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REENCONTRO COM OS OBJETIVOS DOS ARTIGOS

Esta pesquisa investigou sobre a compreensão do discurso do professor na sala

de aula de matemática. Desse modo, o propósito foi estudar as situações de interações

discursivas que favorecem a compreensão do discurso do professor pelos alunos e as

implicações da pergunta do professor para a compreensão dos alunos, o objetivo geral

da pesquisa foi analisar como os alunos compreendem o discurso do professor na sala

de aula de matemática.

Para investigar como os alunos compreendem o discurso do professor, gravei

aulas em vídeos de duas professoras no 6º ano do ensino fundamental em uma escola

pública e outra privada, para investigar como os alunos compreendem o discurso do

professor na sala de aula. Para isso, observei as interações discursivas entre professor e

alunos, bem como as perguntas formuladas pelo professor. Neste estudo, considerei

discurso como ações que se manifestam de diferentes formas, seja por meio de

realizações gestuais, escritas ou orais da linguagem, de modo particular, as ações que

professores e alunos realizam no ambiente da sala de aula.

A compreensão do discurso do professor pelos alunos pode ser observada no

modo como eles reagem a esse discurso. A compreensão dos alunos depende das

situações pedagógicas e das estratégias utilizadas pelo professor. A posição que o aluno

ocupa com sua resposta em relação ao discurso do professor é indicativo da sua

compreensão. Bakhtin (2006) considera que há compreensão do discurso de outro

quando há uma orientação em relação a ele, quando faz corresponder palavras a esse

discurso. Na sala de aula, o aluno compreende o discurso do professor quando ele se

posiciona em relação ao que foi afirmado, quando ele responde ao enunciado que foi

formulado acerca do conteúdo matemático.

Os capítulos 2, 3 e 4 constituem os três artigos da tese, eles exploram o objeto de

pesquisa, isto é, como os alunos compreendem o discurso do professor, no entanto, cada

artigo discute uma questão das que compõem o problema de pesquisa.

O primeiro artigo, o capítulo 2, é um artigo teórico, com o objetivo de apresentar

elementos do arcabouço teórico Bakhtiniano para analisar como é compreendido o

discurso do professor pelo aluno, em especial, os conceitos de enunciado, dialogismo,

gêneros discursivos, compreensão, compreensão passiva e compreensão ativa plena.

No primeiro artigo, capítulo 2 da tese, reconheço que o conceito de compreensão

junto com outros elementos apresentados por Bakhtin têm importância fundamental

para analisar como os alunos compreendem o discurso do professor na sala de aula. E a

partir dos conceitos de Bakhtin (2003; 2006) de compreensão passiva e compreensão

ativa plena apresento a noção teórica de compreensão intermediária.

Bakhtin afirma que a compreensão em qualquer forma que ela se dê é uma

compreensão ativa plena. Já a compreensão passiva, para ele, é o tipo de compreensão

que exclui qualquer resposta, ela acontece quando ocorre apenas a identificação do

significado do signo linguístico.

A literatura em educação matemática e as passagens nos textos de Bakhtin, a

seguir, deixam abertas possibilidades para a apresentação da noção teórica de

compreensão intermediária, vejamos: “toda compreensão plena real é ativamente

responsiva e não é senão uma fase inicial preparatória da resposta (seja qual for a forma

em que ela se dê)” (BAKHTIN, 2003, p. 272). Quando ele se refere a uma relação entre

a quantidade de palavras proferidas e a compreensão, afirma: “quanto mais numerosas e

substanciais forem, mais profunda e real é a nossa compreensão” (BAKHTIN, 2006, p.

137). Aqui, o autor considera a possibilidade de a compreensão poder ocorrer em

diversos níveis. Em outras referências de seus textos, restariam duas possibilidades,

haveria a compreensão passiva ou a compreensão ativa plena.

