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Regulamentação da segurança contra incêndios aplicada em Portugal

2. A problemática do fogo

2.5 Segurança contra incêndios

2.5.2 Regulamentação da segurança contra incêndios aplicada em Portugal

Decreto-Lei n.º220/2008 de 12 de Novembro, que estabelece o Regime Jurídico da Segurança Contra Incêndios em Edifícios (RJSCIE) e pela Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro que estabelece o Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em Edifícios (RTSCIE). Para além desta regulamentação também existem outros diplomas associados à segurança contra incêndio:

˗ Portaria n.º 64/2009, de 22 de Janeiro – Estabelece o regime de credenciação de entidades para a emissão de pareceres, realização de vistorias e de inspeção das condições de segurança contra incêndios em edifícios;

˗ Portaria n.º 773/2009, de 21 de Julho – Define o procedimento de registo, na ANCP, das entidades que exerçam a atividade de comercialização, instalação e/ou manutenção de produtos e equipamentos de SCIE;

˗ Portaria n.º 1054/2009, de 16 de Setembro – Fixa o valor das taxas pelos serviços prestados pela Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC);

˗ Portaria n.º 610/2009, de 8 de Junho – Regulamenta o sistema informático que permite a tramitação desmaterializada dos procedimentos administrativos previstos no Regime Jurídico da Segurança contra Incêndios em Edifícios (RJSCIE);

˗ Despacho n.º 2074/2009, de 15 de Janeiro de 2009 – Define os critérios técnicos para determinação de densidade de carga de incêndio modificada;

˗ Lei n.º 32/2007, de 13 de Agosto – Regime Jurídico das Associações Humanitárias de Bombeiros.

O RJSCI abrange a totalidade dos edifícios, exceto os estabelecimentos prisionais e os espaços classificados de acesso restrito das instalações de forças armadas ou de segurança e os paióis de munições ou de explosivos e as carreiras de tiro.

O Decreto-Lei n.º220/2008 de 12 de Novembro engloba as disposições regulamentares de segurança contra incêndio a aplicar a todos os edifícios e recintos ao ar livre, distribuídos por doze utilizações tipo, em que cada uma delas está dividida por quatro categorias de risco de incêndio (Rodrigues, 2009).

Num edifício novo, a segurança contra incêndios fica ao abrigo do Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro, da Portaria n.º1532/2008 de 29 de Dezembro e do Despacho n.º 2074/2009, aquando da realização do projeto de arquitetura, dos projetos de segurança contra incêndios em edifícios (SCIE) e dos projetos das restantes especialidades a concretizar em obra. Quanto aos edifícios já existentes à data de entrada em vigor do RJSCIE, estão apenas sujeitos às medidas de autoproteção previstas no Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro e na Portaria n.º1532/2008 de 29 de Dezembro.

As medidas de autoproteção a aplicar a edifícios e recintos, durante a exploração ou utilização dos mesmos, segundo o artigo 21.°, do Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro, baseiam-se nas seguintes medidas:

˗ Medidas preventivas, que tomam a forma de procedimentos de prevenção ou planos de prevenção, conforme a categoria de risco;

˗ Medidas de intervenção em caso de incêndio, que tomam a forma de procedimentos de emergência ou de planos de emergência interno, conforme a categoria de risco;

˗ Registo de segurança onde devem constar os relatórios de vistoria ou inspeção, e relação de todas as ações de manutenção e ocorrências direta ou indiretamente relacionadas com a SCIE;

˗ Formação em SCIE, sob a forma de ações destinadas a todos os funcionários e colaboradores das entidades exploradoras, ou de formação específica, destinada aos delegados de segurança e outros elementos que lidam com situações de maior risco de incêndio;

˗ Simulacros, para teste do plano de emergência interno e treino dos ocupantes, com vista à criação de rotinas de comportamento e aperfeiçoamento de procedimentos. O artigo n.º 198, da Portaria n.º1532/2008 de 29 de Dezembro, refere as medidas de autoproteção exigidas para cada categoria de risco, consoante as diversas utilizações-tipo. Assim, de acordo com o regime jurídico da segurança contra incêndios em edifícios em vigor (RJSCIE), os edifícios dos centros históricos estão sujeitos apenas às medidas de autoprotecção, sem qualquer outro tipo de medidas adicionais.

