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de 2010 Regulamenta a PNMC, sobretudo, estabelecendo planos setoriais de mitigação e adaptação frente às alterações

climáticas.

Acordo de Paris Estabelecido em 2015, em Paris, na França, durante a COP 21, objetivando intensificar a atuação global acerca das mudanças do clima. Sob o âmbito do desenvolvimento sustentável, os 195 países têm o compromisso de manter a temperatura média menor a 2o C (dois graus Celsius). As nações ficaram responsáveis em determinarem suas próprias metas para a viabilidade do acordo, respeitando o panorama econômico local.

Fonte: Quadro elaborado pela autora com base nos dados do Ministério do Meio Ambiente (2017)39.

Em que pese o compromisso em reduzir a emissão de gases de efeito estufa, visto no Quadro1, o Brasil em 2016 registrou um aumento de 9% (nove por cento) de emissão de carbono comparado ao ano de 2008, dificultando o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris.

Além da indústria, o setor de transporte configura-se como outro exemplo para entender as mudanças climáticas. O alto grau de poluição atmosférica

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A Folha de São Paulo divulgou que a Conferência das Partes 23, realizada na Alemanha em 2017, resumiu-se a discussões sobre a divisão de responsabilidades para adoção de medidas de redução de gases de efeito estufa entre as nações desenvolvidas e subdesenvolvidas, demonstrando também que o Brasil cobrou maior participação dos países desenvolvidos para atingir metas antes de 2020, Atualmente o nível de aquecimento global está ultrapassando os 3o C (três graus Celsius). A Conferência das Partes23 estabeleceu revisão de suas metas entre os anos de 2018 e 2020 (AMARAL, Ana Carolina. COP-23 termina nesta sexta com avanços discretos na implementação do Acordo de Paris. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/11/1936030-cop-23- termina-nesta-sexta-com-avancos-discretos-na-implementacao-do-acordo-de-paris.shtml>. Acesso em: 17 dez. 2017).

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BRASIL. Ministério do Meio Ambiente Disponível em: <http://www.mma.gov.br/>. Acesso em: 17 dez. 2017.

produzida pelo modal rodoviário segue o modelo de desenvolvimento do país que se baseia em combustível fóssil (petróleo, carvão e gás natural) (BOSON, 2011)40.

O modal rodoviário está em constante crescimento por ser indispensável à população. Contudo, vem acompanhado por problemas, como frota sucateada, baixa qualidade do combustível e presença de malha rodoviária deficiente que provoca aumento nos custos operacionais do transporte, principalmente, de carga e maior consumo de combustível, impactando o meio ambiente (BOSON, 2011)41.

O setor hidroviário, por outro lado, historicamente menos utilizado no país em virtude do modelo de desenvolvimento, agregaria benefícios tanto econômico pelo frete a custo menor, como ambiental diante da redução de gases poluentes, levando em conta a quantidade de mercadoria transportada quando comparada ao transporte rodoviário. Um dos entraves para aumentar o uso do transporte aquaviário está no reduzido montante de investimentos públicos e privados42 ainda que a Política Nacional sobre Mudança do Clima, criada pela Lei 12.187/200943, expresse como um dos seus instrumentos o estímulo a “linhas de crédito e financiamento específicas de agentes financeiros públicos e privados” (art. 60,

VII); fato que pode ser explicado pelo maior interesse no uso da água pelo setor elétrico.

Mesmo assim, a referida lei não dá a devida relevância ao setor de transporte, apenas destinando à temática o art. 110, em seu parágrafo único:

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BOSON, Patrícia Helena Gambogi. Transporte rodoviário e mudanças do clima no Brasil. In: MOTTA, Ronaldo Seroa et. al (ed.) Mudança do clima no Brasil: aspectos econômicos, sociais e

regulatórios. Brasília: IPEA, 2011. Disponível em: <

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_mudancadoclima_port.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2017.

