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Ao longo da pesquisa, ganharam centralidade no campo das violações sexuais contra crianças e adolescentes as chamadas redes de proteção à infância e à adolescência. É através delas que se produzem repertórios morais, conhecimento técnico, capital político, demandas em torno de políticas públicas, categorizações de experiências, demandas por justiça, disputas políticas e de interesses, etc. Mais do que isso, elas reúnem pressupostos legais para a expansão dos direitos humanos e a emergência de novas tecnologias de gestão das subjetividades (SCHUCH, 2012, p. 36-37).

As redes de proteção constituem uma categoria nativa bastante central nos debates coletivos e no campo das políticas públicas de atenção à infância e à adolescência. Como categoria nativa, a rede se apresenta como uma espécie de “estrutura”, mais ou menos estabilizada por um dado número de instituições e sujeitos que demonstram atuação técnica, mediação política ou capacidade de mobilização de recursos materiais ou simbólicos em torno dos casos envolvendo violações de direitos de crianças e adolescentes. Contudo, interessa-nos também aqui outra forma de conceber a ideia de redes de proteção – aquela que toma rede como conceito na antropologia.

Laura Lowenkron (2012, p. 309), ao tratar do que seus interlocutores denominam “redes de pedofilia”, traz importantes reflexões a respeito da relação entre rede como categoria nativa e como conceito analítico, sinalizando aproximações e distanciamentos.

Tanto na produção acadêmica quanto nos discursos policiais, a categoria é marcada por uma polissemia que parece estar associada a diferentes tentativas de fixar pontos de ancoragens para apreender o movimento contínuo da vida social no limite do possível. Entretanto, enquanto os antropólogos buscam ferramentas conceituais para conferir alguma inteligibilidade a esse fluxo, os policiais estão mais preocupados em formular estratégias para capturá-los em procedimentos burocráticos. Em ambos os casos isso implica não apenas construir conexões, mas também selecionar o que deixar de fora e delimitar as unidades privilegiadas de análise.

Indo além, a autora aciona James Clyde Mitchell ([1969] apud LOWENKRON, 2012) para demonstrar dois sentidos em que a noção de rede é acionada nos estudos antropológicos: um deles metafórico, como forma de descrever “relações concretas e previamente existentes”; o outro, analítico, diz respeito a um conceito abstrato utilizado “para analisar diferentes modos de traçar associações entre pessoas” – ou, em termos latourianos, entre pessoas e coisas (LOWENKRON, 2012, p. 309). Assim sendo, ela entende que as redes designadas por seus interlocutores “nada mais são do que o resultado das conexões que puderam ser traçadas pelas investigações policiais entre usuários situados em diferentes partes do mundo” (idem, p. 308).

Marilyn Strathern (1996), pensando híbridos e redes, justapõe àquela convencional análise de redes a proposta da teoria ator-rede, considerada capaz de hibridizar as ferramentas de análise social. Os híbridos, como “uma força no mundo”, proliferam-se tanto mais se tente produzir divisões entre categorias ou domínios. Aqui, o conceito de rede remete à trama de elementos heterogêneos que compõem determinado objeto ou evento – “em resumo, um híbrido é imaginado como um estado socialmente estendido”. E, em contrapartida, ela defende que é possível levar em conta os híbridos como redes condensadas. A imagem proporcionada pela ideia de rede possibilita, segundo ela, que se descreva “o modo pelo se qual se pode unir ou enumerar entidades díspares sem fazer pressuposições sobre níveis ou hierarquias”, de maneira que elementos heterogêneos interconectados possam ser descritos simetricamente. É por meio do conceito de rede que se torna viável a análise das alianças entre entidades humanas e não humanas e os efeitos decorrentes dessas interações.