Entendo que não é possível classificar ou fazer níveis de escala de compreensão,

entretanto entre a compreensão passiva (não há qualquer resposta, há apenas a

percepção do componente do signo linguístico) e a compreensão ativa plena (quando se

verifica qualquer tipo de resposta) como propõe Bakhtin, existe, pelo menos, uma forma

de compreensão que denomino de compreensão intermediária. Mostro essa questão

apresentando o seguinte enunciado: “Triângulo isósceles é aquele que possui dois

ângulos congruentes”. Entendo, que nesse caso, pelo menos, três situações podem

ocorrer: I) um aluno que apenas identifica o signo linguístico e nada responde

(compreensão passiva); II) um aluno se posiciona desenhando um triângulo, mas não

identifica o triângulo isósceles (compreensão intermediária); III) outro aluno se

posiciona com o desenho de um triângulo e identifica o triângulo isósceles

(compreensão ativa plena).

Considero compreensão intermediária como as formas de compreensão ativa

propostas por Bakhtin que não ocorrem em sua plenitude, usando os seus termos ao

definir compreensão: quando o interlocutor em posição de resposta utiliza poucas

palavras ou mesmo quando utiliza muitas palavras, mas estas não são substanciais. De

outro modo, a compreensão intermediária se verifica quando ocorre a compreensão de

certos aspectos do discurso e outros aspectos deixam de ser compreendidos.

No segundo artigo, capítulo 3 da tese, o objetivo foi identificar e analisar

situações de interações discursivas que favorecem a compreensão do discurso do

professor pelos alunos. Foram observadas três situações na aula que favorecem aos

alunos a compreensão do discurso da professora:

a) Nas interações discursivas em sala de aula, para estimular a compreensão de

conteúdos explorados pelos alunos a professora procura relacioná-los a

objetos ou situações do dia a dia.

b) Nas situações na sala de aula em que a professora discursa relativizando o

rigor da linguagem matemática.

c) Nas situações em que o discurso da professora faz comparações entre entes

matemáticos.

Nas situações de interações em sala de aula entre a professora Carla e

seus alunos e entre os próprios alunos foram identificados:

a) Momentos de interações entre a professora Carla e os alunos com

respostas breves;

b) Momentos desfavoráveis para as interações;

c) Momentos propícios e de profícuas interações.

No terceiro artigo, capítulo 4 da tese, o objetivo foi analisar as situações de

interações discursivas presentes na pergunta do professor que favorecem a compreensão

do aluno. Apresento situações de interação encontradas nas perguntas formuladas pela

professora Carmem que favorecem a compreensão do discurso pelos alunos. Também

faço uma categorização das perguntas por ela realizadas. Foram identificadas três

situações referentes a esse objetivo: 1) situação de interação com perguntas simuladas;

2) situação de interação com perguntas concorrentes; 3) situação de interação com

perguntas originais.

A professora Carmem utiliza diferentes estratégias na hora de perguntar:

a) Ela pergunta e não responde a pergunta que faz. Se o aluno não

responder como ela espera, repergunta até levá-lo a apresentar uma resposta.

b) Ela pergunta, e em seguida, induz a resposta para o aluno.

As implicações desses modos de perguntar têm consequências na participação e

na compreensão do aluno. Isto resulta em momentos em que a professora Carmem

estimula e incentiva as interações e, em outros momentos, ela pode gerar inibição.

Quando a professora faz um discurso em que responde perguntando, parece ter o

objetivo de chamar a atenção do aluno e oferecer um valor apreciativo do discurso que

realiza. Nesse caso, as perguntas da professora soam ao mesmo tempo como um convite

para a reflexão e a participação do aluno nas interações em sala de aula.

Nas próximas seções, farei uma análise dos resultados dos três artigos com o

propósito de discutir como os alunos compreendem o discurso do professor. Logo em

seguida, apresento seis situações de interação encontradas nos discursos das professoras

Carla e Carmem articulando teoria, literatura e dados, para depois tentar sistematizar

uma compreensão para o objeto desta investigação.