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2.3.3 Dimensões da Análise das Redes Sociais Informais

2.3.3.2 Rede Social de Amizade

Se, dentro de um determinado contexto, um grupo de indivíduos tem a oportunidade de interagir com outro por um período de tempo, as relações amigáveis, sem dúvida, serão estabelecidas e uma rede afetiva surgirá (BUNT, DUIJN e SNIJDERS, 1999).Segundo Régis, Dias e Bastos (2006), a rede de amizade está baseada na troca de afeição e socialização que fornece apoio e melhora a autoestima, além de encorajar certos comportamentos que aumentam a aceitação junto a grupos dentro das organizações.

Outros atributos que a rede de amizade proporciona são a comunicação íntima, semelhança social, expectativas de comportamento altruísta, estabilidade da relação e o fortalecimento de valores profissionais. Intimidade entre amigos cria entendimentos compartilhados, comunicação clara e aceitação de pontos de vista. As semelhanças sociais, reais e percebidas, aumentam ainda mais o desenvolvimento de crenças. O altruísmo entre amigos apoia as expectativas de que novas ideias surjam com boas intenções, e a estabilidade da relação e o fortalecimento de valores profissionais permitem explorar mutuamente pensamentos não comprovados (GIBBONS, 2004).

Coadunada, Kuipers (1999) afirma que os laços de amizade também ajudam as pessoas a identificar quem são os atores da rede em relação ao grupo: se eles são membros, membros potenciais, ex-membros ou não membros. Portanto, nesta relação não há apenas o fornecimento de meios informais para um bom desempenho, mas também uma forma para que os envolvidos na rede interagem uns com os outros fora do local de trabalho.

Conforme Podolny e Baron (1997) existem estudos sobre as redes nas organizações descobriram que enquanto redes de amizade são menos importantes para a mobilidade profissional, e podem ser mais necessárias para a empresa e para a identificação com o trabalho. Para esses autores, laços de amizade não são apenas as ligações entre amigos, mas também entre aqueles que fornecem uns aos outros comentários de amparo e informações que aumentam a auto-valorização, isto é, a formação de uma amizade não acontece com base em puro acaso, mas pode, até certo ponto, ser descrita por alguns princípios que subjazem o comportamento individual.

Bunt, Duijn e Snijders (1999) explicam que as relações de amizade servem para dois, não principais, propósitos: relação social e instrumental. A primeira refere-se a relações de amizade que acontecem através da interação diária. Já a relação instrumental associa-se aos relacionamentos amigáveis que, em tempos de necessidade, são úteis ou de apoio, pois cria-se um envolvimento que torna mais fácil o pedido de ajuda (ARGYLE e HENDERSON, 1985; FINE, 1986 apud BUNT, DUIJN e SNIJDERS, 1999).

Para Kilduff (1992) as redes de amizade influenciam nas escolhas individuais e organizacionais, isto é, os círculos sociais formados interferem na tomada de decisão através de processos tais como a coesão entre amigos ou rivalidade entre os ocupantes de cargos equivalentes sociais. Para algumas pessoas mais do que outras, a rede de amizade pode ajudar a simplificar a complexa decisão por meio da redução do número de alternativas viáveis, ou então, de tornar a escolha semelhante.

Krackhardt e Stern (1988) sugerem benefício adicional quando a organização se encontra em processo de mudança. Esses autores argumentam que os amigos influenciam a motivação das pessoas em geral através de identidades. Se uma pessoa tem apenas amigos dentro do departamento, em seguida, ela pode se identificar com outra subunidade (departamento, a equipe, divisão). Por outro lado, se tem amigos espalhados por toda a organização, então a identidade torna-se ligada a esta entidade maior, ou seja, a organização como um todo. Assim, haverá maior identificação organizacional e o indivíduo estará mais disposto a envolver-se.

Outra considerável característica das redes amizade para organizações, segundo Gobbins e Olk (2003) é que incluem laços redundantes e não redundantes, em que o primeiro torna-se vantagem quando há uma necessidade de confiança e cooperação, como durante uma crise, exigindo partilha de informações e formação de alianças estratégicas. Alternativamente, os laços não redundantes, tais como aquelas que ocorrem em torno buracos estruturais, podem ser essenciais para indivíduos com uma perspectiva ou interesse diferente, isto é, se uma

organização depende de inovação, cujas estratégias ou produtos emergem de entendimentos divergentes de um problema, as relações transitivas podem não ser tão úteis.

Quando relacionada à cultura organizacional, a rede de amizade também gera influências. Conforme Krackhardt e Kilduff (1990), apesar da cultura organizacional ser controlada pela gestão de topo, possui uma propriedade emergente de relação informal dentro dos grupos, ou seja, os amigos afetam significativamente cada colega de trabalho sobre critérios culturalmente relevantes devido às atribuições das pessoas serem, de certa forma, controlada pela necessidade de estar em harmonia com os outros. Assim, a organização pode ser descrita como um campo magnético em que os componentes individuais atraem e se repelem, e os amigos podem estabelecer e reforçar mutuamente o sistema interpretativo.

Visando explicitar os fatores antecedentes na escolha da centralidade nas redes, Klein

et al. (2004) propuseram algumas hipóteses no estudo, cujos resultados mostraram que

indivíduos altamente qualificados, em alta preferência de atividade, com baixo neuroticismo, baixa abertura à experiência, semelhantes nos valores de hedonismo e de tradição com seus companheiros de equipe, são mais propensos a ganhar posições centrais nas redes de amizade. Destacou-se também sobre o fato da similaridade de características demográficas, como raça, sexo, idade, não apresentar influências consideráveis entre os amigos.

Dessa forma, a rede de amizade intervem às operações internas de uma organização como troca de partilha de informação, tomada de decisão e de recursos, bem como para os resultados organizacionais e as relações interorganizacionais, dependendo da força dos laços existentes, ou seja, de uma combinação linear da quantidade de tempo, da intensidade emocional, da intimidade e dos serviços recíprocos que caracterizam a reciprocidade da relação (GRANOVETTER, 1973).