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3.2 As consequências da corrupção sobre a distribuição de renda e sobre a atividade

3.2.3 Redução do investimento

Diretamente relacionada com o problema acima tratado está também a redução do investimento, atrelada intrinsecamente à corrupção. A redução da credibilidade das instituições de um país faz com que investidores prefiram nações mais estáveis para investir seu dinheiro, garantindo maior segurança em seu retorno. (LAMBSDORF, 2006, p.27).

A vinculação com a corrupção decorre do aumento do custo de negócios e da redução da proteção à propriedade privada. Estes fatores, muitas vezes relacionados a desmandos de funcionários públicos, reduzem a predileção de uma nação a receber investimento. Isto é potencializado em empreendimentos diretamente executados pelo Poder Público, pois haverá muitos atos sujeitos a tais práticas.35

Um governo corrupto não passa credibilidade em suas promessas e garantias, ainda que estas decorram de lei. Funcionários públicos corruptos não têm suas atitudes regidas por uma ideologia ou um plano macro, como o bem comum, por exemplo. Seu objetivo é perceber vantagens indevidas, de modo que o exercício de suas funções se caracteriza como mercenário, sendo prestado em favor de quem oferecer mais vantagens.

35 O exemplo de grandes empreendimentos, que dependem de investimentos volumosos, que não são

implementados em razão da corrupção é utilizado no texto por ilustrar mais facilmente a situação que se pretende demonstrar. Não há dúvidas, entretanto, que empresas start up sofrem bastante também em decorrência deste fator. Em resumo simplificado, as start ups são empresas desenvolvidas a partir a ideias inovadoras patrocinadas por investidores que “apostam” no sucesso do empreendimento. O investimento, portanto, é vital para este tipo de negócio, que gera inovações tecnológicas que tem mudado a forma de realização de vários negócios. Assim, a corrupção é um dos fatores para o não desenvolvimento de start ups.

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Já foi tratado neste texto que existem tipos variados de corrupção. É possível, por exemplo, que o pagamento de propina leve a uma vantagem indevida que enseje o aumento da produção de determinada empresa (em razão da obtenção de um financiamento público, por exemplo) ou apenas evite o desmando de um funcionário público (como na demora para concessão de uma licença).

O Relatório do Banco Mundial sobre Desenvolvimento de 1997 divide, ainda, a corrupção em duas espécies, de acordo com o resultado obtido mediante o pagamento de vantagem indevida. De um lado, há a situação da certeza do resultado, em que há segurança de que o resultado perquirido será atingido; de outro, há o caso em que o pagamento de propina não enseja segurança, havendo o receio de que a promessa de vantagem não seja cumprida ou que a prática do ilícito, que gere provas contra o agente em questão, leve a situação de chantagem.36

Tendo isto em vista, o Banco Mundial realizou pesquisa em que questionou a agentes envolvidos com práticas de corrupção em países em desenvolvimento se tinham conhecimento prévio do preço final pago pela vantagem indevida e se o resultado prometido foi entregue conforme ilicitamente acordado. O que se mediu foi a previsibilidade do custo e o oportunismo dos funcionários públicos corruptos. Tal análise chegou à conclusão de que a imprevisibilidade e o oportunismo são fatores que afastam investimentos. (LAMBSDORF, 2006, p. 31).

A redução do investimento em razão da corrupção é verificada como a perda de uma oportunidade. Muitas vezes não há um prejuízo efetivo decorrente, pois, antes de ser realizado, um investimento é apenas uma expectativa de negócio. Entretanto a situação que se verifica é que se perde uma oportunidade de negócio, que geraria empregos, renda e tributação, em razão da corrupção.

O termo investimento refere-se a uma larguíssima gama de negócios possíveis. É natural, então, dada a diferença de características de cada um (no que tange, por exemplo, à necessidade de implementação de infraestrutura pelo Poder Público), que os empreendimentos

36 BANCO MUNDIAL. World Development Report 1997 – State in a changing world. Washington, DC: World

Bank. p. 34: “There are two kinds of corruption. The first is one where you pay the regular price and you get

what you want. The second is one where you pay what you have agreed to pay and you go home and lie awake every night worrying whether you will get it or if somebody is going to blackmail you instead”.

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sejam afetados de formas diferentes pela corrupção, que altera a composição dos investimentos. (LAMBSDORF, 2006, p. 29).

Um dos exemplos mencionados por Lambsdorf (2006, p. 30) consiste no mercado de crédito bancário. Em países afetados fortemente pela corrupção, o que se verifica é uma procura maior da população por este tipo de serviço. Apesar do efeito adverso da corrupção, consistente no aumento do preço de crédito (haja vista que, como há uma menor possibilidade de sucesso de empreendimentos, decorrentes ao menos parcialmente da corrupção, há maior risco de inadimplência), o volume de negócios não é afetado pelo fator ora tratado. (WEI; WU, 2016, p. 21).

Apesar deste efeito sobre o volume de operações realizadas com bancos, a conclusão geral da doutrina é que a corrupção afeta negativamente a composição de investimentos privados em um país. O investimento estrangeiro diminui e o nacional tende a direcionar-se, quando possível, para outros países, dada a maior possibilidade de imposição de desvios em razão da corrupção.37

Conclui-se, assim, que a corrupção é um fator de redução de investimento, tendo efeitos variados de acordo com as características da prática ilícita e do negócio que se pretende realizar. De toda sorte, o afastamento de investimentos é um fator de redução de crescimento e, consequentemente, de desenvolvimento de países.