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4.1 Descrição do sistema produtivo

4.1.2 Região central mato-grossense

Esta região engloba as duas maiores microrregiões produtoras de arroz, Alto Teles Pires e Sinop. A microrregião de Sinop está, conforme já descrito, sendo agrupada na região Centro por apresentar características de produção semelhantes a de Alto Teles Pires, apesar de geograficamente estar mais ao norte do estado.

Os municípios incluídos nesta região central são: Cláudia, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Nova Ubiratã, Santa Carmem, Sinop, Sorriso, Tapurah e Vera. O arroz possivelmente deu origem ao nome do município de Sorriso.

A principal atividade econômica dessa região é a agricultura, destacando-se os cultivos da soja, milho, arroz, algodão e a pecuária; esta última sendo menos significativa.

78 A prática agronômica da rotação de cultura não é aplicada de maneira bem definida, pois a soja, principal atividade econômica, é cultivada na mesma área de três a seis anos. A partir da colheita da soja, o arroz é cultivado por um ano ou no máximo dois para quebrar a incidência de pragas e doenças; depois desse intervalo a soja volta a ser plantada. De maneira geral, observa-se a inexistência de rotação ou sua completa indefinição. O arroz é a cultura pioneira no desbravamento de novas áreas agrícolas e seu cultivo dura dois anos no máximo, seja em abertura de área ou rotação de cultura.

O cultivo do milho é feito em áreas próprias e também ocorre em safrinha após a colheita da soja. Neste último caso, a área cultivada com milho abrange de 15% a 30% da área da soja. Alguns produtores experimentaram o plantio do arroz em safrinha ao invés do milho, mas o risco de perda em decorrência de veranicos é maior do que no caso do milho. O cultivo do algodão é realizado em áreas próprias e é a cultura menos integrada à orizicultura no quesito de rotação, estando fortemente relacionada quanto à ocupação de área.

Visualiza-se na, Figura 13, a evolução da produção das quatro culturas em estudo na região central do Mato Grosso.

79 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 3.500.000 199 0 199 1 199 2 199 3 199 4 199 5 199 6 199 7 199 8 199 9 200 0 200 1 to n el ad as

algodão arroz milho soja

Figura 13 - Evolução da produção de algodão, arroz, milho e soja na região central do Mato Grosso.

Fonte: IBGE (2003d)

Percebe-se, na Figura 13, o grande crescimento da produção de soja ao longo da década de 90 até 2001, mas esta é a que menos cresce anualmente. A taxa anual de crescimento da produção de soja foi de 16,4%. Verificou-se crescimento da produção do algodão, do arroz e do milho no mesmo período. O arroz e o milho apresentaram comportamentos similares, com taxas de crescimento de 25,1% a.a. e 27,6% a.a., respectivamente. Apesar da produção de algodão ainda ser pequena, esta cresceu à taxa de 55,4% a.a.. A Figura 14 demonstra a evolução da produção das culturas do algodão, arroz, milho e da soja na forma de índice.

80 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 ín d ic e

algodão arroz milho soja

Figura 14 - Índice de produção das culturas na região central mato-grossense. Fonte: IBGE (2003d)

Percebe-se, pela Figura 14, o grande crescimento da produção do algodão na região central do Mato Grosso, apesar da produção dessa cultura ainda ser a menor dentre as quatro analisadas (Figura 13).

A Figura 15 demonstra a evolução da área plantada das quatro culturas de 1990 a 2001 na região central mato-grossense.

81 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 h ect ar es

algodão arroz milho soja

Figura 15 - Evolução da área de algodão, arroz, milho e soja na região central do Mato Grosso.

Fonte: IBGE (2003d)

O comportamento da área plantada (Figura 15) é semelhante ao comportamento da produção (Figura 13); as quatro culturas tiveram aumento de área. A área plantada com algodão aumentou 39,8% a.a. no período considerado. O arroz e o milho cresceram a taxas de 16,3% a.a. e 26,4% a.a., respectivamente, e a área cultivada com soja cresceu 12,2% ao ano. Visualiza-se na Figura 16 o comportamento da área plantada na forma de índice.

82 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 199 0 199 1 199 2 199 3 199 4 199 5 199 6 199 7 199 8 199 9 200 0 200 1 índi ce

algodão arroz milho soja

Figura 16 - Índice de área das culturas na região central mato-grossense. Fonte: IBGE (2003d)

Destaca-se, na Figura 16, o grande crescimento da área cultivada com soja no período, contudo esta é a cultura, dentre as consideradas no estudo, que ocupa menos área na região. A área com soja cresceu 4.763% no período e a cultura do milho foi a segunda que mais cresceu no período (1.381%).

