• Nenhum resultado encontrado

REFLETINDO SOBRE AS ALTERNATIVAS PROPOSTAS

Este é o momento de refletir sobre as alternativas de trabalho que foram propostas e as diretrizes relacionadas à GA e à GR apontadas para os profissionais de Educação Física desenvolverem nas escolas.

Todas as sugestões foram baseadas na estrutura e no método elaborados para o projeto “Crescendo com a Ginástica”, somando a eles as dificuldades apresentadas pelos professores na pesquisa de campo deste estudo. Foram também levadas em consideração as experiências vividas pelo Grupo Imagynação em aulas extracurriculares destas modalidades na escola. Todas essas vivências trouxeram muitas contribuições para as alternativas aqui sugeridas, e tornam as mesmas acessíveis e coerentes com a realidade encontrada no cotidiano dos profissionais, pois foram desenvolvidas na prática de aulas de GA e GR nas escolas.

Esta pesquisa busca atender diretamente os profissionais que atuam nas escolas, cuja prioridade é a concretude das sugestões apontadas, tornando-as disponíveis para auxiliar na aplicação destas modalidades gímnicas a serem inseridas ou aprimoradas nas aulas de Educação Física. Para isso, além de buscar respostas em livros, fomos concretizá-las nas próprias aulas de GA e GR. Compreendendo e analisando tanto as dificuldades como a realidade escolar, conseguimos a partir dessa pesquisa encontrar alternativas viáveis para as aulas de Ginástica Artística e Rítmica no ambiente da escola.

O contato com esses professores trouxe a percepção do quanto nos afastamos dessa realidade que eles vivenciam nas escolas, e, muitas vezes, não imaginamos o

quanto as pessoas podem ser leigas em relação ao trabalho com essas modalidades. Foi muito importante saber o que realmente faz falta na prática desses profissionais.

Entre as sugestões apontadas, uma foi a apresentação dos materiais alternativos, buscando superar os problemas encontrados em relação à infra-estrutura das escolas. Uma proposta que se pretende viável para o nosso país, carente de recursos e que instiga nos seus profissionais a improvisação e a criação de formas diferenciadas de estruturas físicas e materiais. Com isso, a intenção maior é criar possibilidades para a construção do conhecimento sobre a GA e a GR na escola, possibilitando a vivência, compreendendo suas ações, transferindo esse conhecimento para outros espaços, como, por exemplo, assistir um evento. Enfim, por meio dessa proposta de confecção dos materiais, cria-se oportunidade para que os alunos conheçam mais esse tema da Educação Física. São materiais de baixo custo, desmontáveis e adequados para as propostas pedagógicas da escola.

Mas não basta a sugestão de materiais adaptados para que a Ginástica torne-se mais viável nas escolas, outro fator que afeta os professores, além dos materiais, é a falta de conhecimento do conteúdo de cada modalidade. Nesta pesquisa pude perceber que mais importante do que solucionar o problema de falta de material é capacitar e trocar conhecimentos com os professores. Quando o professor tem o conhecimento do conteúdo a ser ensinado e de como deve ensinar, pode transformar suas idéias em uma prática possível, inclusive criando outras alternativas de materiais. O mesmo não acontece quando o professor tem materiais, mas não tem conhecimento dos conteúdos a serem ensinados (NISTA-PICCOLO, 1988; POLITO, 1998).

Portanto, é necessário que se capacitem os profissionais, não só oferecendo conhecimentos técnicos, relacionados aos conteúdos dos diferentes temas da

Educação Física escolar, mas criando possibilidades de transformação dos conhecimentos para a escola.

Paes (1996) sugere em seu estudo sobre o basquete, a transformação dessa modalidade esportiva como um jogo possível para o ambiente escolar. Da mesma maneira podemos dizer que o que se propõe nessa pesquisa é uma Ginástica possível.

Ainda sobre a Ginástica Artística escolar, Russell (1980, p.11) comenta que:

Ela não precisa ser uma atividade perigosa, complicada, frustrante, dolorosa e assustadora que, de preferência, você evitaria de imediato. Ao contrário, ela pode ser facilmente transformada em segura, descomplicada e recompensadora por tudo e, ainda, (...) conservar o elemento que causa “emoção” – aquela estimulação cinestésica que imediatamente leva os alunos a quererem mais!