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BOSON, Patrícia Helena Gambogi. Transporte rodoviário e mudanças do clima no Brasil. In: MOTTA, Ronaldo Seroa et. al (ed.) Mudança do clima no Brasil: aspectos econômicos, sociais e

regulatórios. Brasília: IPEA, 2011. Disponível em: <

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_mudancadoclima_port.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2017.

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BRASIL, Ministério dos Transportes.

Diretrizes da Política Nacional de Transporte Hidroviário. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/dpd/cegp/2013/LOG/Textos%20gerais/politica%20nacional%20de%20trans porte%20hidro.pdf>. Acesso em: 20 set. 2016.

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BRASIL. Lei n.o 12.187 de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do

Clima – PNMC e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm>. Acesso em: 19 ago. 2016. A referida lei encontra-se na íntegra no Anexo A.

Decreto do Poder Executivo estabelecerá, em consonância com a Política Nacional sobre Mudança do Clima, os Planos setoriais de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas visando à consolidação de uma economia de baixo consumo de carbono, na geração e distribuição de energia elétrica, no transporte público urbano e nos sistemas modais de transporte interestadual de cargas e passageiros, na indústria de transformação e na de bens de consumo duráveis, nas indústrias químicas finas e de base, na indústria de papel e celulose, na mineração, na indústria da construção civil, nos serviços de saúde e na agropecuária, com vistas em atender metas gradativas de redução de emissões antrópicas quantificáveis e verificáveis, considerando as especificidades de cada setor44.

Como alcançar a meta de redução de gases poluentes entre “36,1% (trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento)” (art. 12o

) até 2020 sem investimentos em setores menos agressivos ao meio ambiente? A citação acima apenas coloca a necessidade de primar por uma economia de baixo carbono, inserindo o setor de transporte no rol das áreas que contribuem para impactar a atmosfera.

Pelo relatório, anteriormente mencionado, a CNI tenta se inserir nas propostas da Lei 12.187/200945, pois, de acordo com esta normativa, deve-se valorizar a indústria, através de ações conjuntas entre o poder público e o setor privado (art. 30, V), baseando-se em princípios sustentáveis, ou seja, garantindo-se no presente e no futuro (art. 30, I, IV e V). Os integrantes deste setor consideram-se indispensáveis ao desenvolvimento socioeconômico nacional (art. 40, I), devendo estar em consonância com a proteção ambiental (art. 40, I). Resta saber: é possível no atual modelo de desenvolvimento existir realmente o compromisso com o meio ambiente e o uso equitativo da água?

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BRASIL. Lei n.o 12.187 de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do

Clima – PNMC e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm>. Acesso em: 19 ago. 2016. A referida lei encontra-se na íntegra no Anexo A.

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BRASIL. Lei n.o 12.187 de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do

Clima – PNMC e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm>. Acesso em: 19 ago. 2016. A referida lei encontra-se na íntegra como Anexo A.

A questão climática tem obtido atenção no Brasil com a redução pluviométrica, desde 2012, tanto nas regiões Sudeste como Nordeste; redução que toma como média histórica mensal a quantidade de chuva desde os anos de 1930 (ANA, 2014)46. O que se deve chamar à atenção é que a diminuição das chuvas pode ser argumento supervalorizado para sensibilizar a sociedade civil de maneira a escamotear os erros de gestão dos recursos hídricos e as concessões privilegiadas para o setor elétrico não divulgadas pelas agências governamentais nos meios de comunicação. Os veículos de comunicação, em geral, vinculam a regularização do rio São Francisco somente à seca, como se pode perceber a seguir:

Na maior seca da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco em quase 90 anos de medição oficial, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) reduziu hoje (31) a vazão de reservatórios do Velho Chico a partir da Usina de Xingó, entre Alagoas e Sergipe, de 600 metros cúbicos (m³) por segundo para 580 m³ por segundo. A vazão regular de Xingó era de 1.300 m³ por segundo em 2012, início da estiagem que se prolonga até agora47.

