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Uma das últimas perguntas colocadas aos professores bibliotecários foi se a biblioteca faz uso de redes sociais mais genéricas, como o Facebook, e específicas como

Shelfari, Goodreads ou LibraryThing.

Para esta discussão importa esclarecer que as redes sociais são “ferramentas tecnológicas que permitem aos dois elementos base de qualquer rede social terem existência concreta: os actores e as suas conexões” (Leitão, 2009: 436). Na verdade, sem estes dois elementos não seriam possíveis as redes sociais, pois se os atores são importantes, as ligações que estabelecem com outros é que vão permitir a interação participada e a criação de uma verdadeira rede.

O fenómeno das redes sociais é crescente na sociedade atual e galvaniza a adesão massiva de utilizadores. No estudo A Sociedade em Rede. A Internet em Portugal 2012, realizado pela OberCom, contabiliza-se o número de utilizadores da web na ordem de 90,6%, entre os 15 e os 24 anos, e de 79,2%, entre os 25 e 34 anos (Cardoso e Espanha, 2012: 9-10). A partir dos 35 anos vai-se acentuando o decréscimo na percentagem de utilização. Além disso, as redes sociais são a segunda atividade mais realizada pelos utilizadores (73,4%), antecedida apenas pelo envio e receção de e-mails (87,3%). Destes 73,4%, 34,2% afirma que utiliza sítios de redes sociais diariamente (idem: 18-19).

Entre as redes sociais, o Facebook concentra 93,7% dos utilizadores (idem, 25). As funcionalidades mais utilizadas são o envio de mensagens (74,4%) e o serviço de chat (59,7%). Quanto aos motivos para a adesão às redes sociais, estes prendem-se com a possibilidade de se manterem contactos à distância (87,6%), de se ter o sentido de proximidade e de pertença a um grupo de amigos que aderiram (84,1%), de se gozar da possibilidade de partilha de pensamentos, comentários, vídeos e fotos (83,8%) (idem, 29). Quando se pergunta qual o motivo para a utilização, 61,1% afirma que utiliza as redes sociais como forma de entretenimento e não tanto de comunicação (idem, 30). Conclui-se o

79 mesmo já referido anteriormente: a Internet e as suas potencialidades são ainda muito usadas para lazer, como é o caso das redes sociais, comportamento semelhante já observado relativamente aos blogues.

O estudo Crianças e Internet: Usos e Representações, a Família e a Escola (2008) vai num sentido idêntico. 90,9% das crianças tem computador em casa e 78,7% (dos 11 aos 17 anos) tem acesso à Internet em casa (idem, 22 e 24). Dos inquiridos neste estudo, 61,8% (dos 13 aos 17 anos) visita blogues e redes sociais (idem, 94). Estes dados, ainda que de 2008, revelam que muitas crianças têm acesso à tecnologia e que a usam frequentemente. Acredita-se que atualmente estas percentagens tenham tendência para aumentar, sobretudo no que concerne ao acesso à Internet e à utilização do Facebook, uma vez que os fabricantes de telemóveis, os operadores de telecomunicação e os responsáveis pelas redes sociais, nomeadamente o Facebook, já proporcionam esta possibilidade através de aplicações para telemóveis.

Os professores bibliotecários por mim entrevistados afirmaram que existe uma conta institucional da BE no Facebook, mas que não é muito utilizada. A sua criação deveu-se a uma recomendação da RBE. Um dos coordenadores concelhios, Paulo Izidoro, referiu que para rentabilizar o tempo dos professores bibliotecários foram criados alertas na conta do Facebook e do blogue para que, sempre que houvesse publicações, a informação ficasse disponível nas duas ferramentas, evitando a sobrecarga de trabalho destes profissionais e permitindo ter sempre as ferramentas em uníssono e atualizadas simultaneamente.

O Facebook aparece como uma das mais requisitadas redes sociais e continua a crescer, especialmente nas faixas etárias mais novas, o que poderá explicar de alguma forma que as bibliotecas escolares recorram também a esta ferramenta para conquistar e manter mais utilizadores. Tendo em conta o seu caráter apelativo e abrangente, as redes sociais podem tornar-se num bom aliado das bibliotecas escolares na promoção da leitura. Através delas, a promoção da leitura ganha novas dimensões e proporções. O sistema de conexões deste tipo de sítio permite divulgar mais informação sobre a ação da biblioteca e incentivar à participação ativa dos utilizadores. Uma vez que um grande número de estudantes tem conta nesta rede social mais facilmente a biblioteca fará uso desta ferramenta.

