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Redimentos prejudicam reagrupamento familiar dos imigrantes

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Redimentos prejudicam reagrupamento familiar dos imigrantes

Inês Cardoso, César Santos Jornal de Notícias 29/12/2008

Quanto vale um contrato de trabalho para um imigrante? Para começar, a hipótese de residir legalmente em Portugal. Mas quando se tem família no país de origem e quer trazê-la para junto de si, pode valer mais do que isso. Fazer prova de meios de subsistência é uma das condições para o reagrupamento familiar.

E muitos imigrantes vêem esse pedido recusado por uma fatia substancial dos seus rendimentos reais não ser declarada pelos patrões.

Os meios de subsistência estão definidos na portaria 1563/2007, publicada em Dezembro do ano passado. Têm como base o salário mínimo e vão crescendo à medida que aumenta o agregado familiar. A associação Solidariedade Imigrante assegura que tem dado apoio a muitos imigrantes que têm rendimentos suficientes, mas não declarados pelas entidades patronais.

O SEF recorda, "como prova do bom funcionamento" dos princípios legais, o segundo lugar atribuído a Portugal, entre os 27 Estados-Membros, num estudo que avaliou a integração de imigrantes, "tendo como um dos critérios o reagrupamento".

Ivete Varela, Cabo Verde

Conta a sua história com respostas curtas, mas directas. Repete o número diário de horas de trabalho, perante a incredulidade de quem ouve, e nada lhe parece custar. Mas quando confessa que não vê os filhos há quatro anos, tantos como os que leva fora do seu arquipélago, Ivete Varela não consegue conter uma lágrima que limpa discretamente.

Fala constantemente com os dois filhos, de 13 e 15 anos. "Todos os dias me pedem para vir para Portugal". No passado dia 4 de Junho formalizou o pedido nesse sentido, por já dispor de autorização de residência. Em Novembro recebeu a resposta negativa, por ter baixos rendimentos na declaração de IRS do ano passado. Ivete vai decompondo as parcelas das sombrias contas. Trabalha em limpezas, em três empresas diferentes. Das 6 às 9 da manhã declara quanto recebe: aproximadamente 150 euros. Um segundo "turno", o principal, vai das 9 às 17 horas. Mais uma vez tem contrato, mas nele estão inscritos 250 euros, apesar de receber 425. Como se a situação fosse piorando com o cair do dia, no último emprego é ainda pior. Trabalha das 18 às 20 horas e pura e simplesmente não tem contrato.

O marido também vive e trabalha em Lisboa, mas perante as autoridades não existe. "Esteve detido e por isso não lhe dão autorização de residência", afirma. Por isso o pedido de reagrupamento ignora forçosamente que no agregado há duas fontes de rendimento.

Os filhos vivem com a sua mãe e Ivete não duvida que estão bem entregues, mas quer "recuperá-los" depois de quatro anos de ausência. A voz sufocada denuncia o aperto no peito. "Tenho muitas saudades, mesmo". No SEF informaram que havia forma de fazer prova das condições de subsistência, nomeadamente partilhando a renda da casa com alguém. "Já conseguimos isso e entregámos os documentos, portanto os contactos continuam". Tal como a esperança de chegar a bom porto.

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Income harms the family regrouping of immigrants

Inês Cardoso, César Santos Jornal de Notícias 29/12/2008

How much is a working contract worth for an immigrant? To begin with, it can mean the chance to legally reside in Portugal. But when he has a family in the country of origin and wants to bring it close to him, it can be worth more than that. Giving proof of subsistence is one of the conditions to regroup family.

And many immigrants see that request being refused because a substantial portion of their real wages is nor declared by their employers.

The means of subsistence are defined in the decree 1563/2007, published in December last year. They start with minimum wage and grow as the members of the households increase. The association Immigrant Solidarity guarantees that it has provided support to many immigrants who have a sufficient income, but which is not declared by the employers.

SEF reminds, “as proof of the good functioning” of legal principles, of the second place given to Portugal among the 27 Member States, in a study that evaluated the integration of immigrants “taking into account family regrouping as one of the criteria”.

Ivete Varela, Cape Verde

She tells her story with short but straightforward answers. She repeats her daily working hours before the incredulity of those who listen, and she doesn‟t make it sound difficult. But when she confesses that she hasn‟t seen her children for four years, just as many as those she has spent outside her archipelago, Ivete Varela cannot help a tear that she cleans discretely.

She speaks constantly to her two children, aged 13 and 15. “Every day they ask me to come to Portugal”. Last July 4 she made her request official, as she now has a residence permit. In November she received a negative answer, due to the low income declared in last year‟s tax form.

Ivete starts analyzing the different parts of her income. She works as a cleaner in three different companies. From 6am to 9am she declares as much as she receives: approximately €150. A second “shift”, the main one, goes from 9am to 5pm. Once again, she has a contract, but in there the declared income is of €250, despite receiving €425. As if the situation was getting worse throughout the day, her last job is even worse. She works from 6pm to 8pm and she just doesn‟t have a contract at all.

Her husband also lives and works in Lisbon, but he doesn‟t exist to the authorities. “He was arrested and now they won‟t give him a residence permit”, she states. As a result, the family regrouping request ignores that there are two sources of income in the household.

The children live with her mother and Ivete doesn‟t doubt that they are well taken care of, but she wants to “recover them” after four years apart. The smothering voice betrays her pain, “I miss them very much”. At the SEF (Borders and Immigration Office) she was informed that there was a way of proving conditions for subsistence, namely by sharing the rent with someone. “We have done that and we have delivered the documents, so the contacts continue”. As so does hope of reaching a good solution.

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