• Nenhum resultado encontrado

AS REDES SOCIAIS E O ESPELHO NEGRO

3. CIBERCULTURA

3.1. AS REDES SOCIAIS E O ESPELHO NEGRO

Este subcapítulo trata de uma elucidação sintetizada sobre o advento das redes sociais a fim de compreendermos o ambiente virtual, ou seja, o espaço da rede social onde a coleção de cartazes será publicada. De acordo com Ropero (2013), a primeira rede social foi criada em 1995 pelo norte-americano Randy Conrads e se chamava ClassMates (colegas de classe, em inglês). Conrads criou essa rede social para reunir amigos da escola e da faculdade. A rede era paga, mas, segundo Ropero (2013), fez bastante sucesso nos Estados Unidos e no Canadá.

Em 1997, de acordo com Ropero (2003), surgiu a rede SixDegrees (Seis Graus, criada para provar a teoria dos seis graus de separação14), de Andrew Weinreich. SixDegrees, foi a primeira rede social nos modelos que conhecemos hoje: redes que possibilitam envio de mensagens e publicações em murais, além da possibilidade de adicionar contatos. “Nos anos seguintes apareceram o Friendster (2002), que não funciona mais, e os famosos MySpace (2003), que permite compartilhar músicas e fotos, e o LinkedIn (2003), com o objetivo de reunir contatos profissionais.” (ROPEIRO, 2013, n.p.).

Já no Brasil, conforme Ropero (2013), as redes sociais se popularizaram com o advento do Orkut, criado em 2004, e que leva o nome do seu criador, o engenheiro de software Orkut Büyükkökten, natural da Turquia. No mesmo ano, o Facebook foi criado pelo norte-americano Mark Zuckerberg e por amigos da universidade. “No começo, era apenas para alunos de algumas faculdades. Em 2006, foi liberado para qualquer pessoa (a partir de 13 anos)” (ROPERO, 2013, n.p.).

Segundo Lévy (2005), a internet é um espaço de comunicação que encarna a presença da humanidade. Dessa maneira, as redes sociais estão para a internet como um programa está para um canal de televisão. As redes sociais conectam pessoas ou organizações através de interesses em comum, objetivos ou valores que eles compartilham de uma forma quase sempre horizontal. Tais características

14

Seis graus de separação é a teoria proposta por Stanley Milgram em 1967 que sustenta que, no mundo, é necessário no máximo seis laços de amizade para ligar duas pessoas quaisquer.

possibilitam potencializar a disseminação de produções autorais, conteúdos e a interação entre as pessoas, o que nos interessa muito nessa dissertação, pois objetivamos aproximar as pessoas ao fruto desse trabalho: a coleção dos cartazes digitais de cunho autoral, porém quais seriam os principais malefícios e benefícios de utilizarmos as redes sociais?

Mesmo indiretamente, a mitologia grega parece ser vigente na cultura e na sociedade ocidentais, estando presente, por exemplo, na identidade de marcas famosas, na arquitetura e nas artes visuais. A mitologia grega permanece como herança na linguagem visual do ocidente, influenciando e inspirando poetas a artistas que vêm reinterpretando-a e ressignificando-a em seus trabalhos, como por exemplo, "O Nascimento de Vênus", de Botticelli (figura 5), e "Os Lusíadas", de Camões.

Figura 5: Pintura, “O Nascimento de Vênus” (1483/1485), Sandro Botticelli.

Fonte: <http://www.sandrobotticelli.net/Birth-of-Venus-(La-Nascita-di-Venere).html> acessadas: 25/04/2017

Um dos mitos gregos que parece se relacionar muito bem com a atualidade é Narciso, cuja narrativa possui várias versões, sendo as do grego Pausânias e do romano Ovídio as mais conhecidas. Apesar de terem pontos diferentes, ambas as histórias, em síntese, contam a lenda de um homem chamado Narciso cuja etimologia advém do grego narke ou narkhé e significa entorpecente ou narcótico.