No enfoque desse olhar pedagógico do ambiente escolar e da forma como os temas da Educação Física necessitam serem vistos, Pires e Neves (2002, p.54) enfatizam:

Para tanto, têm sido formuladas propostas conceituais e metodológicas que visam, sobretudo, à construção de um esporte escolar, isto é, uma manifestação pedagogicamente modificada dessa específica cultura de movimento, produzida na/para a escola a partir do eixo tensionado entre as dimensões do esporte de rendimento e do lazer.

Outro desafio desse estudo foi buscar, além das alternativas para uma possível existência da GA e GR na escola, uma qualidade para essas aulas, que fosse condizente com os aspectos fundamentais da Educação Física escolar de inclusão, diversidade e de conteúdos, aspectos também apontados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998b).

Portanto, além “do quê” ensinar, o “como” foi essencial para o desenrolar das sugestões, propondo a utilização de um método adequado à formação de uma criança

crítica, apresentando problemas e ensinando a resolvê-los, não pretendendo apenas incluí-las de qualquer maneira entre os temas abordados nas aulas.

As estratégias de ensino também precisaram ser adaptadas, pois no PCG, a quantidade de material ideal permitia outras dinâmicas, mas para o trabalho com o método de três momentos, com poucos materiais e muitos alunos, a adaptação feita nas escolas e sugerida como uma possibilidade foi o trabalho em circuito.

Com base nas sugestões apresentadas de reformulação do PCG para a Educação Física escolar, face às dificuldades encontradas na pesquisa de campo, serão apresentados, anexos, alguns planejamentos atuais das aulas de professores do Grupo Imagynação, que não têm o objetivo de servir de receitas para os professores, mas como idéias iniciais para criar possibilidades na produção de conhecimento (FREIRE, 1996), e que a partir disso possam produzir suas próprias aulas (Anexo F).

Neste estudo, tentou-se facilitar para os professores de Educação Física escolar o acesso a sugestões baseadas nas principais dificuldades vividas no cotidiano de escolas públicas e privadas. Estas sugestões podem encurtar o caminho para o ensino de GA e GR nas aulas de Educação Física, mas ainda será preciso que o professor faça a sua parte de tornar possíveis essas modalidades na escola, mostrando a sua importância, adaptando materiais, movimentando a comunidade e a escola para reconhecerem este tema da Educação Física, atualizando-se e sabendo discutir questões ligadas à relevância desse tema no ambiente escolar.

É importante dizer ainda que é difícil trabalhar com essas modalidades e esse método em diferentes ambientes. As próprias modalidades, não sendo tão comuns quanto outras, já fazem com que o professor tenha que se dedicar mais e buscar uma atualização. A falta de material também torna o cotidiano do profissional mais

trabalhoso, pois precisa providenciá-lo, emprestá-lo (como pude presenciar na pesquisa de campo), e até mesmo fabricá-lo.

Quando se possui o material, é preciso carregá-lo, montar e desmontar, o que também gera mais trabalho para os profissionais do que carregar bolas. Isso tudo sem falar no desenvolvimento de aulas com métodos diferenciados e adequados à formação e desenvolvimento da criança. Pois demora-se até compreenderem a dinâmica diferenciada, resolverem problemas, refletirem sobre as aulas de Educação Física, sem receber tudo pronto, apenas repetindo exercícios. É essencial lembrar que não é fácil ser bom professor e diferenciar-se. Isso gera trabalho, o nosso trabalho.

Não pretendo com essa fala desencorajar o professor em relação à Ginástica, mas dizer que dar boas aulas de basquetebol, futebol, dança, lutas, etc., também é trabalhoso. Boas aulas requerem tempo de planejamento, estudo, atualizações, boa vontade, motivação, justificativas, enfim, a nossa profissão precisa de pessoas que além de gostarem de esporte, gostem de ensinar, pessoas que estejam sempre em busca de aprender um pouco mais e de experimentar algo novo.

Documentos relacionados