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2 O PROCESSO POLÍTICO BRASILEIRO NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA

3.2 A EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO POLÍTICO DE REORGANIZAÇÃO DAS

3.2.5 A Reforma Rocha Vaz

O clima que marcou o início da segunda década do século XX, os reflexos do pós- guerra (1914 – 1918); o movimento nacionalista, que se ramificou em diversos movimentos sociais nos principais estados do país; a efervescência na arte e na cultura, representado pela Semana de Arte Moderna; o desenvolvimento da indústria e a expansão da população urbana foram elementos definidores de uma nova Reforma no campo educacional que orientou e reordenou o ensino nos seus três níveis no país.

No dia 13 de janeiro de 1925 foi editado o Decreto nº 16.782 – A, conhecido como Reforma Rocha Vaz que trazia como epígrafe que “Estabelece o concurso da União para a difusão do ensino primário, organiza o Departamento Nacional de Ensino, reforma o ensino secundário e superior e dá outras providências” (BRASIL, 1925. Acesso em 18 jul. 2014).

As diferenças entre esta Reforma e suas anteriores já se encontravam marcadamente na epígrafe ao propor a difusão do ensino primário. Nota-se que nas reformas anteriores, a exceção da Reforma Benjamin Constant, a preocupação estava nitidamente sobre o ensino secundário e superior.

Assim, o Artigo 24 do Capítulo terceiro trazia que “O Govêrno da União, com o intuito de animar e promover a difusão de ensino primário nos Estados, entrará em acôrdo com êstes para o estabelecimento e manutenção de escolas do referido ensino nos respectivos territórios” (BRASIL, 1925. Acesso em 18 jul. 2014). Observamos aqui que além do termo animar, previsto na Constituição Republicana, surgia como novidade o termo “promover” (grifo nosso), ampliando as responsabilidades da União, antes deliberadas ao Congresso Nacional.

A participação da União se deu através do pagamento dos salários dos professores primários aos estados, tendo como contra partida dos estados oferecer casas para residências dos professores, não reduzir o número de escolas, além de aplicar 10% no mínimo de sua receita na instrução primária e normal.

Outra novidade da Reforma Rocha Vaz foi a criação no Decreto nº 16.782 – A, Artigo I do Departamento Nacional do Ensino, órgão geral encarregado da difusão e do progresso das letras, ciências e das Artes em todo país. Este órgão estava subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores e responsável pelos demais órgãos diretores da educação no país como o Conselho Nacional de Educação, previsto no Artigo XII, do mesmo Decreto, agora substituindo o Conselho Superior de Educação, com função mais abrangente no âmbito da educação pública. Subordinavam-se, ainda, ao Conselho Nacional de Ensino, o Conselho de Ensino Secundário e Superior; o Conselho de Ensino Artístico; o Conselho de Ensino Primário e Profissional, com poderes supra de dar pareceres, examinar relatórios, propor suspensões, informar sobre conveniência de criação, supressão, ou transformação de cadeiras, disciplinas e carga horária, examinar e organizar o regimento interno, propor reformas e melhoramentos (BRASIL, 1925. Acesso em 18 jul. 2014).

No tocante à organização do ensino secundário, não foram maiores as mudanças esperadas com a Reforma Rocha Vaz. Era esperado que o governo desse um passo a mais na transformação da filosofia do ensino secundário, deixando de ser um instrumento seletivo e preparatório para o ensino superior, transformando-se em uma instituição aberta para a formação de adolescentes (NAGLE, 2001).

Além de reformar o tempo de permanência para a conclusão do ensino secundário que passou de cinco para seis anos, e de modificar o sistema que deixou de ser periódico, tornando-se seriado, a Reforma alterou também a oferta de disciplinas ao longo do curso, introduzindo novas disciplinas ou ampliando a carga horária de outras. Apesar dos esforços empreendidos no sentido de reformar o ensino secundário, dando-lhe ampla atuação e abrangência, para que atingisse uma totalidade da população de jovens e adolescentes brasileiros, “a implantação generalizada de um ensino ginasial, seriado e com frequência obrigatória, e o alargamento das funções normativas e fiscalizadoras da União quanto à instrução secundária de todo o país constituíram aspectos fundamentais desta nova lei de ensino” (NAGLE, 2001, p. 194). Movido pelos ideais da Escola Nova e toda a agitação cultural que tomou conta dos grandes centros urbanos do Brasil, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, além dos já amadurecidos movimentos em prol da educação como o Entusiasmo pela Educação e o Otimismo Pedagógico, que ultrapassaram o discurso e adentraram de forma concreta a terceira década da Primeira República, o Presidente do estado do Espírito Santo, o senhor Aristeu Borges do Aguiar publicou a Lei nº 1693 de 29 de Dezembro de 1928, que reformou a educação capixaba. À frente desta Reforma, que durou menos de dois anos, estava o seu Secretário da Instrução, o senhor Attílio Vivacqua.

