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3. Proposta para análise retrossintética dos ácidos 4-nitrofenilglucônicos e do α-cetoácido.

4.2. Preparação do ácido nitrofenilglucônico syn (125’)

4.2.1. Redução do tipo 1,3-syn

A redução da β-hidróxicetona 126, foi inicialmente realizada utilizando NaBH4 a 00C, escolhido por ser uma metodologia bastante simples e direta. Embora nesta condição, tenha sido obtido um rendimento razoável, observou-se uma baixa seletividade do composto 1,3-syn com relação ao composto 1,3-anti. A seletividade observada, pode ser explicada pela formação de um intermediário alcoóxido metálico, permitindo a formação de complexos cíclicos com rígida organização estrutural111, sendo que a preferência facial decorre da transferência intermolecular dos íons hidretos para o intermediário cíclico favorecido por efeitos estereoeletrônicos112 (Esquema 42).

Esquema 42: Controle estereoquímico esperado da redução 1,3 com NaBH4.

Com a análise do curso estereoquímico da reação, pode-se inferir que quanto mais compacto for o estado de transição cíclico, maior deverá ser a seletividade.

Comparando o tamanho de ligação B-O e B-C com as ligações M-O e M-C, pode-se afirmar que um estado de transição onde o complexo cíclico possui como agente

111 Bartoli, G.; Belluci, M. C.; Bosco, M.; Dalpozzo, R.; Marcanti, E.; Sambri, L. Chem. Eur. J. 2000, 6, 2590. b) Hoveyda, A. H.; Evans, D. A.; Fu, G. C. Chem. Rev. 2003, 93, 1307.

quelante um átomo de boro é mais compacto do que utilizando sódio, magnésio, alumínio ou zinco, uma vez que as ligações B-O e B-C são mais curtas. Desta forma, para contornar o baixo excesso obtido na reação de redução com NaBH4, foi realizada a reação de redução nas condições modificadas de Narasaka e Pai.

A submissão da β-hidróxi-cetona 126, às condições modificadas da redução de Narasaka113, deve assumir uma conformação capaz de minimizar os efeitos de interação alílica A1,3. Deste modo, o diol 1,3-syn 160 seria procedente de um ataque do agente redutor (LiBH4) pela posição axial sendo favorecido do ponto de vista estereoletrônico (Esquema 43). A seletividade observada nesta reação, pode ser explicada pelo fato de que, um ataque do hidreto pela posição axial, leva a formação de um intermediário cíclico de seis membros tipo cadeira.

Esquema 43: Preparação do diol 1,3-syn 160.

O diol 1,3-syn 160, foi obtido em 94 % de rendimento, e em uma razão diastereoisomérica >97:3 determinada através da análise do espectro de RMN de 1H (Figura 32). No espectro de RMN de 1H, observou-se o aparecimento de mais um sinal carbinólico na região de 3.30-4.00 ppm, o que corrobora com a redução efetuada. Já no espectro de RMN de 13C, evidenciou-se a presença de mais um carbono metínico em 72.1 ppm e o desaparecimento do sinal carbonílico em 208.7 ppm. Além disso, no

113 Narasaka, K.; Pai, F. C. Tetrahedron 1984, 12, 2233.

espectro de IV, observou-se o aparecimento de uma banda de estiramento da ligação C- OH em 3479 cm-1 .

Figura 32: Espectro de RMN de 1H do composto 160 (CDCl

3, 500 MHz).

De posse do composto 160, partimos para a preparação do acetonídeo syn 161, utilizando a mesma metodologia de síntese do composto 139. Cabe ressaltar que a obtenção do composto 161 exigiu mais esforços que a obtenção do composto 139 (Esquema 46), contrariando a informação de que, acetonídeos trans são mais lábeis que acetonídeos cis frente a condições ácidas114. Esta diferença de reatividade tem sido explicada com base no alívio da tensão do anel de seis membros do tipo bote torcido com a clivagem de acetonídeos trans.

Esquema 44: Preparação do acetonídeo cis 161 e sinais diagnósticos de RMN de 13C.

O composto 161 foi analisado por RMN de 1H e de 13C, além da análise de IV. No espectro de RMN de 1H foi evidenciada a formação do produto pelo desaparecimento dos dubletos das hidroxilas observadas no composto 160 e aparecimento de dois singletos referentes às metilas do acetonídeo em 1.54 e 1.57 ppm integrando para 3 hidrogênios cada. Já no espectro de RMN de 13C, além dos carbonos metílicos em 19.1 e 29.5 ppm, pode-se observar a presença do carbono quaternário em 98.9 ppm, todos estes sinais característicos de acetonídeo 1,3-cis (Figura 33).