Salienta-se novamente a dificuldade de se estimar os dados de produção e área das atuais microrregiões no período de 1980 a 1989, visto que algumas delas eram bem maiores, gerando, em alguns casos, uma superestimativa considerando a microrregião atual.

O cultivo no sistema de plantio direto é realizado apenas para a soja e o milho, mas seu uso ainda não é integral; estima-se que cerca de 75% da soja é plantada sob o sistema de plantio direto. As dificuldades do cultivo do arroz em plantio direto dizem respeito ao combate das ervas daninhas, pois conforme comentado anteriormente, os herbicidas de pós-emergência para o controle de ervas de folha estreita não tem sido

83 eficientes. A planta também apresenta problemas no desenvolvimento do sistema radicular. Ainda não há tecnologia disponível para contornar essas dificuldades.

Os produtores de arroz da região central do Mato Grosso podem ser caracterizados como esporádicos. Os principais motivos que levam o produtor a cultivar arroz em ordem de importância são: abertura de área (é uma planta pouco exigente ao preparo do solo, além da plataforma da colheitadora ser alta, facilitando a colheita em terrenos irregulares), recuperação dos pastos e rotação de cultura, para reduzir a incidência de pragas e doenças. Percebe-se com isto que o arroz ainda continua carregando o estigma de estar relacionado ao processo de desbravamento de novas fronteiras agrícolas.

Não há consenso entre os entrevistados quanto à duração do uso do arroz em abertura de área, pois alguns produtores acreditam que ainda existe muita área a ser aberta e que este ainda será o papel do arroz de terras altas, tendo um deles afirmado que o processo de abertura de área com arroz deverá ser mais intenso no futuro. Por outro lado, a maioria dos agentes entrevistados acredita que o maior motivo de se plantar arroz no Centro-Oeste (abertura de área) não será mais este, pois o processo de expansão de área não deverá ser intenso, devendo-se creditar o aumento da produção ao crescimento da produtividade. Em virtude disso, alguns produtores buscam maior profissionalização no cultivo do arroz, melhorando o manejo e os tratos culturais, fazendo melhor planejamento da produção, colhendo na época correta e com a umidade ideal.

O produtor toma a decisão sobre o tamanho da área a ser cultivada com arroz com base na área a ser aberta, na necessidade de rotação de cultura, na necessidade de recuperação dos pastos, com base nos preços da safra anterior, na disponibilidade de semente, nas expectativas de preços no momento da colheita, sendo este um reflexo do comportamento dos preços do ano agrícola anterior e, por último, nos preços dos insumos utilizados na sua produção e na de soja. Um produtor não concorda que o preço dos insumos do arroz são mais altos que os da soja e, em sua opinião, isso seria um dos últimos fatores a serem observados para a definição do tamanho da área a ser cultivada, pois o fator primordial é o retorno financeiro que a atividade pode proporcionar e as necessidades técnicas de cultivo.

84 A variedade mais cultivada na região centro mato-grossense é a Primavera, seguida da Cirad 141. Um fato observado foi que à medida que se caminha em direção ao norte do estado, muda progressivamente o percentual de uso das variedades. A Primavera vai perdendo espaço para a Cirad 141, que é mais rústica e resistente, sendo preferida pelos produtores daquela região, cuja atividade econômica predominante é a pecuária.

A participação das variedades na composição da área vem passando por mudanças ao longo do período, principalmente na década de 1990, quando foram lançadas novas variedades que reduziram a distância qualitativa e quantitativa entre o arroz irrigado e o de terras altas.

Na Tabela 12 identifica-se a participação das variedades de arroz utilizadas nas três últimas safras agrícolas no município de Sorriso. Dada a especificidade das informações, não é possível agrupar os municípios da região em uma única tabela. Salienta-se a dificuldade na obtenção das respostas de boa parte dos entrevistados devido à falta de informações sobre o assunto.

Tabela 12. Percentual das variedades cultivadas de arroz no município de Sorriso, nas safras 1999/00, 2000/01 e 2001/02.

