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Regulamentação sobre Gastos de Partidos e Candidatos

Os gastos de partidos e candidatos podem estar sujeitos a limites, vetos, e prazos. Além disso, a regulamentação pode especificar quais atores podem realizar os gastos políticos, e pode também determinar mecanismos de prestação de contas e transparência

Atores

Os gastos políticos podem ser realizados por candidatos, partidos políticos ou por terceiros – o que nos EUA se chama de independent

expenditure. As regras concernentes a quem está autorizado a realizar os

gastos variam bastante de país a país. No Brasil, por exemplo, além de partidos e candidatos, as pessoas físicas podem realizar gastos em período eleitoral até o valor equivalente a 1.000,00 UFIRs10 em favor de seu candidato ou partido preferidos. Nos EUA, os gastos de terceiros em favor de candidatos constituem parte substancial do total gasto em campanhas11.

Limites

A imposição de limites ou tetos aos gastos dos partidos e candidatos durante as eleições é uma das medidas mais mencionadas quando se fala em reforma política. Os defensores dessa medida afirmam que os altos custos das

9 “The first are intended to prevent candidates or parties from buying elections, and the second

are intended to prevent those with money from buying candidates”.

10 Lei n. 9.054/97 (Lei das Eleições). A UFIR foi extinta em 2000, quando valia R$1,0641 11 Os gastos de terceiros podem ser feitos por intermédio dos PACs (Political Action Committees) ou dos fundos 527s – organizações da sociedade civil voltadas para atuação

política, que, ao contrário dos PACs, não estão sujeitas a limites de gastos nem a regulamentação das comissões eleitorais federal ou estaduais, uma vez que sua atuação política formalmente é voltada para questões, e não para a eleição de determinados candidatos.O nome dessas organizações vem da seção 527 do código tributário norte- americano, que as isenta de impostos.

31 campanhas eleitorais trazem dois problemas: em primeiro lugar, diminuem as chances dos candidatos com menos dinheiro. Em segundo lugar, os altos custos das campanhas políticas poderiam ser um fator indutor da corrupção, uma vez que a arrecadação de recursos se torna o ponto central da campanha. A imposição de limites também contribuiria para diminuir as disparidades em termos de recursos entre candidatos e/ou partidos.

Segundo o estudo da IDEA, somente 24% dos países adotam limites aos gastos partidários durante as campanhas eleitorais, entre eles, por exemplo, Reino Unido e Canadá. Nos Estados Unidos, o estabelecimento de um teto para os gastos foi declarado inconstitucional após uma disputa travada na Supreme Court (Buckley vs Valeo, 1976), quando o tribunal considerou que a Primeira Emenda, que garante liberdade de expressão, também se aplica a gastos de campanha. No entanto, os candidatos podem se submeter voluntariamente a esses limites. Esse é o caso de candidatos à presidência da República, que para receber recursos públicos devem se comprometer a limitar seus gastos de campanha.

Existem, por outro lado, fortes argumentos contra a imposição do limite aos gastos em campanhas eleitorais. Divulgar candidaturas e propostas tem um custo, o que, segundo alguns autores, significa que esse limite tenderia a beneficiar os candidatos mais conhecidos do público, ou seja, os partidos e candidatos mais estabelecidos, ou que já estão no poder.

Como visto no capítulo anterior, há uma extensa literatura que associa gastos de campanha a resultados eleitorais favoráveis. Os achados dessa literatura não são incontroversos, mas há fortes evidências de que, em eleições com distritos uninominais, embora a relação entre gastos e resultados eleitorais seja positiva, os ganhos marginais são maiores para os desafiantes (challengers) do que para os detentores de mandato (incumbents). Isso porque quanto mais os desafiantes gastam, mais conhecidos se tornam do público, e mais aumentam suas chances de votos. Já para detentores de mandato, o conhecimento dos eleitores não é o fator primordial, e um aumento dos gastos

32 de campanha pode estar significando uma reação a uma competição eleitoral mais acirrada. Tendo isso em mente, o efeito de limitar os gastos de campanha pode ser, ao contrário do esperado pelos legisladores, um favorecimento dos atuais detentores de mandato, e uma conseqüente diminuição da competição eleitoral.

Vetos

A regulamentação dos gastos políticos pode também incluir vetos a determinados gastos, ou ainda vetos a que terceiros realizem gastos em nome de candidatos ou partidos. A legislação brasileira proíbe, por exemplo, gastos com “showmícios” e apresentação remunerada de artistas, propaganda em outdoors, confecção de bonés, camisetas ou distribuição de cestas básicas, e gastos com alimentação e transporte de eleitores no dia da eleição, entre outros.

Prazos

O terceiro item da regulamentação dos gastos políticos são os prazos. O principal prazo é o que separa o ciclo eleitoral em dois: o período de campanha eleitoral e o período entre campanhas. Essa divisão é mais importante do que aparenta, não só porque muitos dos limites e vetos se aplicam especificamente a um desses períodos, mas também porque a extensão do período de campanha está diretamente relacionada com os gastos políticos.

Prestação de contas

A divulgação das contas de partidos e candidatos é uma medida que tem apoio quase unânime de especialistas e órgãos que se dedicam ao combate à corrupção. Em conjunto com controle de gastos ou de receitas ou isoladamente, a transparência das contas de candidatos e partidos permite que as partes envolvidas – eleitores, empresas, governo, associações, partidos

33 políticos, etc. – tomem decisões informadas, isto é, possam calibrar sua ação política de acordo com um quadro mais acurado da realidade.

Mas a transparência com relação às contas ainda não é uma medida adotada por todos os países. Estudo da Idea mostra que 53% dos países têm dispositivos para divulgação das contas partidárias; em 48% dos países a lei exige somente a divulgação dos gastos de partidos políticos, não fazendo referência às fontes de recursos.