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2.1 Engenharia e Reengenharia de sistemas

2.1.2 Reengenharia de sistemas

De acordo com Sage (2009), se um sistema é desenvolvido e gerenciado de acordo com a disciplina de engenharia de sistemas, ele pode ser transformado a partir dos mesmos processos e métodos, dentro do que o autor denomina como reengenharia de sistemas. Ainda de acordo com o autor, o conceito de reengenharia de sistemas pode ser aplicado basicamente em três grupos, ou numa combinação desses. Os grupos identificados por Sage (2009) são: gestão de sistemas, processos e produtos. Para fins de fundamentação teórica desta tese, apenas a reengenharia do produto é detalhada nesta seção.

Conceitos 2.1.2.1

Sage (2009) identifica duas importantes características da reengenharia: o fato de que ela aumenta o próprio entendimento sobre o produto e que ela objetiva aumentar índices de confiabilidade, mantenabilidade ou atender a uma nova necessidade do cliente. A definição formal que o autor dá para a reengenharia do produto é:

(...) o exame, estudo, captura e modificação dos mecanismos internos ou da funcionalidade de um sistema existente de modo a reconstruí-lo numa nova forma e com novas características, para se tirar vantagem de tecnologias emergentes, porém sem uma alteração significativa na funcionalidade inerente e finalidade do sistema, (SAGE, 2009).

De acordo com Chikofsky e Cross (1990), podem ser estabelecidas três importantes fases na engenharia de sistemas: definição, desenvolvimento e implantação do produto. O processo normal de engenharia do produto segue essa sequência por meio do que os autores denominam “engenharia avante”4 (forward engineering). Dentro de um processo de reengenharia de sistemas, Sage (2009)

estabelece que a reengenharia do produto desenvolve-se inicialmente na sequência inversa dessas fases para depois retornar ao sentido comum definição- desenvolvimento-implantação. Uma lista de definições de termos presentes na reengenharia do produto é proposta por Sage (2009):

1. “Engenharia avante” (forward engineering) é o tradicional processo de definição, desenvolvimento e implantação de um produto, ou a realização de um conceito de sistema como um produto.

2. Engenharia reversa, por vezes, chamado de engenharia inversa, é o processo por meio do qual um dado produto é examinado para identificar ou especificar a definição do produto, quer no nível de especificações técnicas ou no nível de requisitos do usuário. Sage (2009) também apresenta dentro da definição de engenharia reversa os seguintes subconjuntos:

a. “Redocumentação” é o processo pelo qual uma representação do sistema ou produto é recriada com a finalidade de gerar explicações

funcionais do comportamento do sistema original, o que permite um melhor conhecimento do sistema em níveis funcionais e estruturais. b. Recuperação do projeto é o subprocesso de engenharia reversa pelo

qual o conhecimento “redocumentado” é combinado com outros esforços, muitas vezes envolvendo as experiências pessoais e o conhecimento de outras pessoas sobre o sistema, que permite levar a abstrações funcionais do produto ou a compreensão do sistema no nível de função, finalidade e estrutura.

3. Reestruturação, que envolve a transformação de informações obtidas pela engenharia reversa noutra forma de representação.

4. Reengenharia é, como definido nesses esforços, o equivalente a engenharia do “redesenvolvimento”, da renovação e da recuperação. Está muito relacionada a questões de manutenção e aproveitamento do produto sendo, essencialmente, a recriação do sistema original numa nova forma que foi melhorada sem modificações radicais em seu propósito e funcionalidades. Sage (2009) representa graficamente os conceitos propostos, como exposto na Figura 2.3. Segundo o autor, o esforço de restruturação, baseado na redocumentação e na recuperação do conhecimento obtido por intermédio da engenharia reversa, é usado para efetivamente reestruturar cada uma das três fases (definição-desenvolvimento-implantação).