O que Strathern se propõe a pensar, a partir de então, diz respeito aos possíveis limites das redes e às eventuais interrupções de seus fluxos. Se as redes analíticas, em teoria, não possuem limites, sua extensão parece tão longa ou limitada na mesma medida em que a análise o é. Desse modo, observa, a análise é capaz de considerar e de criar quaisquer formas novas, sendo que “alguém pode sempre descobrir redes dentro das redes; é uma lógica fractal que caracteriza qualquer comprimento como um múltiplo de outros comprimentos, ou um elo numa cadeia como uma cadeia de outros elos”. De que maneira, então, se pode cortar a rede em determinada extensão? Como reter ou apreender um quadro mais ou menos estável de saturação que torne possível o exercício interpretativo/analítico? A partir de diferentes materiais etnográficos, Strathern demonstra como objetos humanos e não humanos – como pagamentos e propriedade, por exemplo – podem

reter o fluxo, cortar a rede e restringi-la em um mundo em que a relacionalidade, de tão presente, precisa encontrar meios não necessariamente de ser sustentada, mas de ser limitada.

Tais discussões estão relacionadas às práticas etnográficas e aos modos de observar, apreender e descrever o mundo que se distanciam daquelas perspectivas tradicionais ancoradas nas ideias de totalidades, de unidades discretas autocontidas ou de todos e partes. É nesse sentido ainda que Strathern (2004), opondo-se não só à ideia de totalidades conceituais mas também igualmente à ideia de fragmentos – os quais, por definição, também remetem à concepção de um todo ao qual pertencem –, oferece outros instrumentos epistemológicos para se pensarem as relações e fenômenos etnográficos: as noções de “conexões parciais” e de “fractal”. Para ela, muitos problemas residem na organização do material etnográfico, ou seja, no modo como o observador realiza a compilação, o ordenamento e a sistematização, e na relação que essas modalidades de arranjo e classificação mantêm (ou não) com a forma como os indivíduos concebem seu mundo e suas ações. De acordo com cada lugar a partir de onde se observa, mobilizam-se determinados mundos e audiências, instrumentos epistemológicos e ferramentas teóricas para apreender-se e descrever-se o mundo – e, por isso, não há, na ciência, conhecimento que não seja situado a partir de determinadas perspectivas; não há discurso não situado.

É dessa maneira que, para Strathern (1999, 2006), o próprio conceito de sociedade se mostra problemático, tendo em vista a tradição sociológica que pesadamente atribui à ideia a imagem de um todo solidário contraposto ao indivíduo – este concebido como entidade dada que se insere nas relações, extrínsecas a ele. Portanto, opondo-se a uma noção de um todo significante como pano de fundo ou contexto de realidade para representações sobre ele construídas, Strathern (2004) propõe que a prática etnográfica se dê por meio de conexões parciais, ou seja, um sistema de conexões heterogêneas que se circunscreve para efeitos de abordagem e análise de um problema, mas que se desdobra de modo múltiplo e sem fechamento em um sistema ao qual se submeta em última instância. Desse modo, para ela a descrição etnográfica se constrói a partir de conexões parciais estabelecidas entre partes que não constituem encaixes ou totalidades. Por conseguinte, em vez da ideia de “fragmento”, Strathern (idem) sugere a noção de fractal. Considerando- se que estabelecemos unicamente conexões parciais, não existem partes e todos – o mundo é um e múltiplo ao mesmo tempo; cada objeto, tomado como um, contém em si a multiplicidade. Em outras palavras,

certos tipos de redes podem ser tomados como “híbridos socialmente expandidos”; e os híbridos, “como redes condensadas” (STRATHERN, 1996). Tomada da matemática, a noção de fractal busca dar conta de conceber os objetos selecionados para a abordagem antropológica como de extensão infinita, sendo que a complexidade é replicada em cada nível de análise, independente da escala que se adote; assim, reproduz-se a mesma forma em diferentes escalas, de modo a se manterem a complexidade e a relação entre seus elementos (STRATHERN, 2004).

Sendo assim, as redes podem assumir qualquer escala, “ter o poder de atravessar diferentes níveis organizacionais” (STRATHERN, 2014a, p. 289).

