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Região Metropolitana de Fortaleza

CAPÍTULO 3 – A “SUBNORMALIDADE” E A ADEQUAÇÃO DOS SERVIÇOS

3.1 Análise das Regiões Metropolitanas

3.1.2 Região Metropolitana de Fortaleza

A RM de Fortaleza, que era formada por quinze municípios em 2010, quais sejam: Aquiraz, Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza, Guaiúba, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Pacatuba, Pindoretama e São Gonçalo do Amarante, é a mais populosa da região Norte-Nordeste, com quase 4 milhões de habitantes naquele ano (CUNHA; BACELAR; STOCCO, 2018).

Conforme apresentamos no capítulo anterior, o modelo de Análise Discriminante dessa RM foi o que obteve o pior ajuste (com R2 canônico = 13% e percentual de classificação correta de todos os setores igual a 72,9%) dentre os nove modelos construídos. Isso significa que o conjunto de variáveis disponíveis para a análise explicava pouco as diferenças entre os setores comuns e subnormais. Além disso, na função discriminante construída, a inadequação dos serviços de água e esgoto tiveram uma relação negativa com a variável resposta, ou seja, o modelo indicava que quanto maior o número de domicílios com inadequação desses serviços no setor censitário, menor a chance de ele ser um setor subnormal. De toda

forma, as variáveis sobre o percentual de responsáveis não alfabetizados e de responsáveis com renda de até 2 salários mínimos foram decisivas na caracterização dos setores subnormais e na identificação dos setores similares.

O Mapa 3, a seguir, mostra a distribuição espacial dos tipos de setores censitários na RM de Fortaleza, em 2010:

MAPA 3 – Distribuição espacial dos setores censitários segundo tipo de setor – RM de Fortaleza – 2010

Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE (Censo Demográfico 2010).

A RM de Fortaleza foi a que apresentou a segunda maior quantidade relativa de domicílios em setores similares aos subnormais (21,8% dos domicílios, totalizando um percentual de 33,7% de domicílios em setores similares e subnormais). Em termos absolutos, Fortaleza e Caucaia concentravam o maior volume de domicílios em setores subnormais e similares, somando quase 261,9 mil domicílios (78,4% dos domicílios em setores desse tipo na RM) em áreas com indicadores habitacionais e, principalmente, socioeconômicos mais desfavoráveis comparados às áreas dos setores comuns.

Interessante notar que, enquanto os setores subnormais distribuíam-se no município de Fortaleza, nos municípios próximos, com exceção de Eusébio, e naqueles localizados na direção da capital para o interior do estado, os setores similares foram identificados por toda a RM cearense. Dentre os municípios onde não haviam sido identificados setores subnormais, localizados majoritariamente na parte sudeste da RM, Chorozinho, o segundo com menor população urbana da RM, foi o que apresentou a maior proporção de domicílios em setores similares (56,2%). Em Eusébio e São Gonçalo do Amarante, onde se concentram parte das elites regionais na RM (CUNHA; BACELAR; STOCCO, 2018), foram identificados, respectivamente, 20,4% e 31,1% de domicílios em setores similares.

Nos demais municípios, onde o IBGE já havia contabilizado setores subnormais, a quantidade de setores similares identificados com a Análise Discriminante foi sempre maior que o número de setores do primeiro tipo. Em Itatinga, Maracanaú e Pacatuba, que fazem divisa com a capital cearense, mas que estão mais distantes do litoral, o número de domicílios em setores similares foi entre 25 e 31 vezes o número de domicílios em setores subnormais. Maracanaú, que está entre os municípios com forte presença das elites regionais, foi o que apresentou menor percentual de domicílios em setores subnormais e similares (36,6%), enquanto nos outros dois essa proporção foi superior a 50% – 58,8% em Itaitinga e 72,2% em Pacatuba.

A Tabela 14, a seguir, apresenta a distribuição dos setores censitários por número de inadequações referentes aos serviços de água, esgoto, coleta de lixo e energia elétrica, para cada tipo de setor (total, subnormal, similar e comum).

TABELA 14 – Distribuição percentual (%) de setores censitários segundo o número de inadequações de serviços básicos de infraestrutura urbana para cada tipo de setor e total –

RM de Fortaleza – 2010

Número de inadequações

Total Subnormal Similar Comum n=4.230 n=551 n=1.020 n=2.659 Zero 24,0 14,7 22,6 26,5 Uma 32,5 30,9 29,0 34,2 Duas 22,6 30,9 20,7 21,6 Três 12,7 17,8 15,0 10,7 Quatro 8,2 5,8 12,6 7,0 Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Embora haja uma maior proporção de setores com nenhuma inadequação entre os setores comuns e um maior percentual de setores com 3 ou 4 inadequações entre os subnormais e similares, quando comparado àqueles, o volume de setores comuns com duas ou mais inadequações (1.045 setores, compostos por 264 mil domicílios e quase 919 mil pessoas) é superior à correspondente quantidade no caso dos setores subnormais e similares (793 setores, com 166,8 mil domicílios e aproximadamente 611,8 mil pessoas). Sendo assim, não podemos considerar que os setores comuns eram mais bem atendidos pelos serviços básicos de infraestrutura urbana que os demais setores nessa RM.

Dentre os serviços analisados, o esgotamento sanitário foi o que mais contribuiu para elevar os índices de inadequação dos setores, já que 56% deles tinham menos de 95% de seus domicílios atendidos por rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica.

O Mapa 4, adiante, mostra a intensidade da inadequação nos setores censitários para todos os setores da RM de Fortaleza e para os de tipo subnormal, similar e comum.

MAPA 4 – Distribuição espacial dos setores censitários segundo número de inadequações de serviços básicos de infraestrutura urbana por tipo de setor – RM de Fortaleza – 2010

Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE (Censo Demográfico 2010).

O Mapa 4(a) mostra um “clarão” sobre o município-sede da RM, que se estende aos municípios de Maracanaú e Pacatuba, simbolizando que nessas localidades as condições de infraestrutura urbana são as mais adequadas de toda a RM. De fato, tanto em Fortaleza como em Maracanaú 64,7% dos setores tinham nenhuma ou apenas 1 inadequação. Já em Pacatuba esse percentual foi de 78,9%.

A comparação dos Mapas 4(a) e 4(b) reforça o que acabamos de elucidar: que os setores subnormais, concentrados na Região Central da RM, sobretudo em Fortaleza, não são os mais precários em termos da inadequação dos serviços básicos de infraestrutura urbana analisados. Tampouco a inclusão dos setores similares (Mapa 4(c)) ao conjunto de setores subnormais seria suficiente para retratar a carência de adequação desses serviços na RM de Fortaleza, uma vez que o mapa dos setores comuns (Mapa 4(d)) exibe intensa presença de setores com tonalidade vermelho escuro, sobretudo nos municípios ao sul da capital cearense.

Portanto, temos que a necessidade de políticas públicas que visem a adequar as condições habitacionais da população, sobretudo em relação aos serviços de esgotamento sanitário e de distribuição de água, ultrapassa os limites dos setores subnormais bem como dos setores similares a estes nessa RM.