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1.1 Enquadramento

2.1.1 Registo Clínico em Papel

O primeiro Registo Clínico em Papel (RCP) foi realizado no séc. XV a.C. por Hippocrates, com o objetivo de indicar a causa mais provável da doença, e reetir, exatamente, a evolução da doença por ordem dos aconte- cimentos [29]. Desta forma, Hippocrates criou o registo orientado no tempo (Time-oriented), que se manteve até ao início do século XIX, típico da me- dicina exercida antes do aparecimento dos MCDTs, em que o que o médico registava o relato que do paciente lhe contava, e a informação era organizada cronologicamente [26][30]. Em 1816, a invenção do estetoscópio pelo cientista Laemec, veio revolucionar os MCDTs, possibilitando diferentes meios de di- agnosticar doenças. Quando se tornaram disponíveis mais instrumentos de diagnóstico, foi possível descrever a história clínica, enfatizando os resultados devolvidos por esses instrumentos, ao invés do que até então era registado [26]. Por volta de 1880, o cirurgião americano, William Mayo, fundou a clí- nica Mayo, em Rochester, Minesota. Nesta clínica, cada médico tinha um bloco onde apontava as notas clínicas de cada paciente, por ordem cronoló- gica. Desta forma, as notas pertencentes a cada paciente que se encontrassem muito espaçadas no tempo, não se encontravam em folhas agrupadas, o que poderia dicultar uma visão global da história clínica. Para além disso, a

um paciente, pertenciam vários registos clínicos. Para ultrapassar esta ques- tão, a clínica Mayo adotou um registo clínico centrado no paciente (patient- centered), ou seja, em que todas as informações eram organizadas e separadas por paciente. Contudo, não existia, ainda, um critério de organização. Em 1920, com vista a categorizar os registos, Mayo criou um formulário mínimo de preenchimento para os registos [26]. Esta iniciativa de padronização deu origem a uma nova organização, designada por Source-oriented medical re- cord, em que os dados são organizados consoante a sua origem. Ou seja, nesta altura, a proveniência da informação determinava a sua catalogação e consequente registo. Ouseja, a ordem do registo resultava da origem da in- formação [26]. Os registos apresentavam-se, assim, como pouco cientícos e, maioritariamente, incompletos [27]. Esta organização não se mostrou ecaz para pacientes que apresentavam mais do que uma doença, já que impossibi- litava a identicação da informação clínica de forma a dividi-la pelos vários problemas. É desta diculdade que surge, em 1968, o sistema de registo conhecido por Processo Clínico Orientado ao Problema (PCOP), proposto por Lawrence Weed, que visa atribuir a cada paciente um ou mais problemas [26] [27]. De ressaltar que um problema é entendido como um facto clínico, não devendo, por isso, ser incluidas na lista de problemas analisados dúvidas, interrogações e negações. O raciocínio clínico deve centrar-se em dados se- guros e positivos, para avançar na investigação e claricação dos problemas. Este modelo obriga a relacionar cada problema com os restantes, assim como a registar um raciocínio e um plano para cada problema, defendendo, desta forma, a organização dos registos clínicos de acordo com o conjunto de pro- blemas identicados, conjuntamente, num determinado evento (consultas, MCDTs, internamentos, cirurgias). Assim, cada problema, abordado num desses eventos, constitui uma unidade nosológica, entendida como uma do- ença individualizada com características e propriedades inerentes à patologia, que obrigatoriamente é parte integrante do PC. Esta organização ressalta as vertentes de operacionalidade e de assistência, que devem ser satisfeitas pelo registo médico, como parte integrante dos cuidados de saúde [30] [26] [31] [27]. Para cada problema, os dados clínicos são organizados de acordo com a estrutura Subjective, Objective, Assessment, and Plan (SOAP): [26] [20]

• S - Subjetivo  São registados os dados da história clinica, assim como o ponto de vista do doente (incluindo queixas e sentimentos);

• O - Objetivo  É traduzido o ponto de vista médico e os dados do exame físico e de testes de diagnóstico;

• A - Avaliação  É identicado o problema e o seu grau de resolução até à data. Neste estádio, são analisados os resultados de MCDTs, e registadas conclusões como diagnósticos;

• P - Plano  São propostas medidas terapêuticas, tratamentos e atitudes a ter em conta no plano médico. Para além disso, são registados os pe- didos de MCDTs, a referenciação e o aconselhamento feito, e agendada a próxima consulta de reavaliação. O plano médico deve questionar a importância do problema para o doente, para além das investigações a empreender.

Deve ser registado um SOAP para cada problema ativo. Só assim teremos, em cada momento, perfeita noção do ponto em que nos encontramos e das necessidades para cada problema [27]. Deste modo, a metodologia referida padroniza o registo da informação, o que possibilita uma gestão personali- zada do conjunto de problemas apresentados por um utente especíco [31]. Deste modelo, resultam virtuosidades não conseguidas pelos restantes mé- todos propostos. Neste âmbito, salienta-se o facto do mesmo permitir um registo racional, ao traduzir episódios de forma objetiva e, os vários com- ponentes registados podem ser correlacionados com os passos da consulta [20]. Em detrimento da atenção prestada ao doente, grande parte do tempo das consultas é despendido na procura de registos ou na leitura dos mes- mos. Nesse sentido, o método SOAP traduz um melhor aproveitamento do tempo da consulta, ao facilitar a legibilidade e a procura retrospetiva de um dado especíco. Este facto, é permitido pelo registo sequencial no tempo de episódios independentes e com datação própria. A redução do número de palavras utilizado para cada registo é uma das vantagens adicionais deste método, uma vez que a apresenta dividida por tópicos. Para além disso, o

método SOAP benecia a realização de auditorias, na medida em que é faci- litada a recolha de informação por parte do auditor e reduz a existência de ambiguidades [20]. Porém, quase 40 anos depois, a maioria dos serviços de medicina não executa registos clínicos organizados [27].

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