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Regimento de D Manuel Leonis de Castro, governador e capitão-geral de Timor*

Pedro Mascarenhas conde de Sandomil, dos conselhos de Estado e Guerra de Sua Majestade, vice-rei e capitão-geral da Índia, etc. Faço saber a vós D. Manuel Leonis de Castro, que pela confiança que faço de vossa pessoa e capacidade, vos mando por governador e capitão-geral das ilhas de Solor e Timor, esperando que obreis em tudo com tanto acerto, pru- dência, actividade e desinteresse que vos seja fácil governar as ditas ihas em paz e quietação, conciliando de tal modo os ânimos daqueles mora- dores que todos uniformemente se sujeitem ao suave domínio de Sua Majestade. // [40]

As últimas notícias que tenho das ditas ilhas nas cartas do governador António Moniz de Macedo, a quem ides suceder, são de estarem todas em paz e obediência ao seu governo e antes que chegueis a Lifau procu- rareis tomar [fala] em qualquer porto das mesmas ilhas e vos informareis do estado delas, procurando saber se persistem no da paz e obediência referida, para obrares o que vos parecer mais conveniente, conforme as verdadeiras notícias que vos derem.

Procurareis que os holandeses não estendam o seu domínio, por este se limitar no Cupão, segundo as pazes e mais tratados celebrados entre a Coroa de Portugal e a República da Holanda, o especulareis com toda a individuação a utilidade que os ditos holandeses tiram dessas Ilhas e a forma por que negoceiam nelas.

Como os religiosos de S. Domingos que missionam nas ditas ilhas tereis toda a boa correspondência, porque além de em toda a parte ser

obrigação de tratar com benignidade os eclesiásticos, se faz mais preciso entre essa gente para que vejam que os que governam o temporal esti- mam aqueles que tem autoridade no espiritual, o que também poderá conduzir muito para aumento da cristandade, porém tendo certeza de que alguns dos ditos religiosos se esquecem tanto de sua obrigação, que ou fomentam as rebeliões, ou vivem com algum escândalo notório e que redunde em dano do serviço de Deus ou possa vir a prejudicar ao de Sua Majestade, advertireis ao seu prelado de tudo que souberes certamente destas matérias para que ele // [40v] lhe aplique o remédio conveniente e lhe dareis toda a ajuda para que proceda e castigue com efeito aos seus súbditos que assim procederem e quando isso não baste e o prelado se haja com o omissão evidente em lhe aplicar o remédio, fareis embarcar os ditos religiosos mal procedidos ou para esta corte ou para Macau, requerendo primeiro ao prelado que a execução seja por ele feita com comunicação de se dar el-Rei nosso Senhor por muito mal servido em se faltar ao que dispõe este capítulo, o qual lhe mandarei notificar da parte do dito Senhor.

Provereis os postos militares da vossa jurisdição como sempre se observou, nos soldados mais beneméritos, assim dos que nasceram naque- las ilhas, como dos portugueses que residem nelas, precedendo estes aos mais por ser mais firme a confiança que se deve fazer delas, e porém não só conservareis todos aqueles timores fiéis a Sua Majestade que estiverem empregados no seu serviço, mas remunerareis com essa honra a todos aqueles que derem mostra da sua lealdade e o mesmo poder tereis na nomeação de todos s oficiais da justiça e fazenda que vagarem durante o tempo do vosso governo; e assim estes como os de guerra que forem por vós providos mandarão pedir a minha confirmação a esta corte.

Tereis toda a jurisdição e alçada anexa ao vosso posto, mas nas cousas cíveis vos não intrometereis de modo algum, deixando-as ao ouvidor por serem da sua jurisdição. E quando este seja omisso ou se trate com menos inteireza da devida ao cargo que ocupa, o advertireis em particular da sua obrigação, dizendo-lhe me dareis conta na falta da sua emenda e assim o executareis e com muita especialidade havendo caso que assim o peça, e nos crimes podereis punir com toda a pena até morto natural inclusive, o que se entende em // [41] acto de expedição militar, porque fora dele hão os réus tratar de seu livramento perante o dito ouvidor, como nesta corte se estila e nas sentenças dos delitos que merecerem pena de morte, cha- mareis para ela seis adjuntos, sendo primeiro e relator o mesmo ouvidor, achando-se presente, e depois o capitão de Lifau e feitor da fazenda real e os mais serão aqueles homens que entendais tem maior capacidade para

votarem em matéria tão importante. E no caso que empatarem, com o vosso voto se dividirá o empate, ou seja de morte ou de vida exceptuando os delinquentes que forem fidalgos ou cavaleiros de algumas das três Ordens Militares, porque estes serão remetidos presos com suas culpas a esta corte para eu mandar proceder contra eles na forma das leis do Reino, e de todas as execuções que se fizerem, me dareis individual conta.

Com este regimento vos será entregue uma cópia da carta que há dois anos escrevi a vosso antecessor, em resposta da conta que me deu de haver comutado as fintas que os timores pagavam à fazenda real em uma só contribuição por uma vez somente, para com a importância dela se estabelecer uma nova administração do comércio, com cujos lucros pudesse a mesma fazenda real fazer as despesas necessárias na defesa e governo das mesmas ilhas. Da mesma cópia vereis as razões que tive para reprovar aquele arbítrio e mandar que se não executasse e que o mesmo vosso antecessor reduzisse as fintas ao seu antigo estado, para // [41v] o que resolvi então que por mais um ano continuasse o seu governo, e por- que com a falta do navio de Macau não sei o que se terá executado e este material é de grandes consequências, vos ordeno que quando não achais ainda tudo o que dispus na dita resposta a vosso antecessor vos hajais com toda prudência neste particular procurando que a execução determi- nada se consiga sem alteração alguma, para o que procurareis valer-vos do poder e fidelidade do tenente-general Gaspar da Costa, superior da província de Servião, o qual conheceu os inconvenientes que se seguiram do referido arbítrio reprovado e me escreveu a este respeito, como vereis da minha resposta que também com este regimento vos será entregue.

Ao dito Gaspar da Costa honrareis e tratareis com atenção, procurando que se conserve sempre na vossa obediência e eu em agradecimento dos seus serviços e fidelidade, não duvidareis fazer-lhe mercê do hábito de Cristo logo que me constar haver ele concorrido para o restabelecimento das fintas e não haver dúvida na contribuição deles.

Nesta ocasião vai também para Timor o novo bispo de Malaca D. frei António de Castro, com o qual procurareis ter sempre boa união, concor- rendo com tudo o que for conveniente e possível a facilitar que exercite o seu zelo na conversão dos infiéis e no exercício da sua jurisdição.

E porque os acidentes futuros não podem bem prevenir-se e fio da vossa prudência que vos hajais em todos como convém, os deixo ao vosso arbítrio, esperando que em tudo acerteis a servir a Sua Majestade de sorte que o dito // [42] se dê por bem servido e eu tenha muito que vos agradecer. Dada em Goa, Filipe de Albuquerque o fez a 9 de Abril de 1740. O secretário Luís Afonso Dantas o fez escrever. Conde de Sandomil.

Instrução que se deu a