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Caso 1 Caracterização sociodemográfica

6.4 Relação com a medida ILE

No que respeita aos meios de informação que permitiram aos candidatos ter conhecimento do programa ILE, os serviços do IEFP são indicados como a principal fonte de informação sobre o Programa, sendo de destacar o contato presencial no Centro de Emprego, como o mais importante. A divulgação externa, nomeadamente através do sítio da internet do IEFP, foi a primeira fonte utilizada pelos entrevistados mais jovens (CS2 e CS5). Alguns dos entrevistados (CI1 e CI3) abordaram inicialmente outras entidades, como “a Associação Nacional de Jovens Empresários, que lhes falou do programa ILE e sugeriu o contato com o Centro de Emprego”. Saliente-se igualmente o papel desempenhado na divulgação desta medida por “amigos ou conhecidos”, como foi o caso do inquirido (CS1) e das “empresas de contabilidade e consultoria”, casos de CS4 e CI5.

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É unânime o desconhecimento pelos entrevistados da existência de outros programas de apoio pertencentes a outras entidades públicas. De facto, a situação de desemprego, comum a todos os promotores, levou a que, como nos relatou o entrevistado CI1, a que “outras eventuais medidas de apoio, fora do IEFP, não tivessem cabimento para este tipo de projeto(…) por ser demasiado pequeno. Na altura desloquei-me a outra entidade, mas eles apostavam em projetos com uma dimensão maior, com mais emprego e (salienta após pausa) os apoios que concediam não eram a fundo perdido”.

De um modo geral, os primeiros contactos com o Centro de Emprego foram extremamente positivos, nomeadamente em termos de celeridade, de clareza e de objetividade na prestação das informações solicitadas, tanto telefonicamente como presencialmente.

Todos os entrevistados participaram em sessões coletivas de informação para “potenciais empreendedores”, que se realizam com regularidade nos Centros de Emprego. Segundo o entrevistado CI4, a “participação na sessão não foi para mim uma mais valia, isto porque as informações prestadas anteriormente com carácter individual revelaram-se mais profícuas”. Por outro lado, e de forma unânime, os entrevistados reconhecem que as “sessões coletivas não são muito produtivas, pois aglutinam numa sala um grupo heterogéneo de pessoas, algumas delas sem ideias suficientemente claras”.

No âmbito do processo de candidatura, a totalidade dos inquiridos não atribuiu ao Centro de Emprego um papel de relevo quanto ao aconselhamento que lhes foi dado, traduzido nomeadamente em sugestões de alteração ao conteúdo da candidatura inicial. Para que tal tenha acontecido, parece não ser alheio o facto de tanto a ideia de negócio como o estudo de viabilidade económico financeiro, serem submetidos para apreciação e posterior análise como “factos consumados”. Ou seja, a ideia e o plano de negócios não são trabalhados ao longo do tempo em articulação entre os promotores e o Centro de Emprego. Assim sendo, todos os entrevistados reconheceram que “as sugestões efetuadas pelo Centro de Emprego não alteraram de forma de forma significativa o projeto apresentado”. As sugestões de alteração centraram-se sobretudo em aspetos relacionados com o número de postos de trabalho a criar, do enquadramento da área de atividade e do preenchimento/apresentação do formulário de candidatura.

Por ser uma das “peças” que é parte integrante do processo de candidatura, todos os promotores tiveram que apresentar um estudo de viabilidade económico financeira. No caso em apreço, todos os promotores recorreram a outras pessoas/entidades com o fim de obter apoio para a sua elaboração, pelo que nesta vertente “não foram sentidas dificuldades

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de maior”. Neste aspeto destaca-se o papel “principal” que as empresas de contabilidade e consultoria assumem, pois são as responsáveis pela elaboração da totalidade das candidaturas. Segundo o entrevistado CS2, “foi feito um estudo de viabilidade económico financeiro do projeto embora pessoalmente não considere que estes estudos sejam importantes para o sucesso dos projetos. Para mim o que conta mais é a vontade e a perseverança do promotor. O que vemos nos estudos de viabilidade são unicamente números para tornar o projeto viável e ser aprovado. As grandes dificuldades surgem depois no terreno(…).”.

De entre os promotores entrevistados, salientamos também aqueles, que não obstante terem recorrido a entidades externas, “envolveram-se” de forma ativa na concretização dos seus projetos, como foram os casos de CI3, CI5 e CS3. Outros houve, como o entrevistado CS4, que referiu ter sido “o contabilista quem definiu o número de clientes que teria que ter, qual a faturação(…) Apesar de ter falado com ele, a linguagem que ele utilizava não era clara. Mas eu pensei: tenho algum capital, tenho força de vontade, uma boa rede de contatos. Foi isso que me ajudou….”

Quanto às principais dificuldades sentidas durante o processo de candidatura, os entrevistados apontam a demora na concessão de apoios financeiros (inviabilizando quer o investimento quer a constituição de um fundo de maneio) e a excessiva carga burocrática, traduzida na dificuldade em obter documentos (por exemplo, licenças das instalações, licenciamentos camarários, certidões de não dívida) exigidos para que o “processo avance”. Segundo o entrevistado CI2, a principal dificuldade traduziu-se em encontrar instalações adequadas para a atividade a desenvolver. Aliás, todo o processo relacionado com as mesmas foi, segundo aquele, “uma autêntica dor de cabeça”. Pois, “para além das negociações com o senhorio terem sido difíceis, a questão efetivamente complicada que suplantou todas as outras, relacionou-se com o licenciamento das obras e da própria atividade, que roçou quase o pesadelo, mesmo kafkiana, que custou imenso dinheiro e tempo”. Aliás, não foi este o único promotor a lamentar-se da excessiva demora na obtenção dos licenciamentos, também o entrevistado CI3 “para abrir a sua parafarmácia tive que me sujeitar às regras da entidade que tutela esta atividade (pausa) até porque eu não sou farmacêutica!”.

Nenhum dos promotores identificou problemas no que diz respeito às formalidades necessárias para procederem à constituição da empresa e ao início de atividade, em boa parte resultado da criação de mecanismos que simplificaram todo este processo.

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Nesta vertente, verificamos que os resultados se aproximam dos obtidos no estudo realizado pelo CIDEC (2004). No que diz respeito à influência que estas variáveis possam ter no sucesso das iniciativas apoiadas não nos parece ser possível estabelecer uma relação, dado que os promotores relatam “vivências” muito semelhantes, independentemente do desfecho dos negócios. Outros estudos (Rodriguez-Planas, 2008; Subbarao, 1998) destacam a importância do aconselhamento prévio aos que pretendem ser empreendedores, e Heesen (2006) identifica o aconselhamento/apoio de consultoria como um dos fatores determinantes do sucesso. Os depoimentos dos promotores vêm confirmar as opiniões de Block e Sandner (2009), segundo os quais os empreendedores necessitam de apoio e aconselhamento em todas as fases de criação de empresas, nomeadamente na fase de arranque.