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3 O CONTEXTO ENERGÉTICO DO MÉXICO

3.2 Reforma Energética e as energias alternativas – Posicionamentos frente à transição energética

A Reforma Energética apresenta uma restruturação que interfere com a política ambiental de México em algumas questões como, por exemplo, o foco no sentido de incrementar o uso de energias renováveis com a finalidade de contribuir na redução da emissão antrópica dos gases de efeito estufa e, assim, combater as mudanças climáticas.

De fato, o México é um dos poucos países no mundo que transformaram suas ambições de energia renovável em lei. Em dezembro de 2015 se aprovou a Lei de Transição energética (INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2016), que estabelece, entre outros pontos, as metas de redução das emissões de dióxido de carbono e o firme interesse por incluir novas tecnologias limpas que contribuam com os compromissos do governo mexicano em matéria energética.

Estes compromissos estão baseados em parte nas Contribuições Nacionais Determinadas ou NDC (Nationally Determined Contribuitions) que procuram reduzir os gases de efeito estufa para reduzir o aquecimento do planeta. As NDC mexicanas foram elaboradas a partir do Inventario Nacional de Emissões do ano 2013 e se apoia na Ley de Cambio Climático (Lei de Mudanças Climáticas).

Segundo o informe do INECC (MÉXICO, 2018b), As NDC do México focam, para o ano 2030, a redução do 22% de emissões de gases de efeito estufa, além de almejar a redução de 70% a produção de carbono negro (MÉXICO, 2018b).

Assim, se tem estabelecida a meta de alcançar, no âmbito da matriz energética mexicana, 35% de energia renovável para o ano de 2024 (APIZAR, 2016; IRENA, 2016; MÉXICO, 2014) através do aumento de diversas fontes de energias alternativas, principalmente a solar, eólica e a geotérmica.

A liderança ambiental que tem exercido o México em fóruns internacionais reside, centralmente, radica nos ambiciosos acordos que o país tem proposto, como a redução de emissões, para o caso da geração de energia elétrica, de 450 g CO2/kWh, no ano de 2014,para 220 g CO2/kWh que tende a ser o patamar correlato

incremento dos 120 GW de nova energia prognosticada para este ano (2040), dos quais mais da metade deve ser por origem de alguma energia renovável.

O México está entre os dez primeiros países mais atrativos e com maior eficiência energética do mundo (MÉXICO, 2018C), em parte também pelo seu compromisso no Acordo do Paris e pela Reforma Energética que, de algum jeito mais ou menos tácito ou explícito, menciona as intenções por fazer do México um país mais verde aproveitando tecnologias limpas.

Para garantir esta diversificação frente ao excessivo consumo de combustíveis fosseis, se criaram vários métodos na reforma, destacando-se os leiloes elétricos que garantem o uso de certificados (MÉXICO, 2018C) os quais são exigidos e outorgados tanto aos fornecedores como aos clientes finais (ALPIZAR, 2016).

Os certificados de capacidade de geração de energia a pontes limpas proveem uma abertura mais clara para novos participantes que possam competir para gerar energia considerada de baixo carbono (INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2016), e que seria obtida de recursos energéticos alternativos. Inclusive, a participação da capacidade de geração a partir destas energias aumentou de 25% a 46% (INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2016) pelo impulso da política de governo para aumentar o seu uso. A redução de dióxido de carbono permitirá que, no ano de 2024, se consiga até 43% de geração de energia por energias alternativas (MÉXICO, 2018C)

Para Alpizar (2016), o tema de meio ambiente é praticamente nulo no âmbito da Reforma, pois as energias renováveis são opções de escassa cobertura nacional em comparação com outros países em vias de desenvolvimento (AGUILERA, 2016) e que também tem compromissos sólidos contra as mudanças climáticas, tais como África do Sul e Brasil.

