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1.3 Redução de Riscos e Minimização de Danos

Se a discussão semântica relativa à terminologia do termo prevenção é agitada, o conceito da área de missão da redução de riscos e minimização de danos (RRMD), suscita igualmente muita discussão e controvérsia. Indo ao encontro do pragmatismo, subjacente à génese desta área e de acordo com o conceito da Presidência de Conselho de Ministros (2001), esta área ” refere-se às medidas

8 http://www.idt.pt/PT/Tratamento/Paginas/RedeNacionaldeTratamento.aspx consultado em 10 de agosto de 2013

55 que visam limitar ou prevenir os malefícios ligados ao consumo de droga, mais do que ao consumo em si mesmo.” (p.29) com o objetivo de conseguir o mais baixo nível global de efeitos nocivos possível.

Baulenas (1998 cit. in www.idt.pt) refere

O termo Harm Reduction, que traduzido literalmente significa redução de danos, quando passou a ser utilizado em França, definiu-se prioritariamente como

Réduction des Risques, sendo que os documentos e estudos suíços seguem a

mesma terminologia. No entanto, os canadianos optaram pelo termo Réduction

des Dommages, numa linha de conceptualização inglesa que se inclina mais para

o conceito de dano. Em Espanha, optou-se maioritariamente pela tradução literal inglesa, utilizando o termo Reducción de Daños e, às vezes indistintamente,

Reducción del Daño y Riesgo.

No contexto específico da toxicodependência, reduzir os riscos está habitualmente relacionado a “uma filosofia de ação educativa e sanitária sem juízo de valor prévio sobre uma determinada conduta.” (Baulenas,1998 cit. in www.idt.pt). Considera então que a intervenção em redução de riscos e minimização de danos será uma

atividade centrada na comunidade local, cuja finalidade é entrar em contacto com indivíduos ou grupos pertencentes a populações-alvo específicas, que não se conseguem atingir ou contactar eficazmente pelos serviços existentes ou pelos canais convencionais de educação em matéria de saúde.

A leitura de diversos documentos legais que sustentam a existência desta área de missão sublinha a necessidade de intervenção, junto de populações específicas de consumidores/utilizadores de substâncias psicoativas que não estão a ser abrangidos pelos serviços convencionais. É relevante a tomada de consciência da desvinculação desta população relativamente aos serviços de saúde, também sublinhada por Andrade et al. (2007),

Olhando para além do espelho, constatou-se também em Portugal que uma parte importante da população dependente de drogas, com consumos problemáticos, não se deslocava aos serviços de tratamento e/ou quando o fazia não prosseguia o percurso de tratamento, mantendo-se em muitos casos, numa situação de marginalidade. (…) a Redução de Riscos e Minimização de Danos é uma abordagem eminentemente pragmática e humanista. Segundo este tipo de intervenção, o olhar dos técnicos centra-se na forma não valorativa nos comportamentos de consumo dos utentes, bem como o estilo de vida entretanto desenvolvido por estes como forma de sustentar o seu hábito. (p. 10)

56 O paradigma da intervenção em RRMD assenta em quatro pressupostos fundamentais: o pragmatismo, a abordagem humanista, a não imposição da abstinência e a proximidade. (Carapinha, 2009).

O pragmatismo reconhece que o consumo de substâncias tem existido desde sempre na história da humanidade. Assume que, apesar de consumir drogas acarretar riscos, também tem alguns benefícios na perspetiva de quem as consome. Salienta, assim, a necessidade de ter abordagens que não se cinjam ao abandono dos consumos.

A abordagem humanista foca-se na liberdade e igualdade de direitos de todos os seres humanos, defendendo, inclusivamente os direitos dos consumidores. Considera que a decisão de consumir drogas deve ser respeitada e as intervenções devem estar desprovidas de juízos morais.

A abstinência não deve ser imposta aos consumidores visto que muitos utilizadores de drogas, em determinado momento, podem não estar preparados, nem considerar que essa é a melhor resposta. Considera-se que se o consumidor não quiser abdicar do seu consumo, deverá beneficiar de respostas de redução de danos. (Carapinha, 2009).

O modelo de intervenção desta área tem como pilar, uma intervenção de proximidade, junto de indivíduos com inúmeros problemas psicossociais e em contextos de grande mutabilidade e imprevisibilidade. Por conseguinte, orienta-se pelos seguintes princípios estratégicos: Cidadania, Relação, Participação Educação para a saúde acessibilidade aos Serviços de saúde e sociais.

Cidadania

Criar condições que permitam ao indivíduo uma estruturação de vida com o mínimo de dignidade, ou seja, reconhecer o utilizador de drogas como um todo, o que implica reconhecer-lhe uma dignidade, uma humanidade enquanto indivíduo desenvolvendo assim uma consciência de cidadania.

Relação

Restaurar o valor da comunicação potenciando um espaço de liberdade, de compreensão, de aceitação e de escuta com o outro pelo que, não sendo uma relação terapêutica tradicional, deverá privilegiar o estabelecimento de uma relação próxima de ajuda construída numa base de confiança, respeito mútuo e confidencialidade.

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Constituir modelos de negociação como processo essencial para chegar a uma intervenção que seja satisfatória e exequível para todas as partes envolvidas (técnicos, grupo-alvo, traficantes, população em geral, parceiros, entre outros). Educação para a Saúde

Focar o interesse do indivíduo consumidor de drogas, habitualmente centrado nas substâncias e no seu uso, na noção de saúde, procurando promover a alteração de comportamentos de risco e hábitos de consumo.

Acessibilidade aos Serviços de Saúde e Sociais

Promover o acesso do indivíduo aos serviços de saúde e sociais estabelecendo e promovendo uma articulação concertada de forma a facilitar o relacionamento do indivíduo com estes serviços.9

Por fim, importa referir o Decreto-Lei n.º 183/2001 de 21 de junho, que no art.º 1 que dá cobertura legal “à criação de programas e de estruturas sócio-sanitárias destinadas à sensibilização e ao encaminhamento para tratamento de toxicodependentes bem como à prevenção e redução de atitudes ou comportamentos de risco acrescido e minimização de danos individuais e sociais provocados pela toxicodependência.”. Por via deste decreto-lei são reguladas, no art.º3º as seguintes estruturas sócio-sanitárias: “a) Gabinetes de apoio a toxicodependentes sem enquadramento sócio-familiar; b) Centros de acolhimento; c) Centros de abrigo; d) Pontos de contacto e de informação; e) Espaços móveis de prevenção de doenças infecciosas; f) Programas de substituição em baixo limiar de exigência; g) Programas de troca de Kits de seringas; h) Equipas de rua; i) Programas para consumo vigiado.”

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