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5. Os métodos indiretos e o crime de fraude fiscal

5.1. A redução da carga fiscal como causa da tributação por métodos indiretos

5.1.1. O Plan eamento fis cal

As sociedades comerciais têm como finalidade primária a maximização do lucro, assim como as pessoas singulares procuram no âmbito das suas atividades profissionais uma contrapartida remuneratória de forma à satisfação das suas necessidades pessoais. A tributação apesar da já referida finalidade coletiva não deixa de ser um amputar ao rendimento dos contribuintes e que pode ter uma relevância considerável no rendimento disponível dos mesmos, sendo assim uma das vertentes mais importantes nos encargos de uma organização ou pessoa. Sempre que existe um aumento dos impostos existe usualmente uma imediata contestação social, exatamente pela perceção que os contribuintes têm lhes vão ser exigidos mais encargos reduzindo esse rendimento disponível.

Em conjugação com esta situação, as leis fiscais deixam à disposição dos contribuintes múltiplas opções que se poderão adotar quando se está perante o exercício de uma atividade empresarial ou quando se realiza um negócio. Existe liberdade conferida pelo nosso ordenamento fiscal, aos contribuintes, de forma, a que operem livremente em termos fiscais, fazendo uma opção pela solução menos onerosa, dentro das diversas possíveis. Não é ao acaso que muitos contribuintes contratam especialistas em matérias fiscais de forma a obter a melhor rentabilidade fiscal (poupança fiscal). Na perspetiva de Amorim (2010:220) «a poupança fiscal assiste a qualquer contribuinte, que tem por base o princípio constitucional da liberdade de iniciativa económica e que está previsto nas próprias leis tributárias (…)»

Nesta perspetiva importa nesta fase do nosso estudo delimitar alguns conceitos fundamentais nas opções de planeamento por parte dos contribuintes que pode levar, ou não à possível tributação por métodos indiretos e à eventual utilização da prova carreada para a punição em sede de infrações tributárias.

73 5.1.2. Plan eamen to fiscal l egí ti mo e i legíti m o

No planeamento fiscal podemos distinguir diversos modos na atuação do sujeito passivo, porque cabe a este, na maioria dos casos, a interpretação e aplicação da lei para o alcance do objetivo e da determinação e exata quantificação das obrigações tributárias. A grande maioria dos autores define o planeamento fiscal tentando enquadrá-lo nas atuações legítimas ou lícitas, afastando deste conceito as ações ilegais ou de evasão fiscal.

Por exemplo, Saldanha Sanches (2006:21) considera que:

“O planeamento fiscal (legítimo) é a técnica de redução da carga fiscal pela qual o sujeito passivo renuncia a um certo comportamento por este estar ligado a uma obrigação tributária ou escolhe, entre as várias soluções que lhe são proporcionadas pelo ordenamento jurídico aquela que, por ação intencional ou omissão do legislador fiscal, está acompanhada de menos encargos fiscais.”

Em sentido contrário, o mesmo autor refere que o planeamento fiscal ilegítimo «consiste em qualquer comportamento de redução indevida, por contrariar princípios ou regras do ordenamento jurídico-tributário, das onerações fiscais de um determinado sujeito passivo».

O contribuinte deve ter uma previsão da carga fiscal a que, possivelmente, estará sujeito. Para se colocar ao abrigo de um eventual pagamento excessivo de impostos (na sua perspetiva evidentemente) tem três possibilidades, sabendo que existem vias legais, vias antijurídicas ou ilícitas, onde estas poderão mesmo ser consideradas crimes tributários ou contraordenações fiscais.

Em primeiro lugar, o sujeito passivo pode reduzir a sua carga fiscal intra legem, que consiste em atos de poupança fiscal, onde esta poupança não constitui um comportamento proibido pela lei, pelo contrário provém de um comportamento admitido pela lei e que tem como intuito a diminuição do imposto a pagar. Como já se referiu, existem diversas opções no nosso ordenamento fiscal em que o contribuinte poderá escolher consoante o negócio em questão, pela opção fiscal mais favorável.

Em segundo lugar poderá optar por um comportamento extra legem, vulgarmente designado por tax avoidance ou elisão fiscal e que se traduz numa prática onde se faz um planeamento fiscal com o intuito de reduzir a carga fiscal nos limites da lei, mas com o objetivo claro de contornar os valores que a estruturam. Procura-se então evitar que o negócio gere obrigação fiscal, pelo que o imposto não é exigido, ou seja, o contribuinte aproveita omissões ou

74 imprecisões nas normas tributárias obtendo a vantagem de uma menor carga fiscal que não foi a desejada pelo legislador quando produziu a norma. Transmite Pombo (2007:26) que «significa, no seu sentido mais etimológico, enganar, através da criação auspiciosa de condições para que outros, no caso a administração fiscal, à primeira vista, possam ver coisa diversa do que lobrigariam se de mais atenção (ou informação) dispusessem».

Por último, o contribuinte poderá ter um comportamento contra legem, situação em que o assume uma atitude inequivocamente ilícita, configurando uma infração fiscal passível de ser objeto de infração contraordenacional ou até criminal. Transgride a lei fiscal sendo a denominada evasão fiscal (tax evasion). Salienta Pombo (2007:29) que:

“A evasão fiscal consistirá, então, no resultado de uma ação ou omissão jurídico-fiscal, especialmente ardilosa, dirigida a obtenção de uma situação tributária mais favorável, conseguindo-se por ela, que não pela concessão se um formal benefício fiscal, evitar o pagamento do imposto, reduzi-lo ou retardá-lo. Neste sentido, poderão caber no conceito de evasão fiscal comportamentos que a doutrina e as legislações vêm reconhecendo como apenas elisivos, se lhes for associada, como sucede entre nós, a utilização de meios artificiosos ou fraudulentos e com abuso de formas jurídicas.”

A poupança fiscal aqui obtida pelo contribuinte pode dar azo a sanções contraordenacionais ou criminais, exemplos de atos típicos, ilícitos, culposos e puníveis, conforme o art. 2.º do RGIT, estando então o sujeito passivo sujeito às diversas sanções previstas no respetivo diploma. Será no âmbito destes comportamentos de evasão fiscal que se poderá existir a eventual possibilidade de punição em sede de infrações tributárias quando o contribuinte é alvo de tributação por métodos indiretos.

5.2. Espécies de infrações tributárias que se poderão