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Existem várias rotas que conectam a Amazônia Brasileira aos países da Comunidade Andina. Na Bolívia, por exemplo, a conexão se dá com o estado do Mato Grosso, onde são utilizadas as rotas terrestres e aéreas, por meio de uma articulação reticular que leva a droga do Oeste do Pará para a região do Xingu, a partir do município de Altamira, Sudeste do Pará, até os municípios de Conceição do Araguaia, Redenção e Marabá e para o Norte do Tocantins até Palmas, chegando até o Sudeste do Brasil. Da Bolívia também partem os fluxos de cocaína, fluxos estes que vão em direção ao estado de Rondônia, o qual recebe transportes aéreos e fluviais. Destaca-se que os traficantes constroem pistas de pouso clandestinas no meio da floresta, ou então, utilizam fazendas como fachadas, segundo o relato de policiais federais.

Do Peru para a Amazônia brasileira prevalecem as rotas fluviais em direção aos estados de Rondônia e Acre; do estado do Amazonas em direção ao rio Amazonas e seus afluentes da margem direita. Nesse arco, as cidades de São José Chiquitos, San Ignacio, San Matias, Guajará Mirin e a capital La Paz, todas na Bolívia, funcionam como nós ou nexos conectados que dão sentido a toda a estrutura espacial em redes e chega até às cidades da Amazônia, sem respeitar os limites fronteiriços. As cidades de Cusco, Pucallpa e Iquitos, no Peru, são os nexos das redes; no arco Central e Sul da fronteira, com forte integração com o estado do Amazonas pelos rios, destacam-se as cidades de Porto Walter e Assis Brasil no Acre.

Na Colômbia, Bogotá é o centro de comando e precisa de articulações por toda a fronteira com o Brasil. Para isso, as cidades de Leticia, na fronteira com Tabatinga (Brasil), são a cidades gêmeas que sofrem atenção especial, principalmente dos órgãos fiscalizadores. Ainda há Japurá e São Gabriel da Cachoeira no estado do Amazonas, cidades que também dão sentido e dinamismo para as redes do tráfico de drogas na região. E, finalmente, completando esse processo pelos arcos mais ao Norte da Amazônia, a conexão de Bogotá até Pacaraima e Boa Vista passando pela Venezuela.

A organização do narcotráfico na Amazônia brasileira envolve um conjunto de cidades que sofrem influência das relações de poder de narcotraficantes e de facções que estão associadas aos narcotraficantes estrangeiros de países como Bolívia, Colômbia e Peru. Neste aspecto, torna-se necessário que os grupos no

Brasil deem condições de que a droga possa fluir com facilidade nos mercados brasileiros e possa chegar até os mercados europeus e africanos.

A Amazônia apresenta uma bacia a qual não se limita ao território brasileiro. Além de ter um ambiente com áreas de baixas densidades demográficas, em meio a uma floresta densa e uma variedade de rios, os narcotraficantes aproveitam-se dessas peculiaridades. De acordo com o ponto de vista do Estado, deve ser difícil manter o controle, entretanto, é proveitoso para repassar as mercadorias contrabandeadas, biopiratarias e tráfico de drogas.

É nesse ambiente de enorme proporção territorial e de baixa densidade demográfica, onde a ausência do Estado chega a ser uma regra e não uma exceção, que identificamos a ação de grupos adversos que se aproveitam da densa floresta para acobertar inúmeras atividades ilícitas, utilizando-se de rotas aéreas, terrestres e fluviais clandestinas para transportar toda sorte de droga, contrabando, armas e munições (ISHIDA, 2006, p. 4).

Preferiu-se utilizar aqui o termo atuação precária ao invés de “ausência do estado”, visto que não se acredita neste total afastamento, pois de uma forma ou de outra, ele está presente. É claro que estas ameaças impostas sobre o espaço amazônico legitimam, quando necessário, “estado de exceção”, em nome da segurança e da defesa, pois as leis de exceção tornam-se regras, nas quais o ilegítimo torna-se legítimo. Julga-se também a extrema ameaça representada por estas atividades ilegais que são utilizadas como discurso. Além disso, considera-se que os projetos Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e Calha Norte são exemplos de que esta ausência de Estado não existe e de que a qualquer momento o “estado de exceção” pode estar em ação.

