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A metodologia projetual é um processo bastante complexo. Não existe uma forma específica de se iniciar um projeto, nem um fio condutor que leve o arquiteto a ter, em cada projeto, um princípio, meio e fim, como acontece, por exemplo, no campo das matemáticas, onde a resolução de problemas se desenvolve segundo uma sequência, ou até mesmo quando se escreve um livro. Projetar é sem dúvida arte, logo, a imagem arquitetónica é inevitavelmente muito importante. Mas também é psicologia. Qual o arquiteto que não pensa como se irá sentir o utilizador do seu edifício? Também é sociologia. Qual o arquiteto que não pensa que impacto irá ter o seu edifício para as populações? Também é funcionalismo. De que serve um edifício se não cumpre a função para a qual é destinado? Também é uma ciência exata. Há algo mais exato do que o cálculo estrutural, imprescindível na materialização do edifício? E poderia indicar tantas mais áreas com as quais a arquitetura assume uma relação íntima. É isto que, para mim, torna a arquitetura numa matéria tão interessante. Interessante, mas inquietadora, onde não existem certezas, ainda que, ao se projetar, as tenhamos que construir. Causadora de conflitos internos onde o sentimento e a razão estão em permanente luta.

Um arquiteto, ao projetar, tem que conseguir interrelacionar todas estas disciplinas. É algo muito difícil, sem dúvida. Como se põem tantas matérias em evidência? Na minha opinião, apesar do arquiteto ter que aglutinar todas as disciplinas, cabe-lhe também saber priorizar. Isto é, mesmo tentando relacionar todas estas temáticas, terá que favorecer umas em detrimento de outras, pois só assim é possível iniciar o ato projetual. Como faz o arquiteto esta priorização? Não existe uma resposta exata nem única para esta pergunta. Podem ser razões do próprio lugar de inserção do edifício, podem ser convicções pessoais, podem estar adjacentes à sua formação, entre muitas outras respostas possíveis.

Para o meu estudo, interessou-me a priorização ou a não priorização das questões estruturais no ato de projetar, assim como as consequências que esta opção assume no processo de projeto e no resultado final da forma edificada. O que posso concluir após a análise, estudo e comparação de duas obras de arquitetura, que me pareceram oportunas para retratar esta temática, e que são distintas no respeitante a isto?

Em primeiro lugar, pode-se concluir que os projetos onde a estrutura é um dos seus temas principais irão possuir um carácter formal distinto dos projetos onde isto não acontece. Qual das duas atitudes é a posição mais válida e correta? Ambas são válidas e corretas. O arquiteto tem necessidade de criar «âncoras» para os seus projetos poderem prosseguir. A adoção das questões estruturais como uma das premissas iniciais é uma opção que me parece válida. Mas colocar em

primeiro plano outras questões, como, por exemplo, a inserção volumétrica do edifício no lugar, é outra opção igualmente válida. Cabe ao arquiteto tomar essas opções. Ao tomá-las tem que «arcar» com as suas consequências, isto é, ao assumir determinadas opções, tem que garantir que elas não invalidam as outras questões relacionadas com o ato de projetar. E também não pode encarar as premissas iniciais como «sagradas», pois a arquitetura é feita de avanços e recuos. Se uma opção invalidar questões importantes no ato de projetar, estamos perante uma má arquitetura.

Para mim, nos exemplos escolhidos, as premissas iniciais não invalidaram as outras questões do ato de projetar, sendo todas contempladas, daí considerá-los como edifícios marcantes no panorama da arquitetura mundial. Claro que o facto de existir uma perfeita junção de todas as complexidades próprias da metodologia projetual não torna, por si só, estes edifícios em referências. Para isso foi também necessária a genialidade dos arquitetos que os projetaram. Ao serem edifícios de referência com imagens tão diferentes, pensei, inicialmente, que divergiam muito na sua metodologia projetual. Cheguei à conclusão que não. Em ambos, o processo de projeto é similar: uma ideia inicial que é sucessivamente desenvolvida de forma intrínseca com todas as outras questões próprias de se projetar; e com a mestria do autor da obra de arquitetura. Muda-se a ordem de prioridade atribuída às várias questões complexas, mas estas são todas contempladas.

Descobri então que, enquanto futuro arquiteto, para além de ter que interrelacionar diferentes matérias complexas – sejam elas estruturais ou de qualquer outra ordem –, tenho que saber priorizá-las, pois isso irá condicionar todo o caráter do projeto, algo que para mim assume uma extrema importância.

Consegui perceber as palavras de Siza que escutei numa conferência, no meio do primeiro ano de faculdade, em que dizia que o seu trabalho se relacionava muito com a obra de Frank Gehry. Na altura, lembro-me de apenas ter pensado: como podem imagens de projetos tão diferentes se relacionar? Hoje percebo. Sendo os dois excelentes arquitetos, com certeza que as suas metodologias projetuais não podem ser muito diferentes: apenas se mudam as premissas entre o trabalho de um e de outro, à semelhança do que penso acontecer entre Siza e Toyo Ito.

No meu futuro trabalho, a priorização ou não das questões estruturais no processo de projeto será um «alvo» a investigar para a criação do meu próprio registo arquitetónico. Sempre achei esteticamente belos edifícios onde a estrutura se mostra de forma explícita. No ano passado, enquanto estudante da ETSAB, tive a oportunidade, como já referi, de iniciar um

projeto pela estrutura, e as dúvidas foram mais que muitas. Sinceramente, não me sentia preparado para o fazer, pois não percebia como a estrutura podia ser o «motor de arranque» de um projeto. Precisava de estudo e reflexão sobre o tema. Hoje percebo!