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REGIME LEGAL DAS ESCUTAS TELEFÓNICAS

No documento TIA Asp.Ricardo Mendes (páginas 30-33)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3.4 REGIME LEGAL DAS ESCUTAS TELEFÓNICAS

Os princípios associados à admissibilidade da utilização de escutas telefónicas estão consagrados no art.º187 da CPP. O ponto de partida para a sua admissibilidade é o facto da sua utilização ser restrita ao inquérito e desde que existam razões para crer que a diligência é indispensável para a descoberta da verdade ou que a prova seria, de outra forma, impossível ou muito difícil de obter, mediante despacho fundamentado do Juiz de Instrução e requerimento do Ministério Público, que, normalmente, recebe tal solicitação

Capitulo 3 – Ordenamento Jurídico

por parte do OPC. O primeiro número do referido artigo estabelece um catálogo de crimes7 nos quais é admissível a sua utilização, funcionando, por isso, como um critério

de admissibilidade.

A autorização, que permite a intercepção e gravação de conversações ou comunicações, apresenta um prazo máximo de 3 meses, renovável por iguais períodos, desde que se verifiquem os requisitos de admissibilidade, fixados no n.º6 art.º188.

O n.º2, do art.º 18, do mesmo artigo identifica a possibilidade de recorrer à ―autorização de intercepção de comunicação ao juiz dos lugares onde se puder efectivar a conversação ou comunicação telefónica ou ainda da sede da entidade competente para a investigação criminal, quando se tratar de outro conjunto definido de crimes‖.8 Não

obstante, no prazo de 72 horas, a autorização referida é levada ao conhecimento do Juiz responsável pelo processo, n.º3, art.º188, com o propósito de, em casos de maior gravidade, tornar o processo mais célere.

Nem todas as pessoas envolvidas num processo podem ser sujeitas a escutas telefónicas. O n.º4 identifica claramente que este meio apenas ser usado contra: suspeito ou arguido; pessoa que sirva de intermediário, que serve de meio para difusão de mensagens de suspeitos ou arguido; vítima de crime, mediante o respectivo consentimento, efectivo ou presumido.

Na nossa legislação apenas encontramos um limite subjectivo à realização de escutas telefónicas, é o da proibição de ―intercepção e a gravação de conversações ou comunicações entre o arguido e o seu defensor,‖ art.º 187 nº3 CPP. Esta ―intercepção só a nivel excepcional pode abranger as conversações entre o arguido e o defensor‖ (Santos, 2004, p. 929) nos casos em que o JIC, ―tiver fundadas razões para crer que elas constituem objecto ou elemento de crime‖ art.º 187 nº3 CPP.

Relativamente às formalidades das operações na intercepção, já depois da devida autorização, as conversações são convertidas em relatório pelo OPC, que efectua a intercepção, no qual são indicadas as passagens relevantes para a prova, de modo sucinto e o seu alcance para a descoberta da verdade (n.º1 art.188.º).

No que diz respeito ao controlo exercido sobre este meio de prova concretiza-se na entrega quinzenal, dos relatórios referidos e dos respectivos suportes técnicos ao MP, nº3 art.188.º, que, por sua vez, num prazo máximo de 48 horas, as leva ao conhecimento do juíz ( n.º4 art.188.º, CPP).

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Ver anexo S- Extrato do CPP

Capitulo 3 – Ordenamento Jurídico

Estas formalidades não impedem de forma alguma, que o OPC, pelo seu conhecimento prévio da conversação, pratique os actos cautelares necessários e urgentes para assegurar os meios de prova, n.º2 art.º 188.

Na fase de inquérito, a junção dos autos considerados indispensáveis para fundamentar a aplicação de medidas de coacção ou de garantia patrimonial efectua-se por requerimento do MP ao JIC, n.º7 art.º 188.

Terminada a fase de inquérito, é dada, quer ao assistente quer ao arguido a possibilidade de examinar os suportes técnicos, nº8 art.º 188.

Ainda assim, apenas têm valor enquanto provas as conversações ou comunicações que o MP e o JIC mandarem transcrever ao OPC; ou as conversações transcritas que o arguido, ou assistente, através da possibilidade referida no paragrafo anterior, junte ao processo através de requerimento, nº9 art.º 188.

