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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.3. EIXO III: CONTRIBUIÇÕES DA ERGOLOGIA PARA A PRÁTICA

4.3.1 REFLEXÕES SOBRE A ATIVIDADE DE TRABALHO

Dois pontos importantes sobre as visitas às propriedades do núcleo RAMA foi o preenchimento dos Diários de Campo e do Plano de Manejo Orgânico – PMO. O Diário de Campo continha informações sobre a data de entrada de cada insumo, como: tipo, quantidade e origem e a descrição das atividades que estavam registradas de maneiras variáveis entre os membros, em forma de anotação ou planilha. O PMO continha o croqui da unidade de produção com as áreas e as culturas, informações sobre plantio e criação. Além de registros com: datas e quantidades de cada cultura plantada; datas, produtos utilizados e dosagens de aplicações na adubação; datas das entradas de insumos com as notas fiscais; datas da análise da água utilizada na irrigação, e processamento e lavagem dos produtos; como foi feita a proteção ambiental e como foi feito o processo de pós-colheita. Segundo relatos esses

Eixo lll

Contribuição da Ergologia para as reflexões sobre a saúde

Reflexões sobre a atividade do trabalho Dificuldades e superações do trabalho Reflexões sobre a

saúde trabalhador e da Autonomia do trabalhadora sobre as

mecanismos de controle social ajudaram a compreender melhor o funcionamento das unidades de produção, perceber as evoluções e consequentemente melhoraram a gestão.

O aprimoramento dos mecanismos pode ser feito com participação e diálogo entre agricultores e agricultoras, colaboradores e colaboradoras técnicos e OPAC. Nas visitas a campo foi perceptível à influência que esse instrumento exerce sobre as reflexões dos membros do grupo sobre a própria atividade e rotina de trabalho.

Meu dia a dia é mudar irrigação, plantar, colher, vender... Não tem nada de especial não, só que eu tô fazendo o que eu gosto de fazer, então pra mim o meu trabalho não é um trabalho, é um prazer (...) Agora o serviço da roça é plantar, é colher, é definir o que tem que fazer, as prioridades, ah vamos investir nisso, investir naquilo, tal, tal, tal. Tudo sou eu que faço sabe. (A-08) Tem umas coisinhas assim que o próprio plano de manejo, quando você preenche, ele te dá essas opções, sobre o que você usa para melhorar a sua produção, quebra vento, cobertura de solo, isso sempre acontece. Agora não é que você precisa cumprir tudo isso, isso não é obrigatório, você pode plantar sem cobertura do solo, mas isso vai prejudicar sua produção. Então, no meu plano de manejo tudo isso tá marcado, pra mim é o básico, se isso vai ajudar a produção, então eu faço tudo, mas eu faço mais. (A-04)

Eu tento acompanhar o plano de manejo, a roçada, eu tento acompanhar, não saio muito assim. Tudo que é permitido fazer. (A-07)

Os diários de campo e o PMO são instrumentos fundamentais para autonomia, reflexões sobre a própria atividade de trabalho, identificação das possibilidades de melhoria e correção dos erros. A elaboração deste tópico partiu do questionamento feito aos agricultores e agricultoras sobre “como é o trabalho que você realiza?”. Nas respostas foram pontuadas as atividades da rotina de trabalho no dia a dia no campo. Cada membro apresentou uma dinâmica de trabalho diferente. De acordo com a fala abaixo, nota-se que a rotina varia segundo as estações do ano e os tipos de culturas que são cultivadas em cada propriedade.

Ah depende do dia, né? Cada dia é uma história. Eu trabalho todo o dia, da hora que começa o sol à hora que termina o sol, entendeu, mais ou menos isso. Tiro duas horas de almoço, e é isso, é capina, é plantio, é poda. Então, é muito variado, é muita variedade de coisa que eu produzo aqui, então depende do dia. (A-05)

Em relação ao manejo, a fala seguinte demonstra a liberdade, autonomia e o desenvolvimento de reflexões diárias acerca das formas como o trabalho é desenvolvido “Quando eu tô trabalhando, toda hora eu testo um novo jeito de fazer, até para refletir na

ferramenta, ou trocar, ou adaptar essa. Então, é sempre um processo de inovação mesmo na minha visão” (A-04).

Para compreender melhor as atividades de trabalho é necessário considerar que é uma atividade sempre singular, realizada por indivíduos singulares em contextos variáveis.

Tudo eu faço do meu jeito. Eu não defino meu sistema de produção nem como permacultura, nem como agrofloresta, nem como sistema natural, eu não defino meu sistema, meu sistema é meu. O meu sistema tem um pouco de cada um que eu acho que é (...) Eu trago pra dentro da minha propriedade aquilo que eu acho que é viável pra minha realidade, eu não tento imitar ninguém, eu tento fazer o meu sistema de produção. Então, com isso eu não sigo regra padrão de ninguém. (A-07)

Meu dia a dia é mudar irrigação, plantar, colher, vender... Não tem nada de especial não, só que eu to fazendo o que eu gosto de fazer, então pra mim o meu trabalho não é um trabalho, é um prazer. (A-08)

Os mecanismos de registro sobre as atividades desenvolvidas na propriedade foram pontos essenciais para a reflexão individual e coletiva. Anotar os processos realizados no dia a dia contribui muito com a forma de enxergar a propriedade e refletir sobre a rotina. A Ergologia propõe que ao refletir sobre a atividade de trabalho o indivíduo pode conhecer melhor sua realidade, dar visibilidade a aspectos invisíveis e alterar as condições de trabalho e saúde. A autonomia, a flexibilidade e a autogestão são fatores essenciais para as condições de trabalho e saúde, pois estão relacionados com a motivação, tranquilidade, maior controle sobre as atividades e a satisfação no trabalho.

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