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Reestruturação produtiva: as transformações investidas no modo de produção capitalista

No documento daniellemoreiramaia (páginas 104-113)

2. CENÁRIO ATUAL: A VELHICE DOS TRABALHADORES APOSENTADOS EM

2.3. Reestruturação produtiva: as transformações investidas no modo de produção capitalista

O objeto de estudo desta dissertação envolve diretamente a análise das motivações que levam o velho trabalhador aposentado a se manter ou reingressar no mercado de trabalho, e, portanto, não é possível deixar de destacar o caráter dessas mudanças e sua relação com o mundo do trabalho. Outra preocupação é, também, mostrar um panorama geral das mudanças ocorridas no modo de produção capitalista, principalmente, no que tange a sua organização e gestão.

Para tanto, compete salientar que:

O processo de produção, quaisquer que sejam as suas características históricas, é um processo que se reinicia permanentemente, já que a sociedade não pode prescindir da produção de consumo. A reprodução é a continuidade do processo social de produção, porém, uma continuidade que não se reduz à mera repetição é uma continuidade no decorrer da qual o processo se renova, se cria e recria de modo peculiar. As condições de produção são, portanto, as de reprodução (IAMAMOTO, 2009a, p. 46).

A produção seria uma atividade social, em que os homens estabelecem certos vínculos e relações de caráter mútuo ao produzir e reproduzir os meios de vida e de produção. Relações por meio das quais os homens realizam uma ação transformadora da natureza, compreendida aqui pela produção. Logo, essas mesmas relações são estabelecidas em condições históricas determinadas, em que os elementos da produção associam-se de modo específico. Compreende-se que, a produção social seria fundamentalmente histórica (IAMAMOTO, 2009a).

O processo capitalista de produção apresenta uma forma historicamente determinada, por meio da qual os homens produzem e reproduzem suas condições materiais de existência; um processo por meio do qual, se reproduz, simultaneamente, princípios e representações que demonstram tais relações e as condições materiais em que se produzem, ocultando o antagonismo que as permeia. ―Na sociedade de que se trata, o capital é a relação social determinante que dá a dinâmica e a inteligibilidade de todo o processo da vida social‖ (IAMAMOTO, 2009a, p. 30).

As mudanças ocorridas nas últimas décadas junto ao processo de produção capitalista direcionam o entendimento de como os seus resultados e influências vêm afetando todas as

dimensões da vida social. Nesse sentido, a produção social transcende a esfera produtiva, impactando nas relações sociais, que são aqui percebidas enquanto relações entre pessoas (IAMAMOTO, 2009a).

Sobre fato de o processo de produção se reiniciar permanentemente como é a realidade que estamos vivenciando na atualidade, Marx (1999) já havia alertado que, distintamente dos processos de produção anteriores, o regido pela burguesia só pôde existir através de uma constante transformação nos instrumentos e nas relações de produção, bem como, e, consequentemente, em todas as relações sociais. Nessa dinâmica, a busca incessante pela produção de lucros e de consumo fará com que ocorram contínuas crises no modo de produção capitalista.

A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção constituía pelo contrário, a primeira condição de existência das classes industriais anteriores. Essa revolução continua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes (MARX; ENGELS, 1999, p. 12).

Logo, no que corresponde a dinâmica do modo de produção capitalista vigente, mais conhecida em sua forma flexível de acumulação, é possível identificar que essa dinâmica passou por um processo de reestruturação produtiva ao longo da década de 1970, causando rebatimentos diretos para a classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2005). Nesse contexto, é que se insere o capitalismo contemporâneo, que compreende o período entre os anos de 1970 aos dias atuais, em que destacamos a inserção massiva de novas tecnologias62

voltadas para o aumento das taxas de lucros, que vão gerar um estímulo à economia de trabalho vivo e contribuir para o aumento do índice de trabalhadores tidos como exército industrial de reserva63 (NETTO; BRAZ, 2008).

62 ―Como o objetivo da produção é a obtenção de mais-valia, da maior lucratividade possível, ao capitalista só

restam duas alternativas: ou aumentar a jornada de trabalho fazendo crescer o tempo de trabalho excedente materializado (mais-valia absoluta) ou mantendo uma dada jornada de trabalho, aumentar a produtividade do trabalho mediante o emprego de meios de produção mais eficazes, que permitam reduzir tempo de trabalho socialmente necessário à produção de uma mercadoria e aumentar, consequentemente, o tempo de trabalho excedente da jornada de trabalho (mais-valia relativa)‖ (IAMAMOTO, 2009b, p. 57).

