenas gritou: “ódio e muito!”. Mas ainda outro com posses já teve a vida salva. Por fim, o chefe romano mandou buscar Amaia, mas os soldados vieram dizer-lhe que desapareça. Marcelo liberta-se dos que o agarraram e foi à tenda de Cássio Longino, parecia um furacão, matou dois soldados e inutilizou os outros dois. Agarrou na noiva e saiu numa correria do acampamento montado no melhor cavalo que encontrara. Os romanos tentaram persegui-lo mas tiveram de desistir pois ele meteu se por uma encosta escarpadíssima. Dizia constantemente o chefe dos seus perseguidores: “ Por ali vão mal, por ali Mal Vão! É impossível escalarmos!” Mas os fugitivos, afinal, bem iam, os Romanos é que não foram capazes de os apanhar. “ Mas mal vão porquê?” – Perguntava Cássio Longino. “Porque encontrarão a morte nos rochedos! – Respondiam-lhe os soldados.

Marcelo e Amaia conseguiram abrigo enquanto Cássio continuou a devastar outras povoações. Porém, teve um grande castigo quando naufragou o barco em que regressava a Roma levando consigo o produto que roubara na conquista da terra lusitana. No alto da montanha Amaia e Marcelo fizeram a sua casa, formaram a sua família, os seus descendentes transformaram aquilo que os romanos diziam Mal Vão num castelo. Mal Vão que deu o nome a Marvão. O castelo de Marvão que chegou a ser pertença dos mouros, mas que D. Sancho I resgatou. (Costa, 1982)

A História da Safra da Moura (Nisa)

A Safra da Moura fica entre a Tolosa e a Ribeira de Sor, junto à estrada nacional, no concelho de Nisa. E chama-se assim a um conjunto de enormes penedos graníticos entre os quais existe uma gruta onde, ainda hoje, há vestígios de ali se terem acendido fogueiras. Os séculos desbobinaram-se desde aqueles tempos mas uma capa fuliginosa no interior ainda não dissipou.

Durante a Reconquista Cristã, abrigou-se ali um casal de mouros. Não fugia dos cristãos, era apenas um caso de objeção de consciência. Ele que fora um grande cavaleiro das hostes de Alá, abandonou os seus e, levando consigo a bela e bondosa esposa, meteu-se naquela gruta. Mas deixou uma carta ao seu rei:

55 “Conheceis-me bastante bem para concluirdes que não é o medo da luta que me torna desertor. Nunca receei o combate frente ao inimigo. As minhas armas nunca se baixaram quando o perigo e a morte mais se avizinhavam. Mas pensei longamente nas razões invocadas para sustentarem esta guerra, sem nunca ter encontrado uma única razão que a justificasse. Sempre ouvi fundamentar esta terrível contenda na incompatibilidade religiosa entre a cruz e o crescente. Semelhante justificação não passa de uma falsidade, com o fim de encobrir os desejos expansionistas dos soberanos que tiranicamente nos governam.”

Furioso, o rei mouro ofereceu muito dinheiro pela denúncia do casal mas as populações que sabiam bem onde estavam os fugitivos, nunca os denunciou. A Moura era bondade em pessoa e ajudava-os muito com as suas riquezas pessoais, de que se fizeram acompanhar. Mais fechado era o marido, mas raramente aparecia.

Ora certa vez uma pobre e velha viúva viu-se na necessidade de esmolar junto da moura. Foi à Safra da Moura, mas encontrou-se com ele e não com ela. Muito triste e a medo, lamentou- se e pediu. O cavaleiro escutou-a e trouxe uma cesta com carvões. A pobre, desesperada, regressou a sua casa maldizendo a sua sorte. Pelo caminho, a cesta pesava-lhe, então foi deitando fora os carvões. Ao chegar a casa como só lhe restasse um, atirou-o para a lareira, esmagando-o. E qual não foi o seu espanto ao ver aparecer uma moeda de ouro!

E logo saiu a velha de casa, seguindo pelo mesmo caminho para apanhar os carvões que deitara fora. Mas não encontrou nenhum. Porém, junto à Safra lá estava o mouro sorrindo-lhe. Ele disse-lhe “ Bem percebi que não confiavas em mim, boa mulher! E segui-te, recolhendo todo o carvão que tinha dentro moedas de ouro. Toma, leva-o contigo e alivia a tua pobreza. Mas vais- me fazer um favor, não julgues as pessoas pela sua aparência. Ficas a saber que para a minha mulher vos poder ajudar a todos eu é que trabalho preparando os alimentos e os remédios.” Não se calou a velha e assim se ficou a saber que o mouro era tão bondoso como a esposa, retribuindo- lhes o carinho e a generosidade deles. (Monteiro, 2005)

A Nova Arroche (Arronches)

Esta história situa-se no ano 39 da nossa era e começa quando o cruel Caio Germano Calígula obrigou um jovem nobre romano a comer à sua mesa na companhia do seu cavalo Incitatus, que tinha a categoria de primeiro cônsul. Irritado com a situação Licínio Balbo abandonou Roma e viajou para Andaluzia, indo para a cidade de Arroche governada por Flávio Valério, servo de Calígula. Ele era o centro de todas as intrigas em Arroche, e os seus sicários matavam e maltratavam quem a sua arbitrariedade ordenava.

Quando Júlio Decêncio, oficial romano entrou com a sua bela filha Márcia no salão de Flávio Valério, este fez comentários grosseiros em relação a ela. O pai que ali fora convocado a

56 comparecer com a filha enfrentou o governador, mas o poder do tirano fazia-se sentir. Depois Valério acusou Márcia de práticas cristãs, ameaçando-a. Entretanto, os seus soldados trouxeram- lhe Licínio Balbo que ele mandara prender nas ruas de Arroche. O rapaz desenvolto manifestou admiração pela jovem e o interesse em conhecer a religião cristã, desafiando abertamente o

No documento O Projeto Sete Villas (páginas 54-63)

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