• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I -TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA (TCA) E

1.2. Região MAP

Situada no centro da Amazônia Sul-Ocidental, a região MAP10 concentra a maior diversidade biológica do planeta, além de uma extraordinária diversidade cultural. Composta de Estados/Departamento de três países amazônicos situados na Bacia do Rio Acre - Madre de Dios (PER), Acre (BRA) e Pando (BOL) – que compartilham suas riquezas naturais e possuem aspectos históricos, culturais, econômicos e políticos que se aproximam, resguardadas as diferenças e a soberania de cada país.

A região MAP pode ser considerada um espaço contínuo por força das características comuns, suas redes interfronteiriças e suas relações sociais. Assim, Oosten (2004) classifica esse conglomerado como uma “região-fronteira”, segundo ela

as regiões-fronteira ocorrem onde as fronteiras são fragilmente desenvolvidas, não estão completamente integradas ao território nacional

9 V. Anexo B.

e são, sobretudo, transitórias em natureza, com um caráter rapidamente mutável de uso do solo, bem como do perfil de seus habitantes.

Os Departamentos de Pando e Madre de Dios são os menos povoados da Bolívia e do Peru, respectivamente, enquanto que o Estado do Acre é o terceiro menos povoado do Brasil. Em comum ainda, a grande distância das unidades em relação ao poder central.

1.2.1. Estado do Acre

Situado na Amazônia brasileira, o Estado Federal do Acre é o maior dentre as três unidades da região MAP, com uma área de 164.221,36 Km2 e uma população

estimada em 557.000 habitantes, o Estado possui uma densidade demográfica de 0,3 habitantes por km2 (uma das menores do Brasil), sendo que mais da metade da população vive na capital – Rio Branco e em cidades menores do interior do Estado. Cerca de 16% da população é de origem indígena ou ribeirinha, e o restante da população rural vive da produção agrícola e agropecuária, como trabalhadores eventuais.

A formação populacional do Acre é marcada pelas miscigenações relacionadas aos vários processos de ocupação da região: dos povos nativos (pelo menos 14 etnias); dos nordestinos, que vieram nos ciclos da borracha (meados do século XIX e II Guerra Mundial) e dos sulistas, que vieram com a expansão dos projetos de colonização da Amazônia durante o regime militar, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, dentre outros com menor destaque como de negros e árabes.

As cidades acreanas têm uma base industrial incipiente, principalmente relacionada a produtos agro-florestais, sendo que a maior parte da população urbana trabalha ou na administração pública ou em serviços e no comércio informais. Cerca de 70% da população acreana vive nas cidades. Dentre as principais cidades acreanas, destacam-se, além da capital – Rio Branco – as cidades de Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Tarauacá, Feijó e aquelas situadas na região do Vale do Alto Acre - as quais são cortadas diretamente pela BR-317 (trecho acreano da Estrada do Pacífico) – Xapuri, Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil.

Ao longo de sua história, a economia do Acre foi caracterizada pela exportação com base extrativista (borracha, principalmente), o que causou muitas crises

econômicas decorrentes das mudanças na economia mundial. Atualmente, as atividades agropecuárias são muito fortes na economia acreana, que ainda é muito dependente dos recursos federais.

Em se tratando de recursos naturais, o Acre ainda detêm mais de 80% do seu território coberto pela floresta amazônica, sendo que quase a metade constitui-se de Unidades de Conservação, com grande potencial de biodiversidade, como é o caso do Parque Nacional da Serra do Divisor, uma das áreas de maior biodiversidade do planeta e a Reserva Extrativista Chico Mendes, um modelo inovador de unidade de conservação, baseado em características culturais das populações tradicionais. O Estado ainda possui um grande potencial hídrico, com três bacias principais: do Rio Acre, do Rio Purus e do Rio Juruá. Nos últimos anos, cogita-se a existência de petróleo e gás natural em território acreano.

1.2.2. Departamento de Madre de Dios

O Departamento de Madre de Dios, está situado na Amazônia Peruana, a qual incorpora a bacia da nascente andina oriental e sua selva Amazônica, sendo a de maior densidade demográfica dentre as “Amazônias” (ZAMUDIO, 2005). Nesse contexto, a região de Madre de Dios é uma das mais megadiversas do mundo (ARAGON, 2002) e está separada da região central do Peru pelos Andes.

Madre de Dios tem uma população aproximada de 114.000 habitantes e uma área de aproximadamente 85.000 km2, consistindo em um povoamento baixo (0,7 habitantes por km2) em relação ao restante do país.

Quase um terço (62%) de sua população reside em Puerto Maldonado e a taxa de urbanização do Departamento é inferior à média nacional (72%). Contudo, há de se ressaltar que 60% do território departamental é declarado reserva nacional, constituindo- se tais reservas florestais a base econômica da região, complementada com outras atividades extrativas como a coleta de castanha, exploração de ouro e petróleo.