Para Haesbaert (2006, p. 33):

Esses processos, na verdade, mais do que um simplista refortalecimento do papel do Estado, estão inseridos dentro “de uma lógica contraditória e ambivalente, na medida em que, se por um lado parece revelar seu fortalecimento, como o recurso frequente a ‘Estado de exceção’, por outro pode estar justamente revelando o seu caso, no desespero de tentativas de controle que buscam, de certa forma, controlar o incontrolável”.

Esse jogo de des-controle de território, no qual a Amazônia participa, esclarece a complexidade de se poder ter uma noção mais clara sobre as relações, sobretudo institucionais, na região. O que se verifica é que o narcotráfico impõe uma territorialização que pode ser interpretada como uma possível desterritorialização do estado.

Essa nova-velha des-territorialização, direta ou indiretamente levada a cabo pelo Estado (seja dentro da “norma” vigente, seja por meio de legalização do ilegal ao criar novos “campos” que podem se confundir com o próprio Estado como um todo), aparece acoplada a diversas outras iniciativas, principalmente as desse aparato a-legal que a “ausência” ou fragilização do papel social do Estado incitou a emergir, como no caso dos territórios dominados por máfias e/ou pelo narcotráfico. Parece tratar-se agora, sobretudo, do controle dessa massa crescente de despossuídos (HAESBAERT, 2014, p. 33).

Assim, a Amazônia está em meio a um conflito que evidencia que o Estado e as organizações ilegais têm interesses divergentes (ora convergentes) sobre o uso do território. Já que está sendo tratado sobre as organizações ilegais, é preciso reconhecer que nestas condições elas dependem também de microrrelações criadas por micropoderes capazes de se estruturarem em termos de organizações territoriais zonais e reticulares, os quais estarão presentes nas cidades da região e farão parte das redes macros.

Nestes termos,

Não podemos, entretanto, ficar de tal forma obcecados por esse macropoder do Estado ou das grandes organizações ilegais a ponto de ignorar os micropoderes, como diria Foucault, em que não apenas esse macropoder é legítimo e outros micropoderes heterônomos brotam com igual força, mas também em que podem ser gestados movimentos sociais de resistência, articuladores de territórios/territorialidades mais alternativos ou mais autônomos. Ao priorizar a multiplicidades de sujeitos que fazem a história, e as resistências que eles constroem, podemos entender a multiplicidade de territórios/territorialidades possível de ser desenhada, numa visão muito mais complexa da relação entre poder e espaço, dentro do movimento contemporâneo de desterritorialização do Estado (HAESBAERT, 2014, p. 34).

As organizações criminosas internacionais esquematizam estratégias desde cima, entretanto, apresentam uma importante diferença em relação às organizações formais. As atividades ilegais devem integrar a visão desde baixo, pelo fato de estarem sujeitas a uma maior exposição ao risco no território. A articulação e o êxito dos negócios ilegais são intensamente dependentes de conexões locais,

aproveitando-se de complexos e instáveis sistemas de informação e telecomunicação, nesse movimento o macro e o micro devem estar proferidos de tal forma que possam fazer fluir tais fluxos de drogas.

Os conflitos que ocorreram no início de 2017 nos presídios Anísio Jobim, no Amazonas, com 56 mortos, e na penitenciária agrícola de Monte Cristo, em Roraima, com 33 mortos, são exemplos de que na Amazônia existem crimes que são comandados por facções criminosas que atuam no Brasil e têm interesse no controle da entrada e distribuição da droga pelo mercado do Brasil. No Amazonas, os presídios são comandados pela Família Do Norte (FDN)8, uma facção criada em

2006, a partir da união de dois grandes traficantes deste estado. Esta organização foi criada para fazer frente ao avanço do Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, que tentava avançar pela região. A FDN é, por enquanto, unida com o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e se opõe à ofensiva da facção paulista.