63 Termo criado por Karl Marx para caracterizar esse exército que é composto por uma massa de desempregados

que possibilita ao capitalista pressionar os salários para níveis inferiores, uma vez que, quanto maior a oferta de mão-de-obra, proporcionalmente menor será o seu preço. Esse exército, ao mesmo tempo em que resulta da acumulação capitalista, é, também, elemento indispensável para a sua continuidade, sendo desse modo ineliminável da dinâmica capitalista (NETTO; BRAZ, 2008).

O estágio do capitalismo que precedeu o atual, e contribuiu para a implementação do modo de produção contemporâneo, foi o regido pelo binômio fordismo/taylorismo, entre o final da década de 1945 à década de 1970, período em que nasceram grande parte dos sujeitos dessa pesquisa. Esse binômio rendeu significativa transição na indústria capitalista, sendo administrado no referido período pelo ―cronômetro e a produção em série e de massa‖ (ANTUNES, 1999, p. 16).

O Fordismo, criado por Henry Ford em 1914, existia através da produção em grande escala e de produtos mais homogêneos, enquanto, o Taylorismo, de Frederick Taylor, controlava os tempos e movimentos através de seu cronômetro, além da fragmentação das funções e a ―separação entre elaboração e execução no processo de trabalho‖ (ANTUNES, 1999, p. 17). É dessa forma, com vistas ao aumento da produtividade, que houve uma intensificação no ritmo e na divisão do processo de trabalho, além da incorporação de ―novas tecnologias e os conhecimentos científicos‖ (DURIGUETTO; MONTÃNO 2010, p. 157).

Portanto, de modo peculiar o trabalhador restringia-se a uma única atividade e não a todo o processo de trabalho como no antigo processo produtivo, ocorrendo a denominada ―padronização do trabalhador‖ (DURIGUETTO; MONTÃNO, 2010, p. 160), em que ele é destituído de toda forma de organização e controle desse processo.

Esse binômio predominou na grande indústria capitalista sendo considerado por diversos economistas como ―os anos dourados‖ (NETTO; BRAZ, 2008), em razão dos resultados econômicos nunca antes vistos. Assim, o modelo garantiu sobrevivência durante trinta anos, tendo uma importante participação do Estado, através das ideias de John Keynes, como meio amenizador de seus possíveis prejuízos, ao mesmo tempo em que a classe trabalhadora tinha substanciais vitórias em suas lutas.

O Estado, nesse período, incorporou novas funções, influenciado pelas políticas keneysianas, que defendiam sua intervenção direta na relação capital-trabalho, com vistas à promoção do desenvolvimento da economia, do pleno emprego e, por conseguinte, das esferas do mercado. Esse caráter assumido pelo Estado e suas formas de intervenção durante esse período, ficou conhecido como Welfare State64

ou Estado de bem-estar Social.

Essa foi uma era de legitimação para o Estado, que passa a atuar para além da coerção, incorporando interesses sociais e garantindo a reprodução da força de trabalho; isso acontece sem, em contrapartida, deixar de atender aos interesses do capital. Na realidade, o que ocorre é uma desoneração do capital de sua responsabilidade para com a preservação da força de

trabalho, devida as ações do Estado que passará a ofertar serviços públicos à toda população. Portanto, o Estado deveria fornecer garantias aos trabalhadores, ainda que incipientes, visando à promoção de meios que possibilitassem a produção e o consumo em massa. Quanto a este último, o lucro naquele período dependia da venda de mercadorias em grandes proporções, ―efetivamente, se o fundamento é produzir cada vez mais, é necessário vender cada vez mais‖ (DURIGUETTO; MONTÃNO, 2010, p. 159).

Essa intervenção estatal na relação entre capital e trabalho não proveio de um agir espontâneo, e sim resultante da pressão exercida pelas forças democráticas do movimento operário e sindical resistentes ao fascismo e defensoras dos interesses da classe trabalhadora. Deste modo, com temor das proporções da atuação dessas formações democráticas e das ideias socialistas a elas atreladas, os capitalistas tangenciaram a ação do Estado para a incorporação das demandas desse público. Cenário presente inclusive, nos países aos quais já teria sido realizado um movimento de repressão a tais ideias com o intuito de minar a influência dessas correntes esquerdistas (NETTO; BRAZ, 2008).

