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Regulamentações urbanas

No documento Ouro Preto: paisagem em transformação (páginas 87-90)

2 A EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE OURO PRETO

2.3 O primeiro declínio e a fase de estagnação: 1765 a 1900

2.3.2 Regulamentações urbanas

Instituída a organização municipal através da Câmara no período anterior, foi intentada a ordenação do espaço urbano através de algumas legislações, porém a efetivação da aplicação destas determinações será marcante, principalmente no século XIX, à medida que enfatiza a manutenção da regularização do espaço da cidade. No inicio do século XVIII, período analisado anteriormente, a Câmara de Ouro Preto exigia apenas que as novas edificações respeitassem os termos dos alinhamentos fixados pela administração municipal, como pré-condição para aprovação das construções. “No final deste século, já impunha como pré-condição a apresentação dos desenhos, que deveriam corresponder, ainda que de forma precária, aos atuais projetos, submetidos a aprovação da autoridade municipal” (REIS FILHO, 1999, p. 12). Para isso, a Câmara de Vila Rica institui a Resolução de 1795, que viria a mudar o processo que estava acontecendo na Vila, com a intenção de evitar grandes irregularidades na malha urbana da cidade.

Não conceder a pessoa alguma licença para reedificar ou edificar casas, ou outro qualquer edifício, sem que primeiro apresente em requerimento o prospecto, com que a quer edificar, declarando a rua ou o lugar que tudo deverá ser examinado pelo Procurador da mesma Câmara, para em conseqüência da resposta, se deliberar, se se deve ou não conceder a licença (SOUZA, 2000, p. 52).

Ainda em 1795, foi instituído que: “os moradores nesta Vila são obrigados a limpar suas testadas”, não lançando “cousas imundas nas ruas, ou becos públicos, nem nos canos, que deságuam para eles debaixo da pena de meia oitava de ouro de condenação” e que, “toda pessoa que possuir terras nos Arrabaldes e Termo desta Vila será obrigada a descortinar as estradas da sua demarcação” (VASCONCELLOS, 1977, p. 92). Em 1801 proíbe-se o

costume de realizar enterros no interior das Igrejas, surgindo, assim, cemitérios ao seu redor “construídos em patamares sustentados por muros de pedra em junta seca” (MENICONI, 1999, p. 52), cuja medida está relacionada com o surgimento de conceitos relativos à higiene e salubridade das cidades.

Em 1º de outubro de 1828 é sancionada a verdadeira lei orgânica dos municípios (SALGADO, 2004), que estipularia a forma de eleição dos membros das câmaras municipais, estabelecendo a função de cada cargo. Esta legislação contemplaria ainda o primeiro “Código de Posturas” da época, que teria suas regulamentações utilizadas como modelo para que cada município elaborasse suas respectivas posturas. Foram utilizadas, então, como base, as determinações relativas ao alinhamento, matadouros públicos, salubridade (cemitérios, limpeza das vias), pontes, chafarizes, praças, calçadas, iluminação etc. Em Ouro Preto, as Posturas da Câmara foram promulgadas em 1º de fevereiro de 1830, passando a representar “o conjunto de leis e normas que passaria a regular a cidade” (MENICONI, 1999, p. 52). Esta lei prevê a elaboração de planos que regulamentariam a malha urbana da cidade, assim como suas praças e edifícios: “Art. 34 – A Câmara fará levantar com urgência Planos, segundo os quaes (sic) serão formadas as Ruas, Praças e Edifícios desta cidade, e dos Arraiaes (sic) do seu Termo” (ORDENAÇÕES..., 1870, p. 7). Esta determinação pretendia, depois de elaborada, ser executada através dos ”Fiscaes” (sic) que iriam possuir cópia destes planos para segui-los na ordenação da cidade. Antecipando o desenvolvimento do plano previsto no artigo 34, as Posturas de 1830 inserem a preocupação com a fisionomia da cidade através da regulamentação dos alinhamentos das edificações. Este serviço seria executado pelo Alinhador, sendo previsto no Art. 37 que “compete ao Alinhador alinhar e perfilar o edifício conforme o Plano da Povoação” (ORDENAÇÕES..., 1870, p. 8). Ainda neste sentido, não se permite que na cidade que possuir o Plano possa “fazer concerto, ou qualquer obra que possa offender (sic) o alinhamento” (ORDENAÇÕES..., 1870, p. 8) sem licença, sendo necessária esta permissão também para se “edificar e reedificar” (ORDENAÇÕES..., 1870p. 8), prevendo a demolição do edifício ou parte deste para que o alinhamento seja obedecido. A regularização das terras é um fator contemplado nas Posturas, uma vez que “He (sic) proibido edificar, ou fazer qualquer obra em terrenos públicos sem aforamento, ou arredamento” (ORDENAÇÕES..., 1870, p. 9), obrigando assim, a realização de pedidos de concessão e o pagamento do foro anual, o que representava significativo rendimento para a Câmara.