A FDN controla a rota do Solimões, como é conhecida a área utilizada por traficantes para escoar cocaína do Peru e da Colômbia que vai para os grandes centros consumidores do país e para o exterior. A aliança estabelecida entre CV e FDN é de amplo interesse das duas facções; para o CV, é uma forma de receber as drogas por um valor mais baixo, enquanto que para FDN é a maneira de ter acesso aos mercados de outras regiões.

A guerra das facções está justamente associada a esta tentativa de se ter acesso ao fornecimento de cocaína num valor menor para elevar os lucros. Quando a droga entra no país a um preço elevado, ela compromete a rentabilidade da organização criminosa que precisa de recursos para a sua manutenção.

Em 2010, o quilo da cocaína estava custando9 no mercado de R$ 28.000,00 a

R$ 30.000,00. Em 2015 e 2016, o quilo da cocaína importada dos países produtores já havia baixado para uma variação que ficava entre R$ 18.000,00 e R$ 20.000,00. Este barateamento associa-se ao aumento do consumo interno e à ideia de que o Brasil é um mercado alternativo para o fornecimento desta droga. Este mercado alternativo se dá em função: das circunstâncias de localização; do maior controle

8 A FDN é a terceira maior facção criminosa do país, ficando atrás de PCC e CV, porém seu

crescimento se deu em função do estado do Amazonas ser a principal porta de entrada de cocaína no Brasil.

9 As informações sobre o preço da cocaína destacado foram coletadas em entrevistas de campo,

portanto, obedece à lógica de mercado a partir da oferta e da procura. Além disso, a queda do preço está associada ao aumento da quantidade de droga que atravessa as fronteiras do país.

das fronteiras dos EUA; e da maior repressão ao tráfico de drogas em países europeus, o que eleva os custos de transportes das drogas, encarecendo o produto e diminuindo os lucros. Por conta disso, nos últimos anos, o Brasil passou a destacar-se no mercado mundial de comércio de drogas.

A FDN tornou-se a terceira maior facção criminosa do país, segundo a Polícia Federal. Tal fato ocorre em função de este controle e localização estarem próximos aos principais produtores. A Amazônia tornou-se um campo extremamente fértil para a reprodução de relações que levaram ao fortalecimento deste grupo. O narcotráfico tem a sua própria geografia, fundamentada em um cálculo racional. E, de acordo com Machado (2003, p. 6):

Não há dúvida que uma das principais atrações do ilegal para a massa de trabalhadores informais (imigrantes, comerciantes ambulantes, microempresários, trabalhadores autônomos, artesãos, subcontratados etc.) é a percepção de que possa ser uma via de ascensão social, com acesso rápido às benesses do consumo, reais ou ilusórias.

Muitas vezes, articulando máfias à escala mundial, as redes ilegais podem ser vistas, ao mesmo tempo, como produtos – à margem do sistema “legal”, impondo-se como forma de sobrevivência de grupos excluídos e como produtoras da desterritorialização – ao promoverem a instabilidade e a violência (HAESBAERT, 2002).

Por fim, é preciso então destacar que a região amazônica aparece como rota primária na distribuição de cocaína em direção à Europa e à África, envolvendo-se também com as Guianas e o Suriname. A Amazônia fragiliza-se diante das ações de organizações criminosas sobre a região, assim como fragiliza-se também diante da possibilidade de se estabelecer o “estado de exceção”, dado as proporções dos impactos socioespacias e territoriais que o crime organizado pode resultar no espaço brasileiro.

As cidades ou metrópoles da região amazônica tornaram-se espaços privilegiados para o narcotráfico constituir relações de poder sobre as suas periferias, favelas, baixadas, etc. Estes poderes associam-se a uma relação multiescalar de autoridade que agrega o macro e o micro dentro de um único contexto, mas com dimensões espaciais diferenciadas. Entender este jogo de poder na construção de uma sobreposição de territórios, em cidades da Amazônia, como Belém, é a proposta que aqui apresentamos.

