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O conceito de rede é utilizado em análise de: nível micro, para diferentes contextos de relações interpessoais; nível meso, para análise da relação entre grupos de interesse e governo; e nível macro, para o modelo de relacionamento entre Estado e sociedade civil. A relação coerente entre fatores de cada nível atribui à rede forma distinta de coordenação das atividades econômicas. As diversas formas de rede também possuem aspectos comuns que conferem aos arranjos as características de que: (a) a cooperação pode ser sustentada por longos períodos, como um acordo efetivo entre atores; (b) incentivo ao aprendizado e disseminação das informações, transformando rapidamente idéias em ações; (c) a abertura (open-ended) é muito útil em ambientes incertos ou de recursos escassos; e (d) oferece os meios factíveis para utilização e fortalecimento de ativos intangíveis, conhecimento tácito e inovação tecnológica (POWELL, 1990; RHODES; MARSH, 1990, 1992).

Redes de poder são arranjos complexos de organizações conectadas umas às outras, pela dependência de recursos que cada membro possui. A análise de redes de poder foi elaborada para entender as relações entre governo e grupos de interesses, sendo as redes criadas

com o propósito de atingir os objetivos propostos na estratégia de interesses de seus atores, explicado pela base do institucionalismo da escolha racional, e a sua configuração futura explicada com base no institucionalismo sociológico (DOWDING, 1995; DAUGBJERG, 1997).

As redes podem ser sociais, burocráticas e proprietárias. A ausência de qualquer tipo de contrato formal caracteriza as redes sociais - a formalização da relação ocorre somente para a especificação dos serviços negociados. A existência de contrato formal caracteriza as redes burocráticas - a formalização regula as especificações do fornecimento, a organização da rede e as condições de relacionamento entre os integrantes. A formalização de acordo sobre direito de propriedade entre os atores caracteriza as redes proprietárias (PAULILLO, 2002).

As redes de poder ou formas híbridas não são organizações com relações homogêneas entre parceiros. As relações contratuais de parcerias são de diferentes classes, sendo os arranjos contratuais são coordenados por mecanismos de adaptação - trata-se de um arranjo institucional com contratos envolvendo o ambiente institucional, coordenados e conduzidos com forma ativa de gerência, parcerias e operação com autoridade (MENARD, 1996).

A estrutura dos mercados em redes de poder é visível no capitalismo, pois define- se o capital como recurso efetivo; cria-se uma sociedade baseada em organizações coletivas; criam-se políticas setoriais e sub-setoriais; há intervenção pública e disputa pelo comando dessas intervenções; ocorrem fragmentação e descentralização do Estado; observa-se relevância nas informações devido à interdependência e à complexidade econômica, política e social (PAULILLO, 2002).

As redes podem ser classificadas em uma gama imensa de arranjos e características, criando um continuum entre uma rede difusa (issue network) e a comunidade política (policy community), conforme Quadro 7. Em um pólo estão as redes difusas ou em formação, que se criam sobre assuntos muito específicos, de forma pontual ou em curto espaço de tempo. São redes menos institucionalizadas, com pouca integração, instáveis, com falta de continuidade das relações de poder. Nelas as normas são menos formais e mudam conforme a necessidade ou pressão. E as decisões de políticas públicas são mais reativas a partir de pressões sofridas.

No outro pólo estão as comunidades políticas, que agem sobre diversos assuntos de forma contínua e ao longo do tempo, com continuidade das relações de poder, interdependência elevada, participação especializada e limitada dos atores coletivos e com

interações freqüentes e estáveis. São redes institucionalizadas, com interações freqüentes e estáveis e continuidade das relações de poder. As decisões políticas visam a antecipar ou a criar condições para a ocorrência de fatos desejados, estrategicamente articulados e buscando efetivar as regras e normas que influenciam os processos de governança (RHODES; MARSH, 1992).

Dimensão Comunidade política Rede difusa

1 – Membros

a) Número de participantes Muito limitado, alguns grupos conscientes excluídos

Amplo b) Tipo de interesses Econômico e/ou profissional Vários

2 – Integração

a) Freqüência Freqüente, alta qualidade, interação dos grupos incluídos na rede sobre as matérias relacionadas com a emissão de políticas

Contatos flutuantes em freqüência e intensidade

b) Continuidade Avaliações persistentes ao longo do tempo. Efeitos também persistentes

Flutuação significativa c) Consenso Todos os participantes avaliam os

resultados e legitimam

Alguns acordos existem, mas o conflito está sempre presente

3 – Recursos

a) Distribuição de recursos Todos os participantes apresentam recursos e utilizam-nos no processo de interação

É possível que alguns participantes tenham recursos, mas eles são limitados b) Distribuição interna Hierárquica; líderes podem transferir ou

deliberar membros

Variada, inclusive a capacidade para regular os membros

c) Poder É possível um grupo dominar, mas o resultado de soma não zero (ambos ganham) persiste na comunidade

Poder desigual refletido pelos recursos desiguais. Resultado de soma zero (um ganha, outro perde)

QUADRO 7. Caracterização dos pólos do continuum de redes de poder

Fonte: RHODES; MARSH, 1992, p.187.

