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O cão e a árvore também são inacabados, mas o homem se sabe inacabado e por isso se educa. Não haveria educação se o homem fosse um ser acabado. O homem pergunta-se : quem sou ? de onde venho ? onde posso estar ? O homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e, como pode fazer esta auto-reflexão, pode descobrir-se como um ser inacabado, que está em constante busca. Eis aqui a raiz da educação.

Paulo Freire, 1979

Neste capítulo, apresentamos a caracterização das regiões metropolitanas, particularmente aquela na qual o ABC paulista está integrado, o histórico da criação do Mova Santo André, o papel do sindicato dos metalúrgicos, seus protagonistas, como é o caso de Francisco Duarte (conhecido como Alemão), o porquê do período escolhido, o perfil dos sujeitos entrevistados, entre outros, demonstrando como suas ações e concepções estão, ou não, associadas, aos princípios educacionais de Freire.

Na construção dessa caracterização geral das regiões metropolitanas brasileiras e alguns aspectos de sua vulnerabilidade social, lançamos mão dos estudos realizados por J. L. S. Ross (1996), Bogus & Pasternak (2009),L. C. Q. Ribeiro (2009) entre outros autores; de dados fornecidos peloObservatório da Metrópole (2011) edo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. Também pudemos nos valer das informações fornecidas pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. (EMPLASA), com o objetivo de localizar política, econômica e socialmente o sujeito social de nossa pesquisa, assim como o terreno pelo qual palmilha suas tardias incursões educacionais.

A região metropolitana de São Paulo é resultado do processo de conurbação das cidades no em torno da capital paulista. O fenômeno urbano é um fato contundente nos dias atuais. As zonas rurais, que antes eram tão habitadas quanto as zonas urbanas, têm hoje uma população numericamente bem inferior à das cidades. O processo de

conurbação se deu no Brasil a partir dos anos 1950, motivado pela aceleração da industrialização do Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek.

As denominadas “metrópoles” são áreas formadas a partir de uma “cidade-mãe” que, em seu crescimento, se expande para fora de seus limites territoriais, ocorrendo uma integração entre várias cidades, numa vasta mancha urbana. Historicamente, os fatores de formação dessas áreas são os setores industriais (secundário) e de serviços (terciário). A maior metrópole brasileira, São Paulo, comporta também uma grande região metropolitana. E o fator preponderante nessas áreas é o populacional, ou seja, o seu crescimento demográfico marca a sua expansão.

No caso da região metropolitana de São Paulo, conforme J. L. S. Ross (1996, p. 377), em Geografia do Brasil, sua tendência atual é de desconcentração espacial da indústria e de serviços que ocorre desde as décadas de 1970 e 1980, enquanto outras regiões metropolitanas do país crescem vertiginosamente, como é o caso do sul e do nordeste.

Crescimento Populacional das regiões metropolitanas em relação ao Estado da federação (%) 1980-91

Fonte: ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil, São Paulo, EDUSP, 1996, p. 431.

As regiões metropolitanas são, respectivamente, São Paulo (1), Rio de Janeiro (2), Porto Alegre (3), Salvador (4), Fortaleza (5) e Curitiba (6).

Ainda, segundo Ross, as regiões passaram a preocupar as autoridades devido ao adensamento populacional e à concentração de atividades econômicas, com o consequente aumento das demandas por infraestrutura como saneamento básico energia, saúde, educação e habitação, gerando, em todas elas, situações de precariedade. Além dessas preocupações, também a insatisfação popular parece ter motivado os governos militares a estabelecerem, na década de 1970, regiões metropolitanas legalmente definidas, como forma de dar atenção especial a elas, sobretudo para que fosse superada a descentralização administrativa, principalmente na solução de problemas que envolviam as cidades da área de conurbação, como vias de comunicação e transporte.