O Estado a serviço dos monopólios viu-se obrigado a tomar, ainda que debilmente, medidas de caráter social protetor. O empenho do Estado a serviço dos monopólios para legitimar-se é visível no seu reconhecimento dos direitos sociais – que, juntamente com os direitos civis e políticos, constituem a ―cidadania moderna‖ (Marshall, 1967). A consequência desse reconhecimento, resultado da pressão dos trabalhadores, foi à consolidação de políticas sociais e a ampliação de sua abrangência na configuração de um conjunto de instituições que dariam forma aos vários modelos de Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) (NETTO; BRAZ, 2008, p. 206, grifo dos autores).

O Welfare State, durante esse período, pode ser compreendido como uma espécie de

pacto social entre as classes sociais, pois suas políticas e as experiências realizadas no sentido

de melhorar a qualidade de vida da população está intrinsecamente ligado a ele (DURIGUETTO; MONTÃNO, 2010). Porém, foi na transição entre as décadas de 1960 e 1970 que esse regime de produção, sustentado no tripé, taylorismo, fordismo e keynesianismo, apresentou sinais de desgaste resultando em uma nova65

crise no modo de

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Como destacamos no início desse item: ―O modelo de produção capitalista contém em seu cerne a capacidade de encontrar os meios de manutenção e reprodução das condições que permitem a sua perpetuação, por isso desde a sua origem até os dias atuais este sistema econômico social teve várias expressões traduzidas: capitalismo manufatureiro, capitalismo concorrencial, capitalismo monopolista, etc., cada fase desta com características e aparências diferenciadas, no entanto, tendo embutido na sua essência o real objetivo provocador dessas transformações, ou seja, a acumulação de riqueza através da exploração humana‖ (BENEDITO, 2009, p. 3).

produção capitalista. Fenômeno que só ocorrerá no Brasil a partir da década de 1990, devido a particularidades de ordem sócio-histórica de sua formação (ANTUNES, 2005).

O colapso do padrão de financiamento da economia brasileira no início dos anos 80 por conta da crise da dívida externa, levou à adoção de um conjunto de programas de ajustes macroeconômicos, que até hoje inviabilizam a retomada do crescimento econômico sustentado. No cenário de estagnação, de fortes e rápidas oscilações econômicas e contexto hiperinflacionário, o país terminou rompendo com a tendência de estrutura do mercado de trabalho inaugurada ainda nos anos 80 (POCHMANN, 2002, p. 71).

Esse modelo que, no período pós-guerra, foi tido como estratégia para impulsionar a produção capitalista e gerar muitos proventos, já não atendia mais aos ideais expansionistas do capitalismo, necessitando de meios ligeiros para uma reorganização no processo produtivo No fim dessa era, o que se presenciou foi a queda na taxa de lucro, o declínio do crescimento econômico, o endividamento dos estados nacionais, a elevação dos preços e o consequente aumento do desemprego, referindo-se, sobretudo, a uma crise de superprodução das mercadorias que era realizada de forma rígida e em grande escala. ―Dada à abrangência e intensidade da crise estrutural, o capital vem procurando responder por meio de vários mecanismos, que vão desde a expansão das atividades especulativas e financeiras até a

substituição ou mescla do padrão taylorista e fordista de produção‖ (HARVEY 1992 apud

ANTUNES, 2005, p. 189). Como uma das consequências desse declínio, o capital implementou um intenso processo de reestruturação, buscando recuperar o ciclo produtivo e ao mesmo tempo repor o seu projeto de dominação.

Como resposta à sua própria crise, iniciou-se um processo de reorganização do capital e de seu sistema ideológico e político de dominação, cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo, com a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal, da qual a era Thatcher-Reagan foi expressão mais forte; a isso se seguiu também um intenso processo de reesstruturação da produção e do trabalho, com vistas a dotar o capital do instrumento necessário para tentar repor os patamares de expansão anteriores (ANTUNES, 2005, p. 31, grifos do autor).

