• Nenhum resultado encontrado

A juventude tem sido concebida como um momento de transformação, mas afinal o que determina esse período da juventude? Existe um limite entre seu início e seu término? A partir dessas indagações, busca-se apresentar nessa seção conceituações sobre a juventude, para tanto se embasam nos estudos de Abramo (2011), Pais (2011, 2006), Novaes (2006, 2011), Dayrell (2018, 2003), Leão (2018) entre outros(as) autores(as).

Inicialmente, sublinha-se que, com relação à classificação etária dos(as) jovens, não há um consenso estabelecido na literatura, alguns estudos relativos à juventude classificam os(as) jovens pela faixa etária de 15 a 24 anos de idade baseados em critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas (ONU) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Já de acordo com o Estatuto da Juventude, Lei nº 12.852 de 2013 (BRASIL, 2013), é considerado jovem o indivíduo que tem entre 15 e 29 anos e, ainda, de acordo com a Política Nacional de Juventude (PNJ) é possível dividir esse período que compreende a juventude em três grupos etários de 15 a 17 anos denominados(as) jovens-adolescentes, de 18 a 24 anos como jovens-jovens e de 25 a 29 anos como jovens-adultos(as).

Para Abramo (2011, p. 45), “o grupo de idade de 15 a 24 anos, é o que se vem tornando convenção, no Brasil, para abordagem demográfica sobre juventude, pois corresponde ao arco de tempo em que, de modo geral, ocorre o processo relacionado à transição para a vida adulta”, porém a autora alerta sobre a necessidade de relativizar tais marcos, uma vez que as histórias pessoais produzem trajetórias diversas.

Corrobora com esta premissa Novaes (2006) ao observar que devido ao aumento de expectativas de vida e às mudanças no mercado de trabalho, uma parte dos(as) jovens acaba por alargar o chamado tempo de juventude, enquanto para outros(as) devido às responsabilidades, a vida adulta começa mais cedo, portanto independente de qual seja a faixa etária determinada, jovens com idades iguais vivem juventudes desiguais.

Por conseguinte, parte-se do pressuposto de que mergulhar na etimologia leva além da compreensão das palavras e a interpretação da própria realidade. Assim, busca-se conceituar a

juventude a partir de sua origem vocabular que vem do latim Juventus e tem como significado “juventude”. Na mitologia romana, Juventus era a deusa protetora dos(as) jovens e jovem, também no latim tem sua origem ligada ao deus Jovis que significa “jovem, jovial”. Embora na mitologia a vida real esteja entrelaçada com a ficção, percebe-se que homens e mulheres projetavam seus desejos nos deuses e; portanto, pode-se dizer que a juventude era no passado e ainda é no presente uma fase da vida bastante almejada.

Cada etapa da vida tem uma relação diferente com o senso de finitude, e a partir do momento que se tem a percepção da passagem do tempo, acaba-se dando significados diferentes à infância, à juventude, à fase adulta e idosa. As fases da vida são além de momentos definidos biologicamente construções históricas e sociais, ou seja, as definições não são determinadas apenas pelas mudanças corporais e psicológicas, mas, sobretudo são determinadas pelas experiências vivenciadas em determinado tempo e espaço. Por este mesmo viés, Dayrell assevera que,

a juventude pode ser entendida, ao mesmo tempo, como uma condição social e uma representação. De um lado, há um caráter universal dado pelas transformações do indivíduo em determinada faixa etária, nas quais completa o seu desenvolvimento físico e enfrenta mudanças psicológicas. Mas a forma como cada sociedade e, no seu interior, cada grupo social vão lidar e representar esse momento é muito variada no tempo e espaço. Essa diversidade se concretiza no período histórico, nas condições sociais (classes sociais), culturais (etnias, identidades religiosas, valores etc.), de gênero e também das regiões, entre outros aspectos (DAYRELL, 2018, p. 55).

Observa-se que o próprio conceito de juventude modifica-se de acordo com a sociedade na qual o(a) jovem está inserido(a). Por esta perspectiva, a juventude não é somente uma condição biológica, mas sim um conceito cultural. Para Melucci (1997, p. 13), “a juventude deixa de ser uma condição biológica e se torna uma definição simbólica. As pessoas não são jovens apenas pela idade, mas porque assumem culturalmente a característica juvenil através da mudança e da transitoriedade”.

Não obstante, Leão salienta que “a juventude é uma construção histórica, fruto tanto das transformações sociais e econômicas da modernidade [...] quanto das representações sociais construídas em épocas e contextos específicos” (LEÃO, 2018, p. 73). Dessa forma, evidencia-se que as transformações ocorridas na sociedade ao longo da história suscitam mudanças no modo de viver a juventude.

Assim, reitera-se que a juventude é um conceito em transformação, haja vista as constantes mudanças que perpassam a sociedade e, nesse sentido, a sua definição se renova a

cada novo período vivenciado pela humanidade; Novaes (2006, p.105) corrobora com este entendimento e pondera que “lembrar que „juventude‟ é um conceito construído histórica e culturalmente já é lugar-comum. As definições sobre „o que é ser jovem?‟ quem e até quando pode ser considerado jovem? Tem mudado no tempo e são sempre diferentes nas diversas culturas e espaços sociais”.

