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2. A pesquisa florestal na Embrapa

2.3 Período do Programa Nacional de Pesquisa

2.3.5 Resultados de maior impacto

2.3.5.1 Região Nordeste

2.3.5.1.1 Sistemas agroflorestais para a Região Nordeste

como formas de utilização do solo que melhor atendem à manutenção da produtividade e interesses sociais. Possibilitam a produção de madeira e alimentos, sendo ambientalmente mais recomendados. A região semi-árida brasileira caracteriza-se por apresentar solos frágeis, de baixa fertilidade, e grande pressão sobre os recursos naturais. A exploração dos recursos florestais de forma extrativista, intensiva e imediatista, tem concorrido para a degradação da vegetação, comprometendo o precário equilíbrio ecológico.

Dados estatísticos mostram que, nessa região, a agricultura de sequeiro é de alto risco, a probabilidade de sucesso desse tipo de agricultura (dependente de chuvas) é de 3/10, ou seja, três anos de sucesso em cada dez possíveis, evidenciando a necessidade da

diversificação e tecnificação da agropecuária.

O consórcio envolvendo espécies florestais e culturas agrícolas foi testado várias vezes, mostrando-se inviável, principalmente em função dos precários rendimentos das culturas agrícolas, face às irregularidades climáticas. No entanto, entre as prática agroflorestais, os sistemas silvipastoris mostraram-se mais viáveis, permitindo utilizar a capacidade produtiva do solo, assegurando ao produtor maior estabilidade socioeconômica.

Nos sistemas agroflorestais, as árvores têm outra importante função. Além da produção de madeira, frutos ou forragem, também podem ser usadas para cercas vivas, quebra-ventos, suporte à apicultura e usos diversos na propriedade.

As cercas vivas, em particular, não são encontradas com muita freqüência no semi-árido brasileiro, embora se apresentem como uma técnica agroflorestal importante, em razão da escassez natural de madeira para construção das cercas de arame (tipo mais comum na região) e, também, pelos seus altos custos.

Nas áreas irrigadas, a utilização de quebra-ventos mostrou-se como uma excelente

alternativa para minimizar os efeitos indesejáveis da ação dos ventos, que são constantes na região. Esses sistemas de proteção evitam que as culturas sejam prejudicadas pelo vento, impedem a erosão eólica do solo e contribuem para reduzir a evapotranspiração.

A) Comportamento da algaroba e do capim-búfel em plantio consorciado

O emprego de leguminosas arbóreas em reflorestamentos, visando à produção de madeira e forragem, constitui importante alternativa econômica e social para a região semi-árida.

Pesquisas desenvolvidas no CPATSA demonstraram que a algaroba (Prosopis juliflora) é sensível à competição, principalmente por água, quando associada ao capim-bufél (Cenchrus ciliaris) em áreas de pastagem já estabelecida.

Avaliando-se, também, o grau de danos causados por bovinos à algaroba, após sua implantação em área de capim-bufél sob pastejo, ficou evidenciado que esta espécie tem pouca aceitabilidade por esses animais, como forragem verde. A redução verificada na população original de 88 % de árvores vivas (aos três meses de idade) para 38 % (aos nove meses) foi atribuída, principalmente, ao pisoteio dos animais.

Entretanto, verificaram-se tendências positivas de que a algaroba pode melhorar a qualidade de pastagens de capim-bufél em termos de proteína bruta, em razão da maior concentração de nitrogênio encontrada na fitomassa do capim quando foi consorciado com essa leguminosa.

Assim, visando estabelecer um sistema silvipastoril envolvendo essas duas espécies, é recomendável que o plantio da algaroba seja feito com antecedência de dois a três anos ao semeio do capim bufél, para garantir um bom desenvolvimento inicial da espécie arbórea. Também é aconselhável que se evite o acesso de animais na área de plantio, pelo menos nessa fase.

B) Seleção de espécies arbóreas potenciais para sistemas agrossilvipastoris

Foram testadas 23 espécies e 172 procedências do gênero Eucalyptus nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia. Nas condições semi-áridas, constatou-se que as espécies E. camaldulensis e E. tereticornis se destacaram das demais, com um rendimento médio de 70 m3/ha, aos sete anos de idade, o que corresponde a uma produtividade quatro vezes maior que a da vegetação nativa. Ressaltaram-se, também na mesma região, as espécies dos gêneros algaroba (Prosopis), leucena (Leucaena), sabiá (Mimosa) e gliricídia (Gliricidia), pelo bom desempenho e por serem árvores de múltiplo uso (lenha, carvão, estacas, forragem, cercas vivas, quebra-ventos, fixação de nitrogênio, sombreamento, etc.),

C) Sombreamento da palma forrageira pela algaroba

Na região semi-árida, o consórcio de algaroba (P. juliflora) com palma-forrageira (Opuntia

ficus-indica) é uma prática bastante difundida entre pequenos e médios proprietários rurais,

e tem possibilitado a esses produtores, menores dificuldades para manter seus rebanhos nas épocas secas. A palma-forrageira, uma cactácea usada como volumoso na época seca, é rica em água (mais de 90 %), mucilagem e sais minerais, mas pobre em proteínas.

O sombreamento da palma-forrageira pela algarobeira não reduz a produção de matéria seca da cactácea. No consórcio destas espécies, o agricultor tem a possibilidade de aumentar a sua renda através da obtenção de madeira e vagens da algarobeira.

