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REGULAMENTO DA COMISSÃO EXECUTIVA PARA A COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa São Paulo, 20 de maio de

2003.

85 RIBEIRO, Lilian Aparecida. Sakura Matsuri – um espetáculo de beleza e integração. A Semana, Curitibanos, 13 a 19 set. 2008.

Imagem 10 – Artigo publicado após a realização do Sakura Matsuri em 2008.86

A vinda dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil no navio Kasato Maru, em 1908, foi largamente mencionado na mídia, nas publicações escritas e impressas, nos eventos realizados ao longo de 2008, ano de comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. A produção de sentidos históricos sobre o centenário, evocava memórias da imigração e da contribuição dos imigrantes japoneses para o Brasil. Segundo Nora, a ampla circulação da percepção histórica no presente se encontra em um novo advento, o acontecimento.

A partir dos estudos da historiadora Helenice Rodrigues da Silva, na “instrumentalização da memória”, expressão tomada emprestada do filósofo Paul Ricoeur, encontra-se a seleção de memórias que envolvem interesses políticos, jogos ideológicos, éticos, entre outros. Segundo Silva, durante as comemorações nacionais, a seleção da memória coletiva, inserida no processo de “rememoração social”, visa “impedir o esquecimento” (SILVA, 2002, p.432). A rememoração na mídia sobre a vinda de imigrantes japoneses, dos “mitos fundadores”, as memórias do árduo trabalho, das dificuldades encontradas nas fazendas onde estes imigrantes começaram a se estabelecer, o enaltecimento

86 RIBEIRO, Lilian Aparecida. Sakura Matsuri – um espetáculo de beleza e integração. A Semana, Curitibanos, 13 a 19 set. 2008.

de suas contribuições no Brasil, ao longo destes cem anos acabam por omitir aquilo que seria um potencial constrangimento quanto às discussões raciais e às políticas migratórias no início do século XX, as representações construídas acerca dos japoneses neste período, como “perigo amarelo”, por conta da política expansionista japonesa – discussões que são posteriormente retomadas no período após a Segunda Guerra Mundial, após o reatamento das relações diplomáticas entre Brasil e Japão.

O artigo do jornal A Semana, escrito por Lilian Aparecida Ribeiro, anuncia o Sakura

Matsuri que ainda está para ocorrer e, além de por em evidencia a festa como uma das

comemorações que celebram o Centenário da Imigração Japonesa, constrói uma narrativa que elabora os significados da festa. Neste sentido, a narrativa impressa busca na memória histórica a semântica da festa.

A cerejeira é considerada a flor símbolo do Japão. Seu nome provém de lendas e crenças. Sakura ú uma modificação do nome sakuya, proveniente da princesa Kono-haa-sakuya-hime, a qual os japoneses veneravam no topo do Monte Fuji. Acredita-se que a princesa tenha caído dos céus sobre uma cerejeira. Outro aspecto de significado da sakura é sua forte ligação com os samurais. No período feudal, a vida desses guerreiros era comparada À efemeridade da flor de cerejeira, que durava apenas três dias na primavera. Da mesma forma, eram os samurais, sempre dispostos a dar suas vidas em nome de seus mestres. A florada das cerejeiras inicia no mês de julho.87 O passado é evocado com mitos, lendas, com os samurais e o seu tempo de vida intimamente relacionado ao tempo do florescimento das cerejeiras. Estas memórias históricas por mais que não falem explicitamente em tradição, produzem o sentido da longevidade da prática de observação do florescimento das cerejeiras. Uma continuidade com o passado histórico que, no entanto, não indica a estagnação ou a cristalização de memórias, mas sim a sua reatualização. Falar sobre os samurais não promete ao potencial visitante da festa, o seu encontro com samurais reais, como se os tivesses transportado do período feudal japonês, mas sim remete todo um peso de ensinamentos e disciplinas, promete o encontro com valores e costumes traduzidos e divulgados perante o público de visitantes que os prestigia com admiração este espetáculo turístico que , em 2008, encontrava-se em sua 11ª edição. Valores e costumes que mostraram a sua adaptabilidade com o presente, dialogados com um passado, representado-o.

No artigo publicado após a realização do Sakura Matsuri, a festa é narrada como “um espetáculo de beleza e integração”, realizada

87 RIBEIRO, Lilian Aparecida . Festa da Florada da Cerejeira acontece nos dias 6 e 7 de setembro. A Semana, Curitibanos, 23 a 29 ago. 2008.

No ano do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, a comunidade nipônica do Núcleo Celso Ramos comemora a 11ª Sakura Matsuri e demonstra como conseguiu manter suas tradições e integrar-se de forma marcante à cultura brasileira.88

As narrativas impressas sobre a comemoração da floração da cerejeira enaltece a beleza, a integração, o “sabor da culinária”, a “energia e leveza [que] são marcantes na música e na dança”, a “força das mãos, da mente e da espada nas artes marciais japonesas”, e “cada passo [que] é uma demonstração de respeito ao convidado”89. A consagração do “universalismo dos valores de uma comunidade” (SILVA, 2002, p.432) e as resignificações sobre os sentidos da festa se encontram nestas comemorações, a partir da “rememoração de acontecimentos passados” e suas significações “para uso no presente” (SILVA, 2002, p.432). Associar o Sakura Matsuri ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil evoca, de forma coletiva, a memória do acontecimento de um ato fundador. Por mais que os imigrantes japoneses do Núcleo Celso Ramos tenham migrado ao município de Curitibanos no período após a Segunda Guerra Mundial, formando este núcleo agrícola, associá-los a esta memória fundadora do início do século XX, a vinda dos primeiros imigrantes em 1908, produz a compressão do tempo e espaço ao resignificá-lo no presente em que ocorre o Sakura Matsuri. Entre o acontecimento e a festa, o que se encontra é a abolição do tempo e da distância no processo comemorativo, e neste, a impressão é de que valores, tradições e costumes parecem terem sido mantidos intocáveis, quando na verdade, observa-se a invenção de tradições, as transformações, as resignificações. Entre acontecimento e festa, a tradução cultural atua durante o processo comemorativo, aquecendo o passado e trazendo-o ao alcance dos visitantes que querem encontrar “um pedacinho do Japão”. Depois do ano de 2008, o Sakura Matsuri ganha outras proporções, chegando a receber mais de dois mil visitantes em 2009 e quase três mil em 2010.

Comemorar significa “reviver de forma coletiva a memória de um acontecimento considerado como ato fundador, a sacralização dos grandes valores e ideais de uma comunidade constituindo-se no objetivo principal” (SILVA, 2002, p.432). O Sakura Matsuri torna-se um espaço para a comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. Trazem à tona a memórias da imigração assim como valores que são revividos, resignificados e compartilhados sob uma perspectiva idealizada.

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RIBEIRO, Lilian Aparecida. Sakura Matsuri – um espetáculo de beleza e integração. A Semana, Curitibanos, 13 a 19 set. 2008.

3. NO DESABROCHAR DA FESTA, O MUNDO POR TRÁS DAS PAREDES DA