Surgem, desse modo, medidas capitalistas em resposta à crise que irão reorganizar desde o âmbito da produção até o ideopolítico de dominação, agindo de forma articulada para restabelecer a dinâmica produtiva e seu grau de acumulação. Essas medidas são: a

reestruturação produtiva, a financeirização66 do capital e o ideário neoliberal. A primeira delas vai gerar profundas alterações no modelo de organização e gestão do processo produtivo, bem como que nas ações do Estado. Transfigurando a acumulação, antes qualificada como rígida, em uma acumulação flexível e resultando em consequências nefastas para a vida dos trabalhadores (NETTO; BRAZ, 2008).

É marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional (HARVEY, 1998, p. 140).

Estas formas de reorganização baseada na acumulação flexível, representadas através das experiências da Terceira Itália, da Suécia e outras regiões, tiveram grande repercussão, cabendo ao modelo toyotista ou modelo japonês, (surgido na empresa automobilística Toyota), o meio determinante para que despontasse um investimento tecnológico na esfera produtiva e para que sua dinâmica se propagasse em escala mundial (ANTUNES, 1999). A adesão a esse modelo produtivo se deu, respectivamente, pelas necessidades de o trabalhador operar várias máquinas ao mesmo tempo; da necessidade de as empresas responderem à crise financeira com o aumento da produção, sem aumentar a quantidade de funcionários e a necessidade de se produzir o essencial no menor tempo possível (ANTUNES, 1999).

Assim, se formou uma política de atenção a mercados específicos, manifestadamente distintos da indústria fordista. Uma vez que, essa acumulação toyotista é conduzida por demandas específicas, substituindo a produção em massa pela produção segundo a demanda. Trata-se da produção de mercadorias diversificadas que atendam a multiplicidades de ordem cultural e regional em que os produtos devem chegar aos mercados prontos e direcionados ao consumo (ANTUNES, 1999).

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Segundo Duriguetto e Montãno (2010), a queda das taxas de juros dos investimentos nos setores da produção e comércio, possibilitou o fortalecimento da esfera de circulação sob a forma de capital dinheiro, esse por sua vez ―é remunerado através dos juros (bancos, companhias de seguros, fundos de pensão) e não é investido na produção‖ (Idem, p. 186, grifos da autora), sendo fonte constante de riqueza dos capitalistas rentistas. Mediante as afirmações dos autores é possível observar que essa disposição a financeirização do capitalismo na contemporaneidade tem se mostrado de forma expressiva, contribuído para a mitificação de suas reais fontes, dado que as formas de rendimentos advindos dela, sejam elas, rentista ou especulativa, não persistiriam com a extinção de um componente que à primeira vista está oculto, mas realiza papel fundamental na essência desses rendimentos; trata-se aqui da esfera da produção.

Apresentam-se, então, um dos elementos que difere esse modelo produtivo do que o antecedeu. O fordismo que tem nos recursos financeiros os meios que determinam sua produção, diverge profundamente do toyotismo, em que esse papel é atribuído ao consumo. Portanto, será o consumo o fator determinante para fundamentar o que será produzido. ―Para atingir este objetivo ao invés de se ter uma indústria que produza tudo – da escolha da matéria-prima à finalização do produto – se faz necessário que se descentralize a produção, ou para ser compatível com a palavra de ordem é preciso que se flexibilize a produção adotando a terceirização‖ (BENEDITO, 2009, p. 5).

Presencia-se, assim, um movimento do desenvolvimento capitalista no qual essa reestruturação produtiva se tornará referência, atingindo proporções mundiais e substituindo o modelo fordista. Logo, há a inserção de novas tecnologias e sistemas de produção no processo produtivo, em que se destaca as formas organizacionais baseadas no just-in-time e Kankan em que o primeiro envolve a busca pela produção no melhor tempo possível, articulado ao segundo, que gerenciava a lógica de que a produção envolve a priori a venda de um produto, ou seja, só se repõe um produto após sua venda, fugindo, assim, dos desperdícios. A era dos ―estoques mínimos‖ (ANTUNES, 2005).

Ainda no que concerne a questão dos desperdícios, destaca-se o princípio da automação/autoativação que visa o desenvolvimento de adequações no processo produtivo que inviabilizem, cada vez mais, o surgimento de fatores contrários à lucratividade (como os defeitos de fabricação). Essa é uma das formas de gestão do processo produtivo e do trabalho, que irá significar um novo padrão de racionalização para ambos, incidindo, significativamente, sobre a força de trabalho.

