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Reestruturação produtiva: indústria e agroindústria de São Carlos

CAPÍTULO II: ASPECTOS HISTÓRICOS, ECONÔMICOS E POPULACIONAIS DA

2.2 ASPECTOS GERAIS DA INTERIORIZAÇÃO DA INDÚSTRIA NO ESTADO DE SÃO

2.2.1 Reestruturação produtiva: indústria e agroindústria de São Carlos

A reestruturação produtiva é um processo em curso nas economias capitalistas globais desde a década de 1970 (OFFE, 1989; HARVEY, 1992; ANTUNES, 1995; GOUNET, 1999). A profunda recessão de 1973 ocasionada pelo choque do petróleo colocou em movimento, segundo Harvey (1992), um conjunto de processos que abalaram o compromisso fordista com o surgimento da acumulação flexível. Para Harvey (1992, p. 141),

Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracterizam-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.

Seguindo o argumento de Leite (1994), no contexto da reestruturação produtiva, países considerados periféricos ou subdesenvolvidos, como o Brasil, somente foram afetados no início dos anos 1990.

Para o Brasil, a reestruturação produtiva significou, segundo Leite (1994), a introdução de novas tecnológicas produtivas robóticas, microeletrônicas e de máquinas; a

introdução do modelo japonês de gestão do trabalho baseado no Círculo de Controle de Qualidade (CCQ) e a gestão de estoque via Just-in-time foram diferenciais no cerne das indústrias e regiões do país. As indústrias automobilísticas estavam, nesse sentido, na ponta do processo.

A necessidade desta reorganização das relações de produção e a trabalho derivavam do aprofundamento da crise econômica e política no país nos anos 1990, limitando o mercado interno, forçando as empresas a posicionarem-se no exterior se quisessem permanecer no mercado. Leite (1994) ainda enfatiza que a abertura desta economia, desde o governo Collor, obrigava as empresas a melhorarem suas estratégias de produção e qualidade para fazer frente ao mercado internacional.

Paralelamente aos novos processos produtivos, a terceirização de novas atividades era recorrente; a meta era tornar-se empresas produtivas menores, mais especializadas, voltadas a resultados econômicos mais eficientes e facilmente gerenciáveis. Nesse sentido,

o movimento consiste na tentativa de concentrar os esforços da empresa na produção daqueles produtos sobre os quais ela detém evidentemente vantagens competitivas, externalizando a produção dos demais componentes necessários à produção do produto final e gerando, via de regra, redes de subcontratação com as empresas das quais passam a compor os produtos que antes produziam (LEITE, 1994, p.574).

Observando o contexto em que a economia brasileira se inseriria neste momento e contrapondo ao processo de desconcentração industrial citado no tópico anterior, consideramos que a qualidade dos postos de trabalhos criados pela vinda de indústrias derivadas da reestruturação produtiva pode ser descrita no curso da precarização dos postos trabalho. E que nem sempre representou para estes municípios em que se instalaram as grandes empresas a geração de emprego em massa ou a absorção de grande contingente de mão-de-obra.

Echeverria (2008) afirma baseado em dados dos IBGE entre 1991 – 2000, que a desconcentração industrial não provocou o aumento de postos de trabalho no interior; ao contrário, na década de 1990, no estado de São Paulo, houve redução dos mesmos. No caso de São Carlos, um exemplo dessa discussão sobre desconcentração industrial e precarização do trabalho é a implantação da Fabrica de Motores em 1996, a partir de um rol de incentivos fiscais oferecidos pelo governo municipal. Seguindo dados institucionais:

A fábrica de motores de São Carlos produz 16 tipos de motores alimentados por combustíveis diversos como gasolina, álcool e diesel, além dos motores flexíveis, que equipam os modelos Gol, Parati, Saveiro, Golf, Fox, Polo hatch e Sedan. Seus produtos têm como destino as fábricas Anchieta e Taubaté, em São Paulo, a fábrica Curitiba, no Paraná, além de outros países como Espanha e África do Sul, emprega diretamente 500 funcionários, produzindo 2.470 motores por dia.10

Segundo Bueno (2000), a fábrica contava em 2000, com cerca de 450 trabalhadores diretos e 200 terceirizados. Quando comparada a unidade de São Bernardo do Campo, inaugurada em 1959, dos primeiros anos do Fordismo no Brasil, suas diferenças são gritantes. A Fábrica de Motores já nasce dentro do contexto da reestruturação produtiva; assim, fragmenta o trabalho em células produtivas e terceiriza um rol de atividades ligadas à fabricação dos motores. Além de os salários não se equipararem com os da fábrica de São Bernardo do Campo, há ainda uma preferência na contratação de jovens que possuem cursos técnicos e com terceiro grau completo; as taxas de sindicalização também são baixas, não possuem o grau de organização encontrado em sua histórica fabrica do ABC. Dessa forma,

as diferenças entre as duas unidades desembocaram, em julho de 1999, uma greve dos funcionários da Fábrica de Motores da Volkswagen de São Carlos. O ponto crucial para o movimento é o tratamento desigual dado pela multinacional às suas diversas unidades no Brasil, por exemplo, enquanto o piso salarial da unidade do ABC era, em agosto de 1999, de R$1.366,00, em São Carlos era, antes da greve, de R$ 450,00. (BUENO, 2000, p.6)

Visto isto, queremos apontar que os empregos especializados são criados, mas absorvem uma pequena parcela da População Economicamente Ativa desse município; o número de empresas totais cadastradas em 2007 era de 9.884, o que ocupa cerca de 76.657 pessoas11. A outra parcela da população encontra-se empregada no setor de serviços, comércio e em diversos trabalhos agrícolas.

Seguindo a dinâmica econômica nacional, o setor de serviços é o responsável pela geração de parcela significativa de empregos nesta região. Este “é um dos principais responsáveis pela geração da pobreza e da desigualdade, baseando-se na percepção de que a qualidade dos postos de trabalho (salários em particular) gerados na maioria dos segmentos que compõem esse setor é baixa” (MENDOÇA; BARROS, 1997).

10

Disponível em: <http://www.volkswagen.com/br/pt/ s__sp_.html>. Acesso em: 07 jun.2010.

11

Segundo a Fundação SEADE e os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), no ano de 2008, o município apresentava a seguinte configuração, quando vistos os empregos e rendimentos gerados: 4,84% eram derivados do setor agropecuário, 18,86% eram advindos do comércio, 40,82% do setor de serviços e 32,94% da indústria.

Para além do perfil industrial e de serviços, interessa-nos os 4,84% dos empregos formais gerados na agropecuária, bem como a parte não contabilizada dos empregos, muitas vezes precários, gerados pela agroindústria da região. Entendemos que uma parcela não menos significativa da população deste tecnopolo, formada por migrantes interestaduais, circulam entre os municípios da Região Administrativa Central para a colheita da laranja e corte de cana.

Para melhor delinear a questão, faz-se necessário um sobrevoo sobre as atividades da agroindústria da região que criam anualmente novos postos de trabalho e assalaria a população de interesse desse estudo.