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Nesta secção fazem-se reflexões relativas a algumas das componentes deste relatório de apresentação e discussão da disciplina de Questões Críticas da Avaliação Para as Aprendizagens. Começa-se por se reflectir acerca de algumas finalidades e da concepção geral da disicplina, procurando visualizar o seu papel e o seu lugar num contexto em que se pretendem induzir determinadas práticas de investigação e de avaliação. Num segundo momento produzem-se reflexões e aduzem-se justificações que apoiam a relevância, a pertinência e a utilidade da disciplina. Depois fazem-se algumas considerações adicionais acerca da ideia de se começar a considerar a sala de aula como um sistema de actividade tendo em vista a investigação das mudanças nas práticas de avaliação dos professores. A este propósito, fazem-se ainda algumas reflexões acerca da questão das mudanças de práticas em contexto de sala de aula.

Finalmente, elaboram-se algumas considerações acerca da elaboração deste relatório.

Acerca das Finalidades E Da Concepção Geral Da Disciplina

A disciplina que é objecto deste relatório está intrinsecamente relacionada com a necessidade de se desenvolver investigação empírica acerca das práticas que se desenvolvem nas escolas e nas salas de aula e, sobretudo, acerca das mudanças que contribuam para melhorar o ensino e a aprendizagem. Para que uma disciplina desta natureza possa realmente ser relevante, pertinente e útil é necessário ter em conta

fundamentos teóricos e práticos que permitam identificar as questões teóricas, as questões críticas e as questões que permitam apoiar e melhorar a investigação nas salas de aula. Consequentemente, a concepção da disciplina baseou-se no estudo e na análise da literatura teórica e empírica, na investigação e no trabalho que venho realizando com professores há mais de 15 anos e, naturalmente, nos trabalhos de mestrado e de doutoramento que tenho acompanhando e/ou orientando (e.g., Almeida, 2006; Barreira, 2001; Fernandes et al., 1996; Fernandes, 2005; Ferreira, 2005; Gardner (Ed.), 2006; Gil, 1997; Kellaghan e Stufflebeam, 2003; Neves, 1996; Pais, 1997; Serpa, 2005).

A avaliação dos alunos ou, como é usual dizer-se correntemente, a avaliação das aprendizagens, não é propriamente um conceito simples ou mesmo inocente na medida em que pode ter uma grande variedade de propósitos, alguns dos quais contraditórios ou mesmo inconciliáveis entre si.

Poderemos pensar na avaliação como um processo que permite pedir contas às escolas através, por exemplo, de resultados de exames externos, muitas vezes organizados sob a forma dos chamados rankings. Outra finalidade da avaliação é a de certificar os alunos, isto é, proporcionar informação credível que possa ser utilizada no mercado de trabalho ou nos processos de acesso ao prosseguimento de estudos. Neste caso a questão da qualidade da avaliação, ou seja, a sua validade e fiabilidade, assume uma importância particular uma vez que, para os efeitos que se pretendem, os resultados devem ser comparáveis e permitir que se possa ter um conhecimento bastante aproximado do que os alunos realmente sabem. No que se refere à qualidade da avaliação dos alunos são conhecidas e estão empiricamente comprovadas, as sérias dificuldades existentes para garantir níveis aceitáveis de validade e de fiabilidade dos

testes ou exames que normalmente são utilizados para efeitos de certificação (e.g., Black e Wiliam, 2006c; Fernandes, 2005; Stobart, 2006).

A finalidade ou o propósito que está na base da concepção e organização da disciplina de Questões Críticas da Avaliação Para as Aprendizagens é, como aliás o próprio nome sugere, a de contribuir, antes de tudo, para melhorar as aprendizagens dos alunos. Trata-se de uma avaliação cuja natureza pouco ou nada tem a ver com a que se destina a proporcionar informação para a prestação de contas ou para a certificação dos alunos. Na verdade, a avaliação para as aprendizagens está integrada nos processos de ensino e aprendizagem, está presente no dia-a-dia da vida das salas de aula, é muitas vezes informal, é contínua, implica a interacção entre os alunos e entre estes e o professor e uma participação dos alunos nos processos de regulação, auto-regulação e auto- avaliação das suas aprendizagens. Desta forma a avaliação pode proporcionar informação fundamental para ser utilizada como feedback pelos professores e/ou pelos alunos para que a melhoria das aprendizagens possa ser devidamente apoiada e possa efectivamente acontecer. A avaliação é formativa (ou para as aprendizagens) se as evidências que proporciona são realmente utilizadas para adaptar, modificar ou regular o processo de ensino para responder às necessidades de aprendizagem.

Obviamente que a avaliação formativa não pode deixar de ser considerada no contexto das escolas e dos sistemas educativos e, por isso, faz sentido estudar e investigar as suas relações com outras formas de avaliação, nomeadamente as avaliações sumativas externas.

A Figura 8 faz uma apresentação esquemática simples dos três temas organizadores da disciplina destacando as relações que existem entre si. Assim, a

concepção de projectos de investigação e/ou de intervenção decorre dos contributos da teoria e das questões críticas que a investigação e a própria teoria, em boa medida, identificam. Por outro lado, o desenvolvimento de projectos pode produzir conhecimento e enriquecer a teoria e, simultaneamente, identificar novas questões críticas.

Figura 8. Esquema simplificado dos temas organizadores da disciplina e suas possíveis relações com as realidades da investigação, do ensino, da aprendizagem e da avaliação. QUESTÕES TEÓRICAS CONCEPÇÃO DE PROJECTOS QUESTÕES CRÍTICAS

Ontologia, Epistemologia, Metodologia Natureza das Avaliações

Elementos da Teoria da Avaliação Formativa Teorias da Aprendizagem e Avaliação

Relações Av. Formativa/Av.Sumativa Relações Av. Formativa/Aprendizagens Qualidade das Avaliações

Avaliações Externas e os seus Efeitos

MUDANÇAS