Participação % na área cultivada Variedades 1999/2000 2000/2001 2001/2002 Primavera 30 35 35 Cirad 141 60 42 35 Sucupira - 5 10 Maravilha 10 15 10 Bonança - 3 10

Fonte: dados da pesquisa.

Sorriso é o município onde se utiliza o maior número de variedades. Percebe-se a redução no cultivo da Cirad 141 e a estabilidade relativa do uso da

85 Primavera e Maravilha; as variedades Sucupira e Bonança aumentaram sua participação na área plantada. Os principais problemas levantados foram que a cultivar Sucupira é bastante exigente em adubação e que a Primavera e Maravilha são susceptíveis às pragas e doenças. A Bonança tem seu grão classificado como longo, não satisfazendo parte do mercado consumidor, além de problema de maturação pós-colheita. A cultivar Cirad 141 vem perdendo espaço por causa da necessidade de tempo para atingir o ponto de maturação pós-colheita (90 dias).

A Tabela 13 demonstra a liderança da cultivar Cirad 141 em Sinop, mas esta vem perdendo espaço pelo mesmo motivo observado em Sorriso.

Tabela 13. Percentual das variedades cultivadas de arroz no município de Sinop, nas safras 1999/00, 2000/01 e 2001/02.

Participação % na área cultivada Variedades 1999/2000 2000/2001 2001/2002 Primavera 10 30 35 Cirad 141 75 45 45 Sucupira - 25 7 Maravilha - - 7 Bonança - - 6 Tolimã 15 - -

Fonte: dados da pesquisa.

Os relatos dos entrevistados quanto às variedades são os mesmos que foram descritos anteriormente. A diminuição do plantio da Sucupira deve-se ao seu grau de exigência tecnológica. A variedade Tolimã, que não é mais cultivada, citada como a menos indicada pelos produtores locais, pois é susceptível às pragas e doenças e perfilha muito.

Vários são os problemas que acometem a orizicultura no Mato Grosso, podendo-se citar as pragas e doenças e o atraso na época da colheita, pois quando esse

86 período coincide com o da soja, o arroz acaba sendo preterido. A grande heterogeneidade da produção em aspectos quantitativos e qualitativos constitui-se em um fator a ser superado e isto é decorrente do variado nível tecnológico empregado na cultura.

Contudo, os principais problemas citados residem na gestão empresarial deficiente por parte de muitos produtores. Alguns agentes comentaram que a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) do arroz é desestimulante, estando os produtores sujeitos às leis de mercado. Outro problema citado é a falta de bom conhecimento técnico para a cultura do arroz por parte de órgãos e empresas de assistência técnica.

O arroz produzido na região centro mato-grossense é comercializado, em sua maior parte, em Sinop pelos motivos já descritos anteriormente (possui bom parque agroindustrial); parte do arroz é destinada a Cuiabá e a atacadistas de outros estados (Goiás, Minas Gerais e estados do Nordeste). Verificou-se a venda do arroz em casca do Mato Grosso para atacadistas de São Paulo (Santa Cruz do Rio Pardo). Não foi possível quantificar o volume de arroz negociado aos diversos destinos pela ausência das informações ou por estas serem consideradas estratégicas para a empresa agrícola.

A comercialização do arroz é bastante diferente da soja, que tem os canais de comercialização mais desenvolvidos. A soja pode ser negociada em bolsas de mercadorias e futuros, possui mercado de CPRs4 mais consolidado, pode ser vendida de forma antecipada visando o financiamento da safra agrícola ou pode ser trocada por insumos.

Um grande problema encontrado na comercialização do arroz é a grande inadimplência; em decorrência disto, as vendas são efetuadas à vista e quando realizadas a prazo (10 a 30 dias), são feitas para atacadistas que têm credibilidade no mercado.

4 Cédula do Produto Rural – CPR.

87 Nos municípios de Nova Mutum e Lucas do Rio Verde há produtores que comercializam arroz de uma maneira nada convencional; esse sistema é chamado de arroz “verde” e consiste na venda do arroz ainda na planta antes de ser colhido. O produtor repassa para o comprador a responsabilidade da colheita, secagem e armazenamento. As vantagens dessa negociação para o comprador ainda são obscuras, devido aos riscos relativos à qualidade inerentes dessa compra. Pode existir vantagem em termos de custos, pois o preço negociado do “arroz verde” normalmente é menor que o do já colhido. Esse preço pode compensar o acréscimo nos custos de pós-colheita, principalmente se o comprador tiver secador e estrutura de armazenamento.

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