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Os resultados deste trabalho apontam para que não hajam diferenças significativas entre a qualidade da performance com respiração oral e com respiração nasal. Apesar de não se verificarem diferenças estatisticamente significativas, foram encontradas tendências na função muscular durante a performance: nos trechos com menor exigência biomecânica, os músculos necessitarão de menor atividade na respiração nasal; já nos trechos que exigem grande e rápida entrada de ar a respiração oral parece ter menor solicitação associada dos músculos respiratórios.

Esta investigação realizada pode ser importante não só no panorama da trompete, mas também de outros instrumentos de sopro, pois na pesquisa realizada para o “estado de arte” não se encontraram semelhantes investigações científicas, sobre o tipo de respiração na prática instrumental. Na área performativa foram essencialmente referenciadas obras de pedagogos do instrumento que têm por base um saber empírico baseado na sua longa experiência enquanto performers e pedagogos. Apesar de esse ser um conhecimento viável, a investigação pode trazer à comunidade trompetística uma componente de conhecimento científico.

No entanto, o trabalho apresenta algumas fragilidades. Quanto ao momento performativo, foram verificadas lacunas nos modos respiratórios. As respirações orais realizadas durante a performance oral foram asseguradas pela utilização do nose clip. No entanto, o feedback dado pela maioria dos participantes revelou que estes não se encontravam completamente confortáveis durante o teste. Esta performance “não-natural” pode ter levado os participantes a um sentimento de maior ansiedade. Por outro lado, na performance nasal faltou um elemento ou um mecanismo, além da supervisão do investigador, que garantisse a execução de uma performance cujas inspirações fossem todas feitas num modo completamente nasal.

A amostra de participantes apresenta algumas questões que podem ter um grau de influência nos resultados obtidos. Como foi referido anteriormente, a

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respiração nasal é ainda um tema “tabu” na comunidade de docentes. Por essa razão, a totalidade dos participantes efetua uma respiração oral nas suas rotinas de estudo diário. Portanto, é evidente que esse facto pode levar a uma melhor preparação do aluno para o padrão de respiração oral, e consequentemente, influenciar os resultados obtidos.

Outra situação a ter em conta é o momento performativo em si. Uma boa performance está dependente do momento em que ocorre. Duas performances exatamente com as mesmas variáveis, condições ambientais, formas de tocar iguais, mesmos níveis de concentração e tempo de estudo, podem levar a performances diferentes. Isto deve-se ao facto de a performance ser algo que ocorre em determinado momento. Por essa razão, as performances podem conter alguma margem de erro pois pode ter “corrido bem” ou “corrido mal”. Podem ter ocorrido falhas passageiras que não aconteceriam numa segunda tentativa da performance.

Como é conhecido, existem muitos problemas de saúde que estão relacionados com a utilização diária da respiração oral, especialmente em crianças que possuem uma estrutura em desenvolvimento. Visto que as diferenças não são significativas, é importante repensar o sistema de ensino ministrado nas escolas (com especial atenção para as crianças). Este trabalho pode abrir portas para que, futuramente, sejam realizados estudos, em diferentes fases de evolução da aprendizagem do instrumento, que visem a avaliação dos vários tipos respiratórios (puramente nasal, puramente oral, inspiração pelos cantos da boca, padrão misto), relacionando isso com a prática instrumental ou performativa e os problemas de saúde adjacentes.

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