Seu nome já parece indicar o que esse homem era capaz de fazer: ele entorpecia, atordoava, causava dependência, danos físicos e/ou psíquicos a quem o via, e tudo, de acordo com a lenda, devido a sua beleza.

Na história, a ninfa dos bosques Eco se apaixona por Narciso, todavia ela tinha sido amaldiçoada por Hera15 para que sua palavra “fosse sempre a última, jamais a primeira” (NOGUEIRA, 2011, p.23), ao repetir, sempre, os sons finais que ouvisse16. Quando Eco foi procurar Narciso, sem conseguir se comunicar, foi desprezada, o que a levou a se isolar nas montanhas. Já Narciso, ao olhar seu reflexo em um lago pela primeira vez, enamorou-se perdidamente por si, e passou a sofrer pelo mesmo desprezo com que tratou Eco, uma vez que se apaixonou pelo seu próprio reflexo (figura 6), isto é, por sua imagem virtual que jamais poderia correspondê-lo.

Figura 6: Pintura, "Narciso" (1594-1596), Caravaggio.

Fonte: <http://viarte-esv.blogspot.com.br/2009/11/beleza-de-narciso-condenou-o-apaixonar.html> acessado: 26/04/2017

15

De acordo com Nogueira (2010) equivalente a Juno na mitologia romana, Hera é irmã e esposa de Zeus (reis dos deuses), sendo, portanto a rainha dos deuses e patrona da fidelidade conjugal.

16

O mito de Narciso também pode representar o drama atual da individualidade. De acordo com Sigmund Freud (1976), narcisismo, em síntese, seria a preocupação obsessiva com a imagem e com a maneira com que os outros nos enxergam. Atualmente, podemos perceber tal mito refletido, principalmente nas redes sociais, onde as selfies17 não estão ligadas apenas à intenção de se expor, através de um autorretrato, mas também a uma busca pela admiração e pelo reconhecimento dos outros.

Como podemos notar no mito citado acima, os Deuses Gregos tinham características humanas, sendo capazes de sentir ciúmes como demostrado por Hera de Zeus, e de cometer erros. De acordo com Nogueira (2011), O filósofo grego Xenófanes (570 - 480 A.C.) teria dito algo como: “Os homens criaram os deuses à sua imagem e semelhança.” E se nem os Deuses que criamos são perfeitos, tampouco as redes sociais são. Desse modo, é importante, também, discutirmos os dois lados das redes sociais através de autores como Bauman (2001) e Lévy (2005).

Na atualidade, encontramo-nos cada vez mais conectados uns aos outros por meio de dispositivos ligados à internet. Porém, ao mesmo tempo, estamos cada vez mais distantes. Isso se deve, de acordo com Blattmann e Silva (2007), à evolução da web que possibilitou a criação de espaços cada vez mais interativos nos quais os usuários podem modificar conteúdos e criar novos ambientes

hipertextuais. Esse novo conceito marcou o início do século XXI possibilitando novas

formas de interatividade que não garantem o bom uso dessas novas tecnologias, que depende dos sistemas de valores, solidariedade, respeito, etc.

Todavia, o uso excessivo desses dispositivos tem causado um movimento de isolamento que, de acordo com Silva (2013), é chamado de phubbing18 (phone +

snubbing), ou o ato de esnobar alguém numa situação social, olhando para o celular,

sem dar atenção às pessoas ao seu redor – drama explorado na série de TV Black Mirror19 de Charlie Brooker que assim explicou o título de sua série ao jornal britânico The Guardian:

17 Substantivo originado de self, “eu” em inglês. 18

Termo criado pela agência de publicidade Australiana, McCann Melbourne, conhecida mundialmente por ter criado o viral "Dumb Ways To Die".

19 No episódio 1 “Nosedive” da terceira temporada da série é apresentado um aplicativo semelhante ao Facebook, que pode ilustrar bem o que significa phubbing.