Os suportes técnicos que não forem alvo de transcrição, serão guardados à ordem do tribunal e destruídos após o trânsito em julgado da decisão, n.º12, art.º188.

O desrespeito pelos diversos princípios ligados aos requisitos de admissibilidade artigo 187.º, ou aos pressupostos a respeitar na realização art.º 188, podem causar nulidade do processo, art.º190, ou ainda proibições de prova, art.º126 CPP. O não cumprimento destes princípios é analisado, em detalhe, no ponto seguinte.

3.5 - VIOLAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS INERENTES ÀS

INTERCEPÇÕES TELEFÓNICAS

Considerando-se as escutas telefónicas um ―meio de obtenção de prova demasiado precioso, quer pela sua expressividade, quer pela onerosidade que representa, para poder continuar a originar decisões de anulação‖ (Ribeiro, 2005, p. 62) importa clarificar os factores que podem determinar a sua nulidade.

Em primeiro lugar, prevendo a utilização de escutas telefónicas sem a prévia autorização judicial, ―quer a doutrina, quer a jurisprudência, são unânimes em considerar tratar-se de proibição de prova‖ Ribeiro (2005, pág. 63). Esta violação pode mesmo vir a resultar em responsabilidade criminal e disciplinar em relação ao funcionário, art. 386.º CP, podendo as gravações, fruto da sua pratica ilícita, ser utilizadas ―com o fim exclusivo de proceder contra os agentes‖, nº4 art.º126 do CPP, que as executaram. No caso de intercepção autorizada, mas estando a ser infringido outro requisito de admissibilidade, dos indicados

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no art.º 187 do CP, estamos igualmente perante uma proibição de prova, não implicando, neste caso, qualquer responsabilidade para quem realiza a intercepção.

Outra situação possível, mas de natureza diferente, são as violações no campo das formalidades, art.º 188 do CPP. Relativamente às violações de pressupostos a cumprir para a realização de intercepções telefónicas, estas podem culminar em consequências diversas, não existindo unanimidade acerca de quais devam ser. Não sendo este um trabalho que vise aprofundar qualquer aspecto na área do Direito, opta-se por tomar como guia a corrente maioritária.

Assim, apesar da nossa lei processual penal não fazer destrinça entre a violação dos pressupostos de admissibilidade, art.º 187 CPP, dos pressupostos associados às formalidades das operações, art.º 188 CPP, ―tanto é abusiva a que viola as condições e requisitos de admissibilidade como a que viola as formalidade das operações, pois também estas podem viciar irremediavelmente a prova‖ (Silva, 2008, pág. 258) Compreende o Prof. Doutor que, ―dispondo a lei de condições de admissibilidade e requisitos das escutas estes são estabelecidos sob pena de nulidade9 , deve entender-se

que a sua inobservância acarreta a proibição de prova, imposta pelo art.32, n.º6, da CRP, e art.º 126 n.º2 e n.º3 da CPP‖. (Silva, 2008, p. 257)

No campo da jurisprudência mantém-se o sentido de análise desta problemática. De acordo com Cunha, em comentário ao acórdão constitucional n.º411/0210:

―com efeito é o próprio CPP que expressamente refere (no artigo 189.º) que os requisitos e condições do art.187.º - que se refere aos pressupostos das escutas e à autorização/ordem por um juiz – e do artigo 188.º- conhecimento imediato pelo juiz para efeito de ―utilização‖ (transcrição) estão submetidos a um mesmo regime de nulidade e não a distintos regimes, por tal forma que se pode dizer que qualquer intercepção fora dos limites apertados do art.187.º e que não cumpra as exigências do art.188.º n.º1, constitui uma intromissão abusiva nas telecomunicações, de modo que, se por esta intromissão abusiva se obtiverem elementos relevantes para o processo, estes estão feridos de nulidade não podendo ser utilizados (…) Tanto é nula a prova obtida por escutas sem autorização do juiz, como nula é a prova utilizada sem o conhecimento (imediato) ou sem a intervenção valorativa (imediata) daquele juiz‖ (Cunha, 2004, pág. 56).

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