A sua força reside no fato de que as relações interpessoais podem assumir qualquer escala, ser produtivas em qualquer ordem de encontro, seja em um pequeno departamento universitário ou ao redor do mundo. É equivocado pensar que podem ser medidas pelo tamanho. Mas elas de fato exigem tempo, energia e cultivo, e é isso que está em jogo. Seria igualmente equivocado deixar de reconhecer que a escala existe em outros lugares. Gostaria de chamar a atenção para a importância

de reconhecer diferentes escalas de esforço nos fundamentos da criatividade. A reprodução do

conhecimento é um processo complexo, heterogêneo e não linear que envolve relações concretas e relações abstratas (idem, p. 292,

grifos originais).

Retornando às definições de rede na antropologia cabíveis à abordagem presente neste trabalho, Jean Segata (2012, p. 36) oferece a seguinte reflexão:

Uma rede não pode ser definida por superfícies, tampouco por seus limites externos; antes sim, o foco está nos agenciamentos, nas alianças entre elementos heterogêneos (agentes humanos e não humanos). Ou seja, a rede por si só pode também se constituir como um ator, uma vez que ela produz efeitos, que ela não é uma entidade fixa, logo, não é o objeto de análise. A análise deve recair na capacidade que essas redes têm em redefinir ou transformar os seus componentes

(internos e externos): de modo resumido, interessam os efeitos das redes (SEGATA, 2012, p. 36).

Strathern (1996) sublinha ainda que esse conjunto de reflexões inclui pensar a maneira como híbridos e redes se tornam elementos operacionalizáveis no modo como as pessoas manejam seus interesses e o estabelecimento de relações.

Nesse sentido, cabe-me descrever as redes que segui – as configurações que acompanhei, as parcerias momentâneas ou recorrentes que presenciei em campo, os fluxos e arranjos de que tomei nota em torno das ocorrências. Tais foram os elementos a “cortar a rede” – no sentido de Strathern (1996) – para fins de descrição etnográfica. Ademais, concordo com as observações de Adriana Vianna a respeito da centralidade do tempo na efetuação desses cortes – levando-se em conta aqui suas diferentes dimensões. Por um lado, há de se considerar o tempo do trabalho de campo, cujos movimentos inauguram e encerram/cortam esses circuitos apreensíveis no exercício descritivo. Por outro, há aqui o “tempo do drama”, marcado por uma dimensão extraordinária – quando o evento do abuso ou da denúncia se instaura, produzindo efeitos sobre as relações e as biografias dos envolvidos – e posteriormente por um processo de “ordinarização da vida” – quando se operam arranjos para reacomodar o sujeitos, suas experiências e seus projetos77.

Os acontecimentos em torno da pesquisa me permitiram acompanhar os agentes que constituem esses coletivos ou associações – ou, nos termos recorrentes em campo, essas redes –, sobretudo aqueles que compõem os nós que primeiramente acolhem, apuram, registram e encaminham as denúncias – conselho tutelar, escolas, polícia civil e hospital. Acompanhei a apuração de casos por parte do conselho tutelar, da direção de escolas (com importante papel nas regiões de interior) e, especialmente, por parte da polícia civil (e de setores ou grupos que atuam na promoção da segurança pública em pequenas vilas no interior do município), bem como o acolhimento no hospital para a realização de exames de conjunção carnal. Pude participar ainda de cursos de formação para conselheiros tutelares, audiência pública referente a casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, palestras e reuniões sobre o tema. O ingresso nesse circuito acabou, pois, por consolidar o

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Tais apontamentos foram realizados durante a banca de defesa desta tese. Agradeço a Adriana Vianna esta e tantas outras valiosas contribuições.

foco nas redes de proteção – em seu funcionamento ou em seus entraves; na construção ou não de intercâmbios entre instituições; na tradução dos conflitos para uma linguagem juridicamente inteligível; na mediação desempenhada pelos seus agentes; e nas implicações dos modos de gestão pública e de agentes não humanos (geografia, hidrografia, distâncias, florestas) sobre os demais movimentos dessas redes.