D) Consórcio de eucalipto com gramíneas forrageiras

Estudo realizado pelo CPATSA/Embrapa, com o objetivo de verificar a viabilidade técnica e econômica de um consórcio envolvendo E. camaldulensis com gramíneas forrageiras

adaptadas à região, tais como: capim-urochloa (Urochloa mosambicensis), capim-bufél (C.ciliaris) e sabi-panic (Pannicum maximum), tem mostrado bons resultados. O plantio de eucalipto, com oito anos de idade, após ter sido invadido de forma natural pelas gramíneas, teve parte de sua área (0,75 ha) cercada para o estudo. A avaliação da cobertura do

estrato herbáceo mostrou uma ocupação de 63 % da área com gramíneas, sendo

representadas por capim-urochloa (90 %), bufél e sabi panic (10 %), com uma média de 8,75 % de proteína bruta.

Os animais, novilhas com 30 meses de idade e 230 kg de peso vivo inicial, permaneceram na área por um período de três meses, numa taxa de lotação de 2,7 animais/ha. Os

resultados preliminares mostraram, ao final do período, um incremento médio de 57 kg por animal, correspondendo a 600 g/animal.dia. Estes valores estiveram acima da média (500 g) obtida para outros animais com as mesmas características e igual período, em pastagens de capim-bufél, que é a mais cultivada na região.

E) Utilização de quebra-ventos

A implantação dos perímetros irrigados, na região do Vale do Submédio São Francisco, pela sua peculiaridade, tem causado alguns problemas de ordem ecológica. As áreas anteriormente cobertas pela vegetação nativa deram lugar aos plantios comerciais de culturas agrícolas diversas (tomate, melancia, uva, feijão, melão, manga, goiaba, banana e cebola) em áreas contínuas de irrigação, as quais ficam mais expostas, sem a proteção que a vegetação oferecia. Os ventos, no período seco, entre os meses de julho a outubro, chegam a atingir uma velocidade superior a 250 km/h, causando sérios prejuízos à agricultura.

A utilização de barreiras quebra-ventos é uma alternativa para minimizar esses efeitos indesejáveis e promover o aumento da produtividade agrícola. Nos municípios de Petrolina, PE, e Juazeiro, BA, foram instalados quatro quebra-ventos, utilizando-se E. Tereticornis, em função da sua boa adaptação à região e da sua arquitetura (possui suficiente massa foliar e distribuição uniforme dos galhos ao longo do fuste). Aos 17 meses de idade, foi observado uma altura média de 7,4 m e diâmetro médio de 7,5 cm, para duas fileiras de eucalipto plantado no espaçamento de 2,5 m entre plantas e 1,25 m entre fileiras. É importante ressaltar a excelente performance do eucalipto nessas condições, chegando a uma produtividade média de 50 m3/ha.ano. Estes resultados abrem uma nova perspectiva de receita econômica através da exploração florestal nas áreas irrigadas. Os

reflorestamentos feitos em faixas estreitas, com quatro a cinco fileiras de eucalipto, além de serem usadas como barreiras quebra-vento, poderão ser manejados para a produção de madeira.

O uso de quebra-ventos com espécies arbóreas diminui a ação prejudicial dos ventos sobre a produção agrícola, proporcionando um período maior de disponibilidade de água no solo, podendo ainda oferecer alternativas na diversificação da produção. Resultados obtidos pela Empresa Agropecuária do Ceará-EPACE, em Quixadá, CE, mostrou a viabilidade do

emprego de espécies nativas da Caatinga na formação destes quebra-ventos, e reduziu a velocidade do vento de 77 % a 94 %. A evaporação da água do solo, medida em tanque classe A, foi reduzida de 2,2 mm para 0,5 mm, e o teor de água disponível no solo

aumentou 5,3 %. Contribuiu, ainda, para o impedimento da erosão além de disponibilizar madeira para usos agrícolas. O uso de barreiras arbóreas arranjadas com as espécies

leucena, algaroba e eucalipto, também localizadas em Quixadá, CE (EPACE), visando à proteção de áreas cultivadas com feijão caupi, promoveu aumentos de 20 % na produção, em anos secos, e de 40 %, em ano com precipitação pluviométrica normal.

2.3.5.1.2 Melhoramento florestal

A) Introdução de novas espécies de Prosopis

Com o apoio financeiro do International Development Research Centre (IDRC), Canadá, foi desenvolvido um estudo cujos objetivos foram ampliar a base genética de P. Juliflora, identificar outras espécies adaptáveis à região semi-árida do Nordeste e desenvolver técnicas para a propagação vegetativa do material genético superior selecionado. Assim, foram introduzidas 23 procedências de 15 espécies de Prosopis, pelo CPATSA, incluindo duas variedades de P. glandulosa e duas de P. alba. Destacaram-se, entre as espécies introduzidas, P. affinis, P. pallida, P. juliflora, P. cineraria e P. velutina, com excelente performance e ampla possibilidade de aumentar, significativamente, a produção de madeira e forragem na Região Nordeste do Brasil. Para ampliação da base genética de P. juliflora, foram introduzidas procedências de Honduras, México e Senegal. Deve-se destacar que todas estas espécies, com exceção da P. juliflora, foram introduzidas pela primeira vez no Brasil, através deste projeto.

Foram selecionadas 180 árvores de P. juliflora, nas localidades de Serra Talhada,

Petrolândia, Brumado, Petrolina, Angicos e Camalaú, tendo sido colhidas sementes para a implantação de testes de progênies. Nestes testes foram selecionadas árvores superiores para propagação e melhoramento da espécie. Algumas matrizes selecionadas são

extremamente produtivas chegando a alcançar uma produção de até 200 kg de vagens por ano, na fase adulta.

Para o processo de propagação vegetativa, foram determinados os tipos e dosagens de hormônios, época de coleta de estacas e substratos a serem utilizados no enraizamento de

P. juliflora, P. Pallida e P. cineraria. Estas técnicas permitiram alcançar taxas de

enraizamento superiores a 80 % usando-se estacas da copa colhidas nas épocas mais favoráveis.

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