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Reembolso do Programa de Cuidados Farmacêuticos da Diabetes

CAPITULO IV. Contexto Nacional dos Cuidados Farmacêuticos

4.5. Reembolso do Programa de Cuidados Farmacêuticos da Diabetes

Desde 2001, muitos farmacêuticos de oficina têm-se envolvido no SF e nos PCF para a Diabetes, contribuindo para o reconhecimento destes projectos como uma mais-valia para a população diabética41 (Costa et al. 2006a). Assim, em Setembro de 2003, aquando da assinatura do 2º Protocolo de Colaboração no âmbito da diabetes42, entre o Ministério da Saúde, OF, ANF e Associação de Farmácias de Portugal, foi introduzida, de forma experimental a prática dos CF. Este documento destinou-se a regular o processo de intervenção farmacêutica junto da população diabética ou com suspeita de o ser (INFARMED, 2008).

Em 2004, o PCF da Diabetes passou a poder ser reembolsado na prática, tendo o Ministério da Saúde, um ano mais tarde, solicitado uma avaliação dos benefícios clínicos. Os resultados demonstraram que estes serviços farmacêuticos melhoram o controlo da glicémia, após 6 meses de seguimento (Costa et al. 2006c).

Um outro estudo, elaborado por um grupo de investigadores do Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina do Porto43, sobre o impacto do PCF, concluiu que os doentes incluídos no programa apresentaram melhores indicadores relacionados com o tratamento e medição da glicémia, sugerindo um melhor controlo da terapêutica instituída.

A reduzida dimensão da amostra não permitiu que os autores pudessem concluir, no entanto, com total segurança, o impacto positivo do programa na melhoria do controlo global da diabetes.

Com base nos resultados positivos obtidos e na especificidade do papel do farmacêutico, todas as partes envolvidas consideraram oportuno dar continuidade à parceria e ao carácter experimental da prestação de CF, aquando da oficialização do 3º Protocolo de Colaboração no âmbito da diabetes, que ocorreu em Abril de 2008.

41 Apesar de, actualmente, a informação ser escassa, estima-se que em Portugal existam cerca de 700 mil indivíduos afectados pela doença.

42

O 1º Protocolo de Colaboração surgiu em 1998, com o objectivo de estabelecer uma parceria com todos os intervenientes no circuito de vigilância da doença (os diabéticos, as farmácias comunitárias, os distribuidores/grossistas de produtos farmacêuticos, a indústria farmacêutica e o Ministério da Saúde). Nele foi reconhecida a importância da intervenção farmacêutica no aconselhamento e autocontrolo do doente diabético. 43

Neste Protocolo encontra-se referido o âmbito de actuação da intervenção farmacêutica e dos CF44, o número de beneficiários (número máximo de 5000 utentes), a acreditação das farmácias de oficina e a credenciação dos farmacêuticos. Ele prevê, tal como o anterior, o reembolso do PCF da Diabetes. No entanto, para que este reembolso ocorra, é necessário que se cumpram determinados requisitos, como a adesão voluntária do utente45 à intervenção farmacêutica.

Por outro lado, a actuação do farmacêutico é dividida em dois níveis. O primeiro, denominado como serviço essencial, diz respeito à educação para a saúde, detecção de doentes diabéticos não controlados e de utentes suspeitos de terem desenvolvido diabetes, com o reporte ao médico (Nível I). O segundo, designado como serviço diferenciado (Nível

II) diz respeito aos CF prestados no âmbito do protocolo, sendo necessária a existência de

documentos que comprovem os resultados alcançados no seguimento farmacoterapêutico (medições efectuadas, PRM identificados e o reporte ao médico) (INFARMED, 2008).

Os farmacêuticos, para poderem actuar a este nível e serem reembolsados pelos serviços prestados, devem frequentar uma formação específica nesta área e serem credenciados pela respectiva Ordem.

Ainda de acordo com o protocolo rubricado, o valor a ser pago ao farmacêutico é de 15 €/mensais por cada utente diabético beneficiário do SNS, dividido em duas partes: 75% (11,25€) pago pelo Ministério da Saúde e 25% (3,75€) pelo utente (Costa, 2004; INFARMED, 2008).

A prestação de CF de nível II, de acordo com este protocolo, compreende cinco passos obrigatórios. São eles: (1) revisão da terapêutica; (2) determinação de parâmetros; (3) avaliação dos problemas de saúde; (4) definição do plano de CF; e (5) monitorização dos resultados. Todos estes passos devem estar documentados na folha SOAP e ser enviados à ANF.

A partir de dados recolhidos pela ANF, OF e INFARMED46 é possível analisar os resultados de adesão das farmácias comunitárias e doentes activos, nos vários níveis de intervenção farmacêutica no âmbito da diabetes, durante o período entre 2004 a Agosto de 2008.

44 Entendem-se por CF no âmbito do presente protocolo, válido para dois anos: (i) a identificação do perfil terapêutico; (ii) promoção da autovigilância e autocontrolo da diabetes; (iii) ensino da utilização de dispositivos da glicémia capilar, glicosúria e cetonúria; (iv) promoção da adesão à terapêutica farmacológica; (v) identificação de problemas relacionados com a medicação instituída; (vi) aconselhamento de regras básicas de alimentação saudável, higiene e actividade física.

