• Nenhum resultado encontrado

Reflexão sobre as Implicações e sobre as Contribuições do Estudo Apresentado

5. DISCUSSÃO

5.2 Reflexão sobre as Implicações e sobre as Contribuições do Estudo Apresentado

Consideramos que a investigação desenvolvida acarreta importantes contribuições, quer a nível teórico, quer a nível prático. No âmbito teórico, tal como referido, permitiu considerar uma eventual relação entre a envolvente sócio-cultural de cada uma das populações estudadas e, neste caso, as suas experiências de vigilância de saúde infantil; premissa que havia sido reportada por alguns autores para a saúde em geral (Gurung, 2006; Steg et al., 2008). Assim, talvez se torne relevante a realização de estudos posteriores neste âmbito, tendo em conta, ainda, que algumas das crenças e práticas de saúde específicas das populações Cabo Verdianas e Brasileiras, respectivamente, reportadas por outros autores, surgiram, também, nos resultados deste estudo. Para além disso, o trabalho apresentado veio confirmar algumas das barreiras e dos elementos facilitadores, anteriormente identificados, no que se reporta ao acesso e à utilização dos serviços de saúde pelas populações imigrantes, realçando algumas dessas questões especificamente para os serviços de vigilância de saúde infantil em Portugal, de uma forma, de certa maneira, inovadora, face ao seu carácter exploratório. Assim, dos resultados da investigação realizada surgiram, ainda, alguns novos dados.

A nível prático, consideramos que as percepções das mães imigrantes desta investigação acerca dos serviços de saúde nos seus países de origem, embora nem sempre relacionadas directamente com a vigilância de saúde infantil, tendem a assumir relevância. Isto porque

reflectem algumas das experiências anteriores destas mães imigrantes no acesso aos serviços de saúde em Cabo Verde e no Brasil, e os circuitos adoptados dentro dos mesmos, podendo, por isso, influenciar a forma como essas mães utilizam os vários serviços de saúde em Portugal, onde se incluem os serviços de vigilância de saúde infantil. Nesse âmbito, importa realçar a categoria definida como “Não Aposta na Promoção da Saúde”, já evidenciada por alguns autores para a população africana em geral (Gonçalves et al., 2003; Andrade, 2008; Dias et al., 2009; Sopa, 2009), e referida por Bäckström (2009) para a população Cabo Verdiana em particular. É que as percepções das mães imigrantes deste estudo acerca de um desinvestimento nas questões da promoção da saúde nos seus países de origem podem influenciar os seus comportamentos nesse âmbito no país de acolhimento, comprometendo, eventualmente, o cumprimento das acções de vigilância de saúde infantil periódicas, preconizadas pela DGS (2005) em Portugal.

Uma das barreiras identificadas nesta investigação, neste caso as dificuldades de inscrição no centro de saúde, parece assumir, também, importantes implicações a nível prático, pois acreditamos que a restrição em causa poderá impossibilitar, em alguns casos, a vigilância de saúde infantil em Portugal, tal como se encontra preconizada. Isto porque, de acordo com o Decreto-Lei 28/2008 de 22 de Fevereiro, em Portugal, são os centros de saúde as instituições que têm como principal objectivo o desenvolvimento de actividades de promoção da saúde e de prevenção da doença, nas várias fases do ciclo de vida.

Os relatos de divergência entre as concepções de saúde/doença das mães imigrantes deste estudo e as dos profissionais de saúde de Portugal realçam a necessidade do desenvolvimento de competências multiculturais por parte dos profissionais que intervêm com as populações imigrantes (Sue et al.,1992; Chin et al., 2000; Gonçalves et al., 2003; Dias et al., 2009). Por isso, seria desejável que se desenvolvessem projectos nesse âmbito, nos serviços de saúde em Portugal, e que estes fossem reconhecidos pelos próprios profissionais de saúde como um elemento facilitador no acesso e na utilização dos serviços pela população imigrante, não se referindo apenas como alternativa nesse âmbito a existência de intépretes/tradutores nesses serviços (Sousa, 2006; Fonseca & Silva, 2010). Consideramos que se torna essencial o envolvimento de todos os profissionais dos serviços de saúde nos projectos em causa, e não apenas dos técnicos de saúde, pois de acordo com os dados deste estudo, quer os profissionais de saúde, quer os profissionais auxiliares, tendem a adoptar comportamentos negativos para com as mães imigrantes, neste caso, Cabo Verdianas e Brasileiras de Lisboa. Talvez se torne relevante, por isso, atender, também à percepção dos profissionais dos serviços de saúde,

relativamente à temática abordada ao longo deste trabalho, podendo ser esse o objectivo principal de outras investigações.

Os resultados apresentados que se relacionam com a conotação, positiva ou negativa, atribuída pelas participantes desta investigação a algumas questões no âmbito da saúde em Portugal, acabam por assumir, também, uma relevância prática. Assim, acreditamos que os dados em causa podem possibilitar uma reflexão acerca da forma como se desenvolvem algumas intervenções de saúde no país e indicar-nos importantes pistas sobre quais poderão manter-se e as que poderão, eventualmente, alterar-se, face à valoração que lhes é atribuída pela população estudada. Para além disso, os próprios princípios de uma relação de ajuda profissional remetem-nos para a importância de se conseguir compreender as mensagens, transmitidas pelos utentes, mesmo que subliminarmente, para que seja possível o

estabelecimento efectivo dessa relação (Rogers, 1980). Assim, algumas das questões percepcionadas pelas participantes deste estudo, como positivas nos serviços de saúde em Portugal, ao serem transmitidas aos profissionais de saúde, poderão contribuir para o

desenvolvimento de importantes laços de confiança entre eles e estas ou outras populações de imigrantes, com eventuais ganhos ao nível da saúde das crianças e das suas famílias. A caracterização sócio-demográfica das participantes deste estudo permitiu-nos concluir sobre algumas diferenças significativas, entre a população Cabo Verdiana e a população Brasileira estudadas, no que se reporta especificamente a: habilitações académicas, situação laboral, rendimento mensal do agregado familiar. Tendo em conta que alguns autores sugerem uma relação entre algumas das características sócio-económicas indicadas e o estado de saúde geral das pessoas (Chin et al., 2000; Gurung, 2006; Antunes, 2010; Bambra et al., 2010), seria importante compreender a relação dessas variáveis com as questões específicas da vigilância de saúde infantil de populações migrantes; temática a incluir em outras investigações.

Consideramos que este ponto do trabalho permite assegurar-nos da relevância teórica dos resultados do estudo apresentado, possibilitando-nos reflectir, também, acerca da necessidade de se desenvolveram outros estudos sobre a vigilância de saúde infantil de populações

imigrantes. Para além disso, alguns dos dados recolhidos nesta investigação conduzem-nos a pistas importantes sobre as suas, eventuais, implicações práticas, tornando-se, por isso, relevante considerá-los. Contudo, como em qualquer outro estudo, torna-se incontornável assumir algumas das suas limitações, tal como nos propomos fazer no ponto seguinte.