Figura 33: Espectro de RMN de 13C do composto 161 (CDCl

Após a obtenção do composto 161, realizou-se a desproteção seletiva do TBS primário utilizando a mesma metodologia empregada para a obtenção do composto 147 (Esquema 45).

Esquema 45: Preparação do composto 162.

O composto 162 foi obtido em 96 % de rendimento. E de maneira análoga ao composto 147, a sua formação foi evidenciada pelo aparecimento da banda de estiramento da ligação O-H em 3441cm-1 no espectro de IV, e desaparecimento dos sinais referentes à presença de um dos grupos TBS nos espectros de RMN de 1H (Figura 34) e de 13C.

Figura 34: Espectro de RMN de 1H do composto 162 (CDCl

Frente aos resultados animadores que vinham sendo alcançados, estávamos mais próximos de concluir o segundo alvo do trabalho. Partimos então, para a preparação do ácido 163 (Esquema 46). A síntese foi realizada de maneira análoga à descrita para a preparação do ácido 148, e foi alcançada em 63 % pelo uso de TEMPO e BAIB.

Esquema 46: Preparação do ácido 163.

O composto 163, foi caracterizado por IV, RMN de 1H e 13C. No espectro de RMN de 1H, observou-se o desaparecimento dos hidrogênios metilênicos observados no álcool 162, além de uma interessante separação dos singletos dos hidrogênios carbinólicos referentes a H4, H2 e H3 integrando para 1H cada, em 5.07, 4.63 e 4.19 ppm respectivamente (Figura 35) o que levou-nos a inferir que esses hidrogênios exibiam ângulos diedros bastante próximos de 900. Já no espectro de RMN de 13C, observou-se o desaparecimento do carbono metileno (CH2) em 63.4 ppm presentes no reagente 162 e o aparecimento do respectivo sinal carbonílico em 168.7 ppm.

Figura 35: Espectro de RMN de 1H do composto 163 (CDCl

3, 400 MHz).

Com o objetivo de finalizar, a síntese do ácido 4-nitrofenil-glucônico syn, a última reação seria a remoção dos grupos protetores. Embora, com a metodologia já otimizada na obtenção de seu análogo (composto 125), tivemos muita dificuldade em realizar as desproteções. Por exemplo, muita das vezes o triol aparecia misturado com o sal de piridina. Conseguiu-se superar esta questão, realizando a reação em tempo mais curto, quando comparado a obtenção do composto 125’ (Esquema 47).

As análises de RMN 1H e 13C do composto 125’ confirmaram a remoção do grupo protetor TBS, não sendo observado nenhum sinal relativo aos hidrogênios deste grupo, além do desaparecimento dos sinais do acetonídeo antes observados. No espectro de RMN de 1H (Figura 36), pode-se observar os sinais relativos aos hidrogênios aromáticos 8.20 e 7.68 ppm e os sinais carbinólicos integrando para 3H ao redor de 3.70 ppm. Já no espectro de RMN de 13C observam-se claramente os sinais dos carbonos metínicos em 77.9, 75.1 e 71.9 ppm (Figuras 36 e 37).

Figura 36: Espectro de RMN de 1H do composto 125’ (CD

3OD, 400 MHz).

Dá mesma forma que para o composto 125, algumas dúvidas permanecem com relação a alguns sinais esperados para a estrutura de 125’. Por exemplo, o sinal relativo ao hidrogênio (H4) seria esperado em uma região mais desprotegida do espectro, ao redor de 5.50 ppm, o que não é observado, mas que poderia estar encoberto pelo sinal do solvente. Uma nova análise com DMSO-d6, por exemplo, poderia solucionar esta dúvida. Já o espectro de RMN de 13C deveria ser obtido com mais tempo de acumulação para o aparecimento inequívoco dos sinais dos carbonos quaternários.

Figura 37: Espectro de RMN de 13C do composto 125’ (CD

3OD, 100 MHz).

De maneira análoga ao composto 125, o composto 125’ apresenta três centros estereogênicos contíguos, uma função ácido, uma função nitro e aromática, podendo ser considerado multifuncional, e foi obtido com rendimento global de 22 % para 9 etapas.