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A regra de Bruun (1962) foi estabelecida a partir da relação entre o aumento do nível do mar e o recuo da linha de costa. O modelo de equilíbrio de Bruun (fig. 14) pressupõe que, à medida que o nível do mar é aumenta, o perfil de equilíbrio se desloca em direção ao continente admitindo que toda a areia removida dentro da área superior do perfil praial ativo é depositada na plataforma submersa deste perfil até o limite da profundidade de fechamento.

Figura 14 - Diagrama esquemático da resposta do perfil praial segundo a Regra de Bruun.

Esta teoria tem sido bastante utilizada por diversos estudiosos e profissionais de engenharia costeira na obtenção de taxas de retrocesso da linha de costa,

Subida do Nível do Mar

Profundidade de Fechamento

Volume Depositado

Volume Erodido

Base das Ondas

modelagem numérica, estudos de evolução costeira e projetos de engordamento de praia.

Apesar de sua aplicação em todo o mundo, a proposição desenvolvida por Bruun é bastante discutida por estudiosos por apresentar problemas relacionados ao transporte litorâneo de sedimento. Entretanto a Regra de Bruun (op. cit.) aborda um importante problema do meio físico costeiro que tem enorme repercussão no meio socioeconômico, no qual não há uma opção simples e viável.

Segundo Rosen (1978) os resultados obtidos ao longo de 336 km na costa da Baía de Chesapeake, Virginia para o recuo da linha de costa ocasionado pelo aumento relativo do nível do mar utilizando a regra de Bruun se ajusta à taxa de medição de longo prazo com erro de 3%. O aumento relativo do nível do mar nesta área é muito alto e chega ao valor de 5,43 mm / ano, e o recuo médio de longo prazo da costa é de 0,98 m / ano. O modelo foi aplicado individualmente a 146 unidades de praia na área, e os resultados foram compilados regionalmente. O modelo tem significado físico quando numa configuração regional de longo prazo, as variações sazonais ou locais no processo são calculadas como média.

O grau de incerteza dos parâmetros empregados nas equações e a complexidade que envolve as questões relacionadas ao balanço sedimentar são algumas das razões das limitações existentes na regra de Bruun (Dean et al., 2002).

Ranasinghe et al., (2007) afirma que a regra de Bruun é um recuo da linha de costa em direção ao continente num perfil transversal como resposta ao aumento do nível do mar, e que esta abordagem está relacionada diretamente a profundidade de fechamento. Segundo este autor a regra de Bruun apresenta resultados que podem ser considerados estimativas de ordem de magnitude, uma vez que existem poucos litorais que tenham as condições limitantes da regra de Bruun. As limitações podem ser resumidas da seguinte forma: não inclui a variabilidade tridimensional, uma vez que assume apenas o movimento dos sedimentos bidimensionais (cross-shore); é aplicável apenas aos perfis de praia em "equilíbrio"; pressupõe que não haja movimento de sedimentos (como perda de sedimentos no exterior) para o mar além da profundidade do fechamento; não permite variações nos sedimentos entre a costa, a berma da praia e a duna.

Segundo Copper (2004) a regra de Bruun proporcionou um avanço na compreensão do sistema costeiro no momento da sua primeira publicação. No entanto, foi superado por inúmeras descobertas subsequentes e agora é inválido. Em

nenhum lugar a Regra de Bruun foi considerada aprovada de forma adequada; pelo contrário, vários estudos a contrapõe no campo. Apesar disso, a Regra Bruun está em uso contemporâneo generalizado a uma escala global, tanto como uma ferramenta de gerenciamento como também um conceito científico. A persistência desse conceito além da base de suposição original é atribuída aos seguintes fatores: É um modelo analítico simples e fácil de usar que está em uso generalizado; a dificuldade de determinar a validade relativa de provas; Facilidade de aplicação; Defesa positiva de alguns cientistas; Aplicação por outros cientistas sem avaliação crítica; A expressão

numérica simples do modelo; Falta de alternativas fáceis.

A Regra Bruun não tem poder para prever o comportamento do litoral diante do aumento do nível do mar e deve ser abandonada.

Os resultados obtidos em trabalho de revisão da resposta da linha de costa a subida do nível do mar na Austrália e Nova Zelândia publicado por Shand (2013), mostram que modelos de equilíbrio geométrico como a Regra de Bruun e suas variações, embora sujeitos a limitações, fornecem resultados razoáveis se utilizados de forma sensata e com o conhecimento dos dados de fluxo dos sedimentos e variabilidade da profundidade de fechamento, já a modelagem baseada nos processos que ocorrem no sistema praial oferecem uma alternativa poderosa, porem são necessários avaliações de longo prazo dos resultados, disponibilidade de dados de qualidade e acuracidade do profissional para criticar os resultados obtidos.

Apesar das diversas críticas a regra de Bruun ainda não foi desenvolvido nenhum modelo costeiro capaz de reproduzir com exatidão o recuo do litoral ocasionado pelo aumento do nível do mar devido as inúmeras implicações que este tipo de previsão engloba.

Através de uma breve revisão de trabalhos que utilizaram a Regra de Bruun observou-se que muitos destes estudos confirmam a validade da teoria e outros que desaconselham sua utilização. Considerando todos os argumentos positivos e negativos em torno da regra de Bruun este estudo aplica o conceito considerando que os resultados alcançados a partir de sua utilização devem ser confirmados por estudos de campo mais aprofundados, visto que, o conhecimento sobre os processos costeiros atuantes no litoral ainda é embrionário.

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