No caso de reabilitações profundas dos edifícios localizados nos centros históricos, estes ficam sujeitos às imposições do Decreto-Lei n.º220/2008 de 12 de Novembro e da Portaria n.º 1532/08 de 29 de Dezembro. Contudo, devido às especificidades construtivas do edificado aí existente, é praticamente impossível a verificação de algumas imposições do regulamento sem alterar o essencial das suas características culturais, arquitetónicas e históricas. A exceção destes edifícios por parte da legislação em vigor só é possível se forem considerados como imóveis classificados. Nestes casos, ficam apenas sujeitos a medidas de autoproteção (artigo

3.o, ponto 5, do RJSCI). Porém, a maioria dos edifícios dos centros históricos não são

considerados como imóveis classificados.

Antes da entrada em vigor do RJSCIE, os centros urbanos antigos estavam sujeitos ao Decreto-Lei n.º 426/89 de 6 de Dezembro, que apresentava medidas cautelares de segurança contra riscos de incêndio, incidindo especificamente na redução do risco de eclosão, na limitação da propagação dentro dos próprios edifícios e destes para a vizinhança, na disponibilidade dos meios de evacuação e na facilidade para intervenção dos bombeiros. Sendo assim, os edifícios do centro histórico de Viseu estão apenas sujeitos às medidas de autoproteção que o RJSCIE prevê.

Antes da aplicação de qualquer medida de autoproteção deve ser realizada uma avaliação do risco de incêndio, das condições existentes, tanto exteriores como interiores ao edifício em estudo, de forma a identificar os seus pontos mais vulneráveis.

Porém, existe o conceito de proteção do existente, previsto no Decreto-Lei n.º307/2009, de 23 de outubro, que estabelece o regime jurídico da reabilitação urbana, alterado pela Lei n.º 32/2012, de 14 de agosto. Este permite a não observância de normas legais ou regulamentares supervenientes à construção originária, desde que a operação de reabilitação urbana não origine ou agrave a desconformidade com essas normas ou permita mesmo a melhoria generalizada do estado do edifício. Em todo o caso, a não observância de tais regras de construção deve ser identificada e fundamentada pelo técnico autor do projeto de reabilitação, mediante termo de responsabilidade, reforçando-se, em contrapartida, a responsabilidade do mesmo técnico, designadamente pelas suas declarações (Despacho n.º 14574/2012).

Para a construção de edifícios novos, existe um conjunto de normas europeias, denominadas de Eurocódigos (EC), que fornecem regras comuns de cálculo estrutural para a aplicação corrente no projeto de estruturas e dos seus componentes. Os eurocódigos são constituídos por diversas normas:

˗ Eurocódigo 0: Bases para o projeto de estruturas; ˗ Eurocódigo 1: Ações em estruturas;

˗ Eurocódigo 2: Projeto de estruturas de betão; ˗ Eurocódigo 3: Projeto de estruturas de aço;

˗ Eurocódigo 4: Projeto de estruturas mistas aço-betão; ˗ Eurocódigo 5: Projeto de estruturas de madeiras; ˗ Eurocódigo 6: Projeto de estruturas de alvenaria; ˗ Eurocódigo 7: Projeto geotécnico;

˗ Eurocódigo 8: Projeto de estruturas para resistência aos sismos; ˗ Eurocódigo 9: Projeto de estruturas de alumínio.

Cada EC subdivide-se em diversas partes, sendo uma delas referente à análise estrutural para a resistência ao fogo. Esta análise baseia-se na verificação dos critérios de desempenho exigidos a uma estrutura nova, em caso de sinistro, e deve ser baseada em cenários de incêndio de cálculo, considerando modelos de evolução da temperatura na estrutura, assim como modelos de comportamento mecânico da mesma a temperaturas elevadas. Esta verificação visa assegurar uma capacidade resistente adequada e limitar a propagação do fogo em estruturas novas.