As redes de poder podem ser analisadas em função do conjunto de variáveis ou dimensões que apresentam, conforme Quadro 8. O resultado dessa análise permite situar a rede ao longo continuum criado entre as redes difusas e as comunidades políticas.

1 – Atores - Número, tipo e monopólio de representação

2 – Função - Canais de acesso; consulta; negociação; coordenação; cooperação na formação

política; cooperação na implementação política + delegação da autoridade pública; amplitude de temas

3 – Estrutura - Limites; tipo de articulações; relações ordenadas; complexidade; padrão de relações;

centralidade; estabilidade; natureza das relações

4 – Institucionalização - Grau

5 – Regras de conduta - Adversidade / procura por consenso; idéia de servir interesse público; contatos

formais e informais; disputa ideológica

6 – Distribuição de poder - Autonomia Estatal; dominação do Estado; dominação do interesse privado

7 – Estratégia dos atores - Acessibilidade; reconhecimento dos grupos de interesses; criação / mudança de

associações

QUADRO 8. Conjunto de variáveis ou dimensões das redes de poder

Os recursos de poder, Quadro 9, são objetos de conquista pelas organizações atuantes no mercado, visando a obter melhores resultados e criar, ou evitar, possível dependência de outros setores.

Recursos de poder Descrição

Constitucionais Regras e normas legitimadas

Políticos Status público atribuído pelo Estado, poder de representação de um ator coletivo,

poder de aglutinação de um ator coletivo

Financeiros Financiamento adequado, incentivo fiscal modificado ou concedido, subsídio modificado ou concedido, comissões sobre escala de produção, cotas promocionais etc.

Tecnológicos Conhecimento adquirido, tecnologia gerencial e da informação transferidas, processos e matérias-primas específicas etc.

Organizacionais Infra-estrutura institucional (institutos de pesquisas, centros de treinamento, agências de marketing etc.), informações compartilhadas e propagadas, parcerias, consórcios, informações ocultadas, proximidade de fornecedores, terceirização, subcontratação, utilização da marca etc.

Jurídicos Direitos de propriedade intelectual, recursos sobre anti-dumping, ajuizamento de ações etc.

QUADRO 9. Tipos de recursos de poder

Fonte: PAULILLO, 2002.

Os elementos que podem caracterizar uma rede de poder são apresentados no Quadro 10, que mostra as interações existentes entre as características dos membros que a constituem e as características das conexões entre eles.

A representação do interesse da rede e a busca pelo recurso de poder são obtidas pela interdependência estabelecida nas características dos membros e nas características das conexões (PAULILLO, 2002). A interdependência, no caso do conhecimento/informação, é revelada pela capacidade cognitiva de cada ator, que lhe permite forma de inserção específica na rede, e que afeta os demais atores da rede, os quais reagem ativamente com o ambiente circundante. A legitimidade do ator é revelada quando as ações de uma organização ou grupo de interesses são reconhecidas, manifestadas e consideradas como autênticas no interior da rede.

Características dos membros Características das conexões

1. Conhecimento/Informação 1. Regras

2. Legitimidade 2. Centralidade

3. Reputação 3. Intensidade

4. Cooperação 4. Velocidade

5. Habilidades direta e indireta para mudanças 5. Formalidade ⁄ Informalidade

QUADRO 10. Características da rede de poder

A reputação dos membros é determinada pela conquista de recursos de poder, concessão de status público e o reconhecimento pelos demais atores privados da capacidade de representação e aglutinação.

As habilidades diretas decorrem das habilidades próprias de cada membro e as habilidades indiretas derivam de algo que não foi desenvolvido especificamente pelo ator, embora não o impeça de aproveitá-las.

O poder de cada membro é dependente dos recursos de poder dos outros membros e do tipo de relação existente entre eles. A interdependência das conexões entre os segmentos da rede influencia na distribuição do poder e na representação dos interesses dos atores envolvidos. Essas conexões podem ser formais ou informais, permitindo assim definir a natureza da rede que se está analisando. As transações são mais dependentes do relacionamento, dos interesses mútuos e da reputação entre os atores. A relação coerente de fatores é que atribui à rede de poder forma distinta de coordenação das atividades econômicas.