Com relação às edificações, proíbe-se “fazer alpendres, ou (ilegível) nas Ruas e Praças” (ORDENAÇÕES..., 1870p. 9), tendo esta determinação influenciado significativamente na configuração da paisagem da cidade, pois o que se observa é que os alpendres são características raramente encontradas na cidade. No que tange as questões de salubridade,

esta legislação estipula o local para a construção de um cemitério e determina que todos os enterros devem ser feitos neste local. Além disso, proíbe “lançar immundicias (sic), ou lavar roupas, ou quaesquer (sic) outras cousas (sic) nas fontes chafarizes, ou canos, que conduzam águas para bebida, ou nos lugares a ellas (sic) superiores” (ORDENAÇÕES..., 1870, p. 9). Além destas regulamentações, as Posturas tratam, ainda, da limpeza urbana, obrigando os moradores a “conservar limpas as testadas dos quintaes (sic), e casa, em que moram” (ORDENAÇÕES..., 1870, p. 10), assim como proibindo lançar nas ruas e praças “imundícies de cheiro desagradável, ainda que seja por encanamento” (ORDENAÇÕES..., 1870, p. 9).

No que se refere à questão fundiária, são tímidas as recomendações das leis de 1828 e 1830, preservando, em linhas gerais, o estipulado na legislação dos tempos da colônia: suspende o antigo sistema de concessão de sesmarias, porém não instaura outro, sendo que o primeiro perdurou até 1850. A única forma de obtenção de terras era da posse de fato, concentrando, assim, muita terra nas mãos de poucos, caracterizando um período prolongado de indefinição da questão fundiária (MARX, 1991). É introduzido na Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, conhecida como Lei de Terras, o valor de troca da terra, sendo que sua aquisição não se fará mais pela concessão, e sim pela compra e venda, caracterizando-a como mercadoria: “Art. 1º Ficam prohibidas (sic) as acquisições (sic) de terras devolutas por outro titulo que não seja o de compra” (CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS SERTÕES DE LESTE, [200-], p. 1). Esta Lei surge em um momento em que a importância do “preciso parcelamento, a exata estipulação por escrito de suas frações, em planta e, acima de tudo, no próprio local, se impõem; os seus exatos limites, o seu nítido e indiscutível contorno, a sua precisa área se tornam imprescindíveis” (MARX, 1991).

Em 22 de julho de 1886, a Câmara estabeleceu algumas regulamentações urbanas mais detalhadas no que dizem respeito às edificações em geral, regulamentando o dimensionamento de pé direto e portas, sistema de drenagem, materiais, limpeza entre outras:

Art. 4º - As casas que se edificarem na capital terão de pé direito a altura de 18 palmos, no mínimo, as portas 12 de altura sobre 5 de largura. Se for assobradada, o pavimento térreo poderá ter 16 palmos de pé direito. Art. 27º – Os proprietários de prédios da capital são obrigados:

1 – a fazer encanamentos de tubos de barro vidrado ou pedra internamente cimentados e cobertos, para escoamento das águas pluviais, servidas e de latrinas, em seus terrenos e a conservarem latrinas convenientemente limpas e asseadas;

2 – a ter seus prédios, quintais ou cercados, limpos e livres de qualquer lixo, removendo diariamente este para os lugares designados pela Câmara; 3 – a caiar de 3 em 3 anos ou pintar do modo que julgar melhor de 5 em 5 anos a parte externa dos prédios e muros, bem como a conservar limpas e

bem capinadas as testadas na extensão de 1 metro e 30 centímetros (CABRAL, 1969, p. 83-84).

No documento Ouro Preto: paisagem em transformação (páginas 87-90)

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