É importante considerar dentro da visão de Sage (2009) a ligação da reengenharia do produto com a manutenção. Não se pode desprezar o fato de que boa parte do produto reengenheirado é reaproveitada, o que requer ações para garantir que esses componentes desempenhem satisfatoriamente suas funções. Em suas conclusões, o autor ainda alerta para o fato de que a reengenharia de um produto também está relacionada à reengenharia de processos correlatos e da gestão de sistemas.

Figura 2.3 – Fases da reengenharia do produto.

Fonte: Sage (2009).

Kossiakoff et al. (2011) não utilizam o termo reengenharia de sistemas, mas afirmam que a modernização possui fases similares ao do desenvolvimento de novos sistemas. Empregando a divisão por fases que os autores postulam, tem-se:

1. Fase de desenvolvimento conceitual – assim como no início do projeto de novos sistemas, esta fase é iniciada pelo reconhecimento de sua necessidade e é desenvolvida de maneira similar, exceto pelo fato de que o escopo de decisões de engenharia está limitado às modificações. Como fator complicador, é necessário um grande esforço para que as partes modificadas do sistema sejam compatíveis com as remanescentes, o que requer, segundo Kossiakoff et al. (2011), o emprego de engenharia de sistemas de alto nível para se atingir metas assumidas de desempenho e confiabilidade.

2. Fase de desenvolvimento de engenharia – limita-se aos componentes modernizados e à sua integração com os demais, também exigindo esforços consideráveis para seu sucesso.

3. Teste e avaliação do sistema – podem estar limitados às modificações, porém é possível que modernizações mais abrangentes exijam a avaliação do sistema como um todo.

4. Operação e suporte – os autores alertam para as modificações no suporte logístico, especialmente em estoques de peças de reposição. Alertam também para questões de treinamento, elaboração de manuais e documentação técnica.

A Defense Acquisition University, no seu manual de engenharia de sistemas (DAU, 2001), apresenta o termo major rebuild para denominar a gama de processos de modernização em larga escala, que inclui remanufatura, programas de extensão da vida útil e o desenvolvimento de sistemas a partir da reutilização de componentes de um sistema existente. O manual também afirma que a modernização pode ser tratada de maneira semelhante ao desenvolvimento de novos sistemas, acrescentando as seguintes atividades:

1. Benchmark de novos requisitos.

2. Análise e alocação de funções baseadas nos novos requisitos. 3. Análise da real capacidade do sistema antes de sua modernização.

4. Identificação de fatores de riscos e de custos, com a consequente monitoração do risco.

5. Desenvolvimento e avaliação de alternativas de projeto.

6. Prototipagem e verificação da melhoria obtida pela modernização.

Continuando a discussão sobre a modernização de sistemas, o Systems

Engineering Fundamentals (DAU, 2001) apresenta uma lista de pontos a serem

observados, pois podem originar armadilhas para o projeto:

1. Minimização de impactos operacionais – fatores ligados à necessidade de utilização do produto pelo usuário podem ditar a disponibilidade de sistemas para serem modernizados.

2. Gestão de configuração e interfaces – a chave para uma modificação bem sucedida é a compreensão e controle de interfaces e relacionamentos.

3. Problemas de compatibilidade logística – modificações no produto repercutem na logística de manutenção e de peças de reposição.

4. Recursos disponíveis – modificações muitas vezes são vistas de forma simplista (alterando um sistema existente da mesma forma que se altera um desenho), entretanto devem ser cuidadosamente planejadas para a

estimação de recursos mínimos necessários e bem conduzidas para a mitigação e controle de riscos.

5. Fornecedores – sistemas antigos tendem a possuir poucos fornecedores que detém certo conhecimento sobre seu projeto e funcionalidades. Isto é especialmente problemático se o sistema original possui componentes que o responsável pela modernização não tem dados de referência. Nestes casos, há um processo de aprendizagem que deve ser trabalhado antes do esforço de modificação. Dependendo no sistema específico, este processo de aprendizagem pode ser um grande esforço. Esta questão deve ser considerada no início do processo de modificação, porque tem graves implicações de custo.

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