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2 ELETRIFICAÇÃO RURAL E PERDAS ELÉTRICAS: Estado da Arte

2.2.3 Regularização das Cooperativas de Eletrificação Rural

As CER são agentes presentes no setor elétrico brasileiro desde a década de 40, expandindo-se mais fortemente nas décadas de 60 e 70. Como mencionado nas seções anteriores, foram formadas por pioneiros, que se reuniram para viabilizar a eletrificação de suas propriedades.

Devido ao crescimento do mercado e a rápida urbanização o perfil de atuação da maioria das CER foi mudando, tornando-as possuidoras de características semelhantes às concessionárias. Depois da reestruturação do setor elétrico, a ANEEL previu a necessidade de regulamentação dos serviços prestados pelas cooperativas visando adequá-las às novas orientações regulatórias e de direito da eletricidade. Este processo teve início com a edição da Resolução 333, de dezembro de 1999, pela ANEEL.

Segundo Pelegrini (2003), a não regulamentação das cooperativas prejudica o desenvolvimento do setor agroindustrial relegando as mesmas a operar numa área demarcada, mas não regulada estando, portanto livres do alcance da legislação imposta ás concessionária. Em tempos de

universalização da energia elétrica, o cidadão rural morador dessas áreas atendidas pelas CER fica prejudicado no seu direito.

A Resolução 333/1999 estabeleceu as condições gerais para a implantação de instalações de energia elétrica de uso privativo; dispôs sobre a permissão de serviços públicos de energia elétrica e fixou as regras para regularização das CER. Foi destacada também a importância do cooperativismo de eletrificação rural: “as cooperativas, em sua maioria denominadas de eletrificação rural, desempenharam e continuam a desempenhar papel histórico no processo de interiorização dos serviços de energia elétrica, cujo o pioneirismo em áreas rurais, e até mesmo urbanas, de várias regiões do país, levou-as a serem contemporâneas ou até precederem algumas concessionárias de serviço público de energia elétrica, assim viabilizando o acesso a esse serviço a mais de 500.000 consumidores de todas as classes de consumo”(PRADO, 2014).

Em 2002, no dia 11 de janeiro, a Resolução 333 foi substituída pela Resolução 12, estabelecendo somente as condições gerais para a regularização das CER. A principal mudança é que a Resolução 12/2002 trata somente da regularização das cooperativas, excluindo as questões de autorização para uso privativo e da permissão de serviço público, que era o grande questionamento das concessionárias, receosas com a possibilidade de surgimento de novos agentes, além das cooperativas existentes. Foram definidos dois tipos de enquadramento para as cooperativas: Permissionárias e Autorizadas (PELEGRINI, 2003; MEDEIROS; ZORDAN, 2009).

As Permissionárias, são aquelas que atendem a um público indistinto (rural e urbano). Além da necessidade de ter um contrato de adesão, a permissionária está obrigada a garantir um bom atendimento aos consumidores, com uma prestação de serviços adequada e atendendo às exigências da ANEEL, tais como: celebrar contrato de uso e de conexão aos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica, estar em dia com o Plano de Contas do Serviço Público mantendo registro contábil, praticar tarifas previamente homologadas, garantir o atendimento de seu mercado e garantir acesso livre ao seu sistema elétrico. São supridas de energia pela concessionária atual ou podem comprar energia no mercado interligado por meio de leilão, se assim entenderem.

As Autorizadas, são cooperativas que atuam somente em áreas rurais, operando instalações de energia elétrica para uso privativo de seus associados destinando a utilização das cargas exclusivamente ao desenvolvimento de atividades de predominância rural. Nesse caso é

necessário um contrato de fornecimento. O fornecimento de energia deve ser feito na área de atuação estabelecida e estar enquadrado nas normas das Condições Gerais de Fornecimento, mantendo um cadastro de controle de instalações de energia elétrica, registros contábeis do rateio entre os associados das despesas diretas ou indiretas da energia elétrica e também registros contábeis de valores vinculados à energia elétrica em separado (OLIVEIRA, 2009).

De acordo com Pelegrini (2003), a regulação dos agentes de distribuição pode ser definida em duas dimensões:

 A regulação técnico-comercial: que trata da qualidade do serviço e das relações com os consumidores.

 A regulação econômica: que trata das tarifas e do equilíbrio econômico financeiro da empresa.

A polêmica em relação ao processo de regularização das cooperativas prendeu-se na criação desse ambiente legal. Até o março de 2006 as cooperativas não estavam reguladas nem na dimensão técnico- comercial, nem na dimensão econômica. Só passam a ter o enquadramento legal definido as cooperativas que assinarem um contrato de adesão à permissão ou receberem um ato autorizativo. Neste sentido pode-se perceber no setor o interesse das cooperativas em regularizar sua situação garantindo aquilo que acreditam ser seu direito e participando das iniciativas de regulação do setor.

Do total das CER existentes no país, em 2011, no dia 23 de fevereiro, seguindo com o processo de formalização da regularização das CER, a ANEEL assinou contrato de permissão com 38 entidades e emitiu resoluções que enquadram outras 10 na condição de agente autorizado. Com a regularização, os consumidores das cooperativas passam a ter direitos e deveres equivalentes aos consumidores das 63 concessionárias de distribuição. Em contrapartida, as cooperativas submetem-se à legislação relativa aos serviços públicos e, especificamente, à energia elétrica, bem como às normas e regulamentos expedidos pela ANEEL, em especial às obrigações e encargos fixados para a garantia de padrões de qualidade e adequação do serviço. Com a assinatura dos contratos e a emissão de resoluções autorizativas, os consumidores das cooperativas passam a pagar tarifas fixadas pela ANEEL (ANEEL, 2013c).

Sobre as tarifas, o sistema regulatório aplicado à distribuição de energia no Brasil é do tipo preço-teto (price-cap), no qual a ANEEL estabelece os preços máximos que podem ser aplicados por essas empresas. Os mecanismos de regulação das concessionárias e permissionárias são basicamente a revisão tarifária, que incide

periodicamente a cada três, quatro ou cinco anos, dependendo do contrato de concessão, e o reajuste tarifário anual, que se trata de correção monetária e compartilhamento de ganhos de produtividade (ABRADEE, 2014).