As informações veiculadas são superficiais e não levam em conta as manobras do poder público para atender ao setor elétrico brasileiro, por isso o desconhecimento de muitos acerca também do quão são necessárias ações mais efetivas de proteção e revitalização de biomas a fim de se obter uma satisfatória disponibilidade hídrica48.

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AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: informe 2014. Disponível em: <http://http://www.ana.gov.br>. Acesso em: 14 jun. 2015.

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VILLELA, Sumaia. PE: vazão do São Francisco é reduzida novamente em maior seca em quase 90 anos, 31 de agosto de 2017. Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017- 08/pe-vazao-do-sao-francisco-e-reduzida-novamente-em-maior-seca-em-quase-90-anos>. Acesso em: 24 fev. 2018.

48Referindo-se aos Estados Unidos, Chomsky (2017) alerta que: “A forma padrão de tratar da questão

é apresentá-la como um debate entre alarmistas e céticos: de um lado estão praticamente todos os cientistas qualificados; do outro, alguns negacionistas resistentes” (CHOMSKY, 2017, p. 126). Segundo o autor, os Estados Unidos chegam a tornar o problema climático mais drástico ao fazer propaganda de um ilusório aquecimento global, justificando o corte de subsídios às medidas mitigadoras da devastação da natureza. Enquanto isso, a Bolívia conseguiu reunir diversos países, formando a Cúpula dos Povos Frente às Mudanças Climáticas que resultou no Acordo dos Povos, o qual estabeleceu a Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra e a diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Essa iniciativa se deu diante do fracasso da Conferência sobre Mudança Climática de Copenhague, na Dinamarca, em 2009, uma vez que não se conseguiu chegar a nenhum acordo (CHOMSKY, 2017; BRUCKMANN, 2015).

Para entender a explicação das agências governamentais no Brasil, deve- se considerar que, dos suprimentos de água doce, os rios e lagos são os maiores fornecedores49 (TUNDISI e MATSUMURA-TUNDISI, 2011). Tais reservas, que integram os sistemas hídricos, são possuidoras de mecanismos dinâmicos que necessitam de reposição; daí a importância atribuída às chuvas (BRUCKMANN, 2015).

A América do Sul, incluindo o Brasil, é abundante em recursos hídricos, possuindo, aproximadamente, ¼ (um quarto) de água doce mundial e mesmo assim a água não chega até a maioria das populações (SILVA et. al, 2006). A ANA salienta que o Brasil detém cerca 12% (doze por cento) das reservas de água doce do globo, sujeitas ao desequilíbrio na sua distribuição. É na região Norte do país que se concentram cerca de 80% (oitenta por cento) de reserva hídrica enquanto nas áreas próximas ao Oceano Atlântico existem menos de 3% (três por cento)50. Já o rio São Francisco é responsável por 70% (setenta por cento) de disponibilidade hídrica para atender a região Nordeste e o Norte de Minas Gerais51. As bacias hidrográficas brasileiras mencionadas podem ser visualizadas no Mapa 1.

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O planeta dispõe de aproximadamente de 3% (três por cento) do total de água doce, distribuídos em aquíferos, calotas polares, geleiras, rios e lagos, enquanto os 97% (noventa e sete por cento) correspondem à água salgada (SHIKLOMANOV, 1998 apud TUNDISI e MATSUMURA-TUNDISI, 2011).

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Agência Nacional das Águas. Quantidade de água. Disponível em: <http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/panorama-das-aguas/quantidade-da-agua>. Acesso em: 24 fev. 2018.

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Informação divulgada pelo CBHSF. Vide: JORNAL do Brasil, 31 de agosto de 2017. Disponível em: http://www.jb.com.br/pais/noticias/2017/08/31/pe-vazao-do-sao-francisco-e-reduzida-novamente-em- maior-seca-em-quase-90-anos/. Acesso em: 24 fev. 2018.