Mesmo assim, a Reforma sinaliza uma série de prioridades quanto a sua agenda de energias renováveis, nas quais se destacam o potencial nuclear, geotérmico, eólico e de energia solar para seu desenvolvimento (MÉXICO , 2014)

Segundo o governo (MÉXICO, 2017), as intenções da Reforma Energética encorajam o país a se transformar em um país líder em sustentabilidade e no que

tange a combater as mudanças climáticas reduzindo sua dependência por combustíveis fósseis.

O governo reconheceu que o país apresenta um atraso significativo em questões de energias renováveis, a despeito de seu potencial de recursos naturais (MÉXICO, 2014) pelo qual era indispensável ter o foco da preservação do meio ambiente e assegurar a sustentabilidade do setor energético. Porém, especialistas e analistas atuantes na área de energia com foco no caso do México e de sua supracitada reforma, consideram insuficiente a vontade política para que as energias renováveis, efetivamente, deslanchem no seio da matriz energética mexicana. (IBARRA, 2015; ALPIZAR, 2016; VARGAS, 2014; CLAVELLINA 2014).

3.2.1 Críticas e controvérsias associáveis à Reforma Energética

Desde a sua aprovação no congresso, a Reforma Energética gerou diversas críticas por parte de vários âmbitos. Organizações não governamentais, associações civis e, inclusive, alguns organismos internacionais colocaram o tema como um assunto controverso (GREENPEACE, 2013; VARGAS, 2014)

De fato, a Reforma Energética não considera em todo seu estatuto as necessidades reais que o setor energético parece precisar, deixando que o principal motivo para sua implementação, tudo indica, seja o fator econômico e a prevalência do uso de combustíveis fosseis (CLAVELLINA, 2014). Segundo Aguilera (2016), a supracitada Reforma não oferece uma saída real para o problema da concentração do sistema energético, fazendo prevalecer o uso de petróleo e gás natural – ou seja, na prática a Reforma não fomenta a diversificação energética, aspecto tão fundamental para que a polução mexicana desfrute de mais segurança energética, preços mais assimiláveis para a conta mensal de energia no caso do setor residencial (em especial) e que, paralelamente, permita ao país, como um todo, uma menor contribuição para a constituição das mudanças climáticas, problema de magnitude global e que ameaça a vida de todas as espécies vivas da Terra.

Desde a implementação da Reforma, por exemplo, o uso de gás natural tem se intensificado, principalmente, pelos baixos preços e as rotas de transporte, via gasodutos, a partir dos Estados Unidos que facilitam a importação do recurso

(INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2016). Inclusive, essa liberalização do gás tem feito que o país ao norte do México (ou seja, os EUA), tenha uma maior rede de abastecimento e, por tanto, maior ingerência econômica e, centralmente, política.

Isso foi sinalado por Vargas (2014) apontando que a liberalização ou privatização, dependendo do enfoque que se que se deseje impor, acabará gerando maior dependência industrial e tecnológica, sobretudo, por parte dos Estados Unidos.

Um dos principais problemas que encerra a produção do petróleo no México, não é, simplesmente, a exploração e a produção – E&P –, mas sim a fiscalização e coleta dos recursos (AGUILERA, 2016) gerados que contribuem em uma alto porcentagem com o Produto Interno Bruto (PIB) e que tem uma regulação e controle por parte dos grupos que exercem o poder. Portanto, não pode ser categorizado como tipicamente democrático este processo – a despeito, de, eventualmente, eficaz pela perspectiva econômica e centrado o referencial nos interesses dos grupos que exercem o poder, em geral, a classe (historicamente) dominante do México6.

De fato, parte do incentivo à Reforma foi ocasionada porque México começou a fazer uso das suas reservas em cifras tipicamente acima da maioria dos países considerados como de base energética petrolífera. Só no ano de 2014, por exemplo, o país usou 8% das suas reservas em comparação com Brasil, que usou 5%, ou a Nigéria que usou 1,8% (AGUILERA, 2016).