Assim, de acordo com os dados fornecidos pelo IBGE (2009), os municípios definidos são:

ARUJÁ São Paulo lei complementar federal 014 08.06.1973

BARUERI lei complementar federal 014 08.06.1973

BIRITIBA-MIRIM lei complementar federal 014 08.06.1973

CAIEIRAS lei complementar federal 014 08.06.1973

CAJAMAR lei complementar federal 014 08.06.1973

CARAPICUÍBA lei complementar federal 014 08.06.1973

COTIA lei complementar federal 014 08.06.1973

DIADEMA lei complementar federal 014 08.06.1973

EMBU lei complementar federal 014 08.06.1973

EMBU-GUACU lei complementar federal 014 08.06.1973

FERRAZ DE VASCONCELOS lei complementar federal 014 08.06.1973

FRANCISCO MORATO lei complementar federal 014 08.06.1973

FRANCO DA ROCHA lei complementar federal 014 08.06.1973

GUARAREMA lei complementar federal 014 08.06.1973

GUARULHOS lei complementar federal 014 08.06.1973

ITAPECERICA DA SERRA lei complementar federal 014 08.06.1973

ITAQUAQUECETUBA lei complementar federal 014 08.06.1973

JANDIRA lei complementar federal 014 08.06.1973

JUQUITIBA lei complementar federal 014 08.06.1973

MAIRIPORÃ lei complementar federal 014 08.06.1973

MAUÁ lei complementar federal 014 08.06.1973

MOJI DAS CRUZES lei complementar federal 014 08.06.1973

OSASCO lei complementar federal 014 08.06.1973

PIRAPORA DO BOM JESUS lei complementar federal 014 08.06.1973

POÁ lei complementar federal 014 08.06.1973

RIBEIRÃO PIRES lei complementar federal 014 08.06.1973

RIO GRANDE DA SERRA lei complementar federal 014 08.06.1973

SALESÓPOLIS lei complementar federal 014 08.06.1973

SANTA ISABEL lei complementar federal 014 08.06.1973

SANTANA DE PARNAÍBA lei complementar federal 014 08.06.1973

SANTO ANDRÉ lei complementar federal 014 08.06.1973

SÃO BERNARDO DO CAMPO lei complementar federal 014 08.06.1973

SÃO CAETANO DO SUL lei complementar federal 014 08.06.1973

SÃO LOURENÇO DA SERRA instalação do município 01.01.1993

SÃO PAULO lei complementar federal 014 08.06.1973

SUZANO lei complementar federal 014 08.06.1973

TABOÃO DA SERRA lei complementar federal 014 08.06.1973

VARGEM GRANDE PAULISTA lei complementar 332 21.11.1983

Fonte: IBGE. (2009)

Reconhecida, portanto, pelos organismos estatais, pela Lei complementar número 14, de 08 de junho de 1973, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é constituída pelo município de São Paulo e mais 38 municípios que se agrupam em torno da Capital do Estado e são diretamente por ela polarizados.

Os 39 Municípios que integram a Região Metropolitana de São Paulo ocupam uma área de 8.051 km2 e concentravam, em 2000, cerca de 48% da população de todo o Estado, reunindo um total de 17.878.703 habitantes. Hoje, com os dados recentes do Censo 2010, expostos na Tabela a seguir, esses números aumentaram substancialmente.

Brasil: População segundo as divisões territoriais – 1991, 2000 e 2010  Brasil, metrópoles e demais municípios  Belém      1.401.306       1.795.536      2.040.843  Belo Horizonte       3.522.908      4.357.942      4.882.977  Campinas       1.866.022       2.338.148       2.798.477  Curitiba      2.101.680      2.768.394      3.168.980  Florianópolis       530.619      709.407       877.706  Fortaleza      2.401.539      2.984.689      3.525.564  Goiânia      1.259.545      1.672.589      2.091.335  Grande Vitória       1.136.841      1.438.596      1.685.384  Manaus       1.134.988      1.572.137      2.021.722  Porto Alegre      3.230.732       3.718.778      3.960.068  Recife      2.919.980       3.337.565      3.688.428  RIDE  DF       2.161.708       2.958.196       3.716.996  Rio de Janeiro      9.637.049      10.710.515      11.602.070  Salvador       2.435.810      2.940.122       3.353.704  São Paulo      15.444.942      17.878.703      19.672.582  15 Metrópoles      51.185.669       61.181.317      69.086.836  Demais Municípios       95.630.146       108.617.853      121.645.858        Brasil       146.815.815       169.799.170       190.732.694 

Fonte: Observatório da Metrópole, disponível em www.observatoriodasmetropoles.net. Acesso em 12-05-2011.