As redes de proteção são constituídas, portanto, por instituições e figuras públicas cuja atuação na área de direitos da infância e da adolescência é reconhecida. Integram-na também conjuntos mais ou menos afins de saberes técnicos, bem como um corpus de entendimentos éticos e políticos acerca dos direitos relacionados a crianças e adolescentes, dos direitos sexuais e reprodutivos e dos modos de subjetivação das experiências de violência. Acompanhando Letícia Freire (2005, p. 31), entendo rede, neste caso, como “uma lógica de conexões, e não de superfícies, definidas por seus agenciamentos internos e não por seus limites externos”. Essas redes, portanto, podem ser entendidas como cadeias de associações caracterizadas de acordo com o “número de pontos ligados, a força e a extensão da ligação e a natureza dos obstáculos” (idem, p. 133), cuja força se relaciona ao número de aliados e de recursos que conseguem mobilizar (ver BOISSEVAIN, 1987). Nas palavras de Strathern (2014b, p. 305), “as redes em ação são mais compridas quanto mais poderosos forem os ‘aliados’ ou mediadores tecnológicos que podem ser atraídos para dentro delas. [...] Podemos também dizer que uma rede é tão comprida quanto puderem ser enumerados seus diferentes elementos”.

Ademais, assim como Strathern (2014a, p. 289) se refere aos sistemas de informação-produção, esses coletivos que se ativam em torno dos eventos de violação sexual de crianças e adolescentes e que promovem os chamados serviços integrados de acolhimento

[...] só são viabilizados por interações entre seres sociais que mantêm múltiplas conexões entre si por meio do que consideram, de modo independente, suas relações. Em virtude dessas relações, as pessoas sustentam um fluxo de conhecimento (isto é, selecionam as informações adequadas) muito maior do que o que jamais poderá ser sistematizado (STRATHERN, 2014a, p. 289).

Voltando às redes de proteção, estas consistem de articulações entre Conselhos Tutelares, Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA), Conselhos Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Polícia Militar, Polícia Civil, Hospitais, instituições outras de acolhimento (como o PROPAZ, em Belém), Comissão de Justiça e Paz (CJP) da Comissão Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), agentes comunitários de saúde, agentes de segurança de vilas ribeirinhas, políticos com histórico de defesa da área de infância e adolescência (como o caso do deputado federal Arnaldo Jordy) – e englobo aqui professores e diretores escolares, sobretudo nas regiões rurais. Ademais, como já mencionado, o saber técnico dos profissionais que avaliam, classificam e documentam as populações sobre as quais se aplicam as políticas públicas ocupam lugar central na articulação e mobilização dessas redes, impactando as ações e as decisões sobre o conjunto de ações que operam nesses circuitos. Esse saber técnico que permeia as decisões e os procedimentos de intervenção, além disso, desvela a capilaridade do poder político e administrativo nos quadros de gestão social (VIANNA, 2005; WENDEL et al, 2005).

Essas múltiplas conexões, que associam conjuntamente vários atores sociais, sinalizam para aspectos tematizados por Patrice Schuch (2012) a respeito da “implementação de novas práticas no sistema de justiça sobre crianças e adolescentes no Brasil” (idem, p. 61, trad. livre). Ao tratar das práticas de justiça restaurativa e das reformas legais na área da infância e da adolescência no Brasil nas últimas décadas, Schuch identifica a formação de um novo campo de intervenção – mobilizado por uma retórica de promoção do desenvolvimento e da modernização – formado por “agentes legais, organizações transnacionais de desenvolvimento e de direitos humanos, professores, líderes comunitários, especialistas e consultores internacionais, clubes de mães, entre outros”, os quais constituem redes heterogêneas pelas quais “diferentes tipos de poder circulam para criar significados dominantes sobre processos contemporâneos, bem como o exercício de práticas” (idem, ibidem, trad. livre).