Nos últimos anos, tem ocorrido um crescimento da agricultura, dominado pelos agricultores provenientes de terras altas. Boa parte da população ou está empregada em atividades informais ou na administração pública.

Em relação à população, atualmente 70% dela é composta por migrantes das terras altas, que têm grande influência na vida social, econômica e política da região. Em razão da construção da Estrada do Pacífico, cidades à sua margem como Ibéria e Iñapari têm ampliado seus contingentes populacionais.

1.2.3. Departamento de Pando

Situado em uma região isolada da Bolívia, o Departamento de Pando sempre foi tratado à luz do mito da riqueza amazônica como uma reserva de matérias- primas para as regiões centrais da Bolívia. Com uma área de aproximadamente 64.000 km2 e uma população de aproximadamente 52.000 habitantes, Pando é pouco povoado e tem em sua capital Cobija e em outros povoados, 40 % da população departamental, longe da média nacional de urbanização, que é de 62%.

Pando tem como base principal a economia florestal, uma vez que praticamente todo ele é coberto de florestas sendo que 67% pode ser considerado como apto à produção florestal, 18% para proteção e 15% para o uso agrosilvopastoril. (FUENTES et al, 2005, p. 97). O principal produto florestal e fonte de renda do departamento de Pando é a castanha, com uma forte inserção no mercado internacional. A exploração madeireira, o turismo e a borracha também vêm sendo incrementados. Esta última é extraída em pequenas quantidades, provavelmente porque o Estado do Acre instituiu um subsídio para este produto ao final da década de 90.

Já a produção agrícola é baixa e a produção pecuária concentrada em algumas localidades e é voltada sobretudo para o autoconsumo das famílias rurais. Cogita- se que cerca de 80% dos produtos consumidos em Cobija sejam provenientes do Brasil.

A economia ainda depende fortemente do comércio e dos serviços públicos. O setor empresarial é reduzido e o comércio cresceu com a transformação de Cobija em uma zona franca, o que tem proporcionado grande intercâmbio comercial com a população acreana, principalmente de Rio Branco, que realizam compras na capital pandina.

Uma fonte importante de emprego no departamento é o Estado, principalmente no setor de educação e saúde.

A partir deste primeiro capítulo, foi possível conhecer o Tratado de Cooperação Amazônica e a Região MAP, de modo a facilitar, não apenas o entendimento dos seus caracteres principais, como também da própria conexão entre ambos, de sorte que o TCA tem como objeto central a Região Amazônica e a Região MAP é uma microrregião amazônica situada na fronteira de três países signatários do Tratado.

Dessa forma, para um aprofundamento dessa conexão, faz-se mister compreender a questão da sustentabilidade amazônica e como ela se insere no contexto do TCA, o que será feito no próximo capítulo.

CAPÍTULO II -O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE AMAZÔNICA E O TCA

O presente capítulo tem como escopo essencial introduzir um importante tema no contexto do trabalho: a discussão sobre a sustentabilidade amazônica, relacionando-a ao próprio conteúdo discursivo do Tratado de Cooperação Amazônica, partindo-se do pressuposto de que este tem situado, sobretudo nas últimas décadas, tal debate como prioritário.

Nesse turno, é fundamental identificar as origens da chamada questão ambiental e de sua principal causa - a modernidade economicista – assim como compreender como esta se manifesta nos dias atuais, por meio do fenômeno da globalização neoliberal.

Do mesmo modo, no capítulo será desenvolvida uma análise acerca da sustentabilidade e sua denominação mais usual “desenvolvimento sustentável”, a partir de vários prismas e perspectivas teóricas, identificando-se seus principais elementos, seu caráter polissêmico, para enfim apresentar a noção de sustentabilidade adotada por este trabalho, na perspectiva teórica da racionalidade ambiental, proposta por Enrique Leff, com seus princípios e sua crítica ao mimetismo denotado pelo chamado “discurso do desenvolvimento sustentável”.

De outra parte, é de grande centralidade a compreensão da Amazônia, com sua diversidade e complexidade, seus mitos, seus projetos de desenvolvimento fracassados e suas microrregiões – como é o caso da região MAP. Assim, será possível debater a necessidade de um novo modelo para a região, baseado, não naqueles já implementados pela racionalidade moderna, mas em uma nova racionalidade ambiental, delineando-se estratégias específicas para uma transição em direção à sustentabilidade.

E por fim, será realizada uma análise do TCA, identificado como um Tratado Internacional Ambiental, no qual estão inseridos, tanto em seu texto original, como em suas resoluções e documentos, o debate acerca da sustentabilidade amazônica.

Documentos relacionados