Segundo nos explicam Bogus & Pasternak (2009, p. 6), a formação da RMSP iniciou-se ao longo dos eixos da Estrada de Ferro Santos Jundiaí e da Estrada de Ferro Sorocabana. Isso veio propiciar o início da integração num contínuo urbano de áreas pertencentes, além de São Paulo, aos municípios de Osasco, São Caetano do Sul e Santo André. Paralelamente, municípios situados a leste da área metropolitana tiveram suas áreas urbanas conurbadas com as do município de São Paulo, ao longo do eixo da Estrada de Ferro Central do Brasil, muitos dos quais se transformaram em municípios- dormitório.

De 1960 a 1980 houve a estruturação de blocos de atividades industriais, liderados, principalmente, pelo desenvolvimento da indústria automobilística, que reforçou as concentrações industriais ao longo da Via Anchieta e na Região do ABC, na área que reúne os municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul.

Atualmente, como já mencionado, “a região metropolitana passa à desconcentração das atividades industriais e da população – já iniciada em meados dos anos 1970 – à reestruturação das atividades econômicas, à inserção do país no contexto da globalização, e ao crescimento das atividades terciárias.” (BOGUS & PASTERNAK, 2009, p, 7 - 9)

Fonte: Boletim do Observatório das Metrópoles, 2010

Do ponto de vista da governança da RMSP, sua área pode ser dividida nas subregiões:

1. Nordeste, composta pelos municípios de Arujá, Guarulhos e Santa Isabel.

2. A Norte é integrada pelos municípios de Caieiras, Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mariporã.

3. A região Oeste é integrada pelos municípios de Barueri, Carapicuiba, Cotia, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista.

4. A Sudoeste está integrada por Embu, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra, São Lourenço da Serra, Juquitiba, Taboão da Serra.

5. A Sudeste, ou seja, a Região do Grande ABC, compreende, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Santo André, São Bernardo do Campo, e São Caetano do Sul.

6. A região Leste tem como partes integrantes os municípios de Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Itaquacetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis e Suzano. (BOGUS & PASTERNAK, 2009, p. 209)

Um estudo de 2009, baseado em dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD de 2003 para taxa de pobreza e renda, associados à oferta de condições mínimas de abastecimento de água e saneamento, com as informações do Censo de 2000, classificou a RMSP segundo a condição social. Observando os resultados, verifica-se a condição social ruim em municípios da subregião sudoeste, do extremo leste – Guararema, Biritiba Mirim e Salesópolis – e 2 municípios da subregião norte: Mairiporã e Francisco Morato. As subregiões oeste e leste apresentam condição média, e para a sudeste, sobretudo o ABCD, condição social avaliada como boa, ou seja, a oferta de saneamento e renda domiciliar – cujo marco é o valor de meio salário mínimo per capita – representadas por uma estrutura de abastecimento de água, esgoto

e coleta de lixo, assim como soma dos salários por domicílio superando meio salário mínimo.

