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Capítulo 2: REVISÃO DE LITERATURA

2.1.2 Alianças e redes empresariais

2.1.2.12 Redes sociais no meio rural

De um estudo realizado, sobre a análise de redes informais em zonas urbanas e zonas rurais, Kingsley e Malecki (2004) concluíram que, em vez de usar redes sociais complexas, as pequenas empresas usam sobretudo redes informais, de que fazem parte também fornecedores e clientes, destinadas sobretudo à procura de informações e de aconselhamento.

Nas zonas urbanas, as pequenas empresas tendem a procurar informações junto de outras empresas, mas nas zonas rurais, a tendência é para procurar informações junto de instituições estatais. As redes rurais são menos agressivas do que as urbanas na procura de informações,

incluindo no uso da internet, enquanto as mais pequenas são as menos agressivas de todas, urbanas ou rurais. As principais fontes de informação são os clientes e as feiras, referem aqueles autores, que acrescentam que, no caso das pequenas empresas rurais, a procura de informação é feita com muita reserva, donde resulta um reduzido número de redes sociais, que tendem a mudar muito lentamente. Nas áreas urbanas, as pequenas empresas são mais decididas em tentar novas e diferentes fontes de informação, envolvendo-se normalmente em redes sociais mais ricas do que as rurais.

Com base nas conclusões de um estudo que realizaram, Frazier e Niehm (2004) referem que, dentre os vários tipos de redes que existem, as pequenas empresas rurais dão preferência a redes pessoais, embora recorram também a profissionais para aconselhamento em áreas como elaboração ou validação de planos. Para estes autores, as redes sociais têm mais sentido no meio rural do que no meio urbano, na medida em que as empresas rurais dependem mais fortemente de relações pessoais estreitas entre os seus membros do que as empresas urbanas. Por outro lado, as fontes formais de informações sobre negócios são mais acessíveis às empresas no meio urbano do que às localizadas nas regiões rurais.

Nestas regiões, dizem ainda aqueles autores, as redes têm um importante papel na disponibilização de informações sobre o mercado rural, permitindo às empresas tirar partido das oportunidades emergentes, satisfazer as necessidades dos clientes de uma forma única e ainda desenvolver capacidades operacionais distintas.

Khavul, Bruton e Wood (2010) realizaram, entre os anos 2000 e 2003, em dois países da África Oriental, o Quénia e o Uganda, países com um elevado índice de pobreza, um estudo de casos sobre empreendimentos familiares informais e redes sociais. O argumento dos autores para a realização do estudo foi o de que, como o setor informal não representa muito na economia dos países ocidentais, a literatura sobre o mesmo é muito escassa, mas que, em muitos países emergentes, as pequenas empresas informais desempenham um papel muito importante, pelo que deve o setor informal ser estudado.

Segundo os autores, existem grandes diferenças entre os países ocidentais e os africanos a este respeito. Nos países ocidentais, a família refere-se a familiares próximos, interligados por laços de sangue ou de casamento, enquanto nos países africanos, as famílias são alargadas. Para além disso, enquanto no primeiro caso as empresas familiares são geralmente formais, em África são, na sua grande maioria, informais. Nos países ocidentais, as pesquisas referem-

se, normalmente, a diferenças entre redes de laços fortes e redes de laços fracos. Nos países africanos, as pesquisas referem-se ao intercâmbio entre múltiplas redes de laços fortes.

Os micro e pequenos empresários da África Oriental, referem aqueles autores, dispõem normalmente de poucos recursos, pelo que têm que recorrer ao apoio das redes sociais das suas comunidades, que fazem a ponte entre o mercado, bastante atomizado, e as estruturas organizacionais formais. Os laços que unem os membros das redes sociais variam em termos de força, podendo ser fracos, como seja um acordo, um aperto de mãos, de curta duração, ou fortes, resultante de repetidos acordos entre indivíduos que já se conhecem. Nas sociedades da África Oriental, as principais fontes de laços fortes são a tradicional família alargada e a comunidade.

A partir destas informações, os autores definiram, como objetivo do estudo, saber como é que, numa economia informal africana, os laços fortes familiares influenciam a criação e o desenvolvimento de pequenas empresas, tendo para o efeito sido considerados dois grupos de laços fortes: os laços familiares e os laços com a comunidade, normalmente pequena e estável, na qual a informação circula livremente, podendo ainda a reputação dos seus membros ser facilmente observável. Os laços fortes com a comunidade desenvolvem-se entre indivíduos unidos por uma estreita amizade e um elevado índice de confiança.

As conclusões do estudo de casos foram, em primeiro lugar, que os empreendedores dos países acima referidos preferem estabelecer relações com parceiros com quem têm laços fortes comunitários do que com aqueles com quem têm laços fortes familiares. Em segundo lugar que, dadas as caraterísticas familiares e sociais dos países estudados, os laços fortes familiares podem favorecer, mas também dificultar, o desenvolvimento de um negócio, por os familiares do sexo masculino terem a possibilidade de reclamar parte dos lucros obtidos pelas suas mulheres empreendedoras, o que faz com que estas prefiram aliar-se a membros da comunidade e não aos seus familiares.

Nos países africanos ao sul do Sahara, diz Fafchamps (2001), sobretudo nos meios rurais, a troca e o mercado são as formas mais importantes de alocação de recursos, contrariamente ao que acontece nos países desenvolvidos, onde predominam as grandes instituições, públicas e privadas. Devido, contudo, a um sem número de fragilidades (predominância de indivíduos ou micro e pequenas empresas como intervenientes, baixo nível de recursos, ineficácia de instrumentos legais de resolução de disputas, entre outras), o mercado é pouco eficiente, consumindo as operações grande quantidade de tempo e de dinheiro. A resposta encontrada

pelos intervenientes para ultrapassar estes constrangimentos foi o estabelecimento de relações de longa duração e a formação de redes para reduzir os custos de transação, partilhar informações, obter boas referências, facilitar e garantir o sucesso das operações. As redes podem ser bastante amplas, englobando não apenas contactos empresariais mas ainda políticos, funcionários públicos e elementos da comunicação social.