As considerações explanadas se relacionam às discussões teóricas apresentadas nas seções anteriores desta tese. Com efeito, conforme assinalam Fassin et al (2013), o Estado não é o elemento transcendente, desmaterializado, impessoal, a partir do qual emergem leis imparciais voltadas ao bem comum; tampouco se limita a um aparelho coercitivo a

serviço dos dominantes. O Estado se produz nos espaços das instituições públicas, dentro de períodos históricos determinados, por meio dos agentes oficiais que trabalham nele e que “implementam” as políticas – como policiais, magistrados, psicólogos, assistentes sociais, etc. Sendo “produto de seu tempo”, uma análise do Estado deve levar em conta as transformações nas relações de força da sociedade, transformações ideológicas, mudanças parlamentares, bem como a singularidade de cada construção nacional (idem, p. 15). Nesse sentido, os autores discordam de uma leitura vertical que leve em conta as políticas públicas como produto de decisões governamentais e de leis parlamentares, como se funcionários e agentes estatais meramente as colocassem em prática. Propõem, por conseguinte, que os agentes, agindo com observância à legislação e a preceitos éticos de sua profissão, possuem uma liberdade de interpretação e de ação frente às demandas e às contingências que se apresentam. Não se trata, porém, de uma posição tática intermediária entre leis ou normas e uma margem de manobra frente a elas, pois os agentes não aplicam políticas de Estado – eles são a fonte dessas políticas, eles são o Estado (idem, p. 17). É pela análise de suas ações no âmbito das instituições públicas, portanto, que se apreende a política do Estado.

Descrever as alianças e as formas de participação de sujeitos e instituições que compõem essas redes de proteção é, por um lado, uma maneira de descrever o próprio Estado. Afinal, o modo como essas instituições operam conjuntamente nos remetem ao Estado atuando empiricamente – sendo que este se constitui por meio do conjunto de profissionais e agentes que ao mesmo tempo aplicam e produzem a ação pública (FASSIN et al, 2013, p. 16). A instituição é, assim, o lugar de produção do Estado (idem, p. 19).

Por outro lado, descrever essas redes, coletivos ou associações também é uma forma de descrever dispositivos e formas de governo da infância e da adolescência, sendo que, conforme propõe Patrice Schuch (2012, p. 37),

[...] contemporary modes of managing children and adolescentes in Brazil can be understood through an analysis of two interrelated processes: on one hand, the emphasis on a rhetoric of rights as instruments for ‘modernization,’ social development, and the consolidation of democracy; on the other, the attempt to create ‘modern sensibilities’ and new kinds of personhood based

on the values of individuality, autonomy and self- responsibility. These two clusters of relations are fundamental for the formation of a new person, the ‘subject of rights,’ as well as for the reconfiguration of a new sense of nationhood. I am interested in understanding the processes leading to the creation of this new social person, as well as how new technologies of constructing the self intersect with multiple moralities (especially religious) and other technologies of social intervention – for instance, welfare practices based on ‘assistance.’

2.1 Tessituras e movimentos das redes

Durante o longo período em campo, acompanhando o trabalho de diferentes instituições, eventos locais e documentos produzidos no contexto dos conselhos tutelares, foi possível vislumbrar diferentes arranjos institucionais e mobilizações públicas para a resolução dos casos que emergiam a partir das denúncias. Sendo assim, as redes eram constituídas por meio da natureza dos casos e de seu fluxo entre diferentes pontos articulados, em maior ou menor grau, aos chamados serviços de proteção à infância e à adolescência.

Em conversas iniciais com Arlete, liderança importante na articulação das CPIs da pedofilia no município e que logo assumiria a presidência do CMDCA, eram sinalizados muitos personagens que outrora haviam participado, de alguma forma, de ações referentes ao campo. Eram delegados, promotores, policiais militares, cuja trajetória por Curralinho fora marcada pelo engajamento, em maior ou menor grau, em atividades de combate a violações aos direitos de crianças e adolescentes; de fiscalização sobre o cumprimento de leis de proteção, como aquelas referentes a bares, casas de festa e transporte intermunicipal; ou mesmo de viabilização burocrática em torno de processos específicos ou de ações coletivas e de orientação jurídica para a formação de profissionais associados ao campo da infância e da adolescência. Essas pessoas, geralmente relacionadas a cargos de altas

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