Região Metropolitana de São Paulo segundo a condição social

(RIBEIRO, L. C. Q. (org.) Hierarquização e identificação dos espaços urbanos, Rio de Janeiro, Letra Capital-Observatório das Metrópoles, 2009, p. 141)

Os municípios com maior concentração de pobreza, até 2004, eram Francisco Morato e Itaquaquecetuba – ambos classificados com concentração alta, ou seja, com mais de 30 a 40% de pobres – e, de modo geral, as subregiões apresentavam concentração média – de 20 a 30% de população pobre – e média baixa – de 10 a 20% da população pobre. (GONÇALVES & SARAIVA, 2007, p. 86 - 95)

RMSP segundo a concentração de pobreza

(GONÇALVES, Renata & SARAIVA, Camila. “Vulnerabilidade social, segregação urbana e desigualdades intra-regionais (Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo)”. (2007, p. 93. Editora centro de estudos da metrópole, 2007)

O conceito de vulnerabilidade social baseia-se numa composição cruzada de vários indicadores. Ele classifica a população – famílias, domicílios – em grupos de vulnerabilidade. Grosso modo, vulnerável – de alta ou altíssima vulnerabilidade – é aquela população cuja renda familiar, especialmente do chefe da família, é baixa, com baixa taxa de escolaridade e grande número de dependentes – filhos em idade infantil ou muito jovens. A situação inversa marca a vulnerabilidade baixa, baixíssima ou nula, ou seja, famílias de alto nível socioeconômico, tendo, assim, elevados níveis de renda e escolaridade, com nenhum ou reduzido número de dependentes ou componentes

familiares jovens. Quando são detectadas áreas de alta vulnerabilidade, trata-se de grupos sociais compostos de famílias de baixas renda e escolaridade, geralmente com muitos filhos e cujo chefe é jovem – como jovens que compõem famílias oriundas do não planejamento familiar e da gravidez precoce.

Destacam-se no nível de altíssima vulnerabilidade os municípios das subregiões leste, extremos sul e sudoeste; no nível de alta vulnerabilidade social estão as subregiões norte e sudoeste.

Vulnerabilidade Social na RMSP

(DESCHAMPS, Marley Vanice. Vulnerabilidade sócio-ambiental das regiões metropolitanas brasileiras, Rio de Janeiro, Letra Capital-Observatório das Metrópoles, 2009, p. 27)

Conforme nos alerta Marley Vanice Deschamps, em seu trabalho

Vulnerabilidade sócio-ambiental das regiões metropolitanas brasileiras (2009), no tocante, portanto, a um panorama da RMSP, merecem atenção como áreas de nível socioeconômico precário os municípios das subregiões sul e sudoeste, leste e norte, com destaque para Francisco Morato e Itaquaquecetuba. Em sentido inverso, além dos municípios imediatamente fronteiriços com a capital, a sub-região oeste e o ABCD apresentam níveis considerados bons e, em alguns casos, altos – casos de São Bernardo

do Campo e São Caetano do Sul, este último, como se sabe, com um dos maiores Índices de desenvolvimento humano (IDHs) do país, superando grandes cidades.

A distribuição de médicos por mil habitantes mostra que, em 2000, o número não ultrapassava 3 (três), podendo evidenciar um déficit no equipamento de saúde.

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, disponível em www.pnud.org.br, acesso em 17-05- 2011

Algumas subregiões caracterizam-se como apresentando maior precariedade de acesso aos bens e serviços públicos e em situação de risco pessoal e social. A situação de déficits na saúde, que não será aqui aprofundada pelo fato de não ser o foco deste dossiê, é mais ou menos generalizada em termos de carência de políticas públicas, porém agravada nessas subregiões vulneráveis.

No tocante à disponibilidade de serviços públicos, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU), o fornecimento de água encanada, energia elétrica e coleta de lixo já atingiu mais de 80% da população da RMSP. Ainda segundo o PNUD, o número de crianças entre 7 e 14 anos de idade que está fora da

escola não ultrapassa 7% para alguns municípios – Biritiba Mirim, Juquitiba e São Lourenço da Serra, estando a maioria entre os 2 e 3%.