Essencial à reestruturação produtiva é uma intensiva incorporação à produção de tecnologias de avanços técnico-científicos, determinando um desenvolvimento das forças produtivas que reduz enormemente a demanda de trabalho vivo. [...] O impacto desse desenvolvimento das forças produtivas é de tal ordem que alguns pesquisadores chegam a mencionar uma ―terceira revolução industrial‖ ou ainda, uma ―revolução informacional‖ – de fato, a base produtiva vem se deslocando rapidamente dos suportes eletromecânicos para os eletroeletrônicos (NETTO; BRAZ, 2008, p. 216, grifo do autor).

Como afirma Antunes (1999), a inserção de novas tecnologias possibilita o aumento no controle do processo produtivo e a plena extração da mais-valia (trabalho excedente da força de trabalho), incorporada a uma dinâmica tecnológica organizada e de forma avançada, na qual ―das práticas mais flexíveis de emprego do trabalho e da flexibilidade dos mercados

de trabalho, da automação e da inovação de produtos olham a maioria dos trabalhadores de frente‖ (HARVEY, 1992 apud ANTUNES, 1999, p. 22).

Na lógica atual, o chamado mundo do trabalho sofre profundas mudanças de ordem estrutural, especialmente, com o processo de flexibilização e com a transferência das regulamentações (econômicas, políticas, sociais) para o âmbito do mercado. E, ao contrário do que fora defendido no seu processo de implantação, os resultados das experiências de flexibilização do mercado de trabalho não têm demonstrado a ampliação dos postos de trabalho. ―Observa-se, ao contrário, o crescimento da precarização dos empregos e dos níveis de pobreza‖ (POCHMANN, 2002, p. 47).

Logo, para Mattos (2007), o contexto atual é permeado por uma avassaladora globalização e intensificação produtiva, que se mantém por grandes integrações e transações comerciais, sejam elas nacionais ou internacionais, sendo que essas últimas seriam permeadas, principalmente, pelas formas descentralizadas de produção, de expansão e de automação em todo esse processo.

O trabalhador nessa lógica passa a ser substituído pela máquina, o que resulta na substituição do trabalho vivo (operário) pelo trabalho morto (maquinário) e, consequentemente, a diminuição nas contratações, sobretudo, na área industrial. Como consequência ocorrerá a extração de maior quantidade de trabalho de uma quantidade reduzida de trabalhadores ocupados, resultando em uma lucratividade expressiva para o capitalista que passa a economizar com a admissão de mão-de-obra (ANTUNES, 1999).

A partir desse fenômeno o que há é o crescimento da força de trabalho excedente frente às ocupações ofertadas pelo capital, visto que a mesma é um produto da acumulação e ao mesmo tempo uma condição para que essa se efetue (IAMAMOTO, 2009). Ou seja, ―importa marcar que, quanto maior é o crescimento econômico, isto é, a acumulação, maior também é o contingente absoluto do proletariado e a capacidade produtiva de seu trabalho; e tanto maior é o exército industrial de reserva. Este cresce ao crescer a riqueza social‖ (IAMAMOTO, 2009, p. 61-62).

Surge um novo proletariado industrial, complexo e heterogêneo, cuja redução numérica em seu centro produtivo tende a ocultar sua expansão periférica, interpenetrada por unidades de subcontratação industrial e de ―serviços‖ (vale dizer, um neoproletariado ―pós-moderno‖ com estatutos sociais precários) (ALVES, 2000, p. 67).

O cenário que se coloca é esse sistema de flexibilização do trabalho gera um aumento do desemprego e oferta abundante de força de trabalho, que passa a ser descartada a qualquer

momento, sem que isso traga agravos significativos para o empregador. Por conseguinte, o capitalista tem à sua disposição, um número elevado desse contingente em relação a demanda produtiva, podendo, assim, ofertar oportunidades e remunerações de acordo com seus critérios, em que a quantidade de empregos se sobressairá a qualidades desses novos postos de trabalho. Dado que, ―pouco interessa, portanto, a qualidade das ocupações geradas‖ (POCHMANN, 2002, p. 21).

Fato que corrobora com a compreensão em que o capitalista compreende o trabalhador enquanto um meio trivial de obtenção de mais-valia. Isso se deve ao fato de que ―para a classe capitalista a fonte de seu lucro não provém de expropriação da vida humana da classe

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