Que tipo de utilização será a mais adequada? Poder-se-á, à semelhança do blogue, disponibilizar um vasto conjunto de informações sobre as atividades da biblioteca; partilhar vídeos e outras ligações úteis para outras contas de Facebook, blogues ou sítios de

80 interesse; criar grupos de discussão sobre temáticas atuais; pedir sugestões de aquisição para o fundo documental; sugerir a partilha de material que seja de interesse dos alunos e que contribua para a consecução dos objetivos da biblioteca escolar enunciados pela IFLA.

Neste contexto de participação ativa, característica da web 2.0, surgiram as redes de catalogação social (em inglês, social cataloguing), das quais se destacam a LibraryThing (2005), a Shelfari (2006) e a Goodreads (2007)21

. Embora o conceito não seja totalmente consensual, entenda-se, genericamente, por redes de catalogação social plataformas virtuais com “duas funções básicas: organização de bibliotecas pessoais e partilha dessas bibliotecas e do conhecimento gerado sobre elas com outros membros da comunidade” (Leitão, 2009: 444). Neste formato de rede social, a atenção centra-se mais no interesse comum (os livros e a leitura) do que propriamente na informação pessoal sobre o utilizador. Poderemos estar na presença de uma ferramenta menos flexível do que o

Facebook, e por isso mais centrada na missão da biblioteca escolar: a promoção da leitura

e do livro e a construção de conhecimento que é partilhado e, consequentemente, catalisador de mais informação.

Após a consulta dos respetivos sítios em linha, obtive a seguinte informação quanto aos objetivos e missão de cada uma destas redes de catalogação social. A Shelfari: “Our mission is to enhance the experience of reading by connecting readers in meaningful conversations about the published word”; a LibraryThing: “LibraryThing helps you create a library-quality catalog of books” e “LibraryThing connects people based on the books they share”; a Goodreads: “Goodreads’ mission is to help people find and share books they love. Along the way, we plan to improve the process of reading and learning throughout the world”. Genericamente a missão das três redes é criar comunidades virtuais de leitores, promovendo a interação dos utilizadores através da criação e/ ou participação em grupos de discussão. Esta interação pressupõe trocar e partilhar informação, exprimir ideias sobre obras lidas e recomendar leituras. É possível, também, visualizar as bibliotecas de outros membros da rede. Estas três redes vão buscar informação bibliográfica à Amazon.com, pois acabaram por ser gradualmente adquiridas por esta empresa, que cedo reconheceu o potencial (sobretudo económico e de divulgação) destas redes sociais.

Dos professores entrevistados, apenas um refere que faz uso da rede LibraryThing, que disponibiliza no sítio da mediateca escolar, tendo já alguns livros da coleção inseridos nela. Para além disso, aproveita uma aplicação disponibilizada por esta rede para a

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Optei por abordar três redes sociais de catalogação referenciadas acima, porque parecem ser as mais utilizadas segundo Paulo Leitão (2009), e Hudson e Knight (2009).

81 apresentação de alguns títulos existentes na mediateca, através da apresentação das capas dos livros.

A biblioteca escolar poderá de facto rentabilizar a adesão a estas plataformas, por forma a observar as tendências dos utilizadores, a dar a conhecer a coleção e organizá-la tematicamente em rede, promovendo a adesão e participação dos utilizadores neste tipo de rede social. É importante referir que cada uma destas redes sociais de catalogação tem também uma conta no Facebook, pois será uma forma de captar mais utilizadores, fazendo uso de uma das redes sociais mais populares.

Paulo Leitão defende que “a biblioteca pode encorajar a troca de ideias entre leitores das mesmas obras, bem como gerar verdadeiras comunidades de leituras” (2009: 455), recorrendo a estas redes sociais. Será como criar um clube virtual de leitura livre de constrangimentos de disponibilidade pessoal, temporal e local e com a vantagem de acrescentar informação adicional à discussão ou ligações hipertextuais para outros documentos disponíveis na Internet. Porém, a utilização deste tipo de plataformas nas bibliotecas (e mediateca) dos professores entrevistados ainda não é uma realidade, embora alguns já tenham ouvido falar delas e reconheçam as suas potencialidades. Há a acrescentar uma dificuldade registada nestas plataformas: a baixa participação dos utilizadores e a irregularidade das intervenções, como afirma Laura John (2006), citada por Paulo Leitão (2009). Portanto, um dos princípios da web 2.0, que é o utilizador tornar-se prosumidor, ainda está por cumprir, tendo em conta o baixo nível de produção de conhecimento.

De novo se verifica um bloqueio no avanço da web 2.0. Infelizmente ainda não se avançou para o pleno benefício destas plataformas em favor dos objetivos e missão da biblioteca escolar. As vantagens são óbvias: liberta-se a BE das suas barreiras físicas, tornando-a mais virtual e acessível a mais utilizadores e, por conseguinte, proporcionando a construção de utilizadores mais informados e interventivos.

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