Por este mesmo entendimento Furini; Durand e Santos (2011) consideraram que histórica e socialmente a juventude vem sendo compreendida como uma fase de vida que se modifica conforme o contexto histórico, social, econômico e cultural. Dessa forma, Esteves e Abramovay (2007) asseveram que “a realidade social demonstra, no entanto, que não existe somente um tipo de juventude, mas grupos juvenis que constituem um conjunto heterogêneo, com diferentes parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e poder nas sociedades” (ESTEVES; ABRAMOVAY, 2007, p. 21).

A partir desta concepção de juventude não se pode compreendê-la como uma fase da vida delimitada por um recorte etário, já que ser jovem envolve também a compreensão de subjetividades. Assim, refletir sobre o conceito de juventude e mais amplamente sobre as juventudes requer reconhecer as especificidades dos sujeitos jovens, pois são seres singulares, é no relacionar-se com seus pares que corporificam a pluralidade das juventudes.

Deste modo, para situar quem são estes(as) jovens é preciso ter uma compreensão mais ampla da própria juventude, pois em torno da ideia de juventude perpassam muitas interpretações. Para Dayrell, “podemos afirmar que não existe uma juventude, mas sim juventudes, no plural, enfatizando, assim a diversidade de modos de ser jovem na nossa sociedade” (DAYRELL, 2018, p. 55). Nessa mesma direção, Velho (2006) pontua que colocar juventude no plural expressa a posição de que é necessário qualificá-la, percebendo-a como uma categoria complexa e heterogênea, a fim de evitar simplificações.

A questão mais pertinente não seria o que é ser jovem? Ou, qual a melhor definição de juventude? Mas, como a sociedade compreende os(as) jovens? Verifica-se, nesse âmbito, que o trabalho de Peralva (1997) colabora com a afirmação que as fases da vida, apesar de estarem embasadas no desenvolvimento biopsíquico, são fenômenos sociais e históricos ligados ao surgimento da modernidade, logo, a juventude é, ao mesmo tempo, uma condição social e um tipo de representação. Nessa lógica, Peralva afirma, “[...] com respeito à infância e à juventude, revela-se também a particularidade do vínculo social através do qual a juventude aparece como configuração própria da experiência moderna.” (PERALVA, 1997, p. 15).

Ademais, ao analisar a juventude na modernidade entende-se mais amplamente como parte da constituição dos sujeitos, conforme Dayrell (2003, p. 42) “a juventude constitui um momento determinado, mas não se reduz a uma passagem; ela assume uma importância em si mesma”, portanto a constituição da juventude é um processo influenciado pelo meio social. Neste mesmo viés, Leão (2018) aponta que as transformações vivenciadas em determinado contexto social conferem mudanças no modo de viver a juventude,

a juventude pode ser compreendida como um período da vida determinado pelo modo como historicamente as sociedades organizam seus ciclos de vida. Ela compreende demandas específicas cuja centralidade está na inserção social das novas gerações. É o tempo da aquisição e experimentação da autonomia. Se em outros tempos havia um percurso nítido da juventude à vida adulta, hoje predomina entre os jovens, a incerteza quanto ao futuro (LEÃO, 2018, p. 74).

Em outras palavras, a juventude é uma construção social, produzida a partir das múltiplas formas como a sociedade concebe os(as) jovens, na qual se conjugam, entre outros fatores, estereótipos, momentos históricos, múltiplas referências, além de diferentes e diversificadas situações de classe, gênero, etnia e grupo (ESTEVES; ABRAMOVAY, 2007).

Estudos realizados por Dayrell (2003) evidenciam que uma série de pesquisas acerca da juventude apresentam lacunas e que podem interferir na maneira de se compreender os(as) jovens, uma delas é a juventude concebida como um período transitório, esta concepção é marcada pela expectativa futura, ou seja na vida adulta, havendo uma negação do presente como espaço de formação.

Outra visão romântica cristalizada a partir da década de 60 compreende a juventude como um tempo de liberdade, de prazer, atrelada ao conceito de moratória e à possibilidade de desfrutar de um tempo de ociosidade. Já recentemente, a juventude vem sendo reduzida apenas ao campo da cultura, como se os(as) jovens expressassem sua condição juvenil somente nas atividades culturais. E por fim a juventude é mencionada como um momento de crise, uma fase difícil, dominada por conflitos, em que ocorre um distanciamento da família e nesta lógica ela é responsabilizada por uma suposta ausência de valores referida aos(as) jovens (DAYRELL, 2003).

Portanto, parte-se do pressuposto que compreender a juventude com base nestas concepções citadas por Dayrell (2003) pode nos levar a reconhecer os(as) jovens de forma negativa e secundarizar suas experiências, assim se defende que a juventude precisa ser concebida a partir de critérios histórico e sociais. À vista disso, na próxima seção busca-se compreender a intrínseca relação entre os sujeitos jovens e o fenômeno juvenilização na EJA.