Se a tecnologia é um entorpecente – e estamos viciados nela - quais são seus efeitos colaterais? É nesta área - entre apreciação e desconforto – que Black Mirror está localizada. O „espelho negro‟ do título é o que você vai encontrar em cada parede, em cada mesa, na palma de cada mão: o frio, a tela brilhante de uma televisão, um monitor, um smartphone (BROOKER, 2011, n.p., tradução nossa). Vivemos em um sistema no qual os novos modelos de comunicação e de relacionamento advindos da revolução tecnológica vêm moldando nossa maneira de perceber o mundo. De acordo com Bauman (2001), o contato mediado via redes sociais vem substituindo o contato mais direto entre as pessoas, e as relações, muitas vezes, terminam tão rápido quanto começam. Segundo o autor, as pessoas estão tão acostumadas com o mundo virtual e com as suas facilidades de “desconectar-se” que, ao primeiro sinal de conflito ou problema, preferem cortar vínculos a resolver o problema.

Bauman (2001, p. 14) caracteriza o período histórico em que vivemos enquanto “modernidade líquida”, uma versão individualizada e privatizada da modernidade na qual o peso da trama dos padrões e a responsabilidade pelo fracasso caem principalmente sobre os ombros dos indivíduos. Para Bauman (2001) a pós-modernidade encontra-se em um processo de construção, ou seja, estamos vivendo um processo de transição entre os períodos moderno e pós-moderno, num período que possui características novas, mas mantém características anteriores.

Uma das características que difere a pós-modernidade da modernidade é o narcisismo generalizado. De acordo com Bauman (2001), estamos tão ansiosos e ocupados com nossas atualizações de status nas redes sociais para mostrar o quanto somos felizes ou como nossas vidas são perfeitas que dedicamos tempo e energia em superficialidades. Por outro lado, Lévy (2002) é mais otimista observando o lado bom da internet ao afirmar que:

A Internet é um espaço de comunicação propriamente surrealista, do qual, nada é excluído, nem o bem, nem o mal, nem suas múltiplas definições, nem a discussão que tende a separá-los sem jamais conseguir. A Internet encarna a presença da humanidade a ela própria, já que todas as culturas, todas as disciplinas, todas as paixões aí se entrelaçam. Já que tudo é possível, ela manifesta a conexão do homem com sua própria essência, que é a aspiração à liberdade (p.13-14).

As redes sociais são o lugar de encontro entre as pessoas na internet. Na esteira otimista, para Batista e Zago (2010), as redes sociais são ambientes virtuais

online nos quais o indivíduo comum pode realizar trocas comunicativas mediadas

por máquinas como os computadores e celulares, com seus contatos que podem ser de conhecidos, amigos, familiares e, até mesmo, de desconhecidos. Nas redes sociais as pessoas podem manter um perfil público ou restrito, anônimo ou não, e podem agir como criadores de conteúdo. Sendo possível compartilhar visões políticas, atividades diárias, entre outros, de forma horizontal e, muitas vezes, sem a presença de qualquer intermediação de uma grande mídia. Esse espaço torna viável que qualquer assunto ou tema chegue mais rápido e atinja um grande número de pessoas.

Dispositivos móveis, internet e redes sociais são ferramentas como quaisquer outras, resultantes da convergência tecnológica e cultural que vivemos nos últimos anos. Por convergência nos referimos ao

Fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências [...] que desejam (JENKINS, 2008, p. 26).

Ou seja, como qualquer outra ferramenta, as redes sociais não são boas nem más, entretanto, podem nos fazer bem ou mal dependendo do uso que a ela damos (como, por exemplo, um carro, que pode ser tanto um veículo de passeio como uma arma), pois, segundo Lévy (2005), as redes são socialmente construídas. Isso quer dizer que os cartazes, estando presentes nas redes sociais, não garantem a aproximação entre a produção artística e seu público, mas é um espaço que poderá ou não potencializar a produção e a interação das pessoas com os objetos artríticos lá expostos. É por esse motivo que acreditamos que as redes sociais parecem ser um caminho para fazer ecoar e reverberar uma infinita gama de valores positivos, como os presentes na ecosofia de Guattari (2001) que podem vir ou não tornar a nossa sociedade menos narcisista.

Documentos relacionados