45 Um critério obrigatório é o utente beneficiário do serviço tomar pelo menos um medicamento para a diabetes. 46

Tabela 10 – Evolução dos Valores de Adesão das Farmácias e Doentes Activos Durante o Período de 2004 a Agosto 2008 Tendo em Conta os Níveis de Actuação

Protocolo da Diabetes Dez-04 Dez-05 Dez-06 Dez-07 Ago-08

Nível I Farmácias 2701 2705 2707 2708 2706 Nível II Farmácias 324 387 380 383 386 Doentes activos 992 1363 1107 1148 1189 Nível I/Nível I 100% 100% 100% 100% 100% Nível II/Nível I 12,0% 14,3% 14,0% 14,1% 14,3% Doentes activos/Nível I 0,4 0,5 0,4 0,4 0,4 Doentes activos/Nível II 3,1 3,5 2,9 3,0 3,1 Fonte: INFARMED, 2008.

Analisando os valores de adesão das farmácias ao nível I e II, no âmbito da diabetes, é possível constatar que, devido à própria natureza dos dois tipos de serviços, o nível I (serviço essencial) apresenta uma maior taxa de adesão que o nível II (serviço diferenciado). Por outro lado, importa salientar que as farmácias com farmacêuticos tecnicamente habilitados a efectuar o seguimento nos moldes previstos no nível II efectuam também o serviço essencial.

No nível I, a evolução dos valores ao longo do período em análise foi constante, registando-se uma participação de aproximadamente 2700 farmácias comunitárias, conforme documentado na tabela 10. Esta constância de adesão de farmácias não foi seguida no nível II, registando-se algumas alterações acentuadas de um ano para o outro. De facto, de 2004 (324) para 2005 (387) verificou-se uma subida do número de farmácias envolvidas no serviço diferenciado, fruto talvez de uma rápida divulgação do 2º Protocolo de Colaboração no âmbito da diabetes. Esta tendência foi contrariada no ano de 2006 com a diminuição do número de farmácias envolvidas para 380, provavelmente por dificuldade na implementação de todos os passos descritos no protocolo de colaboração. A partir deste ano e até Agosto de 2008, registou-se uma ligeira e sustentada evolução positiva dos valores de farmácias com níveis de intervenção farmacêutica do tipo II.

Em relação ao número de doentes activos no PCF da Diabetes, constata-se que 992 utentes estavam registados no final do primeiro ano de reembolso deste projecto (2004). No ano seguinte, este valor aumentou 37,4%, com 1363 utentes a receberem um serviço diferenciado. Dois anos após o início do período em análise (2006), o número de utentes decresceu para 1107, o que corresponde a uma variação negativa de 18,8% em relação ao ano de 2005. Este número de utentes inscritos aumentou, em 2007, 3,7%, situando-se então em 1148.

Os dados disponíveis para 2008 (até Agosto) permitem supor que o número de utentes dos serviços diferenciados dos CF será superior ao registado no ano anterior, com 1189, o que corresponde a uma variação positiva de 3,6%.

Os dados obtidos permitem também determinar o número médio de doentes activos por farmácia comunitária inscrita no nível II de intervenção farmacêutica. Assim, de uma maneira geral e em termos médios, ao longo do período em análise, cada farmácia de nível II tinha em seguimento 3 utentes. A única excepção foi o ano de 2005, onde o número de utentes com acesso ao programa aumentou, em termos médios para 4.

Todos estes dados podem ser comprovados pela análise da variação anual da adesão das farmácias de nível I e/ou nível II e doentes activos para o PCF, no período em estudo, conforme informação mais detalhada em anexo IV.

Parte B: Estudo da Prestação e Satisfação dos Serviços

Dispensados Pela Farmácia Comunitária em Portugal

A determinação da qualidade de um serviço prestado implica a consideração da perspectiva do utente. A área farmacêutica não respresenta excepção a este nível, sendo, portanto, fulcral percepcionar qual o nível de qualidade para o utente e em que medida os atributos e características dos cuidados de saúde prestados vão ao encontro das suas necessidades.

Por outro lado, é de esperar que a satisfação dos utentes com os serviços farmacêuticos reflicta a realidade dos cuidados prestados, bem como as suas preferências e expectativas (Armando et al. 2005; Cavaco, 2005; Iglésias, 2005).

Assim, à medida que os CF evoluírem para um modelo baseado em resultados, parâmetros como a satisfação do utente dos serviços serão cada vez mais importantes para determinar a performance de uma farmácia comunitária. Este poderá ser, aliás, um factor diferenciador, levando a que, por exemplo, uma companhia de seguros opte por estabelecer parcerias com as farmácias que apresentem melhores resultados e maior grau de satisfação dos seus utentes (Armando et al. 2005; Traverso et al. 2007).

No decorrer desta segunda parte da dissertação, abordar-se-ão os tipos de questionários de satisfação com os serviços farmacêuticos já existentes e que estão na base da elaboração do questionário utilizado nesta tese (capitulo V), a avaliação e valorização dos serviços prestados na farmácia, de uma maneira geral, através da amostra total inquirida (n=2338) (capitulo VI), a análise dos resultados obtidos numa farmácia em Lisboa, através de um estudo de caso (capitulo VII) e as conclusões destes dois estudos, bem como recomendações para pesquisas futuras (capitulo VIII).