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Em sede de agravo regimental em agravo em recurso especial, o STJ adotou a supramencionada argumentação, ao responsabilizar o Distrito Federal por omissão ao garantir

o direito à educação em hipótese de centro educacional em situação precária. Determinou a

reconstrução da escola em um ano. Leia-se:

“Conheço do agravo regimental, porquanto presentes os requisitos de admissibilidade recursal. Não obstante, considerando que a parte ora agravante não

69 SILVA, Airton Ribeiro; WEIBLEN, Fabrício Pinto. A reserva do possível e o papel do judiciário na

logrou êxito em afastar os fundamentos da decisão agravada, deve a mesma ser mantida em todos os seus termos a seguir transcritos (fls. 585/591): "Trata-se de agravo interposto pelo Distrito Federal, com base no artigo 544 do Código de Processo Civil, em face de decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios que não admitiu recurso especial manejado contra acórdão nestes termos sintetizado (e-STJ fl. 342):

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO À EDUCAÇÃO. CENTRO EDUCACIONAL EM CONDIÇÕES PRECÁRIAS. PARECER DA DEFESA CIVIL E CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE BRASÍLIA. DIREITO À EDUCAÇÃO. MÍNIMO EXISTENCIAL. DEVER CONSTITUCIONAL DO ESTADO. INOPONIBILIDADE DA RESERVA DO POSSÍVEL.

O estado possui a obrigação e o dever de implementar políticas públicas que assegurem o amplo exercício do direito à educação porquanto, enquanto direito fundamental de segunda geração, é inerente à própria condição de ser humano. A dignidade humana é um dos objetivos principais do estado democrático de direito, não podendo opor o princípio da reserva do possível ao mínimo existencial. Havendo omissão do administrador no atendimento de políticas públicas previstas constitucionalmente a eventual interferência do poder judiciário não viola o princípio da separação dos poderes. (...)

Nas razões do recurso especial, além da divergência jurisprudencial, o recorrente alega violação: a) do artigo 535, inciso II, do Código de Processo Civil, por entender que o Tribunal de origem deixou de se manifestar acerca do artigo 16 da Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como foi omisso em relação à viabilidade técnica da reconstrução da escola no prazo de 1 (um) ano; b) do artigo 16 da Lei de Responsabilidade Fiscal, por entender que o atendimento ao pedido do recorrido inviabilizará o orçamento definido pela autoridade competente, o que constitui intervenção indevida do Judiciário na elaboração do orçamento público; c) do artigo 333, inciso I, do CPC, por entender que houve indevida inversão do ônus da prova, eis que o Tribunal a quo afirmou que seria ônus do Distrito Federal demonstrar a inviabilidade de realização da obra no prazo de 1 (um) ano. Ademais, o recorrente sustenta violação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, diante da impossibilidade de cumprimento do julgado no tempo estabelecido. Contrarrazões às e-STJ fls. 464/474.É o relatório. Passo a decidir.

(...)

Quanto às alegações do recorrente acerca da violação dos princípios da

razoabilidade e da proporcionalidade, diante da impossibilidade de cumprimento do julgado no tempo estabelecido, verifica-se que, a despeito de ter invocado ofensa à legislação infraconstitucional, limitou-se o recorrente a tecer alegações genéricas, sem, contudo, apontar especificamente quais artigos teriam sido violados pelo acórdão recorrido. Logo, aplicável o óbice descrito na Súmula 284/STF. No tocante à suposta violação do artigo 16 da Lei de Responsabilidade Fiscal, convém salientar que o Tribunal de origem apreciou a questão sob o enfoque de preceito constitucional (artigos 167, 205 e 208, todos da CF/88), entendendo que, diante da importância do bem jurídico tutelado, não caracteriza violação do princípio da separação dos poderes a intervenção do Poder Judiciário na adoção das políticas públicas necessárias ao acesso do cidadão à educação, direito fundamental garantido pela Constituição Federal. A propósito, confira-se o seguinte excerto do acórdão recorrido (e-STJ fl. 345/351):

O direito à educação, enquanto prerrogativa constitucional deferida a todos pelo artigo 205 da Constituição Federal, é um dos direitos sociais mais expressivos, qualificando-se dentre os direitos de segunda geração ou dimensão e cujo adimplemento impõe ao Poder Público uma prestação positiva. [...] Dentro dessa perspectiva, assim, não resta dúvida de que a infância e a educação, enquanto direitos sociais, restam consagradas no ordenamento jurídico pátrio e merecem especial atenção do Poder Público por ocasião de implementação de políticas públicas Ressalte-se que o artigo 208 da CF assegura a efetivação da garantia à educação [...]. Assim, cabe ao ente público adotar as políticas públicas necessárias à efetivação do preceito constitucional transcrito, com o fito de propiciar o acesso à educação, inclusive assegurando, para o perfeito desenvolvimento da atividade

educacional, ambiente salubre e seguro.[...] Conforme salientado, a Constituição Federal estabelece expressamente que "a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (artigo 205, CF). Embora a regra do referido dispositivo legal tenha conteúdo programático, o Estado não pode deixar de adotar ações a fim de implementar um eficaz sistema público de educação. É direito fundamental do cidadão o acesso à educação, direito que se enquadra na necessidade de se assegurar a cada ser humano um mínimo existencial. [...] Depreende-se, portanto, que havendo omissão do Administrador no atendimento de políticas públicas previstas constitucionalmente, a eventual interferência do Poder Judiciário, de caráter excepcional, não viola o princípio da separação dos poderes. [...] Tenho que os princípios fundamentais previstos na Carta Magna são diretrizes e impõem limites à atuação do Poder Público, o qual possui o dever de, efetivamente, estabelecer e implementar as políticas devidas para que todos tenham acesso a um sistema educacional condigno, independentemente da situação econômica.[...] É sabido que o Poder Judiciário não pode ordenar ao Poder Executivo que efetue despesas não previstas ou acima do que consta na Lei Orçamentária. O texto constitucional, em seu artigo 167, veda expressamente a realização de despesas ou assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais. Contudo, tendo em vista a relevância do bem jurídico ameaçado, não há como vingar o argumento de entraves financeiros como lastro à ineficiência Estatal, o que significaria ignorar o imperativo de solidariedade social, fato esse intolerável” (grifo nosso) (AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 297.506 – DF; RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES; 2ª turma, DJe: 28/06/2013)

No caso em tela, a Corte se manifestou pela admissão da determinação de política

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