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REGULAÇÃO E PROTEÇÃO DE RECURSOS NATURAIS

Essa ferramenta não foi alterada pela lei de 2005 e continua sendo responsável pela regulamentação do uso e da preservação de recursos naturais no meio rural. Segundo Peignot et al. (1999), ela tem como objetivo favorecer o cuidado com o meio ambiente nos espaços agrícolas, assegurando paisagens e espaços de lazer naturais.

A legislação fornece poder ao Préfet, que, com o aval da Chambre d’Agriculture e do Centre régional de la proprieté forestière, pode:

 Delimitar áreas de produção agrícola e florestal;

 Proibir produções agrícolas e florestais em determinados locais e

 Demarcar áreas degradadas para recuperação do solo. Para Peignot et al. (1999), o procedimento pode auxiliar nas operações de remembramento, principalmente no fato de assegurar a perenidade de uma parcela destinada à reestruturação de solo ou florestal. Se caso ocorra violação dos regulamentos, o conselho responsável pode colocar o proprietário sobre aviso para alterar a unidade produtiva ou florestal que não esteja de acordo com a legislação. O conselho também tem a capacidade de tomar novas sanções (retirada de ajuda financeira e benefícios fiscais, multas, etc).

Aliado à legislação, percebe-se que todas as ações tratadas neste capítulo necessitam de informações válidas e atualizadas para poderem ser planejadas e praticadas pelo poder público. Dessa maneira, o acúmulo de informações e conhecimento do meio rural faz com que tanto o poder público, como a sociedade civil, possam ser beneficiados pelo acesso à informação confiável e de forma clara.

Para Sotomayor (2008), o cadastro rural faz parte dos mecanismos de governança e gestão de terras e recursos naturais, de maneira que o ordenamento fundiário é uma externalidade positiva do cadastro. Desta maneira, concebe-se

que o cadastro é o primeiro passo para o sucesso das ações de ordenamento fundiário.

1.8 Cadastro como ferramenta de ordenamento

Um sistema cadastral eficaz é fundamental para conhecer as características de uma região e assim impulsionar o surgimento de planos de ordenamento que visam o desenvolvimento rural. Os dados de um cadastro servem para formar as bases de planejamento do espaço ou conter somente informações de estrutura fundiária com elementos ambientais e sociais que integrem essa base de dados, melhorando a qualidade dos planos de ordenamento a partir de mapas temáticos. Com o cadastro, as políticas públicas podem ser geridas por seus elementos e, assim, desenvolver planos de ordenamento como o zoneamento econômico-ecológico, remembramento de unidades fragmentadas, controle de mercado de terras para a agricultura familiar, ações de crédito e regularização fundiária, entre outros.

Outro ponto positivo do uso do cadastro é que possibilita a promoção de reformas estruturais no uso da terra e no ordenamento. Um cadastro de imóveis rurais atualizado:

Permite o controle das transações realizadas com as terras; constitui uma base eficiente para o planejamento, distribuição, permissão para uso da terra e estabelecimento de políticas de crédito e propicia a administração pública, o conhecimento e o controle de informações estratégicas, entre outras (NEUMANN, 2003, p.87).

Para tanto são necessárias informações detalhadas sobre o domínio e o uso da terra para promover reformas estruturais no campo. Essas informações precisam ser de fácil acesso e apresentar os dados de forma informatizada, que possam ser oferecidas também para a sociedade. Como se observa, os dados e informações podem ser uma importante fonte ao planejamento e execução de diversas ações técnicas e políticas de natureza rural e fundiária no país, tanto aquelas empreendidas pelo poder público, como pela iniciativa privada e,

também, pela sociedade civil organizada (organizações não governamentais, entidades, movimentos sociais). Para Ribeiro e Matos (2011), a disseminação de informação pelo cadastro também possibilita suporte para as três esferas de poder (executivo, legislativo, judiciário), órgãos estaduais de terras e ambientais, secretarias estaduais de governo, prefeituras municipais e pesquisadores, aumentando a qualidade e a universalidade do sistema cadastral. Loch (2007) acrescenta que o cadastro tem duas bases de sustentação, independentes da legislação de cada país. A primeira é o Estado, com o poder de propor políticas públicas baseadas nas informações do cadastro. O segundo elo é a população, que busca transparência, segurança e o direito à informação.

