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3. OS GOVERNOS FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E LUÍS INÁCIO LULA

3.1 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (FHC)

3.1.1 O Regime de Metas para a Inflação (RMI)

O sucesso de FHC em conter a inflação, fez com que o presidente fosse reeleito nas eleições seguintes ainda no primeiro turno. Todavia, a política bem sucedida estava alicerçada na paridade cambial entre o dólar e o real, e o Brasil não tinha mais condições de mantê-la. A partir de 1999, tornava-se necessário estabelecer as diretrizes pelas quais a política monetária passaria a vigorar daquele momento em diante. Neste contexto, ficou estabelecido que o RMI14 nortearia as decisões do Banco Central.

Conforme definido pelo próprio BACEN:

“O regime de metas para a inflação é um regime monetário no qual o banco central se compromete a atuar de forma a garantir que a inflação efetiva esteja em linha com uma meta pré-estabelecida, anunciada publicamente”. (BACEN, 2016, p. 5).

14 Em entrevista concedida por FHC ao programa diálogos, da Globo News, em 2015, o ex presidente caracteriza

o tripé macroeconômico implantado ao longo de seu governo, e que seguiu vigorando durante boa parte do período que abrange esta pesquisa, como medidas de bom senso, que não obedecem simplesmente a uma ideologia neoliberal, mas que permitem que as contas públicas fiquem mais ou menos organizadas. (CARDOSO, 2015).

De acordo com o decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999, o RMI15 funciona da seguinte maneira: O Conselho Monetário Nacional (CNM)16 estabelece um nível de inflação para cada ano, chamado de centro da meta, e fixa um piso e um teto - uma variação percentual aceitável tanto para cima quanto para baixo, que compõe o intervalo de tolerância. A função principal do BACEN é trabalhar para atingir o centro da meta, mas os resultados são aceitáveis se estiverem entre o piso e o teto estipulado. Para mensurar a inflação, é utilizado o Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O BACEN utiliza a taxa de juros de curto prazo para manter a inflação sob controle:

O regime brasileiro de metas para a inflação utiliza a taxa Selic como instrumento primário de política monetária [...] O Comitê de Política Monetária (Copom)17 estabelece a meta para a taxa Selic, e cabe à mesa de operações de mercado aberto do BCB manter a taxa Selic diária próxima à meta. (BACEN, 2016, p. 11).

Caso o nível de inflação extrapole as margens da meta, o presidente do Banco Central deve enviar uma carta ao Ministro da Fazenda explicando os motivos do não cumprimento e expondo as medidas a serem adotadas para garantir o retorno da inflação aos níveis tolerados. A política monetária adotada pelo BACEN não atribui a ele meta alguma além do controle da inflação. Este modo de comandar a política monetária obedece a PMO, onde se utiliza apenas um único instrumento (a taxa de juros), visando atingir uma única meta (a taxa de inflação). Assim, cabe a autoridade monetária apenas zelar pela manutenção da reserva de valor da moeda:

No regime de metas para a inflação, a ação do banco central se baseia no controle de apenas um instrumento, a taxa de juros de curto-prazo. Portanto, não se pode atribuir à política monetária meta adicional para o câmbio ou o crescimento econômico. Entretanto, essas e outras variáveis econômicas são levadas em consideração na construção do cenário prospectivo para a inflação. (BACEN, 2016, p. 6).

15 Mais informações em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3088.htm> Acesso em 17 de abril de

2017.

16

CMN: é o órgão superior do sistema monetário nacional. Ele é composto pelo ministro da Fazenda, Ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, e pelo Presidente do Banco Central do Brasil. Disponível em <https://www.bcb.gov.br/Pre/CMN/Entenda%20o%20CMN.asp>. Acesso em 17 de abril de 2017.

17 Copom: é o órgão decisório das políticas do Banco Central, que tem como principal objetivo definir a taxa

básica de juros (Selic). Nele, o presidente do Banco Central tem cadeira cativa e poder de voto decisório em caso de empate na decisão da política monetária. Disponível em< http://www.bcb.gov.br/htms/copom/a-hist.asp>. Acesso em 17 de abril de 2017.

Apesar de FHC e sua equipe terem estabelecido outro tipo de política monetária, foi respeitado o receituário neoclássico que norteava as políticas econômicas no mundo ocidental durante aquele período.

O Sistema está alicerçado na reputação da autoridade monetária e na credibilidade de suas políticas. Sicsú (2002), credita a reputação ao comportamento pregresso das autoridades monetárias, e a credibilidade à crença do mercado acerca da possibilidade da meta ser alcançada, evidenciando que a última é alimentada pela primeira.

Neste sentido, a credibilidade está associada a bandas estreitas, pois elas informam aos agentes que a autoridade monetária está mais comprometida com as metas. Todavia, existe um perigo em manter margens pequenas:

Bandas muito estreitas reduzem consideravelmente a habilidade de a autoridade monetária responder a choques exógenos inesperados. Mais ainda, o estrago a imagem do banco central derivado da perda do cumprimento de uma banda de meta é consideravelmente maior do que aquele derivado da perda de uma meta pontual. ( ROCHA, OREIRO, 2008, p. 274).

O cuidado com a transparência e a preocupação com o compromisso de entregar os resultados prometidos não são meros preciosismos do BACEN. Por trás disto, existe a crença de que o controle da inflação se deve a confiança que os agentes depositam na autoridade monetária. Quanto mais clara, objetiva e passível de ser alcançada for a mensagem que o Banco Central passar aos agentes, maior será a confiança que a comunidade depositará nela.

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