5.2 A precarização dos territórios na periferia da metrópole

Ao referir-se sobre a precarização dos territórios no espaço urbano de Belém, nitidamente torna-se necessária uma análise, mesmo que simplificada, do processo de urbanização e periferização da cidade, após os anos de 1950. A partir deste contexto, a Amazônia passou por um acelerado processo de ocupação potencializada pela política de integração nacional a partir do Plano Tripé- desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek (1955-1960) e do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) dos governos militares (1964-1985). Estas ações tiveram efeitos imediatos e contribuíram para a forma metropolitana apresentada hoje, inicialmente concentrada e, posteriormente, dispersa. Mas, com características singulares, talvez únicas. Belém apresenta um modelo de urbanização que criou uma organização espacial complexa e que, dificilmente, possa vir a ser encontrada em outras regiões do Brasil, caracterizando uma urbanização particular das cidades amazônicas.

A cidade de Belém tem sua fundação durante o século XVII, no ano de 1616, a partir da construção do Forte do Castelo ou Forte do Presépio. Tal fato corresponde ao caráter inicial da ocupação da região amazônica em meio ao processo de colonização portuguesa, que encontrou nos rios um forte elemento de organização do espaço. As missões religiosas tiveram um papel fundamental no desenvolvimento das atividades econômicas como, por exemplo, as drogas do sertão; ao mesmo tempo em que garantiram a colonização regional. A cruz e a espada são símbolos importantes na configuração de objetos construídos ao longo desse período e que, ainda hoje, estão presentes em várias cidades.

Contudo, foi a partir dos anos de 1950 que a cidade de Belém começou a passar por um intenso processo de urbanização que lhe deu características e aspectos de uma metrópole recebendo grandes fluxos migratórios campo-cidade. A construção da rodovia Belém-Brasília teve relação direta com essa nova dinâmica demográfica ocorrida nesse contexto, e contribuiu para que ocorresse uma rápida ocupação das proximidades da área central, as chamadas áreas de baixadas, onde o inchaço populacional e a precarização são características presentes nesses espaços, contribuindo para o momento de formação da metrópole.

A ocupação e a produção do espaço urbano da metrópole, no que concerne à primeira fase, permitem enxergar uma dinâmica socioespacial onde a modernidade

e a precariedade, riqueza e pobreza, legal e ilegal misturam-se, não apenas pela proximidade geográfica, mas também no âmbito das relações sociais. Por isso, torna-se tão difícil definir limites para os bairros formados dentro do limite estabelecido pela Primeira Légua Patrimonial.

Para Trindade Junior (2016, p. 90),

No caso de Belém, seu crescimento, a partir de então, passou a refletir o incremento de novas atividades urbanas por parte do Estado e por empresas privadas. Concomitantemente, as alterações decorrentes daquele processo nas atividades econômicas tradicionais da região proporcionaram correntes migratórias no sentido rural-urbano, que definiram em muito a forma de apropriação diferenciada da cidade.

A diferenciação na apropriação do espaço urbano de Belém mostra grandes contradições na organização socioespacial, as quais correspondem à favelização das áreas de baixadas que foram precarizadas, não apenas pelas formas de autoconstrução, e ainda, pela negligência de uma política urbana incapaz de propor um planejamento que acompanhasse tal evolução. Rodrigues (1988) destaca que diante deste contexto de crescimento e de diferenciação intraurbana acentuada, vivida pela cidade, destacaram-se principais agentes de produção do espaço urbano. Os agentes são, em sua maioria, pessoas que migraram do espaço rural ou de outras cidades. O Estado, as empresas privadas voltadas para a exploração de matérias-prima regionais e o capital imobiliário passaram a exercer uma ação bem mais expressiva na definição da estrutura urbana.

Faz-se necessário argumentar que não foi de interesse desta pesquisa utilizar a teoria da produção social do espaço para chegar aos territórios do narcotráfico. Aqui, a intenção está voltada para compreender a periferização de Belém e a precarização de territórios que serão tomados pelo tráfico de drogas, o qual passa a fazer parte de uma rede organizada a partir de uma relação que se estabelece dentro e fora da metrópole.

