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Capítulo 2 O crescimento e o desenvolvimento sócio-econômico do Estado do Amazonas:

3.2 Os mecanismos do modelo de desenvolvimento endógeno

3.2.1 Redes para o desenvolvimento

Um dos pontos centrais da teoria do desenvolvimento endógeno está no sistema de empresas locais, na interligação entre estas e os demais atores locais. Isto explica o fato de as empresas, em primeira instância, serem as responsáveis pela geração de renda de uma localidade ou região, ou seja, são imprescindíveis para o desenvolvimento local.

A forma ou estrutura das empresas e empresários varia de acordo com sua localidade, assim como a forma de produção e distribuição do bem que fabrica. Isto implica na adoção ou não de medidas, pela esfera governamental, que viabilizem a permanência, o crescimento ou nascimento de empresas em um determinado local, visto que ao controle do mercado, como já mencionado, estas optarão pelo melhor custo benefício.

O diferencial do modelo de desenvolvimento endógeno reside no fato de que as empresas devem ser regionalizadas, produzir e comercializar produtos com matérias-primas procedentes da própria região. Matérias-primas que por si só, na maioria das vezes, já são um diferencial. Porém,

as empresas não deverão deixar de agir pensando no mercado nacional e/ou internacional, aproveitando-se desse mesmo fato.

Para as comunidades isoladas a criação e o enraizamento de empresas torna-se necessário, já que estas são as iniciais responsáveis pela geração de renda,.

Uma vez que não se deseja a criação de empresas sem compromisso com a população local, a adoção de medidas governamentais para impedir este processo e ainda facilitar a implantação de cooperativas locais torna-se necessária. Porém, em um segundo momento, a implantação de empresas maiores nas sedes dos municípios ou mesmo na capital do Estado, no caso Manaus, é desejável. Desta forma vislumbra-se o crescimento das próprias cooperativas locais e seu desenvolvimento, principalmente pensando no diferencial de seu produto e no mercado externo.

Tendo isso em mente, passa-se a considerar o conceito de rede. Uma rede pode ser definida como “o sistema de relações e/ou de contatos que vinculam as empresas e/ou os atores (população) entre si cujo, conteúdo está relacionado a bens materiais, informação ou tecnologia” (Malecki e Tootle, 1996).

As atividades econômicas, sociais e institucionais estão baseadas nas relações entre indivíduos, organizações e empresas, motivo da grande variedade de redes (Vaquéz Barquero, 2002).

Grabher (1993), aprofunda mais a definição em relação às empresas, definindo alguns traços. Entre estes:

 a definição de redes refere-se a transações em um contexto de reciprocidade;  deverá ser formada por relações de interdependência entre atores ou empresas;

 a rede reporta-se a um sistema de interconexões múltiplas e de respostas e reações de empresas e atores;

 caracteriza-se por um conjunto de vínculos fracos, cuja inter-relação atua no sentido de fortalecê-la com base no acesso à informação, na aprendizagem interativa e na difusão da inovação;

 e finalmente, as relações entre empresas e atores podem ser assimétricas de caráter hierárquico, convertendo-se o poder em um elemento do funcionamento da rede.

Quanto às relações, estas podem ser formais ou não. Formais quando explícitas e obedecendo ao interesse estratégico das pessoas ou organizações, como por exemplo, às relações com bancos ou empresas de serviço. E informais enquanto espontâneas, neste caso dependendo dos contatos pessoais entre os atores e empresas. Como exemplo estão as relações de caráter casual, mantida com familiares, amigos, companheiros ou antigos empregados. Brown (1993) define estas relações como redes pessoais e redes de empresas, respectivamente.

No caso de modelos de desenvolvimento endógeno, os sistemas produtivos locais constituem um tipo de rede definido pelo forte enraizamento no território e pela manutenção de relações bilaterais baseadas na confiança.

Estudando estas redes pela ótica do desenvolvimento endógeno, uma distinção se torna importante. As redes pessoais fornecem informação e, em alguns casos, proporcionam os recursos necessários à formação e também à operação inicial de uma empresa, colaborando para a troca de bens e de conhecimentos nos sistemas produtivos locais. As redes de empresas contribuem com informações sobre negócio, assessoramento técnico, recursos financeiros e materiais e permitem firmar alianças estratégicas visando enfrentar outras empresas e grupos rivais.

Estes tipos de redes podem ser observados em casos de localidades que utilizaram um modelo de desenvolvimento endógeno, como o Sul da Europa, segundo Garofoli (1992). Neste caso específico, as empresas locais de pequeno porte especializaram-se na produção em série e escala reduzida, porém trabalhando de acordo com a demanda exigida e utilizando a tecnologia que lhes permitiram competir nos mercados. Fator importante para o efetivo sucesso do modelo foi a estratégia baseada na diferenciação da produção e na rápida resposta comercial. Porém, um bom contexto econômico, social e institucional, principalmente na esfera regional, proporcionou às empresas locais todos os elementos necessários para identificar e tirar proveito da efetivação do modelo.

No caso específico das comunidades isoladas do interior do Amazonas, tanto as relações formais, de forma a viabilizar o processo de desenvolvimento, quanto as não-formais, viabilizando o conhecimento local por parte dos pesquisadores envolvidos, e o conhecimento técnico por parte da população local são importantes.

Em suma, a rede, do ponto de vista do modelo endógeno, facilita a pesquisa e a seleção de informações acerca de tecnologias e mercados, principalmente devido ao intercâmbio informal mantido entre as empresas, o que leva a um processo de aprendizagem da qual participam os que tomam as decisões, os técnicos, os trabalhadores das diferentes empresas e da própria localidade, iniciando um processo informal de coordenação das decisões através dos vínculos de caráter pessoal (Vaquéz Braquero, 2002). Assim, as relações em uma rede contribuem para a troca de produtos, serviços e conhecimentos tecnológicos entre os envolvidos e contribuem efetivamente para o desenvolvimento da região.