Assim, e com base na consulta a esses documentos oficiais, embora haja índices satisfatórios de saneamento, fornecimento de energia elétrica e educação, relativamente, por exemplo, a outras regiões metropolitanas como a de Salvador, a RMSP que abriga a maior cidade brasileira e uma das maiores do mundo, São Paulo, faz subir a média de seus indicadores, com níveis de alta vulnerabilidade e, como de resto em todo o país, a educação, aprensenta como desafio problemas de permanência na escola e de qualidade da educação pública, tendo no analfabetismo funcional um alvo privilegiado para as políticas públicas. Além desse quadro, um ponto nevrálgico de qualquer região metropolitana está nos déficits habitacionais e na ocupação desordenada, que gera áreas de risco.

Outro fator que não coloca a RMSP numa situação ainda mais grave nestes itens é o fato de ela não estar mais se expandindo, comparativamente a outras, como mencionado antes. As taxas de expansão e crescimento populacional têm se mantido estáveis, o que diminui a pressão nos déficits. Grosso modo, merecem destaque como melhores áreas da Grande São Paulo o ABCD, havendo maior precariedade em Francisco Morato, Itaquaquecetuba e em municípios da subregião sudoeste.

Quando se analisa o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) 2009, como o fez Mauro Osório (2010), da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, para cidades com mais de 50 mil habitantes, apenas tomando-se as regiões metropolitanas, verificam-se as coincidências de esses municípios de condição social mais precária e maior vulnerabilidade apresentarem os piores índices educacionais.

IDEB 2009 nas Regiões Metropolitanas – RJ e SP – Piores Resultados

UF CIDADE IDEB 2009 RJ BELFORD ROXO (RMRJ) 3,6 RJ MAGE (RMRJ) 3,6 RJ DUQUE DE CAXIAS (RMRJ) 3,7 RJ NILOPOLIS (RMRJ) 3,7 RJ SEROPEDICA (RMRJ) 3,7 RJ QUEIMADOS (RMRJ) 3,8 RJ SÃO GONCALO (RMRJ) 3,8 RJ NOVA IGUACU (RMRJ) 3,9

RJ SÃO JOAO DE MERITI (RMRJ) 3,9

RJ GUAPIMIRIM (RMRJ) 4,0 RJ ITABORAI (RMRJ) 4,1 RJ JAPERI (RMRJ) 4,1 RJ MESQUITA (RMRJ) 4,1 RJ NITEROI (RMRJ) 4,3 SP ITAQUAQUECETUBA (RMSP) 4,5 SP FERRAZ DE VASCONCELOS (RMSP) 4,5 SP FRANCISCO MORATO (RMSP) 4,7 SP JANDIRA (RMSP) 4,7

Elaboração: Mauro Osório – Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, 2010

3.1 A Região do Grande ABC

Região tradicionalmente industrial do Estado de São Paulo, faz parte da região metropolitana de São Paulo, embora possua identidade própria. Inicialmente a sigla vem das três cidades, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul; entretanto, também fazem parte da região, embora não contribuam com a sigla, as cidades de Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Diadema.

Esses sete municípios somados perfazem uma área de 825 Km², com uma população de mais de 2,5 milhões de habitantes. A região do ABC Paulista, é marcada, historicamente, por ser o primeiro centro da indústria automobilística do Brasil, sede de várias montadoras como Mercedes-Benz, Ford, Volkswagen e General Motors, entre outras. Aliado a isso, outro setor que cresce significativamente é o de serviços.

A presença de indústrias desse porte, entre outros fatores, acabou por transformar a região no berço do movimento sindical contemporâneo do Brasil. As greves dos operários metalúrgicos marcaram o final da década de 1970 e resultariam na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no início da década seguinte. Essa força mobilizadora dos operários, concentrada numa só região, atingiu dimensões gigantescas e repercussão nacional, pelos movimentos de defesa dos direitos dos trabalhadores, vindo a marcar a história política brasileira e lançando nomes de destaque como o ex-líder sindical e ex- presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Na época de crescimento da indústria metalúrgica, os sindicatos tiveram um caráter combativo, hoje, acabaram assumindo um papel que vai além das reivindicações trabalhistas, como parcerias com redes de planos de saúde, colônia de férias e atendimento jurídico. A partir da década de 1980, a região deixou de ser um polo de atração de migrantes. Contudo, apesar da diminuição do seu número de indústrias, o ABC ainda não deixou de ocupar um lugar de destaque como um dos polos industriais mais importantes do país.