No começo da sua implementação, a Reforma teve problemas pelos fatores externos que contribuíram para sua pouca credibilidade no seio da população mexicana, como a redução substancial dos preços internacionais do barril de petróleo Brent. Esta queda na cotação internacional do barril induziu a crise econômica importante no México (INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY

6 Depois da nacionalização do petróleo no ano 1938 pelo ex Presidente Lazaro Cárdenas, a instituição Petróleos Mexicanos (PEMEX) teve a coordenação dos hidrocarburos. Através dos anos, e com processos de sindicalização, o controle deste recurso natural foi ficando com poucas pessoas que tem algum poder público de alto estrato, como é o caso do Romero Deschamps, líder do sindicato petroleiro desde há mais de 30 anos e que está vinculado ao Partido Revolucionario Intitucional (PRI) que governou o pais por quase 80 anos seguidos (ABOTES, 2010)

AGENCY, 2016), o que, inclusive, gerou uma taxa importante de desemprego no setor.

Este tema foi uma das marcas centrais da Reforma, e após da sua implementação, o número de empregos tem diminuído consistentemente entre a população mexicana, em especial, naqueles setores ligados direta e/ou indiretamente à indústria petrolífera mexicana. Paradoxalmente, tem aumentado as oportunidades para o pessoal estrangeiro que foi enviado pelas próprias empresas transacionais petrolíferas para colaborar com elas, tendo como resultado o nulo impacto na redução da pobreza do país (ALPIZAR, 2016).

Em referência à estrutura que se propôs com a Reforma e a com a correlata criação de novos organismos, assim como a divisão de outros, se fez uma pesquisa que mostrava que existe uma regulação excessiva que pode ocasionar que os processos de E&P sejam mais morosos e complexos sem resolver as necessidades imediatas que se apresentam, como o gerenciamento dos leilões, o controle dos fornecedores e empresas, entre outras (IBARRA, 2015).

Outro tema fundamental é a perspectiva de se criar duas refinarias para reduzir o consumo das importações do petróleo refinado (ou seja, para reduzir as importações de derivados como a gasolina, o Diesel e o querosene de aviação) fornecido pelos Estados Unidos. Porém, os custos da construção e manutenção destas refinarias é, em geral, muito acima do orçamento que se tem destinado a estas atividades, pelo qual, a factibilidade fica reduzida também a projetos que precisam de um melhor planejamento (VARGAS, 2014). Alguns críticos divergem da ideai de criá-las e propõem impulsar melhor as energias renováveis aproveitando os recursos naturas que o México tem com sua capacidade solar, eólica, geotérmica, nuclear, hidráulica e de biomassa (AGUILAR, 2016; IRENA, 2016).

Segundo um artigo publicado pelo Greenpeace (2013), a Reforma Energética do México não está dirigida para a redução do uso dos combustíveis fosseis e revela problemas de falta de planejamento, escassez de investimento e falta de interesse efetivo no desenvolvimento dos programas e projetos de energias renováveis na medida requerida (GREENPEACE, 2013).

As metas estabelecidas na reforma são tímidas considerando as expectativas que a população mexicana e global têm quanto à redução da emissão antrópica de gases de efeito estufa, sobretudo porque o México poderia incentivar, através de outras políticas (de origem privada, pública e/ou via parcerias público- privadas) o mercado de energias alternativas (AGUILAR, 2015).

Não se tem uma estratégia única em relação ao que é mais efetivo no sentido de se ampliar o uso de energias renováveis pelo México. Afinal, apesar de, recorrentemente, se buscar o aumento no seu uso, o consumo dos combustíveis fosseis tende a continuar sendo prioritário para o governo mexicanoe para o país, de modo geral.

O consumo de combustíveis fosseis tende a continuar sendo prioritário no que tange ao uso de energia no México, porém há intenções – governamentais e privadas –de se fazer um maior uso de energias renováveis através de uma agenda energética que seja mais efetiva e com estratégias melhor definidas.