Durante o período em que esteve em execução, a Reforma Attílio Vivacqua não se preocupou unicamente com a revisão dos aspectos pedagógicos ou estruturais, como era comum as outras Reformas anteriores, mas, sobretudo, apresentou uma preocupação maior de produzir uma crítica mais ampla aos aspectos culturais do povo capixaba, ainda demasiado atrasado em seus conceitos tanto sociais quanto culturais. Imbuído pelo pensamento escolanovista, a Reforma buscou uma transformação maior da educação que recaísse sobre uma maior transformação da sociedade e, para isso, foi preciso repensar a própria formação do professor. Nesse sentido, Attílio Vivacqua propôs a transformação do curso de formação para o magistério primário, propagando as novas ideias pedagógicas entre os professores que cuidariam da educação estadual (SALIM, 2011). Assim, cria o Curso Superior de Cultura Pedagógica, cujo

objetivo seria o aperfeiçoamento tanto de professores, quanto de inspetores (SALIM, 2011).

Entretanto, fatores de caráter político vieram a constituir uma nova configuração na República73, o que abreviou o tempo de Attílio Vivacqua à frente da secretária, que teve a si e toda a sua equipe destituída pelo novo governo, assim como a interrupção de sua reforma.

Ao final de um período dos quarenta anos que compreende a primeira República no Brasil, o que podemos observar com relação às Reformas de ensino implantadas foi uma tentativa frustrada e mal versada de organização do ensino no Brasil, que abarcava os três níveis de ensino.

A educação primária passou desprestigiada por quase todo o momento das reformas, uma vez que sua função estava destinada aos estados e municípios, cabendo ao Estado apenas “animá-la”, conforme citada no Texto Constitucional, ou como previstas em algumas reformas, destinadas ao próprio domínio do cidadão.

Nas medidas adotadas para o ensino secundário e superior, técnico e das artes, o grande debate que se travou, orbitou em torno da oficialização/desoficialização do ensino, tendendo ora para um lado, ora para o outro. Ademais, as Reformas trataram tão somente da organização e da reestruturação do ensino, deliberando sobre questões relativas à contratação de professores, funcionamento do aparelho educativo, regulamentação de funções administrativas, organização de sistemas vertical de funcionamento da administração escolar, além da elaboração de uma organização curricular e distribuição de horas para as disciplinas elencadas.

Não havia uma real preocupação com a erradicação do analfabetismo dos quadros sociais no Brasil, assim como de uma política de integração dos egressos da educação primária para o ensino secundário e, posteriormente, para o ensino superior. Não existia, enquanto preocupação pública, a noção de educação como um projeto maior para o avanço do desenvolvimento nacional, ou um direcionamento

73 Podemos destacar como marco histórico da Revolução de 1930 a posse de Getúlio Vargas, que assumiu como

presidente do Brasil no dia 03 de novembro. Para Fausto (2012, p. 181) “esse movimento revolucionário no Brasil insere-se em uma conjuntura de instabilidade, gerada pela crise mundial de 1929, que caracterizou toda a América latina”. A esse respeito ver: FAUSTO, 2012.

concreto de uma política para a formação de trabalhadores que seriam absorvidos por um mercado em crescimento, fruto da expansão urbana e do processo de industrialização.

De uma forma geral, as Reformas da Educação reproduziram uma educação que priorizou as classes mais privilegiadas, permitindo o ingresso da elite à educação secundária, que ficou em sua maioria a cargo das instituições privadas, visto que não houve grandes investimentos do Estado neste segmento de ensino. Da mesma forma, ficou para esta elite o acesso aos Institutos de Ensino Superior públicos ou privados, responsáveis pela manutenção da própria ordem social.

O pensamento liberal que orientou essas Reformas, com ligeiras influências do positivismo que se fez presente em alguns momentos, não conseguiu se impor ao Liberalismo difuso brasileiro, que esbarrava muitas vezes em um Congresso Nacional conservador, representado pelas forças oligárquicas e da elite agrária exportadora. Reformou-se a educação, mas não se atingiu o objetivo de alfabetizar o povo brasileiro.

3.3 OS MOVIMENTOS SOCIAIS EM PROL DE UMA NOVA SOCIEDADE E O

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