Vale ressaltar que seis dos seus sete municípios possuem renda per capita bem superior à média brasileira. Apesar de trazerem uma ideia de unidade, essa região é composta por municípios muito diferentes e até desiguais. E embora sejam altas as taxas de analfabetismo, há parcerias com sindicatos, empresas e outras organizações da sociedade civil, para a elaboração de programas e projetos destinados à alfabetização de jovens e adultos. Com exceção das salas de alfabetização do MOVA, que ocupam espaços cedidos pelas instituições da sociedade civil e utilizam monitores oriundos da comunidade, os demais programas ocupam as escolas das redes municipais.

3.2 O que é o MOVA

Criado na cidade de São Paulo durante a gestão de Luíza Erundina, como Prefeita e de Paulo Freire como Secretário de Educação, no período de 1989 a 1992, o

Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA) foi uma parceria entre o governo municipal e os grupos sociais. Para que essa parceria se concretizasse, alguns critérios foram estabelecidos: os grupos se constituíram em entidades com personalidade jurídica, sem fins lucrativos; participaram do Fórum Municipal de Alfabetização de Jovens e Adultos e do processo de formação permanente junto ao coletivo dos educadores do projeto MOVA-SP. O nome escolhido, “movimento”, dá o sentido de mobilização e engajamento dos setores organizados da sociedade, de apoio aos grupos que já desenvolviam um trabalho de educação de jovens e de adultos.

A experiência do MOVA-SP serviu de inspiração para muitos outros que foram se constituindo ao longo desses anos. Cada programa se apropriou da proposta político- pedagógica, da estrutura e funcionamento do MOVA, de 1989 a 1992, e construiu a sua própria identidade, sem contudo, abandonar seus princípios norteadores, ou seja, a educação popular libertadora.

3.3 Origens do MOVA ABC

O Movimento de Alfabetização Regional do ABC foi uma iniciativa das prefeituras das cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, e das suas respectivas Câmaras Municipais, em parceria com empresários, sindicatos, igrejas, movimentos populares, universidades, faculdades, escolas e outras entidades ou grupos organizados da sociedade. As aulas são ministradas por educadores populares, selecionados a partir de critérios estabelecidos pelas autoridades municipais em conjunto. Esses educadores, que recebem apenas uma ajuda de custo, trabalham em caráter voluntário. As prefeituras, por intermédio das respectivas equipes técnico-pedagógicas das suas secretarias de educação, realizam a capacitação dos educadores e estes, por sua vez, comprometem-se com o processo formativo permanente, participando de reuniões semanais de capacitação.

Para definir as diretrizes do MOVA Regional constitui-se no início de 1998, constituiu-se o Fórum Regional de Alfabetização, composto por representantes dos MOVAs locais, sob a coordenação e assessoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Nos anos seguintes, após a realização de três seminários regionais e do o 2º Encontro Nacional de MOVAs, em 2002, o MOVA Regional decidiu pela criação de uma

personalidade jurídica, que veio a se concretizar no ano de 2003, a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) do MOVA ABC.

No início de 1997, com a posse das administrações recém-eleitas, iniciou-se um amplo processo de discussão dos problemas comuns, o que culminou com a criação da Câmara Regional do Grande ABC, que vem se consolidando como experiência inédita de convergência entre sujeitos sociais diferentes – poder público municipal e estadual, entidades da sociedade civil, sindicatos de trabalhadores, associações empresariais, ONGs, igrejas, movimentos sociais, na busca de soluções urgentes e eficazes para os problemas estruturais vividos por essa região.

A Câmara Regional do Grande ABC constituiu grupos de trabalho com o objetivo de identificar os problemas e propor soluções. Participando do grupo de

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