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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.2. Relação da Bitcoin com outros Mercados

No que respeita à relação da Bitcoin com outros mercados referem-se vários estudos, como o de Baumöhl (2018) onde foi analisada a relação entre as moedas tradicionais e as criptomoedas. As moedas tradicionais analisadas neste estudo são Euro (EUR), Yen Japonês (JPY), Libra Britânica (GBP), Franco Suíço (CHF), Dólar Canadiano (CAD), e o Yuan Chines (CNY), e as criptomoedas são a Bitcoin, a Ethereum, a Ripple, a Litecoin, a Stellar e a NEM. Este estudo compreendeu os anos entre 2015 e 2017. Através da utilização da metodologia DMCA (Detrended Moving-average Cross-correlation

Analysis), foram reveladas evidências de uma fraca relação entre esses mercados, tanto

na perspetiva de curto como de longo prazo.

Também Kristjanpoller and Bouri (2019) analisaram as correlações cruzadas entre as moedas convencionais como o Euro (EUR), Franco Suíço (CHF), Yen (JPY), Dólar Australiano (AUD) e Libra Britânica (GBP) e as criptomoedas Bitcoin, Litecoin, Ripple, Monero e Dash, entre os períodos de 2014 e 2018. Através da utilização do método MF- ADCCA (Multifractal Asymmetric Detrended Cross-Correlation Analysis), os resultados evidenciam a existência de características assimétricas significativas na correlação cruzada.

Diferentes estudos além de relacionarem as criptomoedas, e consequentemente a Bitcoin, com as moedas tradicionais também as relacionam com ativos considerados seguros. Klein et al. (2018) estudaram a correlação entre a Bitcoin e o Ouro, entre o período de 2011 e 2017, através da utilização do modelo GARCH (Generalized

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Autoregressive Conditional Heteroskedasticity). Esta é uma análise importante uma vez

que o Ouro desempenha um papel de destaque nos mercados financeiros, sendo considerado um investimento seguro quando os mercados se encontram em dificuldades. Os seus resultados mostram que a Bitcoin não reflete as propriedades distintivas do Ouro, e que esta não deverá ser considerada como um ativo de cobertura.

Corbet et al. (2018) analisaram três tipos diferentes de criptomoedas, (Bitcoin, Ripple, Lite) e outros ativos como o Ouro e Forex, tendo em conta os anos entre 2013 e 2017. Os resultados mostram que as criptomoedas, sendo um mercado de ativos recente, apresenta-se como uma oportunidade de os investidores diversificarem os seus investimentos, principalmente no curto prazo. As criptomoedas apesar de ligadas entre si, não se relacionam com os principais ativos e devido às particularidades deste mercado é difícil conseguir a cobertura destes ativos.

Shahzad et al. (2019) realizaram um estudo sobre a possibilidade da Bitcoin e do Ouro terem capacidades de cobertura e de serem investimento seguro - “safe-haven” nos mercados do G7, tendo em conta no período entre 2010 e 2018. Os autores concluíram que o Ouro e a Bitcoin têm características de investimento seguro e cobertura diferentes. O Ouro é considerado um investimento seguro e faz a cobertura na maior parte dos índices de ações destes países, enquanto que a Bitcoin só assume ambas as funções no Canadá.

Já os estudos de Bouri et al. (2020) sobre se a Bitcoin e o Ouro são potenciais investimentos seguros, mostraram que apesar das propriedades estatísticas da Bitcoin serem bem diferentes das do Ouro, a Bitcoin pode ser vista como o novo Ouro virtual no que respeita às suas capacidades de cobertura de risco (especialmente de cobertura em ações e em dólar americano), o que está de acordo com o estudo de Dyhrberg, (2016) que refere que a Bitcoin possui algumas capacidades de ser um ativo de cobertura, nomeadamente com o dólar americano, mas contradizendo os resultados encontrados por Corbet et al. (2018) e Klein et al. (2018).