Segundo Neumann (2003 é imprescindível a presença do cadastro em países em desenvolvimento, uma vez que a falta de um sistema cadastral sólido não possibilita o acesso a dados essenciais para o conhecimento dos territórios. Além de um sistema cadastral efetivo, Loch (2007) afirma que é necessária ampliar a formação profissional específica sobre cadastros, para alcançar mais facilmente uma efetiva gestão do território.

Os primeiros cadastros surgiram com o objetivo tributário, mas só se tornaram um instrumento de ordenamento depois que sua função alcançou um patamar extrafiscal, por meio do seu uso para o planejamento, planos de ordenamento fundiário, controle e organização do solo e acesso à terra. Para Rúbio e Bertotti (2012), os cadastros devem ser organizados e estruturados para cumprir essas duas funções básicas, de forma a se estender para uma multifinalidade de uso, fazendo do sistema cadastral um importante instrumento de gestão do território. Dessa maneira, Erba, Oliveira e Lima Junior (2005) destacam as funções do cadastro ao salientar que essa ferramenta vinculada ao sistema de registros fornece segurança jurídica para os imóveis, garante uma justa distribuição fiscal, além de servir para o planejamento e ordenamento do território.

Base fundamental para planejar as operações de remembramento e de outras políticas aqui discutidas, o cadastro tem papel central na promoção do aumento de produtividade agrícola, no acesso à terra e nas outras ações de ordenamento fundiário.

Conclusão do capítulo

Neste capítulo efetuou-se uma revisão teórica sobre ordenamento territorial e fundiário, destacando aspectos de políticas afins consideradas mais importantes da França, país que apresenta importante tradição no tema. Essa fundamentação é essencial para as proposições, questionamentos e críticas sobre a realidade brasileira, a qual será discutida no Capítulo 3.

Ancoradas pela legislação francesa, as políticas de ordenamento fundiário são organizadas em quatro categorias, sendo a mais importante a de ordenamento fundiário e florestal, na qual estão inseridas as ações de remembramento. Essas são caracterizadas pela troca de parcelas produtivas entre um ou mais estabelecimentos rurais, visando melhorar os acessos, o arranjo e a organização das parcelas e da produção agrícola através da equivalência de atribuições.

Percebe-se que todas as ações de ordenamento tratadas neste capítulo necessitam de informações válidas e atualizadas para poderem ser planejadas e praticadas pelo poder público. Nota-se, portanto, a necessidade de um cadastro rural confiável e com informações variadas. Assim, no capítulo a seguir pretende-se caracterizar os diferentes cadastros de imóveis rurais existentes no país.

CAPÍTULO II

2 O CADASTRO DE IMÓVEIS RURAIS NO BRASIL

Neste capítulo pretendeu-se analisar o SNCR, gerido pelo INCRA. Em um primeiro momento, foi realizada uma descrição do seu sistema de gestão e a forma de interlocução com outras políticas e instituições, buscando apontar seus principais limites e potencialidades.

Posteriormente, a discussão foi orientada para a Lei 10.267/2001, conhecida como Lei do Georreferenciamento, que se destaca por duas ações importantes: a obrigatoriedade de dimensionar e localizar todos os estabelecimentos agropecuários por meio de levantamento topográfico e georreferenciamento e a criação do CNIR. A partir desses dois eixos principais objetivou- se contribuir com a discussão sobre ordenamento fundiário no Brasil, visto que o cadastro é peça fundamental na ação e no planejamento desse tipo de política pública.