Ao referir-se à imigração e sobre seu impacto nas cidades, destacou-se que os projetos de infraestrutura tinham como meta integrar a Amazônia aos mercados globais e nacionais. A partir dos anos de 1950, tal integração deu-se de forma antidemocrática e autoritária, sem consulta popular, prevalecendo os interesses do grande capital estatal e privado que viam na região uma possibilidade de extração de riquezas via recursos naturais.

Nesse contexto, a expansão da malha rodoviária permitiu a intensificação dos fluxos migratórios espontâneos de pessoas que vieram em busca de emprego e de terras, por isso, agravou-se o quadro dos problemas sociais. Parte significativa dos imigrantes que não conseguiam inserir-se no mercado de trabalho, passaram a habitar em torno dos grandes projetos ou nas principais capitais da região, a exemplo de Belém. Com isso, a cidade de Belém passou por um processo de crescimento urbano tanto vertical – em relação ao aumento da taxa de natalidade – quanto horizontal – ligado à imigração.

Um importante estudo sobre a formação metropolitana de Belém deu-se a partir das pesquisas de Trindade Junior (2016). Para ele, ao se tratar da expansão urbana da cidade, no plano da estruturação interna do espaço metropolitano, observou-se que até a década de 1950, Belém apresentava uma clara tendência de não ocupação das áreas de baixadas, consideradas sem infraestrutura, ainda que centralizadas no conjunto do espaço metropolitano. O autor priorizou seus estudos à ocupação dos terrenos de cotas elevadas e concluiu que foi esta a tendência conferida à cidade, designando que por muito tempo havia uma malha urbana irregular, ajudada pela implantação das áreas institucionais, no início da década de 1940, à altura da Primeira Légua Patrimonial.

As baixadas representam não somente a área de expansão da cidade, mas também o espaço de resistência e sobrevivência daqueles que foram excluídos do mercado formal imobiliário e desprovidos dos serviços urbanos de qualidade. Gerou- se um padrão de ocupação adensado com uma tipologia típica de favelas, o que deixa bem evidente o perfil socioeconômico que as habita. A Prefeitura Municipal de Belém considera baixada toda área de cota topográfica de 4m e baixo de 4m, correspondente à planície inundável (CODEM, 1986).

A intensificação do êxodo rural fez com que as baixadas vivenciassem um processo de favelização acelerado. Mais que simples solução de emergência para o problema da moradia, essas áreas tornam-se, sobretudo, parte de uma estratégia de sobrevivência da população pobre, face à escassez e valorização das terras altas no interior da primeira légua patrimonial. Isto aconteceu por vários motivos, seja pela boa localização dos terrenos alagados em relação ao centro, seja pelo caráter que tomou o processo de apropriação dos mesmos. Estes fatores compensavam, de certa forma, as desvantagens de infraestrutura dessas áreas (FERREIRA, 1995, p. 111).

Foi somente a partir dos anos de 1970 que a malha urbana de Belém se expandiu para além da Primeira Légua, ultrapassando o chamado “cinturão institucional”. As áreas ocupadas apresentavam disponibilidades de terras para tal ação; por outro lado, eram áreas consideradas distantes do centro da cidade ou da área central. Nos estudos de Trindade Junior (2016), notadamente a expansão se deu para a Rodovia Augusto Montenegro (Eixo Belém-Icoaraci) e para a Br-316 e Estrada do Coqueiro (Eixo Belém-Ananindeua). Esses espaços configuraram-se em novos bairros, passando a receber fluxos imigratórios do interior do estado e das regiões mais centrais da cidade.

Para Trindade Junior (2016, p. 99):

Foi a partir da densificação da Segunda Légua que se passou a definir, com maior nitidez, uma forma metropolitana dispersa, tal a intensidade da urbanização, do crescimento da malha urbana, e dos fluxos de população para essa área. Até então, a forma metropolitana mostrava-se compacta, com uma significativa concentração populacional e densidade construtiva no interior da Primeira Légua Patrimonial.

A consolidação do modelo urbano-industrial brasileiro se deu com a