Kwon (2020) através da metodologia de “conditional VaR” realizou uma análise sobre o comportamento da “cauda estatística” da Bitcoin e do Ouro, compreendida entre os anos de 2013 e 2019. Os resultados do seu estudo evidenciam uma correlação pequena e estatisticamente não significativa entre a Bitcoin e o Ouro.

Existem também estudos que relacionam a Bitcoin com outros tipos de ativos. Wang et al. (2016) utilizaram o modelo VECM (Vector Error Correction Model) onde incluíram variáveis macroeconómicas globais como o petróleo, com a finalidade de avaliar uma

38 possível relação de causalidade face à Bitcoin, tendo em conta período compreendido entre 2011 e 2016. As suas análises revelaram que no curto prazo, o preço do petróleo tem pouca influência no preço da Bitcoin, já no longo prazo o petróleo tem um efeito negativo no preço da Bitcoin.

Já Symitsi e Chalvatzis (2018) analisaram a ligação entre a Bitcoin e companhias ligadas à tecnologia e energia. Neste estudo foi considerado o período de 2011 a 2018, e foi utilizado o modelo VAR-GARCH (Vector Autoregression - Generalized

Autoregressive Conditional Heteroskedasticity). Os resultados mostram evidências de

relações entre esses mercados, nomeadamente no curto prazo a Bitcoin pode ser influenciada pela volatilidade das empresas de tecnologia, enquanto que a volatilidade de longo prazo da Bitcoin influência as empresas de energia.

De forma a entender melhor os fatores que influenciam o preço da Bitcoin, autores como Buchholz et al. (2012) através da utilização dos modelos ARCH (Autoregressive

Conditional Heteroscedasticity) e GARCH (Generalized Autoregressive Conditional Heteroskedasticity), numa análise que compreendeu o período entre 2010 e 2012,

obtiveram resultados que mostraram evidências de que a volatilidade afeta de forma significativa a procura da Bitcoin, verificando-se a existência de uma “bolha” no mercado das criptomoedas, bem como um comportamento especulativo.

Bouoiyour e Selmi (2015), que através da metodologia ARDL (Autoregressive

Distributed Lag), estudaram os principais determinantes do preço da Bitcoin entre o

período 2010 e 2014, obtiveram resultados que evidenciaram um comportamento extremamente especulativo dos seus preços e, contrariamente a estudos anteriormente citados, os autores não encontram evidências de que a Bitcoin pudesse ser considerada um investimento seguro.

Já Ciaian, Rajcaniova, e Kancs (2016), utilizaram o modelo tradicional de oferta e procura da formação de preços de moedas para tentar explicar a formação de preço da Bitcoin, tendo em conta um período temporal de 5 anos, compreendido entre 2009 a 2015. Os autores concluíram que o preço da Bitcoin é de facto explicado em grande medida pelo modelo tradicional da procura e da oferta: o lado da procura tem um grande impacto na formação de preço da Bitcoin, nomeadamente o seu tamanho económico, verificando- se que o lado da oferta é considerado uma variável exógena.

Zhu et al., (2017) estudaram os fatores de influência do preço da Bitcoin, entre o período de 2011 e 2016, concluindo que o preço do Ouro não tem influência no preço da

39 Bitcoin, e que além da procura e da oferta o preço da Bitcoin também é influenciado por índices económicos.

Já Urquhart, (2018) e Dastgir et al., (2018) referem que o aumento da volatilidade tem um impacto positivo na procura por Bitcoin, atraindo assim a atenção dos investidores para este mercado.

Da relação da Bitcoin com outros mercados compreende-se que não existe consenso quanto à afirmação se a Bitcoin pode ou não ser considerada um ativo de cobertura ou investimento seguro – “safe haven”. Contudo, verificou-se consenso no facto da Bitcoin não estar relacionada com o Ouro e de não reunir as características de cobertura do Ouro. Verifica-se também a existência de uma relação de curto prazo entre a Bitcoin e petróleo e entre a Bitcoin e empresas tecnológicas. E que a volatilidade afeta a procura por bitcoin de forma positiva.